Fanfic: Os instrumentos Mortais | Tema: Laliter

- Qual é o seu nome?

Ela se virou e sorriu. A pouca luz que havia no depósito entrava pelas grandes janelas com grades completamente sujas. Pilhas de cabos elétricos, juntamente com pedacinhos de bolas de discoteca espelhadas e latas vazias de tinta sujavam o chão

- Eugênia

- é um nome bonito – ele caminhou em sua direção. Sob a fraca luz, ela parecia semitransparente, desprovida de cor, envolta em branco como um anjo. Seria um prazer derrubá-la – Eu nunca te vi por aqui

- você está me perguntando se eu venho aqui sempre? – ela sorriu, cobrindo a boca com a mão

A menina tinha uma espécie de pulseira em volta do pulso. Então, ao se aproximar dela, ele viu que não era uma pulseira, mas um desenho marcado na pele, um emaranhado de linhas entrelaçadas. Ele congelou

- Você...

Ele não terminou. Ela se moveu com a potencia de um raio, atacando-o com a mão aberta, um golpe no peito que o derrubaria e o deixaria sem folego se ele fosse humano. No entanto, ele apenas cambaleou. Logo depois havia algo na mão dela, um chicote que brilhava dourado enquanto o golpeava, enrolando os tornozelos dele e fazendo com que os pés saíssem do chão. Nenhuma garota humana usaria um vestido como o que Eugênia estava usando. Ela o estava vestindo para cobrir a pela – toda a pele. Tinha um sorriso que brilhava como água venenosa.

- ele é todo de vocês meninos

Enquanto se debatia, alguém circulou o pilar, aparecendo em seu campo visual: um menino tão jovem e bonito quanto Eugênia. Seus olhos verde escuro brilhavam como duas esmeraldas

- Então – disse o garoto – há mais algum com você?

O menino de cabelo azul podia sentir o sangue se acumulando sob o metal excessivamente apertado, deixando-o com os pulsos escorregadios

- Mais algum o que?

- Ora, vamos – o menino de olhos verde escuro levantou as mãos, as mangas escuras desceram, mostrando os símbolos que tinha tatuados nos pulsos, nas costas e nas palmas das mãos – Você sabe o que sou

- Caçador de Sombras – sibilou

O outro menino sorriu

- Te peguei – disse ele

                                                             ***

Mariana abriu a porta do deposito e entrou. Por um instante achou que estivesse vazia. A sala tinha cheiro de tinta velha, e uma pesada cama de poeira, marcado por sinais de pegadas não há ninguém aqui ela percebeu, olhando em volta espantada. Deu um passo para a frente, enrolando os pés em fios, ela se abaixou para se livrar dos cabos, e ouviu vozes. Ao se ajeitar, ela os viu.

Lá estava a garota com o longo vestido branco, os cabelos louros escorrendo da cabeça como algas molhadas. Os dois meninos estavam com ela – o mais alto com cabelos louros como os dela, e o menor, cujos os cabelos escuros brilhavam. Com o coração batendo forte no peito, Mariana se abaixou atrás da coluna de concreto mais próxima e espiou em volta. Ela assistiu enquanto o menino de cabelos escuros andava para a frente e para atrás, com os braços cruzados

- Então – disse ele – você ainda não me disse nada se há mais alguém da sua espécie aqui com você

Sua espécie? Mariana imaginou sobre o que ele estaria falando. Talvez ele tivesse se metido com alguma guerra de gangues

- Eu não sei do que está falando – o tom do menino de cabelo azul era dolorido, porém firme

- Ele está falando de outros demônios – informou o menino de cabelos claros, falando pela primeira vez – você sabe o que é um demônio, não sabe?

O menino amarrado a coluna virou o rosto, mas continuava movendo a boca

- Demônios – disse o menino moreno, escrevendo a palavra no ar com o dedo – religiosamente definidos como habitantes do inferno, os servidores de ****, mas entendidos aqui, para os propósitos da Clave, como quaisquer espíritos malevolentes cuja a origem se de fora da nossa própria dimensão habitacional

- Basta, Peter – disse a garota

- Eugênia tem razão – concordou o menino mais alto – ninguém aqui precisa de aula de semântica, nem de demonologia

Eles são loucos, pensou Mariana. Loucos de verdade.

Peter levantou a cabeça e sorriu. Havia algo de feroz naquele gesto, alguma coisa que fazia com que Mariana se lembrasse de documentários sobre leões que vira no Discovery Chanel

- Eugênia e Gas acham que falo demais – disse, baixinho – você concorda com eles?

O menino de cabelos azul não respondeu. Sua boca continuava se movendo

- Eu poderia dar informações – disse ele – Eu sei onde Mariano está

Peter olhou de volta para Gas, que deu de ombros

- Mariano está debaixo da Terra – disse Peter – O coisinha só está brincando com a gente

Eugênia mexeu no cabelo.

- Mate-o, Peter – disse ela – Não vai nos contar nada

Peter levantou a mão, e Mariana viu a luz fraca reluzir na faca que ele estava segurando. Era estranhamente translúcida, a lâmina clara como cristal, afiada como um caco de vidro, o cabo decorado com pedras vermelhas. O menino amarrado arfou

- Mariano está de volta – protestou ele, lutando contra os nós que o atavam atrás do corpo – Todos os mundos infernais sabem, eu sei, posso te dizer onde ele está...

Repentinamente, uma raiva chamuscou nos olhos gélidos de Peter

- Pelo anjo, toda vez que capturamos um de vocês, alegam saber onde Mariano está. Pois bem, nós também sabemos onde ele está. Ele está no inferno. E você... – Peter virou a faca no punho, a ponta brilhando como uma linha de fogo – Você pode se juntar a ele lá

Mariana não aguentaria mais. Ela saiu do esconderijo atrás da coluna

- Pare – gritou ela – Você não pode fazer isso...