Fanfic: Os instrumentos Mortais | Tema: Laliter

- Você acha que ela vai acordar alguma hora? Já faz três dias.

- Você precisa dar um tempo a ela. Veneno de demônio é forte demais, e ela é uma mundana. Não tem os símbolos para se manter forte como nós.

- Mundanos morrem com grande facilidade, não é mesmo?

- Eugênia, você sabe que dá azar falar em morte na sala dos doentes.

Três dias, Mariana pensou lentamente. Todos seus pensamentos passaram tão intensa e lentamente quanto sangue ou mel. Preciso acordar. Mas ela não conseguia.

Os sonhos a prendiam. Ela viu a mãe deitada em uma cama de hospital, os olhos pareciam hematomas no rosto pálido. Viu Nicolas, no topo de uma pilha de ossos. Peter com asas saindo das costas, Eugênia sentada nua com o chicote enrolado em si própria como uma rede de anéis dourados, Nico com cruzes queimadas nas palmas das mãos. Anjos caindo e queimando. Caindo do céu.

                                                                           **

- Eu disse que era a mesma garota.

- Eu sei. Pequena não é? Peter disse que ela matou um Ravener

- É. Eu pensei que ela fosse uma fada quando a vi pela primeira vez. Mas ela não é bonita o suficiente para ser uma fada.

- Bem, ninguém tem boa aparência quando está com sangue de demônio correndo pelas veias. Hodge vai chamar os irmãos?

- Espero que não. Eles me dão arrepios. Qualquer um que se auto mutila daquele jeito...

- Nós nos auto mutilamos.

- Eu sei, Gas, quando o fazemos, é permanente. E nem sempre machuva...

- Se você tiver idade o suficiente. Por falar nisso, onde está Peter? Ele a salvou, não é mesmo? Eu pensei que fosse demonstrar algum interesse na recuperação dela.

- Hodge disse que ele não veio visita-la desde que a trouxe para cá. Acho que não se importa muito.

- Ás vezes fico pensando se ele... Olhe! Ela se mexeu!

- Acho que ela está viva, afinal de contas – um suspiro – Vou contar a Hodge

                                                                                  ***

- Então finalmente acordou – disse uma voz seca – Hodge vai ficar satisfeito. Todos nós pensamos que morreria durante o sono.

Mariana virou. Eugênia estava apoiada na cama ao lado, com os longos cabelos loiros presos em duas tranças. O vestido branco havia sido substituído por jeans e camiseta azul justa. As tatuagens escuras em espiral não estavam mais lá; a pele dela era tão homogênea quanto uma vasilha de creme.

- Sinto muito por desapontá-la – a voz de Mariana roçava como uma lixa – Esse aqui é o instituto, certo?

- Sim. Você está na nossa enfermaria, não que já não tivesse concluído isso.

Uma dor repentina e aguda fez com que Mariana apertasse o estômago. Ela engasgou. Eugênia olhou alarmada para ela.

- Você está bem?

A dor estava diminuindo, mas Mariana podia sentir algo ácido no fundo da garganta e uma leve tontura.

- Meu estômago.

- Ah, certo. Eu quase esqueci. Hodge mandou dar isso a você quando acordasse – Eugênia pegou o jarro de cerâmica e derramou um pouco do conteúdo na xícara, e a entregou a Mariana. Estava cheia de um liquido nebuloso. Tinha cheiro de ervas e mais alguma coisa, alguma coisa rica e escura – Você não come nada há três dias – destacou Eugênia – Provavelmente por isso está se sentindo mal.

Mariana tomou um gole. Era delicioso, rico e encorpado, e deixava um gosto amanteigado no final.

- O que é isso?

Eugênia deu de ombros – Uma das tisanas de Hodge. Sempre funcionam – ela deslizou para fora da cama, aterrissando no chão, com as costas arqueadas como um felino – A propósito, sou Eugênia Lightwood. Moro aqui.

- Eu sei o seu nome. Eu sou Mariana. Mariana Fray. Foi Peter quem me trouxe aqui?

Eugênia fez que sim com a cabeça – Hodge ficou furioso. Você derramou fluido e sangue por todo o carpete da entrada. Se ele tivesse feito isso quando meus pais estavam aqui, certamente seria castigado – ela olhou para Mariana mais estreitamente – Peter disse que você matou aquele demônio Ravener sozinha.

- Acho que matei.

- Mas você é mundana.

- Incrível, não? – disse Mariana, saboreando a expressão de incredulidade no rosto de Eugênia – Onde está Peter? Ele está por aqui?

Eugênia deu de ombros.

- Em algum lugar – ela disse – É melhor avisar a todos que você acordou. Hodge vai querer falar com você.

- Hodge é o tutor de Peter, certo?

- Hodge é o tutor de todos nós – disse Eugênia – O banheiro é por ali, eu coloquei algumas das minhas roupas velhas penduradas no cabide de toalhas caso você queira se trocar.

- O que aconteceu com as minhas roupas?

- Estavam cobertas de sangue e veneno, Peter as queimou.

- Queimou? – Perguntou Mariana – Me diga uma coisa, ele é sempre grosso ou guarda isso para os mundanos?

- Ah, ele é grosso com todo mundo – disse Eugênia alegremente – É o que o faz ser tão sexy. Isso e o fato de que já matou mais demônios do que qualquer um de sua idade.

- Ele não é seu irmão? – Mariana olhou para ela, perplexa

- Peter? Meu irmão? Não. De onde você tirou uma idéia dessas? – ela deu uma gargalhada alta

- Bem, ele mora aqui com você – disse Mariana – Não mora?

- Bem, mora, mas...

- Por que ele não mora com os próprios pais?

Por um breve instante Eugênia pareceu desconfortável.

- Por que eles estão mortos.