Fanfic: Uma Prova de Amor AyA (Adaptada).Finalizada | Tema: Anahi e Alfonso
— Você está chorando? — perguntou, parecendo mais horrorizado que preocupado. Ele nem esperou minha resposta: se sentou, acendeu as luzes e me olhou temeroso. Disse a ele que sentia muito. Ele me abraçou e disse:
— Não sinta. — E, então, me perguntou qual era o problema, o que estava errado, por que eu estava triste, se ele tinha feito alguma coisa que me magoou. Disse a ele que não estava triste de verdade, apenas cansada e que havia bebido muito. Ele me pressionou e eu acabei contando a ele sobre Paul, o que havia mudado no nosso relacionamento, sua indisposição de se mudar para Nova York e como às vezes sentia saudades dele ao ouvir algumas músicas, todo aquele melodrama típico de final de relacionamento. Até contei para ele sobre a mensagem que Paul deixou na minha secretária eletrônica, e que eu a havia deletado depois de ouvi-‐la apenas duas vezes. Desculpei-‐me durante a conversa e Anders foi um perfeito cavalheiro. Disse que estava tudo bem e, depois de eu insistir um pouco, acabou me contando algumas de suas histórias sobre amores antigos.
É claro que fiquei envergonhada por ter chorado durante o sexo, mas, no meu entender, Anders e eu tínhamos dado um grande passo juntos, algo catártico. Finalmente, estava pronta para seguir em frente e esquecer Paul. Na manhã seguinte, Anders me deu um beijo de despedida, tudo parecia normal. Voltei para casa e contei para Jess que até que enfim eu havia superado o Paul, e que estava pronta para continuar meu relacionamento com o Anders. O único problema foi que Anders nunca mais me ligou. Claro que eu também não liguei para ele. No entanto, ficou bem claro quem é que estava terminando tudo. É sempre assim.
Considerando toda essa história, decido não cometer o mesmo erro com Richard. Nunca mais quero chorar enquanto estiver fazendo sexo (a menos que seja de prazer, e uma vez Alfonso me fez chorar). Quero que as coisas fiquem definidas na minha cabeça. Sei que ainda vou me lembrar de Alfonso por um longo tempo, mas prefiro que esses sentimentos não venham à tona quando estiver debaixo das cobertas com outro homem. Não quero macular meu frágil começo com Richard; o problema é que, no começo, todos os relacionamentos são frágeis.
Então, quando estava achando que o pior havia passado, recebo uma correspondência que bagunça minha cabeça. Reconheço imediatamente a letra de Jess e sinto uma ponta de culpa por não ter retornado suas ligações nem aceitado seus convites para almoçar. Jess e Ray são os únicos amigos presos na linha de fogo de nosso divórcio, o único casal que não pode ser considerado nem meu amigo nem de Alfonso. Todos os outros são um pouco mais amigos de um ou do outro e temos um acordo não dito, no qual eu devo ficar longe dos amigos dele e ele dos meus. É uma questão de respeito. Estou pensando nisso tudo enquanto abro o envelope. Jess adora mandar bilhetes e frequentemente diz como a era dos e-‐mails está destruindo a arte de se escrever cartas à mão. Porém, a correspondência não é um bilhete; é um convite para o batizado de Raymond Jr.
— Merda! — digo em voz alta porque sei que Alfonso deve estar receAlfonsodo o mesmo convite agora e a última coisa que quero é me encontrar com ele. Fico com raiva de mim mesma e dele também.
Coloco o convite de volta no envelope e penso em minhas opções. Poderia ligar para Jess e lhe dizer a verdade. Somos bastante amigas e poderia lhe confidenciar como estou me sentindo. E é o que faria se ela estivesse me convidando para uma festa qualquer. Mas como é o batizado de seu primogênito, um evento sagrado, não me parece certo fazer isso. Sei que ficaria parecendo egoísmo de minha parte. Tal atitude seria mesmo egoísta.
Penso em mentir. Inventar uma desculpa. Dizer que vou viajar naquele exato fim de semana. Que já comprei a passagem e não tem devolução do dinheiro. Mas isso envolveria uma grande mentira sobre ir para Vegas ou Los Angeles, ou Nova Orleans, e eu teria que me lembrar constantemente de que fui viajar naquele fim de semana de agosto. E com certeza eu teria a sorte de esquecer essa mentira sobre a viagem, atender ao telefone e falar com Jess, que ligou para Jess para saber a receita de algum drinque. Parece cruel, mas é verdade: as pessoas que não mentem são aquelas que têm mais chance de ser pegas na mentira. Além do mais, se juntar todas as desculpas que recentemente tenho dado à Jess, ela vai saber de imediato que é uma pilha de mentiras. Eu saberia.
Eu me recrimino por não ter aceitado pelo menos um de seus convites para almoçar ou para um drinque no ano passado. Por não ter dado uma passadinha na casa dela para ver Raymond Jr. Se eu tivesse feito o mínimo esforço, não seria um grande problema faltar ao batizado.
De repente, me pergunto por que estou evitando Jess e Ray. Acho que não preciso ser uma especialista em psicologia para saber as razões. Em parte é a questão do bebê. A última coisa que quero no momento é estar rodeada de crianças. Não quero me lembrar de que Alfonso me trocou por causa de uma. Mas também não quero estar por perto de nada nem de ninguém que me faça lembrar dele, ponto final, e receio que Jess vai querer me contar em detalhes tudo sobre a nova vida de Alfonso. Particularidades que não tenho nenhum interesse em saber. A menos que ela me diga que ele está solteiro e deprimido. E não acho que seja esse o caso. Eu o vi com Tucker. Pode até ser que ele não esteja apaixonado por ela, ou que nem esteja com ela; todavia, em hipótese alguma, ele aparenta estar deprimido.
Claro que poderia dizer para Jess que não quero saber nada que tenha a ver com Alfonso. Mas eu ia parecer uma grande perdedora, além de emocionalmente instável, se me negasse a conversar sobre qualquer coisa significante na minha vida. Então, Jess iria contar para Ray, que, como homem, não teria o bom senso de guardar essa informação para si mesmo e contaria a Alfonso como sou patética. Além do mais, se Jess fizesse minha vontade e não mencionasse nada sobre ele, inevitavelmente ficaria imaginando as mil coisas que ela não estaria contando.
Vou acabar pensando que, sim, eu disse a ela que não queria falar nada sobre Alfonso, mas, se a história fosse favorável a mim (e desfavorável a ele), ela com certeza acharia um jeito de levar a conversa por caminhos sutis como: “Sei que não quer saber nada sobre Alfonso, mas ele sempre pergunta sobre você quando o encontramos e está tão solitário sem você por perto”.
De qualquer modo, esse convite me força a tomar uma atitude.
Sei exatamente o que Jess vai dizer, então rio quando ela chega em casa do trabalho, olha de relance para o convite e diz:
— Você tem que ir. Você tem que levar o Richard. E você vai ter que estar linda. — Seus olhos brilham, animados, pela primeira vez desde sua conversa com o Trey, que não ligou de volta nem para dizer que estava arrependido nem para dizer oi.
Digo a ela que jamais vou convidar Richard para ir comigo.
— Por que não? Tenho certeza de que Jess não vai se importar.
— Não faria isso com Alfonso. Nem com Richard, para falar a verdade.
Além do quê, ia parecer tão óbvio. Patético, mesmo.
— Não concordo. Acho que é o contrário de patético. Vai parecer que Richard é seu namorado. E as pessoas levam seus namorados a eventos como esse.
— Ele não é meu namorado e você sabe disso.
— É, mais ou menos.
— Não — digo. — Ele não é.
— Então, o que ele é?
— Ele é um cara de quem eu gosto. Um cara com quem eu dormi
uma vez.
— Então durma com ele mais algumas vezes e o leve com você. Dou uma gargalhada e sacudo a cabeça. Ela diz:
— Muito bem. Mas você vai se arrepender muito se não escutar o que estou dizendo e Alfonso aparecer com alguém.
Levo um susto e pergunto a ela:
— Você acha que ele teria coragem?
— Acho que sim.
— De jeito nenhum. Nunca.
— Nunca diga nunca — Jess diz.
Esse tem sido seu mantra há anos e acho que estou finalmente começando a concordar com ela. Não existe garantia em relacionamentos. Você não pode acreditar que algo não vai mudar. Você não pode esperar nada a não ser o inesperado. Você só vai arrumar encrenca se acreditar que é exceção à regra.
Pego o telefone e ligo para Jess. Ela atende com um tom alegre
na voz.
— Oi, sumida!
Antes que eu possa me conter, digo:
— Oi, Jess. Recebi seu convite e não faltaria ao batizado por nada... Você se importa se eu levar alguém?
Sinto um pouco de culpa por estar usando Richard para atingir Alfonso. Ou por usar Richard para estar por cima ao encontrar Alfonso. Ou simplesmente por usar Richard. Contudo, Jess salienta que, na verdade, não estou usando ninguém, pois gostar de alguém anula a ideia de se estar usando a pessoa. Ela me pergunta se eu levaria Richard para o hipotético batizado de seu filho. Respondo rapidamente que sim, pois não quero pensar no bebê que ela não vai ter com o Trey e porque sei exatamente aonde ela quer chegar.
Ela sorri, como se tivesse acabado de demonstrar um complicadíssimo teorema:
— Então... Você deveria estar com a consciência limpa.
Sacudo minha cabeça e dou uma risada enquanto ela levanta a mão para me saudar com um “toque aqui!”. Claro que é conveniente ter uma mestre no racionalismo como sua melhor amiga.
Então, alguns dias mais tarde, estou no apartamento de Richard e estamos preparando o jantar. Ou, mais precisamente, estou observando enquanto ele prepara o jantar e aceitando tarefas menores e descomplicadas do tipo “lavar a alface” e “picar a cebola”. Para mim, não tem problema lavar a alface; espalho as folhas sobre o papel-‐toalha e as enxugo delicadamente antes de colocá-‐las numa grande travessa de madeira. Quando começo a picar a cebola na direção errada, Richard dá uma risada e diz:
— Fale a verdade, Parr, como é possível você não saber cortar uma cebola direito?
— Eu sei — digo, me sentindo um pouquinho envergonhada. — Já aprendi um monte de vezes e nem assim me lembro. É a mesma coisa com tomates.
Com delicadeza, ele tira a faca das minhas mãos e diz:
— Com licença.
Banco a incapaz — o que não é muito fingimento — e o observo enquanto ele usa sua técnica perfeita de cortar e picar sem esforço algum.
— É estranho se eu disser que isso me deixa muito excitada? — pergunto. Sempre gostei de pessoas que demonstravam um talento inesperado e nunca teria imaginado que Richard fosse tão bom assim na cozinha.
Ele ri e eu admiro as linhazinhas de expressão em volta de seus olhos. Ele deve ter acabado de tomar banho, pois seu cabelo ainda está úmido atrás e seu perfume um pouco mais forte do que o normal. Ele está descalço, usando jeans escuros e uma camisa branca bem passada com as mangas enroladas até os cotovelos. Observo-‐o pegar a cebola com as costas da faca e transferi-‐la da tábua de cortar para a frigideira untada com azeite de oliva. É gostoso ouvir o barulhinho crepitante da cebola fritando enquanto ele diz orgulhosamente “Voilà!”. Então ele enxuga as mãos num paninho, abre uma garrafa de vinho com um abridor de garrafas profissional, outra coisa que eu não consigo fazer, e despeja o vinho em duas taças. Ele me entrega uma e tilintamos nossas taças sem fazer um brinde. Só gosto de fazer brindes se há algo que valha a pena se dito. Brindes do tipo “Vamos brindar por hoje à noite”, ou “Ao chef”, ou “A nós” parecem tirar a graça do momento. Ou, pior ainda, criam um tipo de vazio, como se houvesse uma pergunta no ar: “O que vamos falar agora?”. E se um homem olha no fundo de seus olhos quando seus copos se encontram, como Richard acabou de fazer, isso pode ser muito mais emocionante do que algumas palavras.
Sorrio quando Richard dá um passo em minha direção, se curva e me dá um beijo. Ele é um pouco mais alto do que Alfonso, e é difícil beijá-‐lo se estamos de pé. A maioria das mulheres prefere homens mais altos, mas eu sempre gostei da sensação de intimidade que vem junto com alguém com a mesma altura. Fica mais íntimo na hora de dançar uma música lenta, entre outras coisas. Não que eu quisesse mudar alguma coisa no Richard. Retribuo seu beijo e saboreio o vinho. Chego à conclusão de que o primeiro beijo da noite é sempre o melhor. Acho que Richard pensa a mesma coisa, pois ele faz uma pequena pausa antes de se voltar para o fogão e mexer as cebolas.
— Agora, chega. Não me distraia — ele diz. — Isso aqui é coisa séria.
Estudo suas costas e o modo como seu pescoço se curva sobre o fogão e decido que esse é o melhor momento para convidá-‐lo para o batizado. Vou ser bem natural, simplesmente fazer o convite. Não preciso ficar “enrolando”. É isso que é lindo em nosso relacionamento. Ou o que quer que esteja rolando entre nós. Não há necessidade de fingimentos. Então, eu disparo e falo de uma vez:
— Grandes amigos meus tiveram um filho. O batizado é na semana que vem. Alfonso vai estar lá. Você gostaria de me acompanhar?
Ele se vira para mim, sorrindo:
— Então você quer provocar ciúmes em seu ex-‐marido? Começo a balbuciar uma negativa, mas ele me interrompe e diz:
— Sem problemas. Eu vou. E não se preocupe. — Richard segura sua colher de pau como se fosse uma espada. — Vou deixar você orgulhosa.
— Não é por isso que eu quero que você vá — afirmo. — É que eu achei... que seria legal se você conhecesse meus amigos.
— Certo — Richard diz, com um sorrisinho sarcástico. — Um batizado é um dia bem comum para conhecer os amigos. Ao contrário de, vamos dizer... sair para beber ou para um brunch. Ou sair sem compromisso para um jantar.
Sinto que fiquei corada. Deveria ter imaginado que ele me provocaria. Devo ter ficado envergonhada, pois ele imediatamente parou de brincar comigo. Ele abaixou a colher de pau, levantou meu queixo com seu polegar e me beijou novamente. Mas desta vez foi um beijo do tipo “anime-‐se, gata”, ao contrário de um daqueles beijos que querem dizer “não consigo esperar mais nem um segundo para tirar sua roupa”.
Quando nos afastamos, ele está sorridente de novo.
— Será que devo fazer isso só por causa do seu ex? Talvez devêssemos sentar na primeira fileira e começar a nos agarrar dentro da igreja. Que tal?
Sinto meu rosto ficar quente e digo:
— A cerimônia vai ser no Central Park, perto do Shakespeare Garden. E a propósito... foi uma ideia horrível. Esqueça o convite.
Na verdade, não quero que ele esqueça. Quero que ele vá comigo. Por causa de Alfonso, sim. Porém, muito mais porque o quero perto de mim. Exatamente como disse para Jess. Por um instante, penso em lhe dizer tudo isso, mas não consigo imaginar um modo de lhe dizer sem parecer séria demais.
— Ei, Parr — ele diz, com seu sorriso maroto. — Não vou esquecer o convite. Não perderia esse batizado por nada neste mundo.
Acordo na manhã do batizado com o som de uma chuva pesada, o tipo de chuva torrencial que geralmente não para antes do meio-‐dia. Meu primeiro pensamento vai para o meu cabelo, que fica horrível com qualquer tipo de umidade. Meu segundo pensamento é que vai ser difícil arrumar um táxi e eu detesto o metrô em dia de chuva. Meu terceiro pensamento foi para Jess, que planejou o batizado no Central Park e isso está fora de questão. Seu plano B, em caso de chuva, é fazer a cerimônia na sua sala de estar. Sua minúscula sala de estar. De repente, o fato de eu ter convidado Richard parece ter sido uma má ideia. Uma coisa é levar um convidado para um evento em um lugar público e aberto. Outra bem diferente é levar alguém para um apartamento pequeno em Manhattan.
No entanto, é tarde demais para mudar os planos. Tomo um banho, seco meu cabelo e coloco o vestido que Jess havia escolhido para mim: uma de suas roupas, um pretinho clássico de Diane Von Furstenberg. (Vestidos são roupas que podemos compartilhar.) Jess também me deu um novo par de sapatos, um presente de aniversário antecipado, um par de Manolos com salto verde-‐escuro e tiras de tecido pretas e verdes. Fico na frente do espelho, me maquio e borrifo um pouquinho de perfume.
Com exceção de que deveria ter feito um retoque nas luzes do meu cabelo, estou satisfeita com o resultado. Minha aparência está ótima, mas não estou parecendo desesperada para impressionar. Não sinto necessidade de impressionar Alfonso, um homem que havia me visto nos meus piores momentos. Ainda assim, não quero aparecer na frente dele
parecendo pior do que ele se lembra. Chamo Jess para vir ao meu quarto para dar sua aprovação final.
— Você está incrível! — ela diz, encantada. — Um pouquinho conservadora e discreta, mas cheia de estilo. Se Tucker for, ela vai morrer de inveja. Talvez ela até se apaixone por você.
Dou uma risada e digo:
— E quanto aos acessórios?
— Era o que eu ia falar. Acho que você devia ir simples. Você não vai querer ficar parecendo uma garotinha fashionista de 20 aninhos. Coloque apenas aquele seu anel de opala azul e suas pérolas. E só.
Aceno com a cabeça e pergunto:
— Que bolsa devo usar?
— Vou pegar minha bolsinha da Dior. É perfeita. E não se esqueça daqueles maravilhosos e enormes óculos de sol de aro de tartaruga.
— Mas está chovendo — rebato.
— Pode ser que pare. Esteja preparada. Respiro fundo, solto a respiração e digo:
— Jess, obrigada. Amei os sapatos. Amo você. Ela ri e responde:
— Tente se divertir. Sorria bastante. Segure no braço de Richard tanto quanto for possível. Não! Segure no braço de Alfonso tanto quanto for.
Ela sai para pegar a bolsinha exatamente no momento em que Richard liga.
— Tudo em ordem. Estou usando minha calça de couro de cintura baixa e de cowboy — ele brinca. — Você gosta?
Dou uma risada e pergunto:
— Calças de cowboy não são sempre justas e de cintura baixa?
— Você está certa. Use um chapéu e ninguém vai notar.
Ele então me avisa que vai passar por aqui e me pegar de táxi. O problema do transporte já está resolvido. Lembro-‐me de como resolvia essas questões de logísticas com o Alfonso. Era sempre eu quem guardava as passagens de avião, por exemplo. Ele as perderia. Ou pelo menos entraria em pânico só de pensar que as tinha perdido. Posso vê-‐lo agora, de olhos arregalados, procurando como um louco em seus bolsos, revirando sua maleta, convencido de que elas tinham desaparecido. Uma vez, nós até brincamos que tínhamos sorte em não ter filhos. Porque Alfonso com certeza esqueceria o bebê no metrô.
Richard interrompe meus pensamentos me convidando para dar uma passadinha no Starbucks para um café antes.
— Vou querer tomar um — ele diz. — Esse é o compromisso social que começa mais cedo que eu já tive.
Imagino uma cena desastrosa e lhe digo:
— Não, obrigada.
Quinze minutos mais tarde e após uma última conversa com Jess, saio de casa. Richard já está lá embaixo no táxi, com seu café gelado.
Ele se curva no assento e abre a porta. Entro e digo:
— Ei! Onde está sua calça de couro?
— Mudei de ideia — ele diz, beijando meu rosto. — Humm. Você está com um cheiro delicioso... Deixa eu adivinhar: o perfume favorito do ex-‐marido?
Sorrio e lhe digo a verdade.
— O segundo favorito.
— Ah, estratégico! Se você escolhesse o favorito, ia parecer que estava tentando lhe agradar. Que ainda está pensando nele. Se você escolhe um que ele goste menos, você vai parecer despeitada... o que também indicaria que você ainda pensa nele.
Dou uma risada, pois a análise dele é precisa. É bom sair com um cara que não tem o instinto do ciúme. Como resultado, sinto que posso contar qualquer coisa para ele.
— Culpada! — confesso.
— Então... — Richard diz com um sorriso maroto. — Tem algum assunto que não deve ser abordado hoje?
Digo a ele que seria bom não entrar no assunto de divórcio e filhos.
— Que inclui, é claro, pedir o divórcio por causa da questão de ter filhos. Do contrário, pode-‐se conversar sobre qualquer coisa.
Seguimos para a casa de Jess e Ray, sem encontrar trânsito no caminho, e chegamos bem na hora. Richard paga o táxi e nós descemos do banco de trás, sem guarda-‐chuva, e entramos no saguão do prédio onde ele joga seu copo de café vazio na lixeira. Jess e Ray acionam o interfone para podermos entrar e subimos pela escada, encontrando a porta ligeiramente aberta.
— Olá? — digo, limpando os pés no capacho de sisal. Meu coração bate descompassado só de imaginar que Alfonso está do outro lado.
— Podem entrar! Entrem! — escuto Jess cantarolar.
Empurro a porta para abri-‐la um pouco mais e coloco meu presente, uma caneca de prata gravada com o nome do bebê, na mesa do hall de entrada. Dou uma olhada na sala e vejo que somos alguns dos primeiros convidados a chegar. Sinto uma mistura estranha de alívio e desapontamento ao perceber que Alfonso não está ali. Pela primeira vez, passa pela minha cabeça que talvez ele não compareça. Talvez ele esteja me evitando. Pode ser que esteja fora da cidade. Talvez tenha saído de férias com Tucker. Acho que devia ter perguntado para Jess.
— Anahi, minha querida! — Jess dá um gritinho. Ela está com Ray Jr. no colo, mas me abraça com uma das mãos livres. Não consigo acreditar no quanto ele mudou em poucos meses. Ele passou de uma coisinha pequenina e agora está naquela fase alerta e rechonchuda de um bebê de comercial de televisão. Os bebês são um lembrete de como o tempo passa rápido demais, mas resisto a comentar o quanto ele cresceu. Não quero salientar o fato de ter sido uma amiga tão negligente.
— Oi, Jess! — digo, beijando o rosto de minha amiga antes de me virar para admirar o filho dela. Ele está usando um macacão de linho creme com a gola no estilo Peter Pan que provavelmente custou mais caro que a maioria de minhas roupas. Jess parece uma europeia em relação a roupas: tem poucos itens no seu guarda-‐roupa, mas todos de alta qualidade. Elevo minha voz alguns tons e digo: — Oi, Raymond!
Sempre me sinto envergonhada, meio tola, quando falo com bebês ou com crianças pequenas com quem não estou muito familiarizada. Raymond faz uma careta e olha para o outro lado escondendo o rosto nos ombros de sua mãe e a agarrando pelos cotovelos com suas mãozinhas. É como se ele soubesse a verdade a meu respeito. Não dizem que os cachorros e as crianças sentem coisas em relação às pessoas?
Jess olha ansiosa em direção a Richard, quando lhe digo:
— Jess, gostaria de lhe apresentar meu amigo, Richard. Richard, estes são Jess e Raymond.
Richard diz:
— Prazer em conhecê-‐la, Jess. — Então ele dá umas palmadinhas no bumbum de Ray Jr., fazendo as fraldas farfalharem. — Oi, companheiro! Como vai?
Raymond Jr. fica firme. Ele não vai cair nessa.
— Muito prazer em conhecer você, Richard — Jess responde, com os olhos cintilantes de curiosidade. Não havia entrado em detalhes com ela ao telefone, e ela também não me perguntou nada. Posso afirmar que Jess estava se segurando para não fazer mais perguntas do tipo: “E aí? Tudo bem com vocês dois?”. Eu havia dito que estava tudo ótimo. Agora, tenho a prova: um homem distinto e mais velho.
Richard e Jess conversam um pouco sobre banalidades, que consistem basicamente em Jess fazendo uma série de perguntas a ele. “O que você faz? Ah, vocês trabalham juntos? Há quanto tempo você está lá? De onde você é?” Ele responde a tudo educadamente, embora minimamente, e faz algumas perguntas a ela quando Ray aparece para se juntar a nós, com um olhar estranho.
— Muito bem, quem está por aqui?
Percebo imediatamente que Ray não gostou de eu ter levado um convidado. O que poderia significar muitas coisas. Poderia significar que ele está triste porque seu amigo e eu não estamos mais juntos. Ou ele talvez estivesse querendo proteger Alfonso. Ou talvez pensasse que eu era uma idiota por trazer um certo constrangimento para a festa de seu filho. Estou começando a achar que essa última possibilidade é a mais provável.
Fico imaginando se Jess e Ray avisaram Alfonso antecipadamente. Com certeza ela o avisou. Mas, pensando bem, acho que estava ocupada com outras coisas, como o cuidado integral com um novo bebê. Talvez ela esteja tão absorvida com a atenção dedicada ao seu novo rebento que ela e o marido raramente têm tempo para conversar.
Observo Ray se apresentando a Richard com um aperto de mão agressivo. Então, ele se vira para mim e diz:
— Bom ver você de novo, Anahi. — Noto um tom indiferente na voz dele e me vejo pensando que nossos amigos finalmente estão tomando partido, partido de Alfonso.
— Bom ver você, também — digo. — Parabéns pelo grande dia de Ray Jr.!
Jess oferece uma bebida para preencher o vazio que se formou uma sala. Richard olha de relance para o bar improvisado montado do outro lado da sala, agradece Jess e ele mesmo vai se servir.
— Alguém gostaria de beber alguma coisa?
Vejo meia dúzia de garrafas de champanhe alinhadas como se fossem soldadinhos de chumbo e faço que sim com a cabeça. Ainda são apenas 11 horas, mas, definitivamente, estou pronta para beber alguma coisa.
— O que você for beber está bom para mim — digo para Richard, saAlfonsodo de antemão como minhas palavras soam cúmplices, como um casal em sintonia.
O rosto de Ray se ilumina repentinamente e ele exclama:
— O tio Alfonso chegou!
Respiro fundo e mantenho meu olhar fixo à frente, preso em Raymond Jr. Sei que não é possível para um bebê de seis meses entender o que está se passando, mas posso jurar que o bebê de Jess se virou e me olhou com zombaria, para então sorrir para Alfonso, que sinto que está parado ao meu lado. Tão perto que sei que dá para ele sentir o meu perfume, pois estou respirando e sentindo o cheiro dele, um cheiro que nem eu havia percebido que ele tinha. Foi como voltar para casa depois de longas férias e perceber que o seu apartamento realmente tem um cheiro próprio.
Alfonso se curva para dar um beijo no alto da cabeça de Raymond. Ele não faz nenhum comentário sobre como ele cresceu. Claramente ele tem estado por perto.
Ele, então, se vira para mim e diz:
— Oi, Anahi.
Solto o ar que estava segurando na garganta e me permito olhá-‐lo nos olhos. Ele está exatamente o mesmo. Ele está como o Alfonso de sempre. Meu Alfonso.
— Oi — digo. Minha voz sai engraçada e eu sinto uma fraqueza nas pernas. Uma fraqueza física, parecia que meus joelhos iam desabar. Tento sorrir, mas não consigo. Não sei o que fazer com as mãos. Gostaria de estar segurando um copo. Jess e Ray trocam olhares e se afastam para receber outros convidados.
— Como vai? — Consigo perguntar, enquanto meus olhos resvalam para seu dedo anular esquerdo sem aliança.
— Estou bem. E você? — ele pergunta.
Digo a ele que também estou bem, enquanto olho de soslaio para Richard. Ele se vira, me observa falando com Alfonso, e então se vira em direção à janela, uma taça de champanhe em cada mão. Ele toma um gole de uma delas. Deve saber que estou conversando com meu ex-‐marido.
— É bom vê-‐la novamente — Alfonso fala com sinceridade.
— Bom ver você também — digo. E é verdade.
— Estou feliz que você veio — ele diz. — Não sabia se você viria.
Olho de relance para Richard mais uma vez, que ainda está olhando pela janela.
— Não sabia se você viria também — digo.
— Ah, bom, na verdade eu sou o padrinho do... Raymond — ele diz,sério.
— Ah, eu não sabia. — Confesso. — Quanta honra!
— É mesmo — Alfonso concorda. — É muito legal, sim.
Sorrio e sinto algo rasgando dentro de mim, algo bem parecido com o ciúme que eu senti na época do colegial. Como quando descobri que minha melhor amiga, Pam, havia sido eleita rainha do baile de formatura. Nós éramos tão ligadas e até éramos parecidas. As pessoas sempre perguntavam se éramos irmãs ou gêmeas. Então, por que ela foi a escolhida, e não eu? Sinto a mesma coisa agora ao me perguntar por que Jess e Ray haviam escolhido Alfonso, e não eu.
Será que é porque eu não quero ter filhos? Ou eles ficaram do lado de Alfonso? Será que tenho sido uma péssima amiga? Ou, talvez, eles estavam precisando mais de um padrinho do que de uma madrinha. Afinal, nem Ray nem Jess têm um irmão.
A essa altura, Richard se afasta da janela para conversar com um homem que eu não reconheço. Penso: “Meu Deus, ainda tenho um minuto”. Embora eu não tenha muita certeza do que vou dizer a seguir. E, então, falo abruptamente. Minha pergunta premiada:
— Então, você não trouxe a Tucker?
— Não — Alfonso responde com um meio sorriso. — Não trouxe.
A única vantagem possível que eu poderia ter com essa pergunta é se ela me esclarecesse o estado atual do relacionamento deles. Porém, a resposta que ele me deu não esclareceu nada. Meti os pés pelas mãos.
Autor(a): eduardah
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Percebo que Richard terminou a conversa com seu novo amigo. Ele me olha novamente, com as sobrancelhas erguidas de maneira interrogativa, como se quisesse dizer “Não quero pressionar, mas se importa se eu me aproximar de você?”. Aceno que sim com a cabeça. Qualquer outra resposta seria uma grosseria, mesmo para alguém t& ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 22
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franmarmentini♥ Postado em 23/08/2015 - 22:39:06
Acabou a fic???? E os filhos??? ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/08/2015 - 21:35:45
*.*
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sra.herrera Postado em 23/08/2015 - 17:35:56
Continua amo essa fic quero aya juntos logo #RaivaDoPoncho -_-
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eduardah Postado em 23/08/2015 - 01:53:10
Tem uma saída sim , faça igual eu , quando eu li esse livro, assim como eu tb li COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ pulava tudo essas cenas kkkkkkk ...
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eduardah Postado em 23/08/2015 - 01:49:59
Essa ainda sendo , acontecendo tudo é Uma História de amor, tem algo que já entrou na fic, na História que vai começar a se encaminhar aos eixos , dividi ela em 4 Partes e já estou na terceira , aguarde , eu disse tem coisas aqui que por mim não postava mas , no fim vcs vão acabar tendo uma surpresa Bem legal a respeito de um dos dois , e enfim dos dois tb , não abandona não , vc ainda vai rir ....
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franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 23:16:33
;/
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franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 22:44:33
;(
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franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 22:19:50
Não to gostando ;( eu não quero ficar lendo a any com outro...e ela apaixonada por outro...e com certeza poncho ta com outra....que história mais triste é essa...
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franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 21:39:22
Migaaaa serio..não consigo ler...eu to até chorando...de tristeza....poncho nem aparece...cada um ta na sua...não vejo saída....
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franmarmentini♥ Postado em 22/08/2015 - 21:33:58
Poxa como vc quer que eu leia isso...any transando com outro!!!!! Poncho deve estar fazendo o mesmo também... ;( isso acabou comigo....