Fanfics Brasil - A carta carta suicidio

Fanfic: carta suicidio | Tema: drama, romance


Capítulo: A carta

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“Não sou nada nem nunca serei nada. Essa simples idéia vem me corroendo há meses e nunca pude falar nada a ninguém. A idéia de que o mundo não é um lugar pra mim, um lugar que não me comporta e no qual eu não me encaixo e nunca vou me encaixar, já que pra fazer parte do mundo é preciso jogar de acordo com suas regras.


            Não pertenço a este lugar, não gosto das pessoas e cansei dessa vida. Não consigo pensar em nada que me motive a ficar e, portanto, não ficarei. Não quero viver de falsas esperanças, não quero viver imaginando o que falam de mim ou o que fazem pelas minhas costas, não quero mais as desilusões e os arrependimentos do passado assim como não agüento mais as incertezas do meu futuro. Não agüento mais ser traída por aqueles que amo, por amigos e família.


            Que fique claro que esse é um suicídio egoísta, que não aconteceu por culpa de ninguém a não ser por minha própria, minha culpa de não agüentar mais essa humanidade doentia, machista e repressora, que dita regras e quer nos enquadrar a estereótipos. A culpa é minha, única e exclusivamente minha. Portanto quando encontrarem tal carta junto ao meu corpo não sintam pena de mim, não sintam pena da pessoa que fui, não seria digna de tal ato. Cometi suicídio porque quis, por achar mais cômodo e mais prático.


            Não chorem no meu enterro. Não preciso de pessoas sofrendo por mim, quem tinha de sofrer, rir, chorar, se lamentar ou ter quaisquer outros tipos de reações junto a mim que o fizessem em vida. Agora, após a morte, de nada adianta. Agora Lívia é morta.


            Sigam suas vidas enquanto eu prossigo na minha calma e tranqüila eternidade. Talvez eu queime no inferno, mas a mim tanto faz, pois se continuasse em vida provavelmente acabaria no mesmo lugar.


            Não vou mais alongar o que já está decidido.


Adeus


Até breve


Nos vemos um dia. Ou não.


Sem pesar,


A suicida.”


E assim me matei, com uma garrafa whisky e uma lâmina bem afiada.


            O processo até a morte foi bem simples, bebi whisky até não sentir mais minhas pernas e a cada gole me senti mais confiante e segura daquilo que queria e então, lá pelo meio da garrafa cortei meus pulsos e deixei que todo o sangue se esvaísse de mim, lenta, mas não dolorasamente.


Claro que não escrevi todos os motivos que me levaram a suicídio, mas eles não são realmente importantes, são todos secundários, como o fato de eu ter amado alguém que apenas me humilhou, como o fato de as pessoas com quem mais me importava terem me traído e como o fato de a minha vida ter se transformado, em questão de meses, de uma vida perfeitamente normal e boa em uma completa bagunça desastrosa. Besteira! Todos motivos secundários. O importante ali era causar a polemica, gerar dúvida, tristeza e talvez até ódio. Sem contar, é claro, com o drama. Ah! O drama! Dom de todo bom escritor e o que move a humanidade, já que estamos sempre procurando por ele, não acha? Já o motivo de ter deixado a carta é porque acho que por ter tentado tanto ser escritora em vida, quis sê-la também na morte.


            Agora falemos do dia do meu enterro.


Eu estava presente nesse tão glorioso dia. Meu dia preferido do ano. Sem coincidências é claro! Já que era pra ser enterrado, que fosse em um bom dia pelo menos. 27 de março. Meu dia preferido do ano. Estava ensolarado, passarinhos cantavam, outono, dia ameno, sem frio nem calor. O dia perfeito, não fossem algumas pessoas chorando, gritando ou ralhando aos céus, e como sempre a Deus, minha morte. Alguns “amigos” que não via há anos, sequer conversávamos mais, outros que viviam comigo, mas não me eram tão importantes e alguns que eu gostava, na verdade que eu amava. Haviam também alguns parentes, alguns não! Muitos parentes. A maioria estava ali apenas para fazer volume e fazer o seu papel, se se lamentavam? Claro! Ouvi coisas como “ coitada, tão nova. Mas veja, aquele não é o primo Fernando? Como ele engordou. Sua esposa não deve estar cuidando direito dele.” e até “João nem sequer veio. Mora do outro lado da cidade, mas é um vagabundo, coça o saco o dia inteiro e nem para dar uma passadinha no enterro da menina... como é o nome mesmo? Lívia! Isso!... e nem para vim ver Lívia morta.”


Pois é, pobre João, era o mais sincero dos primos. Nunca nos gostamos, mas pelo menos esse não veio com falsos sentimentalismos e hipocrisias. Continuou em sua casa, assistindo TV e coçando o saco como sempre. Passei a gostar de João naquele dia.


Ah os enterros... quase me comovem. Antes de ser enterrada o celebrante, se posso assim dizer, fez um belíssimo discurso, não sei bem dizer se era padre, pastor, rabino ou qualquer outro já que minha família se dividia em religiosos católicos fanáticos e em evangélicos fanáticos. Fanáticos apenas aos domingos, que fique claro, já que ao meio da semana não dobravam o joelho sequer uma vez para orar, mas iam todos os domingos, sem pular um, as missas, ouviam atentamente o que o padre ou pastor ou seja lá quem falava e voltavam felizes e contentes para suas respectivas casas, discutindo sobre o evangelho da semana e ignorando felizmente o mendigo que passava fome e frio que morava perto de suas casas.


Mas enfim, voltemos ao enterro. Após o celebrante falar por alguns minutos algo do tipo: “do pó saímos e ao pó retornamos”, como se isso fosse algum tipo de consolo para os vivos, todas as pessoas, exceto uma, a qual não vem ao caso agora, ficou para chorar pelo meu cadáver já a sete palmos do chão. Se vocês querem saber, é exatamente nesse momento que descobrimos quem são aqueles que realmente nos amam na vida, ironia, já que isso só acontece depois da morte, mais ironia ainda ser aquela pessoa a estar ali, chorando e sofrendo por mim. Quase me arrependi naquele momento, mas não, o mundo ainda não é um bom lugar para se viver.


Vocês, meus caros leitores, devem estar se perguntando do porque de tanta revolta, mas já lhes digo, acalmem-se, o tempo é uma preciosidade e a paciência uma virtude, então não tenham pressa, pois eu tenho todo o tempo do mundo e se vocês o quiserem saber, também deverão ter. Portanto, deixemos esse assunto para o próximo capítulo, agora vou cuidar de outros assuntos e retorno amanhã para começar a contar para vocês a minha historia.



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Autor(a): gc

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