Fanfic: Coração de Ágata | Tema: Segredos
Camila, depois que descobriu ter um meio-irmão, nunca mais foi a mesma. Vivia cabisbaixa, encolhida pelos cantos, desanimada. O pai notava nela a falta de vivacidade, e frequentemente lhe questionava se estava tudo bem. Ela desconversava, inventando uma mentira ou outra.
Sua única alegria era o namoro secreto com DorsoTorto. Se não fosse por isso, talvez ela não aguentasse a alma tão dilacerada de tristeza e amargura. Sempre que podia, escapava para a choça. O proibido era o que mantinha seu sangue quente.
Nesse ritmo, um dia, ao visitar o aziago, ela recebeu dele uma notícia um tanto quanto preocupante. Dele, sim!
Não que o pobre já soubesse falar - talvez nunca conseguisse isso. Mas as palavras mais básicas já tinha aprendido, por intermédio dos ensinamentos dela. Ainda assim, dizia tudo com uma voz arrastada e pesada, entre "hu-hus", como os que os macacos fazem. A postura nunca se corrigiu.
A tal notícia era o avistamento de meia dúzia de homens despejando em redor da cabana um líquido forte, que jorrava de grandes latas de alumínio. Ela foi para fora verificar, e constatou o que já desconfiava: gasolina.
Á tarde, depois do almoço, tentou conversar sobre aquilo com Zé Finório.
- Pai, agora eu estava lembrando... Sabe aquela choça velha da sua fazenda, onde eu vivia brincando quando era criança?
- Hum?
- Ainda existe?
- Mas pelo amor de Deus, Camila, daonde você foi dessenterrar isso? - ele riu.
- Sei lá... Puxando pela memória, dei nisso.
- Engraçado, só pode ser coletivo! Pois se justamente hoje é que eu fui lembrar também! Existe sim... Ou melhor, existia.
- Como assim?
- Não servia mais para nada, estava estorvando lá no meu descampado. Lembrei hoje, e fui logo mandar queimar. Olha aí... A essas horas, já devem estar ateando fogo.
Ela teve que esconder o desespero, muito bem mascarado por detrás de uma cara calma. Quando se viu sozinha (o homem foi vazer uma vistoria na gazeta), correu desesperadamente até o local da tragédia. Não havia mais nenhum empregado por lá. Saíram todos, deixando para trás o casebre em chamas. Gritou. O corcunda, lá dentro respondeu.
- MEU DEUS!!! Dorso, se eu não fizer alguma coisa, morre! - ela falou para si mesma, torcendo o corpo de aflição.
Só não tomou a decisão mais cômoda para a ocasião - desmaiar - por que o namorado precisava de sua ajuda.
Entrar pela porta era impossível. O fogo já estava lá, lambendo tudo. Por sorte, uma das janelas, na parede da outra extremidade, estava intacta. Passar por ela e se agarrar ao rapaz, aos prantos, foi fácil. O difícil foi fazê-lo passar para o lado de fora, esgueirando-se pelo parapeito, com aquela coluna torta atrapalhando. Ela empurrou-o com os braços, com as costas, até com a cabeça, mas não deu jeito. Só depois de inúmeras tentativas, finalmente o transpôs para a liberdade.
A parte mais difícil já fora cumprida. Restava, agora, que a moça saísse também. E seria a coisa mais simples do mundo, se uma viga caída do teto não se colocasse no seu caminho. Camila, de tanto puxar os cabelos, quase arrancou-os. Correu de um lado para o outro, procurando outra passagem. Nenhuma. Tudo já estava se queimando.
Nesse momento, DorsoTorto entrou em ação. Pressentiu a tortura da amada, embora a cortina de fumaça não lhe permitisse divisar nada. Tamanho chute pregou na parede que, por ser de pau-a-pique, fê-la abrir-se em um vão. Ainda, com as próprias mãos que ardiam em contato com o barro, foi alargando a abertura, até torná-la suficientemente grande para que ela pudesse passar e se salvar. Veio suando em bicas, a coitada, sem conseguir respirar direito, dourada como um pão saído do forno. Ele deu-lhe um beijo tão morno e violento, de felicidade, como outro jamais foi dado. Saíram os dois, tontos, cambaleantes, para longe do cenário infernal.
Foram para o cemitério abandonado, onde o aziago se sentia muito mais confortável e podia descansar melhor. Ali se acocoraram rente a uma capela arruinada, e recuperaram o fôlego, aos poucos. Instantes depois, o céu, já nublado, lhes premiava com uma chuva grossa, verdadeira tempestade, como que para lavar-lhes de todo o sofrimento passado.
Foi ali. Na chuva. Em pleno cemitério.
Ele olhou-a de um jeito diferente. A água encharcara a roupa de Camila, fazendo-a colar ao corpo, salientando as curvas. Ela percebeu a atração que o aleijado estava sentindo e entregou-se. Também tinha muita exitação para recuar.
O rapaz lentamente desabotoou o vestido, com as mãos queimadas. Fez os seios virem á mostra, e acariciou-os com a leveza de quem acaricia um pedaço de gaze que, ao movimento mais brusco, pode se desfazer no ar. Em seguida, deitou-se sobre eles, em leves beijos e mordiscadas. A jovem tudo sentia com os olhos fechados, fazendo cafuné nos cabelos do amado. Ele desfez mais alguns botões e revelou seu colo, suas pernas... Em pouco tempo, ela estava completamente nua.
Depois, foi a vez dela despir o aziago, com sutileza. Dali a alguns momentos, estavam os dois se amando, deitados sobre uma cripta coberta de limo. A primeira vez de ambos.
E a tormenta, que descrita anteriormente como tenebrosa agravante da morbidez do local, era agora apenas um pequeno detalhe do cenário de paixão.
Autor(a): jorge_terrano
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Renato estava ali, sempre aos pés de Camila, para o que ela precisasse. E foi a ele, amigo tão fiel, que ela recorreu naquele momento. Chamou-o para uma conversa particular e sigilosa. Ele foi, todo contente, pensando se tratar de algo relacionado ao antigo namoro dos dois. Mas quando descobriu que havia um bastardo de Zé Finório, fez cara ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo