- Desculpe... – disse ela.
Ele se virou para ela. Então sorrio, sinalizando que não estava zangado.
Mas ela viu em seus olhos que ele estava magoada. Ela se aproximou.
- Eu não sei o que deu em mim... Nunca fiz esse escândalo todo por um bolinho.
- E nem estava tão bom! – disse ele.
Eles riram, aquele riso sem graça, já que estavam ambos constrangidos até a alma. Eles se apoiaram na ponte e observaram o brilho da água passando por baixo deles.
- Você tem razão – disse ele – Eu evitei ao máximo vir para este mundo. Por isso quis acompanhá-la como uma presença espiritual, ao invés de uma presença física.
Dulce franziu o cenho, imaginando onde ele tinha conseguido essa informação. Ele se virou para ela. - Eu a segui assim que saiu. Queria consertar as coisas. Ouvi parte do que falou.
Dulce não precisava lembrar palavra por palavra do que tinha dito num momento de raiva para perceber o estrago que tinha feito. Fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, pensando em como poderia se desculpar por palavras jogadas no ar como pedras, com a diferença de que pedras podem ser recuperadas. Já as palavras...
- Não fique assim – pediu ele, percebendo que ela estava arrependida. - Só queria que soubesse que não precisa se preocupar. Estarei com você de agora em diante.
- Chris... Estou tão... chateada por ter dito o que disse. Eu só estava com raiva, por favor, me desculpe. Nossa! Me sinto tão mal agora que se essa ponte não fosse tão baixa, eu pularia dela agora. Olha, eu não quero obrigar você a ficar comigo. Se quiser voltar a ser só uma voz, eu vou entender.
- Eu não posso fazer isso – respondeu ele – Quando entrei nesse mundo, me tornando físico, fiquei ligado irremediavelmente a você. Não poderei sair, a não ser quando você completar sua tarefa e estiver pronta pra voltar.
Dulce abaixou a cabeça.
- E só piora... Pelo visto, eu devo ter colocado seu nome no Serasa e no SPC também...
Chris riu, tentando tornar o clima mais ameno.
- Não fique chateada - disse ele, segurando-a pelos ombros para que olhasse diretamente para ele e tirasse os olhos do chão. - Eu gosto de estar com você! É sério!
- Mas você parece chateado...
- Um pouco, mas não é por isso - ele voltou a olhar para a Lua. - Estou chateado porque acho que você merecia um guia melhor... Um anjo melhor.
Ele olhou para ela com expressão séria.
- Como anjo, tenho muitas limitações ainda, tanto no seu mundo quanto neste. Há muitos perigos e eu gostaria de ser mais forte ou ter mais poderes para que você... Eu nem sei dizer com certeza se você pode comer um bolinho ou não! Nesse mundo, sou tão físico e vulnerável aos encantos e magias daqui quanto você... E isso me deixa...
- ...preocupado - completou ela.
- ...triste. Você realmente merece algo melhor.
Dulce pensou um pouco.
- Você solta raios pelos olhos? - perguntou ela.
- Não.
- Tem alguma espada flamejante de fogo?
- Só querubins e arcanjos avançados da guarda de Mikael têm uma dessas.
- Hum... Por acaso você teria super força?
- Não mais que um humano normal...
- Pode ler pensamentos?
- Não, desde que deixei sua cabeça.
- Então você é o anjo perfeito pra mim! - concluiu ela.
Ele não entendeu. Ela explicou.
- Qualquer anjo com super força ou com espada flamejante teria cortado minha cabeça quando eu metesse um bolinho na cara dele. E eu gosto de ter alguns pensamentos só pra mim, me dá a chance de surpreender as pessoas de vez em quando. Então, acho que você é um anjo perfeito! E se precisar de uma carta de recomendação, pode contar comigo.
- Obrigado - respondeu ele com um sorriso gentil.
- Eu tenho um trato - propôs ela - Você esquece que eu meti um bolinho na sua cara e eu prometo não comer ou beber nada neste mundo enquanto você não permitir.
- Feito!
Ele deu o braço para ela e juntos retornaram à festa. Participaram da dança, ouviram histórias e se dirvertiram. Dulce bebeu suco de pêssego e comeu sanduíche de queijo. E achou ótimo.