Fanfic: Os instrumentos Mortais | Tema: Laliter

Os cerca de cinquenta adolescentes na fila da boate pandemônio se inclinaram para a frente, a fim de ouvir a conversa. A espera para entrar na boate sem restrição de idade estava longa, principalmente para um domingo, e, em geral não acontecia nada demais nas filas. Mariana Fray, de 15 anos, na fila com seu melhor amigo, Nicolas, se inclinou para a frente, assim como todas as outras pessoas, esperando alguma agitação.

- ah, qual é – o menino levantou o objeto por cima da cabeça. Parecia uma vida de madeira, como uma das pontas afiadas – é parte da minha fantasia

O segurança ergueu a sobrancelha.

- que seria de que?

Ele parecia normal o suficiente para o Pandemônio, pensou Mariana. Tinha cabelos pintados de azul que pendiam de sua cabeça como tentáculos de um polvo assustado, mas não tinha tatuagens no rosto ou grandes piercings nas orelhas ou nos lábios.

- sou um caçador de vampiros – disse, apertando o objeto de madeira. Dobrava com a mesma facilidade que uma folha de grama dobraria de lado – é falsa. De borracha. Está vendo?

- Ta bom, pode entrar

O menino passou por ele, rápido como um raio. Mariana gostou do movimento dos ombros dele, do jeito que mexeu no cabelo ao entrar. Existia uma palavra que a mãe dela teria usado para descrevê-lo – despreocupado

- você o achou bonitinho – disse Nicolas, parecendo resignado – não achou?

Mariana deu uma cotovelada nas costelas dele, mas não respondeu

                                                                    ***

O menino de jaqueta vermelha passou a lâmina afiada na mão, com um sorriso indolente nos lábios. Evidentemente, ele poderia ter passado sem aquela comoção toda, mas aquilo fazia parte da diversão, os olhos verdes do menino examinaram a pista de dança, onde braços vestidos em peças de seda e couro apareciam e desapareciam nas colunas giratórias de fumaça enquanto os mundanos dançavam. A mão do menino apertou a lamina que carregava, havia começado a adentrar a pista de dança quando uma menina surgiu da multidão de dançarinos e começou a caminhar em sua direção. Ela era linda para uma humana – cabelos longos quase da mesma cor do sol, olhos azuis. Vestido branco até o chão, do tipo que as mulheres usavam quando este mundo era mais jovem. Mangas de renda desciam abrindo por seus braços finos. Em volta do pescoço havia uma corrente grossa preta, na qual um grande pingente vermelho escuro pendurava. Ele foi até ela, sentindo a pele pinicar com a proximidade da menina. De perto ela não era tão perfeita, dava para ver o excesso de maquiagem sob os olhos, o suor grudando o cabelo no pescoço. Te peguei, pensou ele. Ela foi para o lado, e ele pode ver que a menina estava se apoiando em uma porta fechado. ENTRADA PROIBIDA – DEPÓSITO. Ele entrou na sala depois dela, sem perceber que estava sendo seguido.

                                                                   ***

- e aí – disse Nicolas – a musica é boa, não é?

Mariana não respondeu, estavam dançando, ou fingindo que estavam, Mariana não estava prestando muita atenção aos arredores imediatos – estava de olho no menino de cabelos azuis que havia passado uma conversa no segurança para entrar na boate

- eu por exemplo – continuou Nicolas – estou curtindo bastante

- a-hã – Mariana sabia perfeitamente bem, que ele só tinha ido a pandemônio porque ela gostava, e que na verdade ele achava muito chato. Ela nem sabia porque gostava. Mas Mariana era sempre tímida demais para falar com qualquer outra pessoa que não fosse Nicolas

De repente o menino de cabelo azul se recompôs, evitando atenção, como um cão de caça preparado. Mariana seguiu o olhar dele e viu a menina com o vestido branco. Fazer o que? Pensou Mariana, tentando não se sentir um balão de festa murcho. A menina era linda, o tipo de menina que Mariana gostaria de ter desenhado

- eu acho que – continuou Nicolas – o DJ Bat está fazendo um trabalho particularmente excepcional está noite. Você não acha?

Mariana revirou os olhos e não respondeu; Nicolas detestava musica trance. Ela estava com a atenção voltada para a menina de branco. Não era de se estranhar que o menino de cabelo azul a estivesse seguindo como que enfeitiçado, distraído demais para perceber qualquer outra coisa ao redor – até mesmo as duas criaturas sombrias que o seguiam, atravessando a multidão.

Mariana diminuiu o ritmo da dança e encarou as criaturas. Ela só conseguiu identificar que eram meninos altos e que usavam roupas escuras. Ela não sabia dizer como percebera que estavam seguindo o outro garoto. Dava para perceber pela maneira como o acompanhavam, pelo cuidado com que observavam tudo. Uma leve apreensão começou a tomar conta de seu peito. A menina chegou a parede e estava abrindo a porta que dizia ENTRADA PROIBIDA. Não era nada que Mariana nunca tivesse visto, um casal entrando sorrateiramente num canto escuro para dar uns amassos, mas isso só fazia o fato de estarem sendo seguidos parecer ainda mais estranho.

Os dois rapazes tinham parado na porta e pareciam estar consultando um ao outro. Um deles era louro, enquanto o outro tinha cabelos escuros. O moreno colocou a mão no casaco e alcançou um objeto longo e afiado que brilhava sob as luzes estraboscópicas. Uma faca.

- Nicolas – Mariana gritou, e agarrou o braço dele

- o que? – Nicolas parecia alarmado

- você esta vendo aqueles caras?

- não estou vendo nada.

- aqueles dois. Eles estavam seguindo o garoto de cabelo azul...

- o que você achou bonitinho?

- é, mas a questão não é essa. O moreno pegou uma faca

- você tem certeza – Nicolas estreitou o olhar para enxergar melhor, balançando a cabeça – continuo não vendo nada

- tenho certeza

- vou chamar um daqueles seguranças. Você fica aqui

Mariana virou bem a tempo de ver o menino moreno entrar sorrateiramente pela porta que dizia ENTRADA PROIBIDA, com o amigo logo atrás. Mesmo que ela gritasse agora, ninguém a escutaria. E até que Nicolas voltasse, alguma coisa horrível já poderia ter acontecido. Mordendo o lábio inferior com força, Mariana começou a correr pela multidão..