Fanfic: É Madrugada em Nice *AyA*Ponny* | Tema: Ponny,AyA

- O que é bastante natural. Como seu pai recebeu essa situação?

- É difícil dizer.

Lembrando-se da figura daquele homem de cabelos grisalhos e olhar sereno, Anahí esboçou um sorriso triste.

- Meu pai é um homem retraído e não demonstra facilmente suas emoções. Creio que o mundo dos negócios lhe ensinou a guardar dentro dele todos os seus sentimentos.

- Ao contrário de você.

- Sempre me identifiquei mais com mamãe. Papai sofreu muito quando ela morreu, mas quase não falo nisso nem comigo, nem com Tom. E nós dois nos senti mos constrangidos em conversar com ele a respeito.

- Talvez tenha sido uma pena. Aqueles que parecem ser os mais fortes, em geral são os que precisam de consolo. Por que não tenta compreendê-lo melhor?

- Bem que eu gostaria. Sinto que, no mundo, ele é alguém profundamente sensível... Você me contou que seus pais morreram cedo, não? Fale-me um pouco sobre eles.

- O que você quer saber?

- Como foi sua infância e seu relacionamento com a família... Seu avô era mesmo um nobre russo?

- Claro. Chamava-se Alexei Alexeivitch Herrera, e era primo em terceiro grau da czarina. Apesar de ser um jovem simpático, tinha umas atitudes meio tolas e escapou por pouco em Dezessete, quando veio para a França ao lado de outros emigrantes russos.

- Foi aqui que ele conheceu sua avó?

- Sim. Bárbara Gabriel, condessa de Calvados-Eure. Ele a salvou das garras de um javali durante uma caçada, e ambos apaixonaram-se à primeira vista.

- É impressão minha, ou você está zombando dos seus nobres ancestrais, monsieur Herrera?

- Zombando?! Não, Anahí. Eu adorava meus pais e também meus avós. No entanto, existem certas coisas a respeito deles que acho difícil de aceitar. Para começar, Alexei Alexeivitch foi um romântico incurável, que acreditou durante toda a vida que a revolução bolchevique era apenas uma fase e o comunismo entraria em colapso a qualquer momento. Na certa, sonhava com o momento em que o povo russo pediria a ele e aos outros aristocratas para retornarem e governarem o país. O pior é que encheu a cabeça de papai com essas idéias desde cedo, sem permitir que o filho aprendesse qualquer coisa além de montar a cavalo e atirar, não queria que ninguém da família sequer pensasse em trabalhar para ganhar a vida, pois isto não seria "aristocrático"... - Deitando-se na areia, Alfonso colocou as mãos sob a cabeça e sorriu com ironia antes de continuar: - Por outro lado, na fuga, meu avô só havia trazido umas poucas jóias e imagens sacras. A família Calvados-Eure, por sua vez, ocupava-se em vender seus últimos milhares de hectares, na época em que os dois se conheceram... Portanto, com o passar dos anos, ficaram sem um centavo.

- Como eram eles?

- Vovô era um velho ativo e cheio de segredos. Ia sempre a alguma reunião misteriosa com seus duvidosos camaradas do ex-Exército Imperial. Vivia numa espécie de mundo de fantasia, cheio de complôs e conspirações contra o Estado Soviético. Era tudo bobagem! Não passavam de um grupo de velhos sonhadores tentando fazer suas ilusões durarem um pouco mais. Meus pais eram muito bonitos, sobretudo mamãe, que tinha os olhos lindos e os cabelos um pouquinho mais claros do que os seus.

- Também viviam sonhando?

- Sim. Para eles, a vida era uma sucessão de caçadas, bailes e carros luxuosos, alimentada à base de empréstimos vultosos. Quando completei dezesseis anos, ambos morreram num desastre de automóvel. Vovô Herrera não sobreviveu a eles por muito tempo.