Fanfic: Um Verão Inesquecível [Adaptada] - TERMINADA

— Já te disse, nesses últimos dias, que você está completamente maluca? — Maite perguntou da outra ponta da linha quatro horas depois. — Puxa, você já fez muita loucura no passado, mas acho que o sol da Flórida derreteu seus miolos.
Baixei a mão para coçar as orelhas de Georgie enquanto pensava em uma resposta que contrariasse a essa afirmação de Maite. Admito que meu plano encontrava-se no limiar do que a maioria das pessoas consideraria um comportamento decente, mas, neste caso, o fim justificava os meios.
— Mai, é que você não entende o que significa ter o cara que você ama tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Eu me enfiara no quarto, depois de testemunhar aquele horrendo incidente no estacionamento. Durante duas horas, busquei nos cantos mais obscuros de minha mente uma maneira plausível de fazer Ucker largar Dulce de vez e começar a namorar comigo. Quando a inspiração finalmente baixou, liguei para Maite para pedir conselhos e apoio. Até o momento, ela não havia me oferecido nem uma coisa nem outra.
— Annie, esse seu plano parece coisa de vídeo amador. Primeiro, você diz ao Ucker que tem namorado, coisa que você não tem. Depois, começa a sair com ele em segredo, fingindo o tempo todo que também está saindo com esse cara inexistente.
— O Poncho não é inexistente — interrompi. — Ele é de carne e osso. — Georgie abanou o rabo ao ouvir o nome de Poncho. Minha cachorra andava tão apaixonada por Poncho que eu já estava até enciumada.  

— O fato de ele ser de carne e osso só piora ainda mais as coisas — Maite continuou. — E agora quer que o Poncho monte um verdadeiro circo para que você possa deixar o Ucker doido.
— Nessa altura ele vai perceber que não pode viver sem mim, vai resolver largar da Dulce e vai se tornar meu namorado - interrompi mais uma vez. Se não agitasse um pouco os monólogos de Maite, ela seria capaz de falar por horas a fio. Na outra ponta da linha, escutei o seu suspiro.
— Posso lhe perguntar uma coisa?
— Claro. — Maite era meio excêntrica, às vezes, mas sempre se saia com algum comentário pertinente. E, pelo tom de voz, tive o pressentimento de que não iria gostar da pergunta, fosse qual fosse.
— Onde é que fica o Poncho, nisso tudo?
— O Poncho? Como assim? Ele vai ficar aliviado, quando tudo isso terminar.
— Hum... — Maite não me pareceu muito convencida.
— Pode acreditar em mim. Assim que Ucker e eu formarmos um casal, Poncho vai pular de alegria de não ter mais que fazer o papel de namorado. Não que ele tenha feito muita coisa até o momento.
— Não tenho tanta certeza assim — Maite falou, bem devagar. — E, mil perdões por estar apontando o óbvio, mas me parece que esse Poncho é bem mais íntegro que o Ucker. Talvez ele não esteja disposto a exercer um papel ativo no seu melodrama.
— Mas não tem outro jeito — insisti.
Tinha revirado a questão de todos os lados e chegado a conclusão de que só com um pouco mais de trapaça conseguiria viver uma vida livre, desprovida de culpa, tortura existencial e desilusões amorosas. Precisava fazer Ucker ficar tão enciumado com esse meu suposto namoro que, de repente, ele não mais suportaria a idéia de me ver saindo com um outro cara. Aí, então, terminaria com a Dulce e toda essa farsa seria esquecida.

Mas, antes, o mais importante: para conseguir fazer Ucker morrer de ciúmes, eu pretendia dizer a ele que estava tudo acabado entre nós e, a partir daí, passaria a ignorá-lo. Pela minha experiência, os meninos não reagem lá muito bem, quando levam um fora da garota que supostamente é sua fã número um.
Novo suspiro longo e dramático da parte de Maite.

 — Você enfiou na cabeça que tem de ser assim mesmo, não é?
— Justamente. É a única forma de mostrar ao Ucker que não sou uma boboca que se contenta em ficar no banco de reserva enquanto ele dá uma de gostoso ao lado daquela candidata à Miss Pompom. — Georgie deitou a cabeça em meu colo e me olhou com seus olhos cor de chocolate cheios de simpatia.
— Qual será o próximo passo? — Maite perguntou.
— Vou ter de convencer o Poncho a enfatizar mais a coisa do namoro. Quer dizer, ele tem de dar a impressão de estar totalmente de quatro por mim.
— É, acho que isso vai deixar o Ucker com ciúmes — Maite admitiu. — Se for bem feito.
— Mas como vou convencer o Poncho? Ele já não me agüenta mais, nem a mim nem às mentiras.
— É simples. Você se atira aos pés dele e implora piedade.
Era minha vez de suspirar. Em algum momento no futuro imediato eu teria de pedir a Poncho um novo favor. E, se ele dissesse não, eu perderia Ucker para sempre.