Chegaram em uma floresta mais densa que o bosque que tinham atravessado. As copas das árvores impediam a chegada do sol e ela era um tanto úmida. Desviraram a roupa, uma vez que o efeito do stray sod já os tinha deixado.
- Perdemos horas por causa daquele diabinho... - reclamou Chris.
- Ainda bem que você sabia o que fazer. Eu já estava pronta para sentar e chorar.
Dulce ouviu um estalo atrás de si e parou um segundo para olhar pra trás. Foi o suficiente para perder Chris de vista. Chamou seu nome, mas ele não respondeu. Seguiu o caminho que lhe pareceu mais óbvio, preocupada.
- Chris? Não tem graça! Cadê você?
Não muito longe dali, Chris chamava por ela.
- Estávamos a dez centímetros um do outro! - murmurou ele para si mesmo - Como ela conseguiu sumir?
Viu um silhueta feminina passando entre as árvores mais adiante.
- Dulce!
Correu atrás dela, passando entre troncos escuros, até chegar numa grande árvore cercada por outras, como se fosse uma clareira sagrada.
- Procurando alguém?
Chris tomou um susto e se virou para ver quem tinha falado com ele.
Deparou-se com uma belíssima mulher de olhos penetrantes e vestido ricamente bordado. Seus cabelos cascateavam pelos ombros e costas e seu sorriso era encantador. Nunca tinha visto, mesmo em sua vida de anjo, uma mulher tão bonita.
- Uma garota... - respondeu ele. - O nome dela é Dulce.
A mulher se aproximou e ele sentiu o perfume dela, um misto de rosas e mel.
- E qual é o seu nome?
- Chris... - murmurou ele, sem perceber o nome que dera. Ele estava perdendo-se nos olhos dela, azuis e profundos como o mar em seu encontro com o céu...
- Belo nome...
Agora ela estava bem perto e ele sentiu seu hálito doce e fresco. Os lábios carnudos pareciam atraí-lo. Sabia que não devia ficar tão perto, mas não conseguia se afastar. Sua mente ficou embotada. Precisava se lembrar de algo importante que viera fazer... O que era mesmo? Os lábios dela flutuavam diante dele como se tivessem vida própria. Tudo bem... Não devia ser nada importante...
Ela caminhou graciosamente em volta dele.
- Você tem olhos lindos, sabia?...
Ela disse isso perto, muito perto. Ele tentou responder algo, mas só saíram murmúrios incompreensíveis num gaguejar ligeiramente constrangedor.
Ele se inclinou para beijá-la, sentindo que era impossível não fazê-lo. Não conseguia pensar mais em nada além de mergulhar naqueles lábios grossos cor de fruta madura.
Um solavanco o acordou. Tomou um susto ao ver Dulce diante dele. De onde ela veio? Ela o empurrou com tal força que ele tropeçou numa raiz atrás de si e caiu. Dulce não se comoveu.
- Não dá pra acreditar em vocês, homens! É só a gente se afastar um mnuto, um minutinho só, e vocês vão atrás do primeiro rabo de saia que aparece!
Chris se levantou, confuso. Achou que tinha sonhado acordado com a mulher mais linda do universo, mas ela estava bem atrás de Dulce, de braços cruzados, esperando o desenrolar da situação.
Depois de dá a sua bronca nele, Dulce se virou para a mulher.
- E você! Devia ter vergonha! Não pode sair cantando todo mundo por aí!
- Não?... - perguntou a mulher, sorrindo e se aproximando de Dulce.
- Não! Quer dizer... - Dulce notou como ela era linda - Talvez possa, se a pessoa não tiver... não for...
- Não tiver o quê?
- Um compromisso.
- Ah! - a mulher começou a caminhar entre Dulce e Chris, exalando seu perfume e olhando-os de perto. - Então vocês dois são um casal?
Chris e Dulce estavam ainda embasbacados e só conseguiram responder após alguns segundos.
- Não! Não temos compromisso nenhum! - disse ele.
- Imagine! Não foi esse tipo de compromisso que eu disse! - explicou Dulce - É que Chris e eu temos... uma missão!
A mulher parou diante deles e ficou observando com ar crítico, como quem observa uma exposição de quadros.
- Hum... Entendo... Engraçado vocês dois não terem nada, porque a aura que emanam é quase igual. Quando estão juntos, a luz a sua volta fica da mesma cor.
Dulce e Chris olharam um para o outro e então ficaram oficialmente desconcertados. A mulher riu. Abriu suas asas e agora viam que ela era uma fada. Uma fada lindíssima. Suas asas aumentavam ainda mais sua beleza, pois tinham tons púrpuras e emanavam luz.
- Meu nome é Angelique Boyer. No mundo dos homens, sou mais conhecida como a musa da inspiração...
- Ah... - foi só o que deu pra dizer.
- E qual é essa missão?
- Não lembro... - respondeu Chris.
- Resgatar minha amiga - respondeu Dulce - Ela foi trazida para o Mundo das Fadas. Eu vim buscar. Ele é meu guia. Temos que ir para um lago. Eu não posso comer. Pisamos num mato estranho...
- Estão procurando o Castelo de Belinda? - perguntou Angelique - Estão bem longe ainda, meus queridos...
Eles não responderam.
- Eu posso indicar um atalho... em troca de um presente.
- Um atalho? Atalho é bom... - murmurou Dulce - Mas que presente?
- Ah! Uma coisinha simples serve! Como , por exemplo... um beijo...
Eles arregalaram os olhos.
- Ah, que pena... - respondeu Dulce, desapontada - Eu não posso beijar nenhum ser daqui...
- Eu posso! - respondeu Chris.
- Então, temos um trato?