Fanfic: Os instrumentos Mortais | Tema: Laliter

- Na verdade sou só eu – Disse Nicolas – Mas já me disseram que somos muito parecidos – ele acenou para Mariana da entrada da casa – Você está pronta?

Gimena tirou a mãe da boca

- Nicolas, Você estava ouvindo atrás da porta?

- Não, acabei de chegar – ele olhou o rosto pálido  de Gimena para o de Nico – Está acontecendo alguma coisa? É melhor eu ir embora?

- Não se incomode – disse Nico – Acho que já acabamos – ele passou por Nicolas, e foi descendo pelas escadas em ritmo acelerado. La em baixo, a porta da frente bateu

- posso voltar mais tarde – disse Nicolas – de verdade. Não seria problema algum

- Isso poderia... – Gimena começou a dizer, mas Mariana já estava de pé

- Esqueça, Nicolas, estamos saindo – disse ela, pegando a bolsa que estava pendurada em um cabide perto da porta. Colocou-a no ombro, encarando a mãe – Até mais tarde, mãe

Gimena mordeu o lábio

- Mariana, você não acha que devemos conversar sobre isso?

- Vamos ter muito tempo para conversar durante as “férias” – disse Mariana de um jeito venenoso, e teve a satisfação de ver a mãe titubear – Não me espere acordada – ela acrescentou e, agarrando o braço de Nicolas, o arrastou para fora da porta

- Tchau, senhora Fray – gritou ele – tenha uma boa noite

- Ah Nicolas, cale a boca – irritou-se Mariana, e bateu a porta cortando a resposta da mãe

                                                                              ***

- Eu não consigo acreditar nisso – disse Mariana pela quarta vez, raspando um resto de guacamole do prato com a ponta de um nacho. Eles estavam em um restaurante mexicano da vizinhança, um muquifo chamado nacho mama – Como se me colocar de castigo semana sim, semana não, não fosse o suficiente. Agora vou ficar exilada pelo resto do verão

- Mas você sabe que sua mãe fica assim as vezes – disse Nicolas – Como quando ela respira, por exemplo – ele sorriu para ela por cima do burrito vegetariano

- Não é você que está sendo arrastado para o meio do nada por Deus sabe quanto tempo...

- Mariana – Nicolas interrompeu a declamação – Não é de mim que você está com raiva. Além disso, não é algo permanente

- Como é que você sabe disso?

- Bem, porque eu conheço a sua mãe – disse Nicolas após uma pausa – Quero dizer, você e eu somos amigos a quanto tempo, uns dez anos? Eu sei que ela fica assim de vez em quando. Ela vai pensar melhor

- Será mesmo? – disse ela – Que você conhece a minha mãe, quero dizer? As vezes eu fico pensando se alguém no mundo a conhece

- Agora você me confundiu

Mariana respirou fundo para refrescar a boca, que estava queimando

- Quer dizer, ela nunca fala sobre si mesma. Não sei nada sobre o começo da vida dela, da família, e quase nada sobre como ela conheceu meu pai. Ela nem sequer tem fotos do casamento. É como se a vida dela tivesse começado quando eu nasci. E é isso que ela sempre diz quando pergunto a respeito

- Ah – Nicolas fez uma careta – Isso é bonito

- Não. Não é. É estranho. É estranho eu não saber nada sobre os meus avós. Quer dizer, eu sei que os do meu pai não eram muito legais com ela, mas será que foram tão ruins assim? Que tipo de gente não quer conhecer a própria neta?

- Talvez ela os odeie. Talvez fossem intrometidos ou coisa parecida – sugeriu Nicolas – E ela tem todas aquelas cicatrizes

Mariana o encarou – Ela tem o que?

- Aquelas cicatrizes fininhas. Por todo o braço. Eu já vi a sua mãe de maiô, sabia?

- Eu nunca notei cicatriz alguma – disse Mariana, afirmativa – Acho que você está imaginando coisas

Ele a encarou, e parecia estar a ponto de dizer alguma coisa quando o celular dela, enfiado na bolsa, começou a tocar insistentemente. Mariana pegou-o, olhou para os números que estavam piscando na tela e franziu o rosto

- É minha mãe

- Deu para perceber pela expressão no seu rosto. Você vai falar com ela?

- Agora não – disse Mariana, sentindo aquela pontinha de culpa quando o telefone parou de tocar e a ligação caiu na caixa postal – Não quero brigar com ela

- você quer conversar com ela?

- Não sei – Mariana esfregou os olhos com a parte de trás das mãos – Você ainda vai para a leitura de poemas?

- Prometi que ia

Mariana se levantou, empurrando a cadeira para trás

- Então eu vou com você. Eu ligo para ela quando acabar – A alça da bolsa escorreu pelo braço de Mariana

O ar la fora estava denso com tanta umidade, que congelava o cabelo de Mariana e deixava a camiseta azul de Nicolas grudada nas costas dele. A bolsa de Mariana vibrava enquanto o telefone brilhava. Ela o pegou no bolso da frente

- É a sua mãe outra vez? – perguntou Nicolas

Mariana assentiu, ela podia imaginar a mãe pequena e sozinha na entrada do apartamento. Um sentimento de culpa se espalhou em seu peito. Ela olhou Nicolas, que a observava com uma expressão sombria de preocupação naquele rosto tão familiar; ela poderia desenhá-lo até dormindo. Mariana pensou sobre as semanas solitárias que passaria sem ele, e colocou o telefone de volta na bolsa.

- Vamos – disse ela – Vamos nos atrasar para a apresentação...