O voo que seria de vitória se tornou sombrio e preocupante. Dulce
trazia Chris em seus braços. Ele respirava, mas não tivera forças nem para
retrair as asas, que estavam muito feridas. Sachti era o nome do dragão que
os ajudara.
Havia sido capturado há dez anos e, graças à corrente presa a
uma pedra mágica, não podia usar nenhum dos seus poderes, como voar ou
baforar fogo. Preso, era usado como diversão nas arenas. Já fazia tanto
tempo que estava no escuro que começara a se esquecer de quem era. O
pequeno vidro que Dulce usava no pescoço o ajudou a lembrar.
Finalmente, Dulce soubera o nome da criatura que encontrara
antes.
Era o Urisk. Um ser bondoso, mas cuja aparência sempre assustava
fadas e homens. Urisk não era só generoso, mas portador de um dos
maiores mistérios da magia do Reino, um líquido mágico que até o
momento não encontrara comparação ou explicação. Sachti não podia dizer
o que o líquido fazia, pois variava de pessoa para pessoa, mas foi com a
ajuda do Urisk que Sachti encontrara seu filhote perdido.
No Mundo Encantado, portais para o Reino dos Dragões podem ser
encontrados. Filhotes não avisados às vezes passam e facilmente se
perdem. Com um pouco de azar, podiam ser capturados por magos, bruxas
ou feiticeiras, todos visitantes frequentes deste mundo. Com um pouco
mais de azar, podiam ser capturados pela Corte Unseelil.
Por algum tempo, houve apenas silêncio. Dulce queria saber mais e
a conversa com Sachti era agradável. Mas estava preocupada com Chris .
– Acharemos uma cidade ou vila – disse o dragão, percebendo a
angústia da menina. – Lá poderemos encontrar ajuda para seu amigo.
O silêncio continuou e Sachti o interpretou mal.
– Eu sinto muito – disse a voz grave. – Eu fiz isso. Sinto muito.
– E você também nos tirou de lá – respondeu Dulce . – O Rei tinha
questões familiares e pessoais muito complicadas com Chris . Iria fazer um
estrago nele com ou sem sua ajuda. Além do mais, ele já estava ferido...
Dulce olhava para o rapaz em seus braços, o rosto machucado, as
asas feridas, as roupas manchadas de vermelho. Acariciou seus cabelos e o
puxou para mais perto, sentindo as lágrimas subirem. Não podia perdê-lo.
Não podia viver num mundo sem ele, fosse este mundo ou outro qualquer.
– Como vocês se conheceram? – perguntou Sachti, interessado na
história na qual acabara de entrar.
Dulce deixou seus pensamentos sombrios e tristes de lado. Eles não
a ajudariam em nada. Disse para si mesma que ele ficaria bem, que
encontrariam ajuda, que o pior já tinha passado. Então, contou para Sachti
um pouco de suas aventuras. E suas histórias embalaram o voo na noite
escura.
– Veja!
Dulce estava quieta há algum tempo quanto Sachti chamou sua
atenção. Ela olhou lá embaixo e viu uma cidade no alto de uma colina, com
um belo castelo no meio e casas a sua volta. Havia iluminação por lampiões
e lanternas nas ruas.
– Um reino!
– É onde podemos conseguir ajuda. Mas antes, devo avisar que
dragões nem sempre são bem recebidos por aqui.
– Por quê?
– Nossa dieta exigente.
– Ah... Bom, não se preocupe. Qualquer coisa, eu defendo você.
– Que bom...
O dragão sobrevoou a cidade e, não vendo perigo, pousou na grande
praça deserta. Com a ajuda do dragão, Dulce desceu com Chris , ainda
inconsciente.
Ela desceu primeiro e o dragão fez com que o anjo ferido
escorregasse gentilmente por suas asas, até ser amparado por ela. Assim
que tocaram o chão, guardas surgiram correndo, apontando lanças,
cercando o pequeno e estranho grupo.
O capitão da guarda, um homem alto e de cabelos escuros, se
aproximou de espada em riste.
– Quem são vocês e o que querem?
– Somos amigos – respondeu Dulce , emocional e fisicamente
exausta. – E queremos ajuda.
Não foi exatamente uma recepção calorosa. Os guardas estavam
muito, muito, MUITO preocupados com a presença do dragão. O capitão se
aproximou, guardando a espada, mas ainda de olho no dragão. Abaixou-se
para verificar o estado do anjo. Balançou o rosto preocupado, vendo que o
estrago tinha sido muito grande.
– Quem fez isso com ele? – perguntou o capitão.
– EU – respondeu o dragão.
– Mas foi sem querer – explicou Dulce , tentando não assustar o
homem.– Homens! Ajudem aqui!
Outros guardas se aproximaram e levaram Chris para o castelo.
Dulce se virou para o dragão.
– Vou ficar por perto, até ter certeza de que estão bem e seguros –
disse Sachti.
– Obrigada.
O dragão levantou voo, provocando uma ventania ante os olhos
espantados dos guardas. Somente então Dulce notou que os guardas eram
todos humanos. Ou, ao menos, pareciam.
Dulce viu Sachti desaparecer no negro do céu e então correu atrás
dos guardas que levavam Chris para dentro do castelo.
Seguiram por corredores e Dulce ouviu o Capitão dando ordens
para chamar Muriele. Entraram num quarto simples onde havia uma
grande cama, alguns móveis e cortinas simples na única janela. Os guardas
colocaram o anjo ferido na cama com cuidado.
– Devemos avisar ao Rei e à Rainha, senhor? – perguntou um dos
guardas.O Capitão pensou por um minuto e Dulce não gostou da
preocupação em seu rosto. Uma mulher de tez morena envolta num roupão
marrom entrou apressada no aposento, seguida de outras mais jovens.
– O que aconteceu? – perguntou ela, abrindo caminho entre os
guardas para olhar o rapaz.
– Ao que parece, uma briga com um dragão – respondeu o Capitão.
A mulher colocou a mão na testa de Chris e fechou os olhos. Dulce viu
o rosto dela se contorcer, como se constatasse algo muito ruim. Seu rosto
balançou negativamente. Dulce sentiu o corpo gelar e então segurou a mão
de Chris e apertou. O rosto da mulher mudou e passou para uma curiosa
surpresa.
Abriu os olhos e viu a menina segurando a mão do anjo. Então,
virou-se para o Capitão:
– Pode ir, Capitão. Agora é comigo e as meninas. Pode ir.
– Deixarei dois guardas, caso precise.
– Não preciso, pode levá-los.
A mulher, que Dulce identificou como uma xamã, pelo tom de pele
e cabelos lisos e negros de uma índia, virou-se então para ela.
– Menina, qual é o seu nome?
– Dulce . E o dele é Chris . Chris ariel.
– Muito bem, Dulce . Você está ferida? Precisa de alguma coisa?
Dulce negou com a cabeça.
– Ótimo, porque preciso que você ajude aqui. Tudo bem pra você?
– Faço o que você quiser, mas por favor, ajude-o.
A mulher concordou com a cabeça sem sorrir. Pegou uma tesoura e
cortou a camisa ensanguentada do rapaz, revelando ferimentos muito feios
no estômago. A mordida no ombro estava negra. Dulce tentou se
controlar. Não ia desabar. Olhou para o rosto dele e acariciou seus cabelos.
– Fique... – murmurou ela. – Por favor, fique...
Uma das moças tirou os tênis e meias e Muriele terminou de cortar
as roupas. As pernas do anjo também estavam machucadas, mas era
evidente que a maior gravidade estava nos ferimentos do estômago.
As três
moças que acompanhavam Muriele começaram a limpar o sangue dos
ferimentos e das asas, enquanto a xamã pegou um monte de ervas e
queimou, enchendo o quarto com um perfume de alecrim.
– O que eu faço? – perguntou Dulce .
– Já está fazendo, filha – respondeu Muriele, começando a entoar um
cântico enquanto passava a fumaça do facho de ervas pelo corpo do anjo.
Dulce não tirou os olhos de seu rosto e jamais soltou sua mão. Não
chorou nenhuma vez, por mais que as lágrimas lhe subissem e a
sufocassem. Tentou não pensar em como seria seu mundo sem ele. Seria
um mundo triste e vazio, sem perspectiva ou propósito. Como conseguiria
viver assim? Ela não pensou que todos perdemos pessoas amadas em
algum momento de nossas vidas.
Ou partem eles, ou partimos nós. E todos
continuam, a vida prossegue. Mas, quando se está diante da dor e da
iminência de uma perda inimaginável, o coração não concebe a
sobrevivência. Simplesmente, não é possível acreditar que a vida pode
continuar sem alguém por quem bate nosso coração. Seu coração pararia.
Dulce teve certeza disso. Ele pararia. Talvez não imediatamente no
momento em que ele partisse, porque a vida tem seu apreço pela crueldade
e não teria tanta misericórdia. Mas em algum momento, cedo ou tarde, seu
coração, sem ele, simplesmente pararia.
Afastou esses pensamentos assustadores e tristes que a fizeram
brigar contra as lágrimas.
Fechou os olhos e respirou profundamente. Viu
seu sorriso, ouviu sua voz e olhou em seus olhos, não ali, não enquanto ele
estava às portas da morte em uma cama, mas quando desceram a
montanha numa casca de árvore, quando ele tirou as folhas de seu rosto,
quando dançou em roda e espiral na Vila, quando ele fez Eileen sorrir de
novo, quando correram pelos campos de Paralda, quando voaram juntos
pelo céu de estrelas...
Abriu os olhos lentamente e fez uma escolha. Escolheu imaginar
como seria quando ele ficasse bom, quando pudessem estar juntos de novo.
Imaginou seu mundo e sua vida com ele, e não se importava se ele era um
anjo e ela era uma humana, se ele era de Marte e ela era de Vênus. Em sua
imaginação, não havia barreiras nem limites.
A cantilena continuou por horas e ervas maceradas foram colocadas
nos ferimentos. As moças começaram a enfaixá-lo e Muriele tocou
levemente Dulce , chamando-a para o mundo real.
– Fizemos o possível. Agora, vamos cuidar um pouco de você...
Dulce resistiu. Disse que não sairia do lado dele. Mas Muriele a
tranquilizou, prometendo que em alguns minutos estariam juntos de novo.
Então, Dulce soltou pela primeira vez sua mão e foi levada para fora do
quarto, onde deu sua última olhada no anjo que era cuidado pelas moças e
por Muriele.
Foi guiada por uma das moças até uma sala de banhos onde havia
um grande espelho de corpo inteiro. A moça lhe mostrou a banheira
redonda de madeira, já com água. Dulce viu uma pessoa esfarrapada
observando-a e olhou um tanto assustada.
Levou alguns segundos para
perceber que essa pessoa era seu reflexo em um espelho. Começou a tirar a
roupa, toda rasgada, até ficar completamente nua. Entrou com cuidado na
banheira e deixou que a moça, cujo nome se esqueceu de perguntar e não
ouviu quando ela disse, a ajudasse. A moça verteu água fria em sua cabeça
lentamente. Dulce estremeceu e sentiu-se anestesiada. Aquela noite jamais
teria fim.
Quando terminou, recebeu uma toalha e um vestido simples, mas
confortável. A moça estava levando suas roupas em frangalhos quando ela
se lembrou de uma coisa.
Deu alguns passos rápidos para alcançá-la e
pegou em seu short a foto, já muito amassada. Olhou para a imagem
brevemente e ela lhe pareceu distante, como se já tivessem se passado
cinquenta anos. Colocou em cima de uma cômoda com cuidado e terminou
de se secar.
Quando estava pronta, a mesma moça a esperava na porta. Guiou-a
de volta até o quarto do anjo. Dulce viu Chris na cama, agora com lençóis
limpos e com uma fina calça de algodão, sendo coberto por uma das
meninas que tinham ficado. Muriele não estava mais lá e as moças
simplesmente saíram e deixaram Dulce com ele, sem maiores explicações.
Ela caminhou lentamente até ele. O cinza da madrugada anunciava um
novo dia, mas dentro dela ainda era noite e temeu ficar na escuridão para
sempre. Ele não tinha camisa e as faixas cobriam o estômago e se cruzavam
no ombro. Dulce se ajeitou com cuidado ao lado dele, encolhendo-se e
recostando a cabeça cansada ao seu lado.
Ela ficou ao seu lado o tempo inteiro. Estava determinada a não
pregar os olhos antes que o anjo abrisse os dele. No entanto, o corpo e a
mente estavam cansados demais para obedecer e, depois de algumas horas,
quando o dia já estava claro, adormeceu ao lado dele, antes que ele
acordasse.
Chris abriu os olhos com dificuldade. As memórias do dia anterior
pareciam um grande borrão que lhe deixavam um gosto amargo na boca.
Olhou em volta e viu Dulce . Não quis acordá-la, já que ela parecia
extremamente cansada. Com cuidado, sentou-se na cama, recostando-se na
cabeceira. Respirou fundo, sentindo dores ao se mover e levou a mão aos
ferimentos enfaixados.
Dulce se moveu ao seu lado e acordou de uma só
vez, já em alerta. Quando o viu, ela não conseguiu dizer nada. As lágrimas
contra as quais tanto lutou começaram a cair pesadamente.
– Arrependida? – perguntou o anjo, lhe dando o sorriso do qual ela
tanto se lembrou e do qual tanto sentiu falta.
Ela não conseguiu responder. Com cuidado, abraçou-o e chorou. Ele
a consolou, puxando-a para si, como se ela fosse uma criança, cobrindo-a
com suas grandes asas brancas e embalando-a enquanto ela desabava em
pranto.
Uma das moças lhes trouxe sopa. Dulce colocou o prato dela de
lado e ajudou Chris a tomar a dele. Esperavam que Muriele viesse vê-los, mas
foi o Capitão quem surgiu à porta assim que Chris terminou de comer.
– Está melhor? – perguntou o Capitão.
– Sim, senhor – respondeu o anjo. – Agradeço a ajuda.
O Capitão fez um movimento cordial com a cabeça, mas não estava
sorrindo.
– O Rei Oldebaran e a Rainha Nistka desejam vê-los. Pode andar?
Chris ganhou uma camisa que acompanhou as calças de algodão.
Dulce o ajudou a calçar os tênis. Não era uma roupa muito formal para
estar na presença da realeza, mas era o que tinha. Foram escoltados até o
rei e a rainha.
Dulce apoiava Chris , que andava com dificuldade, e achava um
tanto estranho que exigissem de alguém tão ferido tal esforço. Não podiam
rei e rainha irem lá no quarto dele? Lera no livro das fadas sobre o
protocolo dos encantados e como suas regras de educação eram diferentes
e exigidas a todos, mesmo aos que não tinham conhecimento delas. Mesmo
assim, achou aquilo uma tremenda grosseria, seja neste mundo ou em
qualquer outro.
– Você está bem? – perguntou Chris .
– Estou zangada. Não deveriam ter tirado você da cama.
– Estou bem – mentiu ele. – Tudo vai ficar bem.
Passaram por um caminho ao ar livre que mostrou o Sol se
despedindo. Pela primeira vez, Dulce teve uma noção mais clara de tempo.
A noite que achou que nunca mais terminaria já tinha se transformado em
dia e em alguns momentos, se transformaria em noite de novo.
Chegaram numa sala de tapete vermelho e colunas de pedra. Muitos
curiosos, entre humanos e elfos, os observavam enquanto eles passavam.
No final do tapete, duas figuras imponentes os aguardavam no trono. Os
guardas se mantinham a postos.
– Estou preocupada... – murmurou Dulce , que começava a se
preocupar com tudo.
– Fique calma – respondeu o anjo. – Estamos num reino grande e
não numa pequena vila. É normal que tenham esse cuidado todo...
O rei e a rainha os olharam curiosos. A Rainha Nistka era linda e
suas orelhas ligeiramente pontiagudas denunciavam sua natureza de ser
encantado. O Rei Oldebaran, no entanto, de rosto quadrado e moreno, tinha
o porte real, mas parecia humano. Chris , que ainda não conseguia recolher as
asas por causa dos ferimentos, tentou fazer uma reverência, mas não
conseguiu muito mais do que baixar um pouco a cabeça.
– Sou Chris ariel, anjo de Derrick – disse ele. – E agradeço a acolhida.
– Uma humana, um anjo e um dragão chegaram às nossas portas em
plena madrugada – disse o rei. – Estamos curiosos em saber como isso
aconteceu. Especialmente, porque sabemos que o dragão continua nos
arredores e nos espreita.
– Não, não precisam se preocupar! – disse Dulce . – Ele é amigo! Só
está preocupado conosco, só isso!
– Seu amigo come elfos – respondeu a rainha, com voz firme e fria.
O silêncio foi constrangedor.
– Claro... – resmungou Chris , que não esperava por essa. – Todo
mundo tem um passado... Por que não estou surpreso?...
– Bom... – disse Dulce . – Poderiam nos dar abrigo só mais alguns
dias, só o bastante para que ele se recupere?
–– Lamento, menina – respondeu secamente o rei. – Temos muitos
elfos aqui e estão todos muito nervosos. Por isso, pedimos que se retirem
imediatamente de nossas terras. Nossos guardas vão escoltá-los até os
limites do reino.
Dulce e Chris ficaram em silêncio, imaginando que logo escureceria e
não teriam abrigo lá fora.
– Agora! – ordenou o rei.
Os guardas se aproximaram e Chris pegou no braço de Dulce ,
puxando-a para saírem. Viraram-se e começaram a andar, ante os olhares
de dezenas de elfos e humanos que os observavam.
Dulce se sentiu mal.
Ninguém gosta de ser expulso, seja lá de onde for. Então, de repente, ficou
brava. Desvencilhou-se facilmente do anjo e se virou-se para o rei e a
rainha, dando alguns passos a frente.
– Vocês estão expulsando um anjo, sabiam? – disse ela, em alto e
bom tom. – Um anjo ferido! Lá na minha terra isso é pecado e dá pelo
menos umas sete vidas de azar! E estão com medo de um dragão que, junto
com o anjo que estão expulsando, acabou com a Corte Unseelil! Eles fizeram
um serviço de detetização eliminando aquelas pragas do seu mundo e é
assim que vocês agradecem? Só porque estão com medo de ferir os
sentimentos de alguns elfos frutinhas!
Um elfo alto e de vestes pomposas surgiu, saído de algum lugar na
frente, onde havia pessoas ricamente vestidas. Seus olhos eram verdes e
profundos e colocou sua mão sobre o sabre na cintura.
– O que você disse sobre os elfos?
– Dulce ... – disse Chris , totalmente consciente de que não estava em
condições de entrar em outra briga tão cedo. – Vamos embora antes que
nos matem...
Dulce podia ter ouvido Chris . Podia ter se lembrado do quanto ficou
preocupada com ele, do quanto ele se machucou nas garras da Corte
Unseelil e das terríveis consequências de ofender as pessoas mais
poderosas de um reino daquele tamanho. Sim, ela podia ter pensado nisso
tudo. Mas não pensou. Deu um passo a frente e aumentou o tom de voz,
olhando diretamente para o elfo que tentara intimidá-los.
– Falei que vocês são frutinhas!!! – gritou Dulce , com as mãos nas
cadeiras e balançando a cabeça provocativamente. – Por quê? Vai jogar
purpurina em mim?
Os olhos do elfo brilharam por um segundo e então ele deu passos
firmes em sua direção. Dulce , vendo o elfo crescer diante dela, deu alguns
passos pra trás até sentir alguém puxá-la. Chris segurou o seu braço e tomou
a sua frente, encarando o elfo e abrindo as asas.
– Dulce ?
O elfo parou ao ouvir a voz conhecida para ele. Dulce achou ter
reconhecido, mas lhe pareceu tão fora de contexto que não soube quem era
no começo. Foi então que uma donzela ricamente vestida e com uma coroa
de princesa na cabeça surgiu alguns passos atrás do elfo, saindo da
pequena platéia que assistia o quase duelo.
Com um toque gentil no ombro
do elfo, a moça empurrou-o para o lado para que saísse do caminho,
enquanto olhava de perto a estranha que ofendera todo mundo em umas
três frases. Só conhecia uma pessoa com este talento.
– Dulce ! É você!
Dulce continuou olhando, sem entender como aquela princesa a
conhecia.
– Sou eu! Não lembra de mim?
E quando ela sorriu, a imagem se completou em sua cabeça,
preenchendo dezenas de fotos da memória onde aquele sorriso sempre
estava.
– Anahí?
Dulce saiu devagar de trás do anjo que continuava a protegendo e
se aproximou da amiga que lhe estendia os braços com um sorriso aberto.
Elas se abraçaram e choraram juntas. O elfo tirou a mão do sabre,
quase decepcionado em não ter podido brigar, enquanto rei, rainha, anjo e
platéia observavam o desfecho inesperado daquela estranha audiência.