Fanfic: Lua das Fadas | Tema: Vondy-Adaptada
Assim que bateu a porta, Dulce se tornou novamente visível.
Segurou a porta com as costas, tentando impedir que a fera atravessasse e
uma pancada atrás dela a jogou para frente, onde ela caiu de joelhos.
Imaginou que o enorme e persistente leão dourado que a perseguia tivesse
batido com tudo na porta quando ela a fechou. Virou-se para olhar, mas a
porta já havia sumido. Percebeu que podia ver suas mãos e pernas. Preferia
não se ver.
Estava horrível. Levantou-se sentindo uma terrível e aguda dor
nas costas. Passou a mão nas costas e ela voltou manchada de vermelho.
Sua barriga também estava arranhada e os ferimentos nas coxas já
começavam a parecer mais feios do que deveriam. Imaginou que talvez as
criaturas do mar que a atacaram tivessem algum tipo de veneno nas garras.
Também imaginou porque a divindade daria veneno a criaturas como
aquelas. O estrago que causavam já não era grande o bastante? Mas
lembrou que, em seu mundo, pessoas com grande capacidade de fazer
estragos também pareciam ter facilidades desnecessárias, como recursos,
dinheiro e poder. São os caminhos divinos que ela provavelmente nunca
entenderia.
Estava toda dolorida. Olhou para sua conquista. O raio que retirara
da grande escultura de ouro era uma adaga de lâmina ondulada, também
dourada, provavelmente de ouro. Conferiu se a taça ainda estava amarrada
à cintura, embrulhada no lenço. Sim, estava. Guardou a adaga no meio do
sutiã, onde costumava guardar o celular numa época que já lhe parecia
distante, quando não era perseguida por monstros do mar e leões voadores
assassinos.
Olhou em volta. Estava num bosque de beleza estonteante. Havia
flores e árvores imponentes de um verde primaveril sob um céu de nuvens
coloridas. Caminhou devagar, imaginando que terrível e enorme criatura
estaria espreitando, pronta para atacá-la e arrancar seu fígado. Era sua
última tarefa. Imaginou qual seria o guardião da tal Fonte Sagrada.
Provavelmente, seria uma coisa enorme e mortal. Um dragão, talvez. Ou um
gigante. Sentiu calafrios ao se lembrar do sufoco com Jack, o Acorrentado,
que a teria esmagado se não fosse por Chris. Ouviu algo. Apurou os ouvidos e
percebeu que era som de água.
Continuou seguindo em frente, cada vez mais em alerta, seguindo o
barulho de água. Foi então que, depois de afastar algumas folhagens, viu o
lugar mais fabuloso que já vira, e isso incluía o castelo de Belinda , algo que
não se via todo dia.
Num jardim de flores de mil cores que pareciam ter luz própria, uma
gigantesca fonte se erguia. Feita de pedras douradas, ela tinha três andares
e a água que jorrava era cristalina e brilhante. Devia medir cerca de 30
metros de diâmetro e pelo menos dez metros de altura.
Dulce sorriu, absorta com a beleza do lugar, quando algo a picou.
Bateu no braço por instinto e viu que era um inseto, algo parecido com uma
vespa preta. A picada começou a arder imediatamente, como se alguém
tivesse lhe enfiado uma fina agulha em brasas no braço. Pensou em ir até a
fonte e lavar o ferimento, mas outra vespa lhe picou a perna. Bateu com
raiva dessa vez, matando a meliante. Foi quando percebeu um outro som
além da água. Apurou ou ouvidos e percebeu o zumbido de milhares de
pequenas asas se aproximando. Olhou para sua direita e viu uma nuvem
preta vindo do céu.
Sem pensar muito, pegou o vidro que sobrara e abriu. Uma névoa
vermelha subiu por suas narinas, enquanto ela via milhares de vespas
negras se aproximando velozmente a um segundo de alcançá-la. Esperava
correr o mais rápido que pudesse para longe dali, mas tudo foi tão rápido
que simplesmente não pôde. Assim que abriu o vidro, as primeiras vespas a
alcançaram.
E passaram direto. Milhares de insetos continuaram passando por
ela, atravessando-a como se ela fosse feita de ar. Dulce olhou para suas
mãos e percebeu-se numa nova forma. Deu um passo e percebeu que isso
desestabilizou os insetos que ainda tentavam encontrá-la. De fato, aquilo
lhe dava velocidade, mas não do jeito que ela pensara. Era muito melhor!
Correu, ou voou, não sabe ao certo, e ela era o vento que balançava
as folhagens.
Aumentou sua velocidade e se transformou numa ventania.
Investiu contra os insetos, banindo-os dali com um sorriso no rosto.
Quando era vento, era leve e selvagem. Sentia-se ainda a Dulce de sempre,
mas sem limites, sem dor, nem medo. Uma fortíssima ventania reuniu os
insetos em um movimento centrífugo até finalmente jogá-los na água da
fonte.
Dulce poderia simplesmente ter “ventado” os insetos para longe,
mas estava irritada com as picadas e não queria que eles voltassem. Além
do mais, detestava vespas!
Quando o serviço estava terminado, parou para observar o trabalho.
Milhares de asas negras debatiam-se na angústia da morte, quando algo
aconteceu. Um dos insetos perdeu sua cor negra e voou e, quando fez isso,
passou diante de Dulce .
A vespa negra tinha se transformado numa linda
borboleta de asas laranja com manchas verde-metálicas. Outras vespas
passaram pela sua transformação e voaram como borboletas, numa nova
experiência, numa nova vida. Assim, Dulce ficou assistindo, maravilhada,
milhares de borboletas saírem da Fonte Sagrada e ganharem os céus,
enchendo o azul de tantas cores que não seria capaz de contar.
Foi então que percebeu que desejava muito que Chris estivesse vendo
aquilo com ela. Era uma cena mágica, belíssima e que certamente não se
repetiria. Queria muito que ele estivesse ao seu lado naquele instante. O
coração deu uma ordem repentina e ela se apressou. Precisava voltar. Era
com urgência que precisava estar ao lado dele de novo. Foi até a fonte e
mergulhou suas mãos etéreas na água.
Ficou olhando a água na fonte e suas mãos vazias. Tentou de novo,
em vão. Como poderia pegar a água se não tinha um corpo? Naquele
momento, ela era vento. “Tudo bem”, pensou. “O efeito de voar passou
rápido. É só esperar um pouco.”
Rodeou o lugar para passar o tempo. Foi vento por algumas horas,
voando ora baixo, ora alto, beijando flores e brincando nas nuvens. Mas não
se esqueceu de quem era e nem do que estava fazendo. A todo instante,
voltava à fonte e tentava novamente pegar a água sem um corpo, do mesmo
jeito que nós sempre voltamos a procurar as chaves no primeiro lugar que
procuramos, embora saibamos que se não encontramos antes, não será
diferente nas vezes seguintes.
O efeito não estava passando. Lembrou que o efeito do segundo
vidro, o que lhe conferira invisibilidade, só passara quando ela atravessou a
porta para a tarefa seguinte. Porém, a porta só surgiria quando ela
estivesse em posse do que fora buscar. Como vento, sentou-se desolada na
beira da fonte. Então, num ataque de fúria, virou ventania que arrancou
flores e desorientou borboletas ao redor da fonte. Voou tão rápido que se
transformou em um pequeno furacão. Foi até a fonte e tentou puxar a água
para si.
Fez isso várias vezes, insistindo no desespero, sem saber mais o que
fazer, até que se sentiu cansada e parou de rodar. Queria continuar, mas
sentia-se pesada e infeliz. Percebeu que também não conseguia mais
descer.
Olhou seu reflexo nas águas cristalinas e trêmulas da fonte. Havia
virado uma nuvem. Uma nuvem negra.
Estava ali há horas, estava exausta e frustrada, porque não
conseguiria pegar a água, não conseguiria voltar para Chris, não conseguiria
voltar para casa e nem mesmo conseguiria achar Analice. Tudo tinha sido
em vão.
Sentiu vontade de chorar. E então chorou. Fizera uma aposta alta
demais e perdera. Agora, seria vento, nuvem e brisa por toda sua
existência. Chorou em desvario, lamentando a vida que não viveu.
E assim, em lágrimas de chuva, a nuvem negra desapareceu.
O lugar ficou alguns segundos em silêncio. Na sala de Belinda , Chris
deu um passo a frente, os lábios entreabertos diante do final infeliz.
Continuou olhando para a água da fonte, esperando algo acontecer.
De repente, Dulce emergiu da fonte buscando o ar que lhe faltava.
Sentiu-se respirar de novo e olhou para suas mãos.
Começou a rir e a
brincar com a água quando viu que era uma garota de novo, com todos os
seus problemas, com alguns quilos a mais, com um cabelo que embaraçava
muito e algumas sardas inconvenientes, mas era ela de novo. Saiu da fonte,
percebendo que não sentia mais dor. Olhou para as pernas e os lanhados
haviam desaparecido. As picadas também.
A roupa continuou rasgada, mas
ela não reclamou. Então, pegou a taça embrulhada no lenço e encheu-a com
a água da fonte. Imediatamente, uma porta de cristal surgiu.
Atravessou a porta com um sorriso e se deparou com a sala de
Belinda , onde todos esperavam por ela.
Chris abriu um imenso sorriso, ainda
com o coração disparado pelos últimos instantes, e tentou ir até ela, mas foi
impedido por dois dos guardas que estava perto dele. Olhou para Belinda
sem entender. Tinha seguido as regras. Ambos tinham.
Dulce percebeu a
situação, mas não se apavorou. Provavelmente, a rainha queria ver se ela
tinha conseguido mesmo o que se propôs.
Belinda se levantou graciosamente, sorrindo.
– E então? Conseguiu os ingredientes?
Dulce retirou a adaga do decote e mostrou a taça com água sagrada
e a adaga para a rainha.
– Bom... Então você já tem o seu elixir.
Dulce lembrou que para fazer o elixir, bastava misturar os
ingredientes.
Então, mergulhou a adaga na água da taça. Imediatamente a
água borbulhou e girou dentro da taça, mudando de prata e para ouro, até,
finalmente, estabilizar em um belíssimo mesclado de ouro e prata.
Belinda desceu os degraus e se aproximou de Dulce .
Pediu a taça,
que Dulce prontamente lhe entregou. A rainha verteu com cuidado o
conteúdo da taça dentro de uma garrafinha de prata que media uns 15 cm e
possuía diversas pedras brilhantes em seus enfeites. Então a rainha tampou
a garrafa com uma rolha e entregou-a à menina.
– Parabéns! – disse ela. – Há tempos não vemos alguém conseguir o
Elixir de Tir Nan Og.
– Obrigada! – respondeu Dulce . – Nem foi tão difícil!...
A rainha sorriu, percebendo a brincadeira.
– É só isso? – perguntou a rainha.
– Não – respondeu prontamente Dulce . – Nos disseram que sua majestade pode ver onde minha amiga Analice está.
– É mesmo? E “quem” disseram?
– Um cara morto num castelo assombrado.
A rainha se virou surpresa para o anjo.
– Vocês dois parecem ter muita história pra contar!... Pois bem, sua
amiga foi capturada pela Corte Seelie. Vão encontrá-la na Cidade Encantada
da Colina do Amor Perfeito.
Dulce teve um nó na cabeça, pois o nome citado pela rainha era
muito parecido com o temível nome dos monstros que fazia todos
tremerem. Mas antes que ela pudesse fazer a primeira das muitas
perguntas que tinha, a rainha a interrompeu.
– Mas antes que se vão, precisamos acertar o preço!
Dulce esqueceu as primeiras perguntas para se concentrar na nova
questão.
– Preço?
– Claro – respondeu a rainha, levantando as sobrancelhas. – Você
está levando um elixir poderoso do meu castelo. É justo que pague um
preço, não?
Dulce ficou nitidamente desapontada. Achou que todo o sacrifício
pelo que passara já era o preço. E o que fizera a rainha? Colocara o elixir
numa garrafinha bonitinha. Sentia-se pagando 10% pro garçom num
restaurante self service onde tinha que lavar a própria louça. Enquanto
pensava no que poderia dar como pagamento, a rainha continuou.
– Bem, vamos ver... Esse elixir vai salvar sua vida quando voltar pra
casa... Então, uma vida pela outra parece ser um preço justo, não acha?
Com um movimento da mão da rainha, dois dos guardas elfos
agarraram Chris e o obrigaram a se curvar. Do chão, surgiu um pequena
estrutura de cristal, contra a qual eles forçaram sua cabeça. Enquanto um o
segurava, o outro puxou a espada, fazendo o som do correr da lâmina tão
alto quanto um grito.
– O quê?! Pare! Pare! PARE!
Tudo foi tão rápido que Dulce precisou gritar para que parassem.
– O que está fazendo?! – perguntou ela, totalmente surpreendida
pela atitude hostil. – Ele é um anjo de Rafael!
– Rafael tem milhares como este – respondeu a rainha, impassível. – Nem vai sentir falta.
Então ela mandou que continuassem, e o elfo ergueu a espada.
– Espere! Espere!! PARE AGORA COM ISSO!!!
A espada ficou no ar de novo com os gritos da garota. A rainha
mandou os elfos pararem e olhou para ela.
– Toma! Eu não quero mais! Se este é o preço, é alto demais pra
mim! Soltem ele agora!
E Dulce tentou entregar a garrafinha de prata para a rainha, mas
ela não a pegou.
– Sem isso, você não poderá voltar.
– Também não poderia voltar sem ele – respondeu ela, sem pensar.
– Ah... Entendo... Então, façamos o seguinte. Cortem-lhe apenas a
mão direita.
Um dos elfos ergueu o anjo e puxou seu braço, apoiando-o sobre o
cristal, na mira da lâmina que brilhava ameaçadora no ar. Chris tentava se
soltar, debatia-se com as asas agitadas, mas eles eram bem maiores. A
espada se ergueu pela terceira vez.
– NÃO! Parem com isso agora! Eu não quero mais o elixir! Não o
machuquem! Tome, fique com isso e soltem meu amigo agora!
E Dulce estendeu a garrafa de volta para a rainha.
Lentamente, a rainha pegou a garrafa prateada de volta e os elfos
soltaram o anjo.
Dulce correu até ele e o abraçou. Eles ficaram juntos por
algum tempo, até que Chris olhou novamente para a rainha. Viu que o
conselheiro lhe deu alguma coisa que ela aceitou sorrindo vitoriosa e
guardou no decote.
– Era uma aposta? – sussurrou ele.
Soltou Dulce , que não entendeu a pergunta, e virou-se para a
rainha, surpreso.
– Tudo isso foi por uma aposta? – perguntou ele diretamente para a
rainha.
– Até uma rainha precisa se divertir, querido! – respondeu ela
sorridente. – A propósito, eu ganhei!
Chris estava furioso. Dava pra ver pela veia saltando em sua testa.
Estava bufando e, mesmo sabendo que não podia ir contra a Rainha Belinda
em seus próprios domínios, queria arrumar uma briga. Os dois grifos que
guardavam os portais do castelo entraram no aposento.
– Não fique tão mau humorado anjo. Você foi o que mais ganhou
aqui... – disse a rainha, se aproximando. – Estes são Ipso e Facto e eles
levarão vocês dois até a humana que estão procurando na Cidade
Encantada. Ao menos assim, poderão chegar sem correr nenhum perigo.
– Bem... – disse Dulce , desapontada, mas conformada em saírem
vivos. – Obrigada...
– Menina!
Dulce se virou. A rainha estendeu para ela sua bolsa. Dulce foi até
ela e a pegou. Sentiu um peso extra e viu que uma coisa prateada aparecia
da bolsa mal fechada. Olhou surpresa para a rainha, que lhe sorria.
– Vá. E aproveite bem sua estadia aqui.
Dulce sorriu e agradeceu. Então correu e agarrou Chris, puxando-o
para sua montaria. O anjo resistiu, querendo ainda enfrentar os elfos e a
rainha, mas Dulce o arrastou com urgência. Então, montados nos grifos,
eles deixaram o castelo de Belinda .
Autor(a): vondynatica
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Eles voaram e atravessaram as nuvens douradas do entardecer. Dulce estava sorridente, e Chris não tinha a menor ideia de por quê. De repente, ele gritou para ela que precisavam voltar e puxou o grifo, comandando-o para a direção contrária. Dulce voltou com ele, juntando os animais. – O que você est&aa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 49
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:00:54
Livro 2 - Continuação- https://fanfics.com.br/fanfic/55332/o-trono-sem-rei-vondy-adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 04:55:32
Livro 2 - Continuação https://fanfics.com.br/fanfic/55332/o-trono-sem-rei-vondy-adaptada Livro 3 - Continuação https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-vondy-adaptada
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candy1896 Postado em 03/12/2016 - 21:58:10
CONTINUA
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candy1896 Postado em 13/11/2016 - 21:12:15
Continua
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mky Postado em 20/07/2016 - 15:58:32
Continua
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tay_Vondy Postado em 16/07/2016 - 18:13:00
Continua
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pacheco_vondy Postado em 15/07/2016 - 16:09:45
Pena que não rolou beijo!!!
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pacheco_vondy Postado em 15/07/2016 - 15:13:56
Fudeu!! Se correr o Jack pega e Se ficar o Jack come!!
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pacheco_vondy Postado em 07/07/2016 - 21:00:45
Continuaaa!!!
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pacheco_vondy Postado em 05/07/2016 - 21:47:10
Bom, pelo visto eu ganhei esse capítulo completo, como um presente por ser leitora nova!!!mesmo q não intencionalmente!!!