Fanfic: Lua das Fadas | Tema: Vondy-Adaptada
Eles voaram e atravessaram as nuvens douradas do entardecer.
Dulce estava sorridente, e Chris não tinha a menor ideia de por quê. De
repente, ele gritou para ela que precisavam voltar e puxou o grifo,
comandando-o para a direção contrária. Dulce voltou com ele, juntando os
animais.
– O que você está fazendo?! – gritou ela.
– Precisamos voltar! – respondeu ele de cenho franzido e cabelos
contra o vento. – Você conquistou o elixir! Não é justo sair sem ele!
– Desça aqui! – disse ela, indicando o alto de uma colina verdejante.
Ele a acompanhou e eles pousaram na relva verde. Desceram dos
animais que brilhavam com o Sol da tarde. Chris estava zangado. Já tinha
recolhido as asas e andava nervosamente como se não soubesse pra onde ir
e com a necessidade de quebrar alguma coisa ou bater em alguém. Estava
seguindo as regras que lhe foram impostas e, ainda assim, sentia-se
totalmente injustiçado.
– Acalme-se, Chris, ou você vai ter um treco!
– Como pode estar tão calma?! – perguntou ele, achando que Dulce
não tinha noção da situação. – Isso foi... injusto!
Ele olhou um pouco para o céu como se tirasse satisfação com
alguém muito acima dele.
– Eu sei que as coisas no Mundo Encantado tem seu próprio ritmo,
suas próprias leis, e que eu devia respeitar isso, mas mesmo fazendo tudo
certo, você foi perseguida, ferida e quase morreu tentando fazer o que
mandaram. Eu fui feito de refém, fui agredido e ameaçado, e tudo isso pra
quê?
Ele se voltou para Dulce, agitando os braços com os olhos cheios de
raiva.
– Pra nada! Pra, no final, você abrir mão da única coisa que pode
levar você de volta pra casa! Não podia ter aberto mão do elixir, Dulce!
– Ah! Desculpe, eu devia ter deixado que cortassem sua cabeça! –
respondeu ela, que esperava um pouco mais de gratidão e não uma bronca.
– Tá vazia mesmo, não ia fazer diferença!
– Você não entende! Sem aquilo, você não pode voltar! – ele respirou
fundo, deixando os ombros caírem. – Sem aquilo, você está presa aqui... Pra
sempre...
Dulce se comoveu porque ele realmente parecia frustrado.
– Eu jamais mandaria matar o soldado, Chris... – disse ela.
Ele se virou para ela, surpreso.
– E eu jamais deixaria que o ferissem... – continuou ela.
Então, ele pareceu entender. A frustração deu lugar a um brilho
diferente que ela não tinha visto antes nele.
– Obrigado – disse ele.
–Não tem de quê – ela respondeu.
E finalmente ele pareceu se conformar com a derrota.
– Nunca pensei que Belinda pudesse ser tão...
– Belinda é maravilhosa, a mulher mais linda que já vi e não vou
deixar que fale mal dela!
Ele a olhou confuso enquanto ela pegava algo dentro de sua mochila.
– Afinal, que tipo de rainha dá lembranças bonitinhas como essa
para seus visitantes? A garrafa de prata brilhou nas mãos dela e o queixo de
Chris caiu, enquanto seus olhos se arregalaram, primeiro de espanto e depois
de pânico.
– Você roubou? Você roubou isso? Não pode roubar a rainha!!! Ela
vai te destruir!
– Calma, Chris! Eu não roubei! Ela me deu!
Ele não pareceu acreditar. Inclinou ligeiramente o rosto com o
cenho franzido.
– Por que ela faria isso?
– Acho que ela não é tão má assim. Afinal, você tem razão. Eu
mereci!
Então ele abriu um imenso sorriso, daqueles que iluminam o rosto
inteiro e a agarrou pela cintura, erguendo-a e girando. Comemoraram a
vitória da qual tudo dependia e se abraçaram. Quando ele a colocou de
volta no chão, seus olhares se encontraram e não desviaram. Dulce tinha
agora certeza de que estava apaixonada, porque ao olhar para ele, sua visão
embaçou e seus ouvidos se tamparam, como se tudo ficasse muito, muito
distante.
Ele a segurou antes que ela caísse e ela voltou a ouvir sua voz,
embora tudo ainda parecesse meio escuro a sua volta. Ele a ajudou a se
sentar e lhe deu um pouco de suco. Imediatamente, a visão clareou.
– O que foi isso? – perguntou ela, imaginando se era efeito da paixão
ou de algum dos estranhos habitantes daquele mundo.
– Fome – respondeu ele. – Você não comeu nada o dia inteiro. E
pode apostar que gastou toda a sua energia lutando contra os merrows e os
leões alados.
Ela o olhou se perguntando quando tinha contato sobre suas
aventuras para conseguir o elixir.
– Melhor comermos alguma coisa.
Sentaram diante do pôr do Sol, que dava seu adeus dourado no vale
distante, onde o ouro também cobria rios e lagos. Os grifos permaneciam
deitados graciosamente aguardando seus cavaleiros, dando um ar ainda
mais fantástico àquele momento. Dulce deu um sanduíche para Chris e ele
aceitou. De fato, ela já o vira comer de tudo naquele mundo, algo que
alimentava sua inveja, mas não o vira ainda comer de sua comida. Talvez
porque ela não tivesse oferecido. Ofereceu-lhe também o suco de pêssego,
que ele prontamente aceitou. “Vamos beber da mesma garrafa...”, pensou
ela. “Será que isso conta como um beijo?”
Ficou vermelha sozinha, pensando em como seria beijá-lo de
verdade. Não acreditou quando ouviu sua própria voz.
– Senti sua falta.
Ele a olhou longamente, como se tentasse entender alguma coisa.
Dulce ainda não acreditava que tinha dito aquilo.
– Queria estar ao seu lado lá – respondeu ele.
Dulce sorriu.
– Eu teria ajudado com os merrows, com certeza. Sabe o que são
merrows?
Dulce não sabia o que eram merrows, mas eles tinham quebrado
completamente o clima. Voltou a comer seu sanduíche, decepcionada.
Sentiu-se estúpida. Por que ele iria sentir algo por ela? Ele era um anjo. Um
anjo lindo de morrer. Ela? Ela era uma humana desengonçada que falava
mais do que a boca, que não tinha absolutamente nada de especial, que
estava numa missão em busca de sua única amiga porque era de fato uma
criaturinha patética e carente. Chris continuou explicando que merrows eram
o povo do mar no Mundo Encantado e que as sereias, as fêmeas,
frequentemente se apaixonavam por pescadores e marinheiros humanos,
enquanto os machos eram feios e hostis.
– Eu fiquei preocupado com você...
Dulce o encarou ao ouvir a última frase. E dessa vez, foi ele quem
desviou, um tanto tímido, o olhar, voltando a comer seu sanduíche.
Comeram dois sanduíches, cada um. Também comeram bolinhos e
frutas. Dulce levara uma maçã, um pêssego, uma laranja, algumas uvas,
nozes e passas. Não tinha muito de cada, mas felizmente, tudo se renovava
assim que saída da bolsa. Beberam água e admiraram o pôr do Sol,
enquanto Dulce contava animada sobre sua aventura, sem saber que Chris
acompanhara cada passo seu com o coração na mão.
– Como sabia que a música funcionaria com eles? – perguntou
Dulce, dando metade de seu sanduíche para um dos grifos, enquanto o
outro se aproximava para pegar seu pedaço também.
– Não sabia – respondeu Chris, sorrindo. – É que muitos seres aqui no
Mundo Encantado são suscetíveis à música. Naquele momento, era a única
coisa que poderíamos fazer.
Ele afagou os grifos, que se mostraram muito fãs de sanduíche de
queijo. Quando o dourado virou um tom mais escuro de violeta, voltaram às
suas montarias e alçaram voo. Em circunstâncias normais, Chris não teria
prosseguido de noite, quando as piores criaturas do reino vagam em busca
de vítimas desavisadas. Mas com os grifos, a história era diferente. Eram
animais muito bravos que lutavam praticamente até a morte. Poucas
criaturas se atreveriam a enfrentá-los.
Assim, voaram pelo céu até que as estrelas começassem a salpicá-lo
em sua negritude crescente. Voaram por horas e Chris estava pensando em
parar em algum lugar para que pudessem descansar um pouco, mas os
animais começaram a descer antes que ele dissesse qualquer coisa. Dulce
o olhou sem saber o que estava acontecendo.
– Já chegamos?
– Acho que não!
Os animais sabiam para onde deveriam ir. Eram inteligentes.
Também sabiam que podiam pegar um atalho. Voaram baixo por um
campo onde apenas duas árvores se entrelaçavam, formando um arco.
Passaram por baixo, e Dulce e Chris abaixaram a cabeça para não ficarem
para trás. Quando ergueram novamente a cabeça, o campo havia
desaparecido e se transformado em um bosque. Subiram e perceberam
estar num lugar totalmente diferente.
– Eles pegaram um atalho! – disse Chris, animado com a boa surpresa.
– Adorei esses bichos! Posso levar um comigo pra casa?
– Nem pense nisso...
Continuaram voando sobre as árvores, vendo pontos coloridos
brilhantes em círculos, fadas dançando em roda. Uma luminosidade mais
adiante, no entanto, não parecia tão graciosa.
– O que é aquilo?
Somente então perceberam que aquele bosque era o mesmo que
atravessaram ao sair da Vila das Fadas D’Água. Não precisaram de muito
raciocínio para perceber que a luminosidade que viam eram chamas na vila
que os acolhera. Quanto mais se aproximavam, mais viam que havia gente
em pânico, luta e seres monstruosos atacando.
– É a Corte Unseelil! – gritou Chris.
Comandaram os animais para um ataque pelo ar e desceram como
raios sobre os monstros que atacavam pessoas, fadas, anões e sátiros nas
ruas, erguendo-os e soltando-os no ar, vendo-os cair às gargalhadas. O grifo
de Chris agarrou um goblin que estava sobre uma mulher, estrangulando-a.
Com o bico afiado, o grifo rasgou o monstro e jogou sua carcaça sangrando
no chão. O grifo de Dulce se limitou a agarrar dois monstros de uma vez,
erguê-los e jogá-los contra uma casa em chamas. Chris viu que Maite e
outras mulheres tentavam defender seus lares com arcos e flechas,
enquanto Christian comandava os homens num confronto direto. Apesar de
Christian ter instalado um sistema de alerta na Vila assim que soubera que a
Corte andava por ali, isso não impedira um ataque maciço e cruel no meio
da noite.
A situação não era boa. Várias casas estavam em chamas, havia
muitos feridos e talvez alguns mortos, já que alguns seres no chão não se
mechiam. Ao que parecia, a Corte ainda estava escolhendo sua presa. Num
primeiro momento, tudo o que queriam era destruir. Chris pousou com seu
grifo bem na frente de Christian e seus homens no exato momento em que
iam ser atacados por uma horda de goblins com dentes afiados e asas de
morcego. Um guincho estridente do grifo foi o bastante para assustar as
criaturas que voaram estabanadas para longe.
– Uma espada! – pediu Chris.
Christian jogou-lhe sua própria espada, que tinha um cabo negro e
uma lâmina experiente. Imediatamente, Chris voltou a levantar voo e usar a
espada e o grifo para investir contra os monstros. Eram mais de cem e
todos voavam, todos tinham garras e dentes e isso lhes dava uma vantagem
assustadora sobre uma vila onde havia apenas famílias e crianças de
humanos e outros seres pouco dados a lutas em campo. Após um golpe de
espada, Chris viu o corpo e a cabeça de um goblin caírem dos céus, enquanto
seu grifo despedaçava outro com suas garras. Chris procurou por Dulce.
Tinha que mandá-la se esconder, ficar fora disso, pois aquilo era perigoso
demais para uma humana, a caça principal daquelas feras assassinas. No
entanto, o que viu foi Dulce usando o grifo para resgatar pessoas que
ainda tentavam escapar. Não podia mandá-la sair da batalha. Pra começar,
ela não o obedeceria. Pra terminar, não podia abrir mão dela na batalha
com o grifo. Sabia que ninguém, além deles, conseguiria montar aqueles
animais.Então, continuou atacando e se defendendo ao mesmo tempo em
que mantinha os olhos nela. Não demorou muito para que os seres mais
poderosos da Corte Unseelil percebessem os dois humanos e suas
montarias raras. Em poucos minutos, investiram contra eles. Felizmente,
Maite e as outras mulheres estava prontas com seus arcos e flechas. Uma
flecha incandescente acertou um goblin monstruoso que tentou arrancar
Chris de sua montaria e o monstro caiu em gritos e em chamas, batendo suas
asas de morcego.
Dulce se ocupava em tirar as pessoas do caminho e devolvê-las
para uma enorme casa onde todos estavam se abrigando. Para fazer este
trabalho, precisava voar baixo. Num desses voos, um goblin de mais de dois
metros trombou violentamente contra seu grifo, derrubando-a no chão.
Dulce rolou várias vezes no chão de terra, até conseguir parar. Levantouse
rapidamente, procurando por sua montaria, à qual já tinha se afeiçoado.
O grifo estava agora voando alto, atracado com um goblin que mordia seu
pescoço.
Ela olhou em volta, procurando Chris para pedir sua ajuda para o
grifo, mas acabou vendo uma cena terrível. Eileen estava no meio da rua,
paralisada, enquanto uma horda voava em sua direção.
– Eileen!!! – gritou ela, mas a menina não se mexia, os olhos vidrados
lembrando os horrores que passara nas garras daqueles seres hediondos.
Dulce correu desesperadamente na direção da menina. Neste
momento, Chris a viu e gritou seu nome. Dulce pegou Eileen e a jogou para
Maite, que estava a apenas alguns passos de distância, pois também tinha
corrido para salvar a menina. Dulce a jogou porque sabia que não teria
tempo para mais nada. No exato momento em que jogou a menina-fada,
sentiu garras a tirarem do chão e gargalhadas ecoarem como gritos em sua
cabeça. O chão se afastou e em sua tentativa de se livrar dos monstros, sua
mochila caiu. Gritou, tentando segurá-la, mas a visão que tinha dos seres
que a arrastavam a encheu do mais profundo pavor, fazendo-a gritar e se
debater. No chão, Maite colocara Eileen atrás de si e lançou várias flechas na
direção das criaturas que se afastavam enquanto Chris passava com seu grifo
por ela.
– Dulce!
A moça olhou e viu Chris lutando com as criaturas ao seu lado,
tentando libertá-la. Ela teve esperança, embora o pânico que a assolava
parecesse simplesmente maior que qualquer sentimento que pudesse ter
naquele momento. As garras a feriam e rasgavam suas roupas, puxavam
seus cabelos e as presas afiadas em bocarras escancaradas em risadas
insanas ou gritos de vitória eram o pior pesadelo que qualquer ser, deste
ou de outro mundo, poderia ter.
Chris lutou com ferocidade, como se luta por algo mais precioso que
sua própria vida, mas eles eram muitos e ele era um só. Além do mais,
aqueles seres podiam não estar habituados à resistência, mas isso não quer
dizer que não estivessem preparados para ela. Quando se juntavam, as
criaturas eram praticamente imbatíveis e essa era a verdadeira força e
terror da Corte Unseelil. Chris matou uma e feriu outras duas, e foi só o que
pôde fazer até o agarrarem e o tirarem de sua montaria. O grifo começou a
descer, perdendo altitude e equilíbrio com três goblins enfiando-lhe facas e
dentes. Chris gritou quando sentiu uma mordida em seu ombro. A espada
caiu, decretando o fim da luta e selando um infeliz destino. Dulce olhou
para ele, o rosto coberto de lágrimas. Viu os olhos dele, olhos que
lamentavam profundamente que tivesse falhado com ela, olhos que ele não
tirou dos olhos dela, até que fosse completamente envolvido pelas
criaturas.
Autor(a): vondynatica
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 49
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 05:00:54
Livro 2 - Continuação- https://fanfics.com.br/fanfic/55332/o-trono-sem-rei-vondy-adaptada
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vondy_170 Postado em 25/01/2017 - 04:55:32
Livro 2 - Continuação https://fanfics.com.br/fanfic/55332/o-trono-sem-rei-vondy-adaptada Livro 3 - Continuação https://fanfics.com.br/fanfic/55691/a-cancao-dos-quatro-ventos-vondy-adaptada
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candy1896 Postado em 03/12/2016 - 21:58:10
CONTINUA
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candy1896 Postado em 13/11/2016 - 21:12:15
Continua
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mky Postado em 20/07/2016 - 15:58:32
Continua
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tay_Vondy Postado em 16/07/2016 - 18:13:00
Continua
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pacheco_vondy Postado em 15/07/2016 - 16:09:45
Pena que não rolou beijo!!!
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pacheco_vondy Postado em 15/07/2016 - 15:13:56
Fudeu!! Se correr o Jack pega e Se ficar o Jack come!!
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pacheco_vondy Postado em 07/07/2016 - 21:00:45
Continuaaa!!!
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pacheco_vondy Postado em 05/07/2016 - 21:47:10
Bom, pelo visto eu ganhei esse capítulo completo, como um presente por ser leitora nova!!!mesmo q não intencionalmente!!!