Fanfics Brasil - Capitulo 21 Uma Prova de Amor AyA (Adaptada).Finalizada

Fanfic: Uma Prova de Amor AyA (Adaptada).Finalizada | Tema: Anahi e Alfonso


Capítulo: Capitulo 21

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Existe mais do que uma pontinha de mim que fica se perguntando se estou cometendo um grande erro ao deixar Alfonso sair da minha vida para sempre. Digo a mim mesma que ter dúvida faz parte do jogo. Quando se toma uma grande decisão na vida, pelo menos uma decisão em que exista uma alternativa viável, sempre há um lado bom e outro preocupante. A ansiedade é apenas um sinal de que você está levando as coisas a sério.


Nesse sentido, me divorciar de Alfonso cria um conjunto de emoções similares às que tive quando me casei com ele. Eu sabia que estava fazendo a coisa certa naquela época também, mas estava preocupada, ficava acordada até tarde da noite mesmo depois de ter tomado uns goles de xarope antialérgico. Nos dias que precederam nosso casamento, sabia que meu amor por ele era o sentimento mais verdadeiro que já tinha vivido, mas temia me frustrar, não tinha jeito. Lembro‐me de olhar para ele enquanto dormia e temer desapontá-lo. Ou ficar desapontada. Achava que essa história não iria dar certo e que eu olharia para trás e diria para mim mesma, “Como pude ser tão burra? Como não previ tudo isso?”. E é exatamente isso que está acontecendo.


Agora, à medida que observo Alfonso escapar de mim, tenho a sensação perturbadora de que algum dia olharei para trás, para essa encruzilhada, e apontarei a separação como o maior erro da minha vida.


 Por causa de meu estado fragilizado, fico muito nervosa por estar em breve com a minha família de sinceros. Não conto nada para ninguém e evito encontrá-los por semanas, até o dia da festa de aniversário de seis anos de minha sobrinha Zoe, quando não poderei mais adiar esse encontro.


Pego o trem para a casa de Maura, em Bronxville, e fico olhando para uma paisagem que já conheço de cor. Estou ouvindo as canções animadas do meu iPod, pulando as com qualquer resquício de melancolia da minha playlist, como medida de precaução. O pior que poderia acontecer seria aparecer na casa de minha irmã com a tristeza estampada no rosto. Tenho que ser firme, penso, enquanto invento uma estratégia para dar as más notícias.


Quando o trem chega à estação, decido que só vou contar do divórcio iminente depois que os convidados forem embora e Zoe for brincar com seus brinquedos novos. Talvez fosse menos dramático dar a notícia a todos por telefone, um de cada vez, mas quero falar apenas uma vez. Vou fazer como em uma entrevista coletiva e abrir para perguntas breves. Quando não aguentar mais, vou agradecer à minha família e fazer minha retirada. Como uma atleta depois de uma derrota terrível. “Sim, estou desapontada. Sinto muito por decepcionar meu time e por perder aquele gol no final do segundo tempo. Porém, fiz o melhor que pude. E tenho que seguir em frente...”


Meu pai, que ainda mora em Huntington, na casa onde crescemos, foi para a casa de minha irmã hoje bem cedo e vem me pegar na estação.


Antes que eu feche a porta do carro, ele começa a falar de minha mãe.


 


—           Aquela mulher é impossível! — ele anuncia. Meu pai é uma pessoa positiva, mas minha mãe revela o que há de pior nele. E, aparentemente, ele nunca recebeu o recado a pai divorciados de que não é saudável para um filho (mesmo para um filho adulto) ouvir um pai falar mal do outro.


—           Então, o que foi que Vera fez dessa vez? — pergunto.


—           Ela fez um comentário sarcástico sobre minha calça, daquele tipo que é sua marca registrada — ele diz.


Acho graça nos termos ultrapassados de meu pai.


—           O que tem de errado com sua calça?


—           Exatamente! Não tem nada de errado com ela, tem?


—           De jeito nenhum — digo, mas, depois de olhar mais de perto, vejo que colocou a calça com as barras viradas para fora e uma camisa polo com a gola levantada. É o tipo de erro que minha mãe não consegue tolerar. Ainda assim, fico pensando por que ela ainda se importa com o jeito dele de se vestir. Qual é a dela? Sempre penso.


—           O Dwight está com ela? — pergunto.


—           Não. Ele teve um jogo de golfe de manhãzinha — meu pai fala, sinalizando para virar o carro. — Mas tenho certeza de que fará sua entrada triunfal mais tarde.


—           Eles têm isso em comum, não é? — comento.


—           Sim. Ela está se exibindo a manhã toda — ele diz. Imagino minha mãe com a cabeça empinada para trás, o nariz arrebitado exatamente como um pomposo cavalinho de circo.


—           Sim. Ela é o centro das atenções! — exclamo.


O objetivo de vida de minha mãe é ser notada em todas as ocasiões. Ela com certeza estará vestida com exagero, provavelmente   vai dar para Zoe o presente maior e mais caro e ainda vai ter uma multidão de admiradores ao seu lado o tempo todo. Isso não mudou desde que eu e minhas irmãs éramos pequenas, e nossas amigas adoravam minha mãe. Elas a chamavam de coisas como “maluca”, “escandalosa” e “uma das garotas”. Mas, lá no fundo, elas ficavam felizes de não tê-­‐la como mãe.


—           Não deixe ela abalar você, papai — digo.


Meu pai sorri como se mentalmente estivesse mudando de marcha. Então, ele fala:


—           E aí, cadê o Alfonso?


Eu sabia que não ia demorar para essa pergunta chegar. Ainda sinto uma forte dor no peito ao ouvir o nome dele. Respiro fundo e falo em um tom natural.


—           Ele tinha que trabalhar.


—           Alfonso não costuma faltar a uma festa da família.


—           Sim. Ele é um homem de família — falo. Estou sendo sarcástica, mas me ocorre que isso é a pura verdade: ele é um homem de família.


Um minuto mais tarde, saltamos na entrada da casa de minha irmã e eu inspeciono sua mansão de quatro milhões de dólares (Maura insiste que sua casa não é uma mansão, mas eu considero qualquer casa com mais de seis quartos uma mansão, e a casa dela tem sete) com minha costumeira mistura de admiração e desdém. Não estou desaprovando a pura magnitude das suas riquezas, pois tudo é relativo. Não  aprovo o modo como Scott ganhou seu dinheiro, que não pelo trabalho árduo ou por sua inteligência, mas por estar no lugar certo, na hora certa. Ele trabalhava como diretor financeiro de uma pequena empresa  de softwares que foi adquirida por uma quantia enorme de dinheiro  durante a bolha tecnológica. Ele tem tanto dinheiro, na verdade, que eu o ouvi se referir a caras com fortunas menores como “milionários de centavos”.


Se ele fosse bom com minha irmã, isso seria ótimo e eu aplaudiria sua boa sorte. Mas Scott é um grosseirão (para usar uma das expressões do meu pai) e a casa deles me lembra constantemente de tudo que Maura tem que aguentar no dia a dia, ou seja: coisas finas e marido mulherengo. Eu me pergunto se minha irmã aguentaria isso se não tivesse filhos com Scott. Ela diz que sim. Acho que ela não deveria de qualquer jeito.


Meu pai estaciona atrás de uma enorme van branca adesivada ENDIVE BUFFET. Maura não economiza nas festas e até as festas de seus filhos são eventos extravagantes, então não fico surpresa quando entro pela porta da frente e vejo preparativos de última hora e uma movimentação mais parecida com uma festa de casamento do que com uma festa de aniversário de criança.


—           Olá, olá! — Maura fala, me dando um abraço rápido e distraído antes de voltar sua atenção para um gigantesco vaso de flores exóticas cercado por elaborados saquinhos de lembrancinhas. Vejo que ela está nervosa, como sempre fica antes de qualquer evento social. Típica primogênita, Maura é perfeccionista em tudo o que faz e eu sempre penso que deve ser bem cansativo ser igual a ela. Eu sou bem controladora também, mas em relação ao meu trabalho; no entanto, Maura é assim com tudo. Sua casa, seu jardim, seus filhos, sua aparência. Na verdade, foi muito bom ela ter se demitido daquele cargo importante de recursos humanos quando teve as crianças, pois não consigo nem imaginar como ela ficaria sobrecarregada de incluir uma carreira em sua busca pela perfeição.


Ela franze a testa, curva a cabeça para o lado e pergunta:


 —          Esse arranjo está bonito? Será que as flores estão... meio desarrumadas?


Digo-­‐lhe que as flores estão lindas. A casa dela é linda, embora não haja nada confortável ou descontraído. Pelo contrário, é um pouco artificial em sua perfeição eclética, carrega a marca forte de um designer importante que conseguiu uma mistura sofisticada do velho e do novo, do moderno e do tradicional. A paleta de cores predominante é quente: paredes amarelas, estofados cereja e arte abstrata na cor laranja e, ainda assim, a casa dela me lembra um showroom. Você nunca adivinharia que havia três crianças, de seis anos para baixo, morando ali, apesar de as telas a óleo refletirem suas figuras e suas fotos cobrirem o grande piano de cauda. Minha irmã tem orgulho da atmosfera elegante e sofisticada de sua casa. Na verdade, ela menciona isso com frequência, como se me dissesse: “Você não precisa estar mergulhada na bagunça e em restos de comida só porque tem filhos”.


Ela tem razão, mas, como Alfonso costumava dizer, é fácil manter tudo organizado quando se tem um esquadrão de empregados, incluindo uma babá, um jardineiro, um limpador de piscinas, uma assistente pessoal e uma governanta que mora na casa. Já a observei delegando tarefas para sua equipe, vestida com sarongues modernos e moletons da Juicy Couture, e um copo de café gigante da Starbucks na mão, e penso comigo mesma que, embora tenha deixado seu emprego formal, ela gerencia uma pequena empresa e o faz com perfeição.


Mesmo que a vida da Maura pareça superficial e complacente à primeira vista, ela tem princípios sólidos. É uma excelente mãe. Ela  segue a escola de Jackie O. de maternidade, e cita seu ídolo: “Se você errar ao criar seus filhos, não acho que você valha muita coisa”. Como resultado, os filhos de Maura são meigos, bem-educados e, ao contrário do que se pensa, pouco mimados.


—           Onde estão as crianças? — pergunto para Maura quando Zoe, William e Patrick aparecem correndo pelo corredor, agitados e cheios de energia, como se já tivessem consumido açúcar demais. Com a pele clara e o cabelo louro, Zoe se parece mais comigo do que com seus pais, que têm pele morena e olhos castanhos; acho isso um caso fascinante da genética! Maura me ligou recentemente para dizer que Zoe levou uma foto minha ao cabeleireiro e pediu para ele deixar seu cabelo igual ao da tia Anahi. É impossível não me sentir feliz por minha sobrinha se parecer comigo, e reconheço a necessidade narcisística que leva muita gente a ter filhos.


—           Feliz aniversário, Zoe! — digo, me curvando para lhe dar um abraço apertado. Ela está vestida com uma roupa de bailarina, esse é o tema da festa. Um collant rosa-­‐claro, um tutu de tule verde-­‐limão e sapatilhas de balé combinando, tom sobre tom, com os balões rosa e verdes amarrados na pilastra e o bolo de três andares enfeitado com metros e metros de tule. — Não acredito que você já tem seis anos!


Lembro-­‐me de que Alfonso e eu tivemos nosso primeiro encontro uma semana depois que Zoe completou dois anos. Imagino por quanto tempo vou medir a passagem dos anos tendo Alfonso como parâmetro.


—           Obrigada, tia Anahi! — Zoe fala com sua voz rouca, que soa muito engraçada em uma menina tão pequena. Ela desliza o pé e faz uma posição de balé. — A cesta de presentes está na sala de estar, caso você tenha se lembrado de me trazer um...


—           Acho que me lembrei — digo, abro minha bolsa e lhe mostro um embrulho de presente novos.


 


William e Patrick, de três e dois anos, exibem ambos brinquedos


—           Olhe o que a gente ganhou!


—           Que legal! — digo, embora não faça ideia do que é que estão me mostrando.


Zoe me explica que Scott comprou robôs novos para eles, para que não ficassem enciumados com todos os presentes que ela ia ganhar. Scott é um bom pai, mas é muito chegado em subornos e ameaças. A minha ameaça favorita era: “Não vai ter Natal se você não parar de choramingar”. Todas as vezes que Alfonso escutava isso, ele dava risada e me perguntava como Scott planejava fazer o dia 24 de dezembro virar 26.


Zoe sorri e me leva pela mão até a sala de estar onde Daphne e minha mãe estão sentadas no sofá, lado a lado, de Alfonso do coquetéis de vinho.


—           Onde está o Poncho? — minha mãe pergunta, antes mesmo de me cumprimentar. Sempre fico irritada quando ela o chama de Poncho. Fico com mais raiva ainda agora que não estamos juntos.


Sinto meu corpo tenso quando me sento em uma poltrona em frente a elas e digo:


—           Ele não pôde vir hoje.


—           Por que não? — minha mãe questiona.


—           Ele teve que trabalhar — lanço-­‐lhe um sorriso luminoso. — Os negócios estão fervilhando.


Essa declaração revelava que eu estava mentindo. Nunca uso esse tipo de frase, Os negócios estão fervilhando.


—           Mas o Poncho nunca trabalha aos sábados — minha mãe retruca, como se o conhecesse melhor do que eu. — Problemas no paraíso?


 Fico extasiada ao ver a habilidade de minha mãe de pescar qualquer problema no ar. Sua expressão favorita é: “Onde há fumaça, há fogo”. (Essa expressão só justifica sua crença nas fofocas dos jornais sensacionalistas, não importa quão exageradas sejam.)


—           Estamos bem — digo, me sentindo aliviada por ter tomado a decisão de usar minha aliança de casamento pela última vez.


Ela olha em volta atentamente, se curva em minha direção e sussurra:


—           Não vá me dizer que ele deu uma de Scott para cima de você? Sacudo a cabeça, imaginando como ela, entre todas as pessoas,


tem a ousadia de jogar pedras no Scott. No entanto, minha mãe é uma das maiores revisionistas de história no mundo, deu até outra versão para a história da fuga de O. J. Simpson. O. J. parece ter se convencido de que não matou ninguém e, na cabeça de minha mãe, ela nunca fez nada errado. Pelo menos ela chegou à conclusão de que meu pai a levou a traí-lo, o que não faz sentido. Meu pai era um marido muito melhor do que ela merecia.


—           Não, mãe — contesto, pensando como seria mais fácil e simples se meu marido estivesse tendo um caso. Eu nunca continuaria casada com um homem que me traísse. Não importaria as circunstâncias. Nesse sentido, penso como os homens. Não há uma segunda chance. Não tem nada a ver com moralidade, mas sim com minha incapacidade de perdoar. Sou campeã em guardar rancor e não acho que conseguiria mudar de ideia, nem se eu quisesse.


—           Não minta para mim, Anahi — ela fala, pronunciando cada palavra para aumentar o impacto. Então, ela cutuca Daphne e pergunta em voz alta se ela sabe de alguma coisa. Daphne balança a cabeça e toma mais um gole de sua champanhe.


—           Mãe, hoje é o dia da Zoe! — reclamo. — Por favor, pare com isso.


—           Ah, meu Deus! Há mesmo um problema! — ela grita. — Eu sei quando há um problema.


Meu pai balbucia algo sobre ela ser a causa da maioria deles.


Minha mãe aperta os olhos, gira sua cadeira para ficar de frente para ele.


—           O que você acabou de dizer, Larry?


—           Mãe — Maura chama do lavabo, onde está acabando de se arrumar. — Por favor, parem seja lá o que vocês estejam fazendo!


—           É surreal! Como podem me culpar por estar preocupada com minha filha? — ela pergunta para Daphne, sua única aliada em potencial. Daphne se sente da mesma maneira que Maura e eu em relação à nossa mãe, mas não consegue deixar de bajulá-la. Ela é vulnerável e sensível, e precisa tanto do amor de minha mãe que me deixa com raiva e pena ao mesmo tempo. Maura e eu há muito tempo nos afastamos e não nos importamos mais com o que mamãe faz ou deixa de fazer. Por alguma razão desconhecida, Daphne não consegue fazer o mesmo.


—           É incrível! — minha mãe grita novamente, magoada.


—           Você é que é incrível, Vera! — meu pai rebate do outro lado da sala.


A cena que se desenrola é tão previsível que sinto uma dor imensa por não ter Alfonso ao meu lado. Nós nos preparávamos um dia antes para dias como esse, adivinhando o que iriam dizer, quem iria falar alguma coisa e o quê e quanto tempo esperaríamos para ver as palavras serem pronunciadas.


Meus cunhados, Scott e Tony, que estão colocando as cervejas em um balde de gelo enorme no quintal dos fundos, vêm para a sala olhando um para o outro, como se quisessem dizer, “Estamos no mesmo barco, companheiro”. Eles têm pouco em comum. Tony está usando uma camisa xadrez e é o tipo de cara que lê a página de esportes do jornal. Scott se perfumou com uma colônia cara e é do tipo que assina o Wall Street Journal. No entanto, eles são unidos depois de todos esses anos, como acontece em muitas famílias. Scott, sempre o anfitrião perfeito, coloca uma cerveja Amstel light em um copo gelado e a entrega para mim com um guardanapo de coquetel.


—           Aqui está, Anahi — ele fala. Agradeço e tomo um grande gole.


—           O que está acontecendo por aqui? — Tony pergunta. Ele e Daphne estão juntos desde os tempos do Ensino Médio. A longa história deles está acompanhada de uma fidelidade inquestionável e lhe garante o direito de se meter, direito esse que Scott não tem nem em sua própria casa.


—           Alfonso não vem — minha mãe informa a todos. — O que vocês acham disso? Será que eu sou a única a achar isso estranho? — Ela olha à sua volta com a mão pressionando o peito.


—           Mãe, estou falando sério. Não fale mais nada — digo. Não é uma negativa, mas qualquer pessoa normal entenderia a deixa e calaria a boca. Então, minha mãe me prova que não é normal, revira os olhos em direção ao teto, mexe os lábios em uma oração silenciosa,  se levanta como uma tartaruga esticando o pescoço e anuncia:


 —          Preciso de um cigarro. Daphne, minha querida, você não quer ir comigo até o jardim?


Minha irmã acena, concordando. Quando ela se levanta e segue minha mãe, se volta para mim e dá uma leve revirada nos olhos. Daphne quer agradar todo mundo. É a sua melhor, e pior, qualidade.


A campainha toca alguns segundos depois. Olho de relance para o meu relógio e percebo que a festa começou oficialmente. Estou segura por algumas horas. Ouço Maura dando gritinhos na porta de entrada e sua melhor amiga, Jane, dá gritinhos de volta. Maura e Jane foram companheiras de quarto e amigas de fraternidade em Cornell, e, assim como Jess e eu, as duas são inseparáveis desde então. Na verdade, a mudança para Bronxville foi uma decisão conjunta. Depois de morarem em Manhattan por anos, elas pesquisaram exaustivamente os bairros residenciais de classe média alta de Nova York e Connecticut, até que encontraram duas casas no mesmo bairro. Maura é mais rica do que Jane, mas Jane é mais bonita, o que torna a amizade equilibrada e justa. Dá para ouvir o que elas estão conversando:


—           Sua casa está fantástica! — Jane diz. — Aquele arranjo é um arraso!


 —          Suas luzes é que estão um arraso! Foi o Kazu quem fez?


—           É claro! Eu deixaria outra pessoa tocar nos meus cabelos? Enquanto o restante dos amigos de Maura chegam, penso no que sempre penso quando estou em Bronxville. Todo mundo é exatamente igual: presunçoso, educado e, se não é lindo, pelo menos maximizou seu potencial genético. E a maioria deles já teve pelo menos uma passagem no mundo mágico e aparentemente viciante da cirurgia plástica. “Fiz um pequeno retoque”, eles sussurram. Minha irmã retocou o nariz e levantou os seios depois que Wiliam nasceu. Ela não é linda, mas, com um monte de dinheiro e muita força de vontade, chegou bem perto disso, muito mais do que Daphne e eu. Seu grupo todo, na verdade, é bem cuidado, bronzeado e tem o corpo bem torneado. Suas roupas são tão perfeitas quanto as que os modelos vestem em capas de revista, e seus estilos são tão parecidos que parece que tanto as roupas quanto os acessórios fazem parte do mesmo guarda-­‐roupa e da mesma foto. Não preciso consultar a revista de moda deste mês, pois basta dar uma olhada na sala para saber que a última moda inclui saias rodadas, sapatilhas com pedrarias e colares volumosos com turquesas.


Seus maridos também são lindos, pelo menos à primeira vista. Alguns têm entradas no cabelo, outros têm o queixo fino ou são dentuços, mas tais defeitos são encobertos por uma pátina que o dinheiro proporciona. Muito dinheiro. Eles são confiantes, falam com segurança e riem com prazer. Usam mocassins da Gucci sem meias, calça cáqui com vinco e cintos de couro. O cabelo deles está penteado com gel, na pele passaram uma loção pós-­‐barba cítrica e suas camisas de linho estão enroladas no punho corretamente, a ponto de revelar seus relógios sofisticados, porém esportivos.


As conversas giram em torno deles mesmos e são sempre previsíveis. As mulheres falam sobre as escolas particulares dos filhos e suas iminentes viagens para o Caribe e para a Europa. Os homens discutem suas carreiras, os jogos de golfe e investimentos. Existe aquela fofoca ocasional sobre algum vizinho que não está presente — as mulheres são mordazes; os homens disfarçam com um tom de brincadeira. O que me chama mais a atenção hoje é que Zoe e seus amigos parecem estar     em exibição, como se fossem os acessórios mais importantes, combinando entre si e, em um caso doloroso, combinando com um dos pais. As meninas usam laços enormes de gorgorão na cabeça e vestidos caríssimos e já aprenderam como flertar descaradamente. Seus irmãos usam lenços com monogramas e meias até o joelho, e já aprenderam a se pavonear e contar vantagens.


Logo depois do nosso lanche de sanduíches delicados e saladas de macarrão sofisticadas (e pizza de queijo de cabra para as crianças), uma bailarina profissional, da Ballet Academy East, chega para dançar na ponta dos pés para Zoe e suas quinze amigas mais íntimas, que correm para vestir suas malhas e tutus de balé. Elas recebem uma aula em grupo no salão ao lado da piscina, que tem uma das paredes espelhadas. As mães delas se posicionam como fotógrafas e tiram fotos da prole. Mudo para o vinho e mantenho meu copo sempre cheio, enquanto olho de soslaio para o relógio. Quanto antes a festa acabar, mais cedo posso dar a minha notícia e seguir em frente com a minha vida.


Quando a aula de balé termina, é hora do bolo, o ponto alto de qualquer festa. Existem poucas coisas tão gratificantes quanto um bolo caro. Cantamos para Zoe, a assistimos apagando as velinhas em duas tentativas, e esperamos por um pedaço de bolo. Algumas mulheres aceitam uma fatia de uma das garçonetes, mas a maioria recusa e experimenta apenas um pedacinho do prato de seus maridos. Recebo, no meu prato, um pedaço com o B do “Parabéns”, e me lembro do “B” de Alfonso. Sinto tanto a falta dele, de tantos modos diferentes, mas agora sinto falta dele como quando você é a única solteira em uma sala cheia de casais.


Encho mais uma taça de vinho e acompanho a multidão até a sala onde Zoe começa a abrir seus presentes, apesar da insistência de Maura para ela esperar até os convidados irem embora. Felizmente, Zoe está naquela idade em que é impossível esperar para rasgar os embrulhos de presente e, em pouco tempo, ela fica cercada por uma  pilha de brinquedos de plástico lilases e bichinhos de pelúcia. Bonecas American Girl, kits de montar bijuterias, jogos de tabuleiro e uma abundância de Barbies e Polly Pockets. Ela deixa meu presente para o final. É uma caixinha de joias de madeira, com as iniciais dela gravadas e uma bailarina dentro. Estou orgulhosa por ter escolhido o presente sem a ajuda da Maura, a quem geralmente consulto no último minuto.


Zoe abre meu cartão primeiro, foi sugestão de Maura. Todos nós a escutamos ler em voz alta, salientando as palavras mais importantes. Ela chega ao final e lê: “Com amor, tia Anahi”. Então, ela levanta os olhos e me diz:


—           Por que o nome do tio Alfonso não está no cartão?


Merda.


—           Sim, Anahi. Por quê? — minha mãe pergunta. Falo que foi um lapso.


Zoe me olha, confusa. É óbvio que ela não conhece a palavra lapso.


—           Esqueci de escrever o nome dele — digo, com a voz débil.


—           Você vai se divorciar? — Zoe pergunta em um tom ansioso, que sugere que o casamento de seus próprios pais está em perigo. — A babá V. contou para a tia Daphne que você está se divorciando.


Minha mãe, que é a tal de babá V., finalmente tem a oportunidade que tanto esperava. Ela olha para todos com sua expressão de surpresa: “Quem, eu?”. Então, ela se vira para mim e comenta, com sua voz eloquente de atriz de novela:


—           E então? É isso mesmo?



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Autor(a): eduardah

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Comentários da Fanfic 22



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  • franmarmentini♥ Postado em 23/08/2015 - 22:39:06

    Acabou a fic???? E os filhos??? ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 23/08/2015 - 21:35:45

    *.*

  • sra.herrera Postado em 23/08/2015 - 17:35:56

    Continua amo essa fic quero aya juntos logo #RaivaDoPoncho -_-

  • eduardah Postado em 23/08/2015 - 01:53:10

    Tem uma saída sim , faça igual eu , quando eu li esse livro, assim como eu tb li COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ pulava tudo essas cenas kkkkkkk ...

  • eduardah Postado em 23/08/2015 - 01:49:59

    Essa ainda sendo , acontecendo tudo é Uma História de amor, tem algo que já entrou na fic, na História que vai começar a se encaminhar aos eixos , dividi ela em 4 Partes e já estou na terceira , aguarde , eu disse tem coisas aqui que por mim não postava mas , no fim vcs vão acabar tendo uma surpresa Bem legal a respeito de um dos dois , e enfim dos dois tb , não abandona não , vc ainda vai rir ....

  • franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 23:16:33

    ;/

  • franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 22:44:33

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 22:19:50

    Não to gostando ;( eu não quero ficar lendo a any com outro...e ela apaixonada por outro...e com certeza poncho ta com outra....que história mais triste é essa...

  • franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 21:39:22

    Migaaaa serio..não consigo ler...eu to até chorando...de tristeza....poncho nem aparece...cada um ta na sua...não vejo saída....

  • franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 21:33:58

    Poxa como vc quer que eu leia isso...any transando com outro!!!!! Poncho deve estar fazendo o mesmo também... ;( isso acabou comigo....


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