Fanfic: Coração de Ágata | Tema: Segredos
Renato olhava repetidamente para o calendário, e fazia contas nos dedos. Errava, começava tudo de novo. Juca Pereira, percebendo aquela aflição, indagou:
- O que há, filho? Parece até que vai tirar o pai... Que vai me tirar da forca!
Dizendo isso, deu uma gostosa risada. O rapaz, porém, esboçou apenas um sorriso ralo.
- Ela vem hoje!
- Ué, e daí? Parece até que não é sua namorada quem você está esperando, e sim um carrasco pronto pra te levar a uma cadeira elétrica. Olha só que nervosismo!
- Eu tenho medo de que o senhor não goste dela!
Juca levantou os olhos por cima dos óculos, num olhar crítico.
- Já disse que aprovo, não? Seja quem for. Se você gosta de verdade dessa menina, quem sou eu para impedir?
Meia hora depois, a cuja batia á porta. Leonora era seu nome.
- Meu Deus do céu! Chegou! - exclamou Renato, ajeitando o cabelo apressadamente enquanto se dirigia para recebeê-la.
Leonora veio da capital. Linda moça, cabelos ruivos como o fogo. Era a namorada dele. Agora, depois da desconfortável viagem de ônibus, estava ali em Tambirema para conhecer o "sogro".
- Senhor prefeito!... É um grande prazer!
- Grande mesmo... Digo, o prazer é todo meu! - ele se corrigiu, desviando o olhar do busto dela.
Durante o almoço, que foi tomado entre gostosa conversa de novidades e recordações, um urro gélido cortou o ar, desfazendo por completo o clima festivo e amigável.
- Huuaarrrgg.... Grrrannn!!!!
- O que é isso? - a coitada assustou-se, levantando-se da cadeira com as pernas trêmulas.
- Camila... - o moço respondeu, falando mais para si mesmo do que para ela. E contou toda a história que nós já conhecemos.
- Quando descobriu todos os podres do pai, a pobre ficou desolada. Tentou fugir com DorsoTorto para Recife. Mas Zé Finório soube antes e partiu para o cemitério, com a intenção de matar o aleijado.
- E matou?
- Nada! Ela chegou a ponto de impedir. Veio por trás e bateu-lhe na cabeça com uma pá de coveiro. O homem ainda estrebuchou, mas, na queda deixou cair a arma. Ela então pegou-a, apontou-a para a cabeça dele e deu o tiro fatal.
- Virgem santa... - foi a única resposta possível, depois de ouvir aquela trama tão infeliz. - Mas eu não entendi uma coisa... O grito veio de lá, e a cadeia fica acolá, não é?
- Mas ela não foi presa. Eu ouvi o tiro e pressenti a desgraça. Corri para o cemitério e constatei tudo. Nós dois, então, enterramos o corpo do desventurado. Quando papai chegou, contei-lhe tudo.
- Pois é - Juca concordou. - Eu poderia muito bem, mediante as circunstâncias, chamar o delegado e levala presa. Mas relevei. Camila estava louca, completamente fora de si. Iria definhar na cela até morrer, se não estivesse do lado do aleijado que tanto amava.
- O senhor deixou escapar essa criminosa? Ela está solta até hoje? Eu não acredito!
- Nessa história, minha querida, não há nenhum herói. Ambos, pai e filha, erraram, e eles mesmos pagaram o preço. Ele, assassinado e enterrado longe de tudo e de todos, esquecido para sempre. Ela doidivana, vivendo entre as sepulturas, suja, esfarrapada... Desaprendeu a falar, a andar direito, a agir como gente... Fez um par perfeito com o corcunda, não acha?
- DorsoTorto, aliás - complementou Renato - é o único de coração puro nisso tudo. Prova maior está aí. Mesmo com todas as rasteiras do destino, nunca deixou de ficar do lado da jovem e de protegê-la. Vá lá tentar mexer com ela, para ver se ele não a defende!
Para fechar aquela assunto fúnebre, mais dois urros do casal sinistro se fizeram ouvir. Leonora se benzeu três vezes, e fez o gesto tão atrapalhadamente, que derrubou a jarra de suco que segurava, entornando o líquido pela mesa toda.
Autor(a): jorge_terrano
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