O que Dulce achou que ia ser um dilema, não foi. Quando chegaram no quarto, estavam tão cansados da festa que cada um deitou de um lado da cama e pronto.
Ao acordar, quando o sol já estava alto, Dulce ficou olhando Chris dormindo, sentindo-se idiota por ter achado que a cama de casal pudesse ser um problema. É claro que não ia acontecer nada. Afinal, ele era um anjo.
As coisas que Maite lhe disse, no entanto, ficavam cutucando essas teorias. Mas Maite era uma sereia. Ou uma ex-sereia. Mesmo vivendo na forma humana, ela ainda era uma encantada e sua escolhas podiam ser diferentes.
Quanto Dulce, era apenas uma garota normal. Por que um anjo se apaixonaria por ela? Considerando que não tinha resposta para essa pergunta, decidiu que não ia se apaixonar por um anjo. Precisava se distanciar emocionalmente dele, ou acabaria chorando no ombro de Anahí o amor não correspondido e impossível até o fim dos tempos.
Não deu tempo para que ela mudasse de posição quando os olhos dele se abriram de repente e deram de cara com ela. Ele tomou um susto,claro. Ela continuou paralisada.
- O que está fazendo?! - perguntou ele, tentando se recuperar.
- Err... Nada! Acabei de acordar e estava pensando se te acordava também ou não.
- O sol já está alto lá fora?
Perguntou ele, olhando para a janela coberta por uma fina cortina clara.
- Não sei. Como disse, acabei de acordar.
Dulce pulou da cama e foi para a sala dos banhos se trocar. Depois do café da manhã, onde
Dulce comeu, adivinhe, sanduíche de queijo, suco de pessêgo e alguns de seus próprios bolinhos, eles se prepararam para partir.
Pela janela, ela viu Eileen brincando com outras crianças e encantados. Sorriu, feliz de ter ajudado.
-....-
Na porta da casa, Maite e Christián se despediam amigavelmente.
- Tem certeza que não querem ficar mais um dia ou dois? - perguntou Christián, não por simples cordialidade, mas porque se divertiram muito com o jovem casal disfuncional.
- Temos uma missão ainda a cumprir - explicou Chris.
Eileen os viu e correu em sua direção. Maite estendeu um pacote embrulhado em uma folha de parreira e cipós.
- Gostaria de lhe dar um presente. Acho que vai gostar muito!
Dulce desembrulhou e não pôde esconder a surpresa. Em suas mãos estava o livro das fadas que recebera pelo correio antes de ir para o Mundo Encantado.
- Você gostou?
- Eu adorei! - respondeu Dulce, sem mencionar que já tinha esse livro em casa. Em algum lugar...
Eileen puxou Dulce e Chris, que se abaixaram para ouvi-la melhor.
- Fica!
Ainda de joelhos, Dul sentiu o coração apertar ao ver a pequenina com olhos anciosos esperando uma resposta positiva. Chris olhou-a com olhos doces.
- Não podemos... Mas você vai ficar em boa companhia!
Eileen ficou desapontada, mas já pressentia que seu pedido seria negado.
- Eu tenho um presente para vocês dois.
Então ela se esticou e deu um beijo no rosto de Chris, abraçando-o longamente. Dulce esperou seu beijo e abraço também, mas quando a menina o soltou, pegou Dulce pela mão e a puxou para um canto no jardim onde os outros não as ouvissem.
- Pra você, tenho outro presente - explicou a menina.
Ela se inclinou e falou sussurando, em tom de segredo, tendo o cuidado de olhar em volta para ver se ninguém a ouvia.
- Eu vou lhe dar meu encantamento! Com ele,você poderá atrair para te ajudar todas as criaturas que voam que estiverem por perto.
- Nossa! Isso é muito bom!
- Mas não pode contar pra ninguém! E não pode repetir nem escrever o encantamento. Tem que decorar e só usar na hora que precisar de ajuda. Então eles vêm voando!
Então Eileen se inclinou e recitou o encantamento com cuidado. Dulce prestou atenção, decorando cada palavra. Levou alguns minutos para fixar na cabeça, mas o fato de ser rimado ajudou muito.
Então, Eileen a abraçou e também deu seu beijo. Dulce apertou aquele corpinho quente nos braços, perguntando-se como podia amar aquela pequena criatura se mal a conhecia.
- Você volta para me ver? - perguntou Eileen.
- Vou tentar.