Eileen ficou com Maite e Christián, enquanto Chris e Dulce seguiram seu caminho. As crinças, fadas e pessoas que estavam nas ruas lhes acenaram, e até as árvores pareciam lamentar sua partida. Dulce tinha devolvido o belo vestido e retomado seu short com camiseta de babadinho. Não quis olhar pra trás porque isso tornaria tudo mais difícil. Lembrou de Eileen e sentiu urgência de voltar.
Sentiu Chris segurando gentilmente seu braço.
- Pode me dar sua bolsa?
Ela não entendeu, mas entregou a pequena mochila que trazia nas costas. Chris remexeu dentro e pegou uma coisa. Então, mostrou para ela a foto que tinha levado.
Dulce olhou longamente a foto de sua família. Pareciam cada vez mais distantes, embora só tivessem se passado dois dias. Sentiu o coração doer. Estava morta de saudades.
- Obrigada...
- Esse lugar faz a gente esquecer muita coisa - disse ele, devolvendo-lhe a bolsa - Mas algumas coisas não podem ser esquecidas.
- Ainda bem que você está aqui para lembrar!
Dulce ficou com a foto nas mãos por um tempo, até que decidiu guardá-la no bolso do short, onde ficaria mais fácil de pegar. E então seguiram caminho, sem olhar pra trás.
-....-
Atravessaram o bosque onde Dulce tinha passeado com Maite. Não passaram pela cachoeira, mas atravessaram um córrego de águas límpidas. O bosque terminou e se transformou numa pradaria verdejante. Durante todo esse tempo, Dulce esteve calada. Não que não tivesse nada para falar. Dulce já nasceu falando. E tinha perguntas, claro, até você teria. E como ela tinha perguntas!
Queria saber por que Chris tentava ser tão discreto e por que tinha tantas reservas quanto ao povo encantado. Queria saber como se tornara um anjo e como é o lugar onde ele vive. Queria saber se, a exemplo dos encantados, anjos já se apaixonaram por humanos... E aconteceu depois disso...
- Você está aborrecida?
Dulce saiu de seu mundo e se deparou com os olhos acesos e castanhos de Chris. Ele tentara puxar conversa algumas vezes, até que se entregou ao silêncio da caminhada.
- Não - respondeu ela - Por quê?
- Está calada desde que saímos.
- Só estou pensando...
- Em quê?
- Às vezes eu gosto de ter pensamentos só para mim, lembra?
Chris parou e a olhou confuso.
- Eu fiz alguma coisa errada?
Dulce relaxou os ombros e deu um longo suspiro.
- Não... Não fez... Desculpe, eu estou com coisas na cabeça...
- Dividir ajuda.
Dulce não queria e não iria dizer que a coisa na cabeça dela era ele.
Então pensou rápido.
- Estou preocupada de não acharmos Anahí. E se ela foi pega por um dos inúmeros seres hostis que existem aqui? E se ela não foi avisada da regra dos três: comer, beber ou beijar aqui fecha para sempre a porta de volta para casa?
- Ei, ei, ei! Calma! É muita coisa para uma cabecinha tão pequena! Não admira que você estivesse andando de cabeça baixa esse tempo todo! Essas coisas devem pesar. Nós viemos encontrar Anahí. E vamos encontrá-la, Qualquer coisa que venha depois disso, nós decidiremos quando chegarmos lá, tudo bem?
Dulce concordou. Respirou profundamente de novo. Chris sorriu e continuaram a andar. Parou de repente.
- Não tinha uma grande árvore ali na frente?
- Onde?
- Ah! Ela está ali! Achei que estávamos andando na direção dela, mas ela está à nossa direita.
Voltaram a andar e Chris voltou a puxar conversa.
- Sabia que há uma morada de fadas no bosque de onde acabamos de sair?
- Anrã...
- Christián contou ontem! Sabe o que isso significa? - ele olhou para ela ancioso.
- Que fadas moram lá?
- Isso! E onde há fadas, há um círculo de fadas!
- E isso é bom?
-Isso é ótimo! Precisaremos de um círculo de fadas para você voltar pra casa. Saber que tem um aqui já nos dá um ponto de referência quando encontrarmos Anahí.
- Que bom...
- Cadê a árvore?
Chris parou de novo, muito confuso. Dulce ergueu a cabeça e dessa vez também ficou confusa. Havia uma enorme árvore para onde estavam indo, tinha certeza disso. Agora, só havia relva e alguns arbustos. Olharam em volta e encontraram a árvore na direção oposta.
- Árvores andam? - perguntou ela.
- Não tão rápido!
Olharam em volta, tentando se localizar. O bosque estava agora à esquerda deles. A árvore que deveria estar na frente, agora estava atrás deles. Precisavam seguir para a árvore, pois ela era a referência que Christián tinha lhes dado para chegarem até a cidade.
Lá, tomariam uma carruagem para um lugar distante, onde teriam que saltar no meio do caminho e procurar o Lago Azul de Vayu. Sim, era uma longa viagem que tinham pela frente. Confusos, mas sem opção, prosseguiram na direção da árvore. Dessa vez, não conversaram para não se distraírem.
- Não deveríamos estar indo na direção da árvore grande? - perguntou Dulce no meio do caminho.
- É o que estamos fazendo! - retrucou Chris.
- Mas a árvore está lá, na nossa esquerda!