Fanfics Brasil - 21 A Probabilidade estatística do Amor a Primeira Vista - Adaptada (Terminada))

Fanfic: A Probabilidade estatística do Amor a Primeira Vista - Adaptada (Terminada)) | Tema: Vondy


Capítulo: 21

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04h02 Hora da Costa Leste - 09h02 Hora de Greenwich


 


Dulce acorda repentinamente sem nem perceber que estivera dormindo de novo. O avião ainda está escuro, mas dá para ver uma luz clareando as janelas. As pessoas estão começando a se mover, bocejar e se espreguiçar, e também a devolver bandejas de ovos mexidos com bacon velho para as comissárias de bordo, que estão incrivelmente bem dispostas e arrumadas, mesmo depois de uma viagem tão longa.


A cabeça de Christopher está no ombro dela desta vez, sustentando a de Dulce. Ela tenta ficar totalmente imóvel, mas seu braço treme e se move. Christopher desperta como se tivesse levado um choque.


— Desculpa — dizem ao mesmo tempo e Dulce repete. — Desculpa.


Oliver coça os olhos como uma criança acordando depois de um sonho ruim e fica olhando para ela por algum tempo. Dulce sabe que deve estar horrorosa, mas não se ofende com a reação dele. Quando entrou no banheiro apertado e se olhou no  espelho ainda menor, ficou surpresa ao ver como estava pálida, com olhos inchados por causa do ar viciado e da altitude.


Ela piscou diante do reflexo, achando-se horrível, e ficou se perguntando o que Christopherer tinha visto nela. Não costumava se preocupar muito com cabelo e maquiagem, nem passava muito tempo na frente do espelho, mas era pequena, Ruiva e bonita o suficiente para chamar a atenção dos garotos na escola. Mesmo assim, a imagem no espelho a deixou preocupada, e isso foi antes de cair no sono pela segunda vez. Nem dava para imaginar como estava seu rosto agora. Cada parte de seu corpo está dolorida de tanto cansaço e seus olhos doem; tem uma mancha de refrigerante na gola da camisa e nem quer pensar em como está seu cabelo neste momento.


Christopher também está diferente. É estranho vê-lo naquela luz; é como colocá-lo numa TV de alta definição. Seus olhos ainda estão inchados de sono e tem uma marca que vai da bochecha até a testa, onde estava apoiado na camisa de Dulce. Mais que isso, ele parece estar sem energia e cansado, com os olhos avermelhados e muito distantes.


Ele arqueia as costas para se espreguiçar e olha no relógio.


— Estamos quase lá.


Dulce concorda e se sente aliviada por não terem se atrasado, mesmo que queira um pouco mais de tempo. Apesar de tudo — do voo lotado, do assento desconfortável e dos cheiros que estão tomando o ambiente —, ela não se sente pronta para sair do avião, onde foi tão fácil se perder nas conversas e esquecer tudo o que deixou e o que estava por vir.


O homem à frente abre a janela e uma coluna de luz branca — tão repentina que Dulce quase cobre o rosto com as mãos — ilumina tudo, afastando a escuridão, acabando com o que restara da magia noturna. Ela abre sua janela, pois o encanto já tinha acabado oficialmente. Lá fora, o céu é de um azul que cega, cheio de nuvens em camadas, como um bolo. Depois de tantas horas no escuro, olhar por muito tempo chega a doer.


São apenas quatro da manhã em Nova York. A voz do piloto nos alto-falantes é alegre demais para aquele horário.


— Bom dia a todos — diz ele —, estamos fazendo a aproximação final no aeroporto de Heathrow. O tempo está bom em Londres, 22 graus, parcialmente nublado com possibilidade de chuva mais tarde. Vamos pousar em pouco menos de vinte minutos, portanto, afivelem os cintos. Foi um prazer voar com vocês, aproveitem a estada.


Dulce se vira para Christopher.


— Quanto é isso em Fahrenheit?


— É quente — responde.


Dulce está sentindo calor; talvez seja a previsão do tempo, o sol batendo na janela ou apenas a proximidade do garoto ao seu lado, com a camiseta amassada e as bochechas vermelhas.


Ela se estica para abrir a saída do ar no painel acima deles e fecha os olhos, sentindo o jato de vento frio.


— Pois é — diz ele, estalando um dedo de cada vez.


— Pois é.


Eles se olham de lado e alguma coisa na expressão dele — uma incerteza que reflete a sua — faz com que Dulce sinta vontade de chorar. Não há distinção entre a noite anterior e esta manhã, é lógico — primeiro tudo ficou escuro e, depois, claro —, mas, mesmo assim, as coisas parecem horrivelmente diferentes. Ela pensa em como ficaram lado a lado perto do banheiro, como pareceram prestes a fazer alguma coisa, tudo, como se o mundo todo estivesse mudando enquanto conversavam no escuro. E agora lá estão, dois estranhos educados, como se ela apenas tivesse imaginado o que aconteceu. Gostaria de poder virar o avião e voar para o outro lado, buscando a noite que deixaram para trás.


— Você acha — diz com voz rouca — que gastamos todo o nosso assunto ontem?


— Impossível — diz Christopher. A maneira como fala, quase sorrindo, com voz amena, desfaz o nó no estômago de Dulce. — Nem começamos a falar sobre as coisas importantes de verdade.


— Tipo o quê? — pergunta, tentando disfarçar o alívio. — Tipo: por que o Dickens é tão famoso?


— Claro que não — responde ele. — Coisas do tipo a luta pelos coalas. Ou o fato de Veneza estar afundando. — Ele para de falar, como se estivesse esperando uma reação, mas, como Dulce não responde, ele bate no joelho e repete. — Afundando! Dá para acreditar nisso?


Ela franze o rosto, fingindo preocupação.


— Isso é muito importante.


Com certeza — insiste Christopher —, para não falar do tamanho da pegada de carbono que estamos deixando depois desta viagem. Ou a questão da diferença entre crocodilos e jacarés. Ou o voo mais longo de uma galinha.


— Por favor, diga que você não sabe a resposta.


— Treze segundos — responde e se inclina por cima dela para olhar pela janela. — Que desastre. Já estamos quase no Heathrow e não falamos sobre as galinhas voadoras. — Ele bate no vidro com um dedo. — Está vendo aquela nuvem?


— Não tem como não ver — diz Dulce; o avião está quase todo imerso numa nuvem. A neblina acinzentada cobre o vidro cada vez mais, enquanto o avião desce.


— Essas nuvens são chamadas de cumulus, sabia disso?


— Devia saber, né?


— São as melhores.


— Por quê?


— Porque as nuvens deviam ser assim, do jeito que as desenhamos quando somos crianças. Eu gosto disso, sabia? Porque o sol nunca é do mesmo jeito que desenhamos.


— Como um círculo com espinhos?


— Exatamente. E minha família com certeza não é igual a que eu desenhava.


— Bonecos de palito?


— Por favor — diz ele —, me dê um pouco de crédito. Eles tinham mãos e pés também.


— Em forma de bola?


— Mas é legal quando uma coisa é igual ao que você desenhava, não é? — Ele faz que sim com a cabeça e dá um sorriso de satisfação. — Nuvens cumulus. As melhores.


Dulce encolhe os ombros.


— Acho que nunca pensei nisso.


— Então, viu? — comenta Christopher. — Temos muito mais coisas para conversar. Mal começamos.


As nuvens começam a se aproximar e o avião vai baixando lentamente no céu de prata. Dulce sente uma onda inconsciente de alívio quando vê o solo, mesmo que ainda esteja tão longe que só possa ver os campos como pedaços de retalho e prédios sem formas exatas, além dos traços apagados das estradas que mais parecem linhas de cor cinza.


Christopher boceja e encosta a cabeça no assento.


— Acho que devíamos ter dormido mais — diz. — Estou um trapo.


Dulce dá uma olhada nele.


— Estou cansado — comenta ele, mudando o sotaque e o vocabulário para soar mais americano, apesar de ainda manter um certo tom britânico.


— Eu me sinto como se tivesse num curso de línguas estrangeiras em outro país.


— Aprenda a falar inglês britânico em apenas sete horas! — diz Christophe com voz de anunciante. — Como resistir a um anúncio desses na televisão?


— Comercial — corrige ela virando os olhos para cima. — Como resistir a um comercial desses.


Christopher sorri.


— Viu o quanto você já aprendeu?


Já tinham quase se esquecido da senhora ao lado deles. Ela dormiu por tantas horas que foi a falta do barulho de ronco que fez com que os dois olhassem para ela.


— Perdi muita coisa? — pergunta, abrindo a bolsa e pegando com cuidado os óculos, um frasco de colírio e uma pequena caixa de balas.


— Estamos quase chegando — informa Dulce—, mas a senhora tem sorte de ter conseguido dormir. Foi um voo bem longo.


— Foi mesmo — concorda Christopher. Apesar de estar olhando para o outro lado, Dulce sabe, pelo tom de voz, que está sorrindo. — Foi uma eternidade.


A mulher para o que está fazendo, segura os óculos entre o indicador e o dedão e olha para eles.


— Foi o que eu disse — fala e volta a mexer na bolsa.


Dulce, ciente do significado do que a velhinha disse, evita o olhar de Christopher. As comissárias examinam pela última vez os corredores e pedem que os passageiros deixem o assento na posição vertical, afivelem os cintos e coloquem suas malas de mão embaixo do assento da frente.


— Acho que vamos chegar um pouco mais cedo — diz Christopher —, então se a alfândega não estiver um inferno, talvez você consiga chegar a tempo. Onde é o casamento?


Dulce se inclina e pega o livro de Dickens de novo. Colocou o convite entre as folhas no final do livro para não perdê-lo.


— No Hotel Kensington Arms — informa. — Deve ser luxuoso.


Christopher chega perto e dá uma olhada na caligrafia elegante no convite de cor creme.


— Isso é a festa — diz apontando para a informação. — A cerimônia é na Igreja St. Barnabas.


— Fica perto?


— Do Heathrow? — Balança a cabeça. — Não, mas nada fica perto do Heathrow. Dá para chegar na hora, se você se apressar.


— Onde é o seu casamento?


Ele fica tenso.


— Em Paddington.


— Onde fica isso?


— Perto de onde cresci — diz. — Lado Leste.


— Maneiro — comenta ela, mas ele não ri.


— É na igreja onde costumávamos ir quando crianças — diz ele. — Tem anos que não vou lá. Sempre arrumava problema por escalar a estátua de Maria na frente da igreja.


— Imagino — diz Dulce e coloca o convite onde estava. Fecha o livro com muita força, Christopher se assusta e a observa jogando-o de volta na bolsa.


— Vai mesmo devolver o livro para ele?


— Não sei — responde honestamente. — É provável.


Ele pensa um pouco.


— Será que pode esperar pelo menos até o fim do casamento?


Não era isso que Dulce havia planejado. Na verdade, tinha se imaginado calada e triunfante, entregando o livro para ele logo antes da cerimônia. Foi o único presente que ele deu para ela — deu de verdade, não foi um presente enviado pelo correio no aniversário ou no Natal, mas uma coisa que colocou em suas mãos —, então a ideia de devolvê-lo dessa forma agradava Dulce. Se seria forçada a ir nesse casamento idiota, ia ser do jeito que queria.


No entanto, Christopher está olhando para ela com preocupação. Dulce se sente desconfortável com aquele olhar de esperança e responde com voz trêmula.



— Vou pensar — diz e completa: — Talvez eu nem chegue a tempo.



VocÊ nessa situação, o que faria?





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Autor(a): juh_uckermann_Collins

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Olham para a janela para acompanhar a descida, e Dulce tenta afastar uma onda de pânico; não é medo da aterrissagem em si, mas de tudo que começa e termina com ela. O solo se aproxima rapidamente, fazendo com que tudo — as formas indefinidas lá embaixo — fique claro: as igrejas e cercas e restaurantes, até mesmo as ovelhas ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 46



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  • jucinairaespozani Postado em 14/09/2015 - 00:32:37

    Amei :')

  • Furacao Maite Postado em 12/09/2015 - 00:49:12

    Desculpa o sumiço!!!!! aaah que lindo! Amei tudo!!! É uma pena que acabou! Todas as fics que eu gostava estão acabando! muito triste isso! Mas eu amei!!!

  • candy_vondy Postado em 10/09/2015 - 22:39:40

    Eu tbm te amo!!!!*_*..Olha,essa fic foi uma das melhores q eu já li de vdd..Vou te confessar uma coisa:Eu n gostava de ler fics adaptadas,mas dps de ler essa eu passei a ler..Eu me encantei com essa web desde o primeiro capítulo até o último <3 Ah!Parabéns! Vc escreveu os capítulos extras muito bem.. Adorei o final..quando eu puder eu passo na sua nova fic,por enquanto eu n posso pq estou estudando pra uma prova q eu vou ter e esses dias estou cheia de para casa pra fazer e sou estou entrando aqui no site para ler as minhas fics favoritadas..Bom, hj n precisa escrever continua neh??Então até mais!!Bjs!!Te amoooooooo

  • candy_vondy Postado em 04/09/2015 - 23:22:54

    Onde vc estava??Vc sumiu em??Ainda bem q n era um sonho!!Continuaaa

  • candy_vondy Postado em 31/08/2015 - 22:18:06

    Tomara q n seja um sonho..por favor q n seja!!!Quando eu puder eu passo na sua fic nova..continuaaa

  • Furacao Maite Postado em 31/08/2015 - 15:03:38

    *-*

  • jucinairaespozani Postado em 31/08/2015 - 14:58:17

    Continua, amei a fic

  • Furacao Maite Postado em 31/08/2015 - 00:11:27

    tambem espero que não seja um sonho!! espero que ele esteja realmente lá hahahaha

  • candy_vondy Postado em 29/08/2015 - 02:22:43

    Me fala q a Dulce n ta sonhando.. Por favor!!Pq se n eu vou ficar com raiva do Christopher por n ter ido no aeroporto... Continuaa

  • candy_vondy Postado em 27/08/2015 - 22:37:38

    Vc escreve super bem,parabéns!! Eu to amando cada vez mais esse final alternativo!!! Vc é d+..Continuaaaaa


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