Fanfic: Um Verão Inesquecível [Adaptada] - TERMINADA

Na quarta-feira à noite eu conversava com Maite ao telefone, cruzando de lá para cá o assoalho de meu quarto, sem parar um instante.
— Não entendo por que você não se animou com as notícias! — falei. — O Poncho e eu conseguimos avançar com o plano. Nunca imaginei que aquele pateta... tá bom, tá certo, ele não é um pateta, ele é um gato, mas como eu ia dizendo, nunca imaginei que ele pudesse ser tão deliciosamente inescrupuloso.
— Annie, você prestou atenção no que disse?
Suspendi o monólogo, mas continuei andando de lá para cá. Estava tão empolgada que tive certa dificuldade em perceber que aquilo se tratava, teoricamente, de uma conversa entre duas pessoas.
— O quê?
— Faz bem uma meia hora que você não para de falar que o Poncho é um cara incrível, mas ainda não me disse uma única coisa boa sobre o Ucker.
Parei de perambular pelo quarto e despenquei na cadeira de balanço.
— E daí? O Poncho é um cara incrível, mas eu tenho muita coisa boa para dizer sobre o Ucker. — Mostrei a língua para Georgie, que me encarava com ar de interrogação. Gozado eu nunca ter reparado, até então, como eram parecidos, os olhos de Georgie e os de Poncho — tão meigos.
— Diga-me alguma coisa de bom sobre o Ucker — Maite exigiu. — Mas não quero outro discurso sobre cabelos sedosos ou bíceps bem definidos. — Seria essa a mesma Maite, minha melhor amiga desde pequena? Uma Maite desinteressada por detalhes físicos de carinhas bonitos? Impossível!
— O Ucker é engraçado. Ele é inteligente. E leal.
Maite soltou um grunhido zombeteiro.
— Leal? Não acho que enganar a namorada é uma atitude leal.
Não ficou muito claro se Maite achava que Ucker enganava a mim ou a Dulce. E não procurei saber.
— E também é um ótimo jogador de futebol. — Não havia como ela me contradizer nesse quesito. E habilidades atléticas contavam muitos pontos para um garoto: disciplina, graça de movimentos, fôlego bom.

— Ainda acho que é pelo Poncho que você deveria estar apaixonada — Maite insistiu. Misericordiosamente, deixou passar batido minhas investidas anteriores contra a brutalidade do futebol americano. — Pelo que ouvi até o momento, o Poncho é dez vezes melhor que esse tal de Ucker.
Como minha amiga se enganava. Ucker era minha alma gêmea.
— Você não entende, Mai. Você nunca passou pela experiência de estar nos braços de Ucker.
E lá veio outro grunhido de troca viajando pelos mil e quinhentos quilômetros que nos separavam.
— Ainda bem.
— Será que podemos voltar ao assunto? — Retomei a caminhada. Estava com a adrenalina a mil.
— Que assunto? Mais descrições sádicas da coitada da Dulce? — Maite perguntou. Sem dúvida, minha melhor amiga sabia como retirar toda a graça de uma boa história.
— Não é sadismo. Estou apenas ressaltando que eu vi os dois discutindo no corredor, outro dia. Ela reclamou que ele anda meio enfezado, ultimamente.
Maite soltou um suspiro.
— Acho que a Flórida não está fazendo muita coisa pelo seu carma, Annie.
Fuzilei Georgie com os olhos. O olhar da cachorra parecia me acusar de alguma coisa.
— Escute, você vai ver o Ucker em carne e osso, quando vier no fim de semana que vem. Se achar que ele não vale todo esse esforço, prometo que deixo você dizer tudo o que quiser sobre ele.
— Não prometa aquilo que não pode cumprir Anahí Giovanna. — Do outro lado da linha, deu para ouvir a mãe dela gritando para que desligasse o telefone e fosse terminar os deveres de inglês. Certas coisas não mudam nunca.
— Não se preocupe com minhas promessas — garanti a ela. — Sei que você vai adorá-lo, tanto quanto eu.
Tinha certeza absoluta de que até domingo, no máximo, a operação "deixar-Ucker-doido" estaria terminada. Já havia feito planos seriíssimos para sexta-feira à noite, planos que me levariam direto para os braços do cara que eu adorava.