Fanfic: Uma proposta de amor [Adaptada] - terminada

Annie voltou-se e se concentrou na paciente.

— Empurre, Regina, vamos lá. Empurre!

Annie examinou de novo os monitores, e recordou sua lista de procedimentos. Só estava faltando Dulce na sala.

Indagando-se por que a supervisora não mandara alguém para ajudar, já ia apertar o botão de chamada quando Dulce chegou.

— Desculpe-me pelo atraso. Céus, este lugar está pare­cendo uma estação de metro na hora do rush!

— Está tudo bem, Dulce. — Poncho, com toda a delica­deza, moveu a cabeça do bebê, guiando-o para o mundo que o aguardava.

De imediato, o dr. Herrera retirou as secreções da boca e do nariz da criança com um aparelho de sucção, e então ajudou os pequenos ombros a passarem. Logo, o restante do corpo.

— É um garoto — anunciou, colocando o recém-nascido em um cobertor que Annie segurava. — E parece muito saudável, também.

Ignorando o próprio mal-estar, Annie levou o nenê para o berçário. Caminhando até a bancada, massageou as costas do recém-nascido para estimulá-lo, e instantes depois os gritos ultrajados do menino já dominavam todo o ambiente.

— Vocês escolheram um nome? — ela quis saber, lutando para conter o próprio enjôo.

Mantendo o pequeno sob a luz quente, trocou a coberta molhada por outra seca e confortável.

— David Allan — Tom informou, orgulhoso.

Enquanto Poncho retirava a placenta e terminava os proce­dimentos, Annie analisava a pulsação, respiração, os reflexos e a cor do bebê, fazendo todos os testes necessários para checá-lo.

— Ele está muito bem — informou, satisfeita, ao terminar os exames.

Então, preparou uma fita de identificação e colocou-a no tornozelo de David. Por fim, mediu-o e pesou-o, trocando mais uma vez seu cobertor antes de passá-lo para o pai ansioso. As injeções de vitamina e a vacina contra hepatite B poderiam esperar um pouco.

— Temos mais algum procedimento cirúrgico na fila? — Poncho tirou as luvas para lavar as mãos.

Dulce meneou a cabeça.

— Não, a menos que alguém tenha dado entrada nos últimos minutos.

Ao sentir outra onda de náusea, Annie quase gritou. Não poderia mesmo ficar mais nem um segundo naquele lugar. Dulce aproximou-se discretamente da amiga.

— Você está bem, Annie?

— Mais ou menos — Annie respondeu entre os dentes, determinada a não perder o controle.

Entretanto, o mal-estar era muito mais forte do que suas forças podiam suportar, e um segundo depois ela saiu quase correndo da área cirúrgica, atravessando a sala de descanso das enfermeiras em direção ao banheiro, onde permaneceu até sentir o estômago vazio.

Alguém apareceu a suas costas, colocando uma toalha úmida em sua nuca e entregando-lhe outra.

— Muito obrigada, Dul.

— Não há por quê.

Espantada, Annie ergueu-se de modo tão brusco ao ouvir a voz de Poncho atrás de si que acabou batendo o ombro contra a pia do banheiro, e a dor a fez engolir em seco.

Impassível, Poncho estendeu-lhe um copo com água fresca.

— Se já terminou, Annie, vamos para algum lugar onde não exista risco de você se ferir.

— Estou muito bem aqui.

— Mas eu, não. — Poncho recostou-se na parede, olhando de relance para a pia. — Este lugar não foi projetado para duas pessoas.

Naquele momento, a fechadura da porta tornou a girar, e Poncho virou-se para verificar quem era o intruso. Depa­rou com Dulce.

— Annie, você está bem?

— Ela está ótima.

—  Posso responder por mim mesma, Poncho.

Poncho cruzou os braços.

—  Tudo bem, vá em frente.

—  Estou ótima — respondeu à amiga.

Dulce não parecia convencida, pois um traço de descon­fiança dominava sua expressão. Não bastasse, os olhos ver­des pareciam cheios de preocupação.

— Por que não se senta na sala de repouso por um ins­tante, Annie? Tenho certeza de que ficaria mais confortável.

— Era o que eu estava dizendo a ela, Dulce. Este lugar não é grande o bastante nem para uma pessoa, imagine três. — Poncho lançou um olhar discreto para Dulce, como se sugerisse que os deixasse a sós.

— Posso lhe trazer alguma coisa, querida? Uma soda, talvez?

— Não tem de cuidar de nenhum paciente? — Poncho resolveu ser mais direto.

A enfermeira ruiva foi pega de surpresa.

— Sim, mas...

— Perfeito. Então, não se atrase por nossa causa.

— Mas antes de partir tenho que dizer uma coisa. — Dulce ergueu o dedo indicador até a altura do peito dele. — É melhor que você...

Sentindo a tensão do momento, Annie apressou-se em se levantar, e deixou-os, desejando interromper o ultimato que suspeitava que Dulce estava prestes a dar. Naquele momento, a ajuda dela poderia provocar o efeito contrário ao que desejava obter.

Assim que Dulce se foi, Poncho tornou a aproximar-se de Annie. Sem dizer uma palavra, guiou-a até o sofá da ala de repouso.

Annie sentou-se, ainda segurando o copo d`água. De sos­laio, pôde vê-lo sentado do outro lado do sofá, próximo o suficiente para ser tocado. Bastaria estender o braço...

Por alguns instantes, Annie permaneceu em silêncio, lembrando-se de todas as frases que ensaiara na véspera. Con­tudo, nenhuma delas parecia muito boa. Por fim, Poncho se pronunciou, apanhando-a ainda desprevenida:

— Tem algo para me contar, não é, Annie?