Fanfic: Um Verão Inesquecível [Adaptada] - TERMINADA

O que eu vou dizer ao Poncho?O que eu vou dizer ao Poncho?
A pergunta se repetia em minha cabeça sem parar. Sentada no deque de papai, longe de Ucker, começava a perceber com mais nitidez o absurdo total de minha mentira. Como tinha deixado as coisas irem tão longe?E como poderia fazer para que Poncho concordasse com aquela tramóia?
- Você está no mundo da lua por causa daquele panaca ou está apenas curtindo a lua?
Assustada, ergui os olhos e vi Poncho caminhando em minha direção.
- Poncho! Oi! - Será que minha voz saíra um tanto animada demais? Será que ele havia percebido que eu estava tentando ocultar meu sentimento de culpa por tê-lo envolvido em uma mentira?
-Aposto como as aulas de mergulho estão no topo de sua lista de prioridades.- O tom de voz foi suave.
Ai, minha nossa. Eu havia me esquecido completamente do combinado e não fora à tal aula. Desde aquele bilhete de Ucker, todos os outros planos desapareceram de minha cabeça. Já eram nove horas da noite e uma aula de mergulho àquela altura seria inviável.
- Poncho, me desculpe. Eu, hum... - Minha voz sumiu. Nós dois tínhamos plena consciência de que não havia como me safar dignamente daquele cano.
- Que beijo, hein?- Poncho continuou, preenchendo o momento de silêncio - Eu daria nota dez, só que não acho que o Ucker mereça essa nota.
- O que?- Minha cara era de espanto total. - Quando foi que você viu a gente se beijar?
- Eu fui até o parque de diversões, depois que você me deixou plantado e não apareceu - Poncho explicou, sentando-se a meu lado no deque - Queria conferir o trabalho de um artista local, que vende as coisas dele por lá.
- Ah. - Dizer que eu me sentia uma idiota seria muito pouco.
- O que você está fazendo com o Ucker, Annie?- Poncho curvou-se, tirou as sandálias e mergulhou os pés na água fria do mar. - Pensei que tivéssemos feito um acordo e que ele fosse história.

-Eu sei, mas, bom, é que eu... Eu estou apaixonada por ele. Nós estamos apaixonados. - Certo, até aí era tudo verdade.
-Ele terminou com a Dulce Maria? Não acredito.- Poncho desconfiou.
Mais do que tudo neste mundo, eu gostaria de poder ter respondido sim a essa pergunta.
-Não exatamente - foi o máximo que pude dizer- Ele não quer magoá-la.
Poncho me deu uma olhada.
-Nesse caso, por que ele estava beijando você?
-Nós, hum... chegamos a um acordo.- Tudo pareceu tão lógico quando Ucker e eu estávamos sentados na praia, mas depois me senti levemente nauseada. E fornecer a Poncho todos os horrendos detalhes iria revirar ainda mais meu estômago.
-Que tipo de acordo, se me permite perguntar?
-Nós vamos continuar nos vendo... discretamente... até que Ucker possa terminar com a Dulce sem muito choro.
-Você ficou louca?- a voz de Poncho saiu meio ardida- Isso é... isso é... totalmente, completamente nojento.
Pois muito bem, ele tinha conseguido me irritar. Verdade que esse não era o momento mais brilhante de minha existência na condição de cidadã digna do planeta. Mas tudo isso era em nome do amor.
-Obviamente você nunca se apaixonou. Se soubesse o que é o amor, você entenderia... o que ele às vezes nos obriga a fazer.
-Será que você tem noção do está dizendo? Está mais parecendo personagem de novela barata.
Uau. Eu não iria escapar assim tão fácil. Comecei a entrar em pânico. E se ele não concordasse em apoiar minha mentira?
-Pelo amor de Deus, não conte a ninguém que você viu a gente se beijando, Poncho.
Depois de um suspiro profundo, Poncho concordou.  

-Bem... tem uma outra coisinha.
Não foi possível evitar uma careta: estava me preparando para pedir algo absurdo ao melhor amigo que eu havia arranjado na Flórida. A situação era pavorosa. Mas eu precisava pedir. A simples idéia de Ucker descobrir que eu havia mentido e que não tinha namorado nenhum era dolorosa demais para ser contemplada.
-Tenho medo até de perguntar o que é – Poncho falou com secura.
Respirei fundo. Lá vai.
-Eu disse ao Ucker que você é meu namorado - falei bem rapidinho, torcendo para que a mera velocidade conseguisse tirar um pouco do impacto das palavras.
-Você o quê?- Poncho exclamou. - Por quê?
-Não sei. Mas foi o que eu disse para ele.
Como explicar os ciúmes que vinham me corroendo a alma desde aquela noite do futebol, quando vi Ucker abraçando Dulce? Impossível fazer Poncho compreender o mais básico dos instintos humanos, que me deixava desesperada para magoar Ucker tanto quanto ele havia me magoado. Nem eu entendia.
-Bem, então vai ter de desdizer. Eu quero distância desse triângulo sórdido.
-Não vai dar. - Minha voz era pouco mais que um sopro,mas saiu firme- Tarde demais.

— Por que?
— Porque eu inventei um monte de coisas para ele, que a gente se encontrou na Disney World, que você me escreveu quase todos os dias durante esses últimos  dois anos.
— Você  é completamente doida, sabia? — Pensei ter vislumbrado um tom mais ameno na voz de Poncho. — Nunca vi ninguém igual.
Tinha quase certeza de ter visto os lábios de Poncho se curvarem em um sorrisinho leve.
— Você está sorrindo? — perguntei. Poncho deu de ombros.
— Fazer o que? A loucura é engraçada.
— Isso significa que você vai me apoiar na idéia de formarmos um casal?
Ele me fitou um bom tempo com uns olhos esverdeados, tão escuros agora que pareciam carvão em brasa.
— Depende. Eu recebo os benefícios que um namorado receberia?
Benefícios? Será que ele estava falando do que eu imaginava? Claro que sim, Annie; do que mais ele estaria falando? Por algum motivo cretino, meu coração disparou com a simples idéia.
— Hum... não. Quer dizer, a gente não está de fato namorando, de modo que acho que não é...
A intensidade esvaiu-se do olhar de Poncho.
— Relaxe, Annie. Eu estava só brincando.
— Ah, certo. Quer dizer, claro, eu sabia que sim. — Por que meu coração continuava a bater tão forte? Desviei a vista e fiz um esforço para me concentrar na questão em pauta. — Então, você topa?
Poncho meneou a cabeça, com um gesto de assentimento.
— Por você, eu topo. — Calou-se uns instantes. — Mas não aprovo. Pensei que você estivesse acima disso. Acho que me enganei.
Senti uma inesperada pontada de dor com a censura de Poncho. Mas empurrei o sentimento para um canto deserto de meu cérebro e me concentrei em um só fato: eu consegui o que queria. Suspirei, aliviada. Levaria um certo tempo, mas com a ajuda de Poncho, tudo iria dar certo, do jeito como estava escrito.