Fanfic: * * * A Noiva das Terras Altas * * * adaptada/vondy

Aquilo alarmou Dulce e ela tentou se concentrar no leite e no pão que um rapazinho colocara diante dela. Ela se rendera e concordara com o casamento para impedir derramamento de sangue. Era horrível pensar que, ao salvar o povo de Ald-dabhach, pudesse ter dado início a uma nova rixa entre os clãs.

— Não — disse Christopher, com firmeza. — Não haverá a ressurreição de antigas rixas e ódios. Memo e Mike não querem mais isso, tanto como eu. Nós três passamos nossa juventude limpando a confusão que nossos pais deixaram para trás. Estamos cansados disso.

Fuzz chegou e colocou um prato de pão diante de Christopher. A mulher esfregou-se contra ele e lhe lançou um olhar tão voluptuoso que Dulce sentiu vontade de cravar a faca de comer no traseiro volumoso da mulher. Christopher afastou-se de Fuzz e fez um gesto para que saísse.

— Não deveria ser tão frio com sua amante, Christopher -— avisou Gastão. — Mulheres têm maneiras de fazer um homem pagar.

— Fuzz não é mais minha amante.

— Ah, arranjou uma nova? Quem? Belinda? Uma bela moça, cheia de corpo, aquela uma.

— Sou um homem casado agora, tio.

Christopher ainda não tinha certeza se concordava ou mesmo acreditava numa porção de coisas que Dulce lhe dissera na noite passada, a não ser numa delas. Era errado ofendê-la diante da família. Realmente isso lhe roubaria todo o respeito, fazendo com que fosse difícil, se não impossível para ela assumir seu lugar como senhora de Deilcladach. Isso não poderia acontecer. E se Dulce continuasse a aceitar e retribuir sua paixão como fizera naquela noite, ele realmente não via necessidade de ter uma amante. Era um homem de libido ativa, porém nunca ansiava por um sortimento contínuo e mutante de mulheres. Tudo que queria era que a moça fosse acolhedora e desejosa, e Dulce mostrava ser a promessa de ambas as coisas. Olhou para a esposa e não ficou surpreso ao vê-la encarar de cara feia seu tio, embora tentasse disfarçar. Ele fora grosseiro.

— O que tem um homem casado a ver com tomar uma amante? — perguntou Gastão, enchendo sua caneca de cerveja outra vez.

— Se Christopher trotar atrás de outras éguas agora, isso é adultério e eu creio que seja um pecado — murmurou Dulce.

— Um homem precisa de vez em quando de uma moça acolhedora e desejosa. — Quando Dulce bufou diante daquela opinião, ele perguntou: — Quem é você, moça?

— Dulce Saviñon de Dublin, filha de sir Fernando Saviñon e Lady Blanca.

— Sir Fernando Saviñon? — Gastão encarou-a por um instante e então voltou os olhos para Christopher, alarmado. — Ele é um homem do rei!

Se só o nome do homem deixava seu tio tão desconfortável, Christopher começou a pensar que as advertências de Dulce acerca do pai poderiam não ser ameaças vãs. Claro, era absolutamente inaceitável para uma esposa ameaçar o marido, porém seria prudente fazê-la falar um pouco mais sobre o pai.

— O próprio rei sugeriu que se um de nós desposasse a moça seria a melhor maneira de impedir confusões.

— Ah, bom, isso pode ajudá-lo. Suspeito que dirão tudo isso a sir Fernando quando ele vier aqui à procura de sua menina.

Dulce espalhou uma grossa camada de mel sobre uma fatia de pão e comeu-a lentamente, enquanto estudava o tio de Christopher. Se a maneira com que engolia cerveja àquela hora da manhã era alguma indicação, o sujeito era um bêbado. A conversa anterior revelara uma sutil porém profunda desconfiança quanto às mulheres. Havia algo a respeito daquele homem que a deixava incomodada. Senti-a no homem uma profunda culpa e raiva que ele não conseguia engolir com toda a bebida que entornasse pela garganta. Sir Gastão Uckermann era um homem com segredos. Negros e feios segredos que ele ficava aterrorizado que alguém pudesse desvendar.

Resolveu observar o homem de perto para ver se realmente ele era o perigo que ela pressentia.

Sua atenção concentrou-se quando Gastão começou a contar uma fofoca da corte, a qual, suspeitava, ele citava de propósito. Não a surpreendeu ouvir o nome de seu primo Santos seguido por uma longa citação dos casos amorosos em que se envolvera. Então, quando Gastão se pôs a falar de seu pai e depois de contar dois pequenos incidentes que indicavam que ele trilhava o mesmo caminho leviano de Santos, a raiva obrigou Dulce a levantar-se.

— Insulta meu pai, senhor — ela exclamou.

— Insultar? — Gastão pareceu atónito. — Eu apenas contei ao rapaz que belo homem cheio de luxúria seu pai é.

— Ele é um homem excelente e julgo que seja cheio de vida, mas essa fofoca que o coloca nas camas de outras mulheres nada mais é que uma mentira. Meu pai não é adúltero.

— Ora, moça, você, sendo filha, não quer ver a verdade.

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