Fanfic: É Madrugada em Nice *AyA*Ponny* | Tema: Ponny,AyA

No cômodo ao lado, Anahí aproveitou para se livrar do vestido caqui que usara durante o dia inteiro e, vestindo apenas calcinha e sutiã, acomodou-se com os braços erguidos numa espreguiçadeira, a brisa fresca que vinha da sacada batendo de leve em seu corpo de curvas perfeitas.

Apesar de bastante atraente, Anahí jamais dera a menor importância à vaidade, preferindo cultivar seus conhecimentos a passar horas em salões de beleza.

Graças a isso, fora considerada uma das melhores alunas da universidade e sempre se destacara por manter-se informada acerca de tudo que ocorria no mundo, o que lhe permitia discutir com segurança desde política até esportes.

Com o passar do tempo, seu sucesso como debatedora bem informada havia lhe conferido uma postura de serena altivez, embora sua discrição a obrigasse a agir de modo humilde, tratando a todos com idêntico respeito e consideração, sem fazer distinções de qualquer espécie, nem cultivar preconceitos.

Ao mesmo tempo, Anahí era uma pessoa sensível, cujas emoções afloravam com extrema facilidade. E, por mais que tentasse abafar essa faceta de sua personalidade, possuía uma sensualidade natural, que se revelava em seu andar e nos seus gestos graciosos.

Por isso, chegava a ser espantoso que ela nunca houvesse se envolvido seriamente com ninguém.

De repente, a voz estridente da Sra. Prenderghast arrancou-a das suas divagações, fazendo-a pular na cadeira.

- Não esqueça os meus remédios, Anahí.

- Pode ficar tranqüila. - prometeu a jovem, espantando-se com o tom enfadado de sua voz.

Sempre fora dona de uma personalidade firme.

Mas nos últimos tempos, vinha agindo de um modo meio conformista que a desagradava profundamente. Agora, analisou que isso talvez estivesse relacionado com a súbita morte de sua mãe, que se refletira na vida de toda família Portilla.

Tom, seu irmão, encontrava-se no Japão, estudando tecnologia de alta-fidelidade numa firma conceituada, seu pai havia sido promovido a presidente de uma companhia e agora trabalhava num luxuoso edifício de vidro no centro de Londres, ela ainda não se refizera do choque, nem conseguira estabilizar-se profissionalmente.

Hospitalizada para uma pequena cirurgia ginecológica há dois anos, Tisha Portilla recebera uma droga normalmente inofensiva para sedá-la.

No entanto, o líquido que lhe injetaram fizera com que as plaquetas de seu sangue se aderissem uma às outras, resultando numa embolia que lhe tirara a vida de maneira instantânea. De acordo com os médicos, tratava-se de uma reação rara ao extremo, não atingindo sequer um caso entre um milhão.

Apesar de abatida, Anahí persistira em seu curso de História das Artes, formando-se no bacharelado com especialização sobre a Renascença. Mas a recessão, o crescente desemprego e os cortes nas verbas para a educação haviam frustrado suas perspectivas de obter um emprego como professora.

Solidários com sua situação e ansiosos por tirá-la dos apartamentos pobres em que vinha morando, tanto o pai quanto o irmão haviam lhe oferecido toda a ajuda financeira de que precisasse.

Anahí, porém, rejeitara qualquer auxílio, ciente de que chegara a hora de ganhar seu próprio sustento, mesmo que isso significasse ter de se contentar com um padrão de vida mais simples e aceitar empregos modestos como aquele de acompanhante até que se apresentasse alguma vaga num colégio de segundo grau ou universidade.

Mais uma vez, a Sra. Prenderghast tirou-a das suas dolorosas reflexões.

- Anahí, traga meu roupão, por favor!

Suspirando fundo, Anahí vestiu uma saia branca com camiseta azul, e foi levar a peça pedida ao banheiro.

Não era fácil ficar a serviço de alguém como Mamie, sobretudo depois de se passar três anos estudando Michelangelo e Leonardo da Vinci...