Fanfic: Uma proposta de amor [Adaptada] - terminada

Quando chegou, Poncho viu que todas as luzes estavam apa­gadas. Bateu na porta da frente, mas, como esperava, não obteve resposta. Num gesto dominado pela frustração, girou a maça­neta. Para sua surpresa, Annie não se trancara lá dentro.

Entrou e acendeu as lâmpadas do hall, caminhando direto para o quarto de dormir. Estava no corredor quando a porta do quarto foi aberta e Annie, com uma expressão assustada, apareceu.

— Poncho! — Pareceu incrêdula a princípio, mas logo tornou-se firme. — O que está fazendo aqui?

Ele entrou no aposento e apertou o interruptor.

— Ia lhe fazer a mesma pergunta.

— Vim à procura de paz e tranquilidade, Poncho.

— E eu porque estava preocupado. Que maluquice é essa de não trancar a porta? Qualquer um poderia entrar!

Annie cruzou os braços, encarando-o com uma expressão teimosa. Quisera passar a noite só para colocar as idéias em ordem, ensaiando o que deveria dizer. Porém, já que Poncho se apressara, falaria tudo o que tinha na cabeça.

—  Quero o divórcio. — Annie sentou-se na cama. Poncho acomodou-se a seu lado.

—  Nosso primeiro ano ainda não se acabou.

—  Não sou a mulher que você quer, Poncho.

—  Quem disse?

Annie ergueu as mãos, exasperada.

—  Nós não combinamos.

—  Discordo.

Tomada por emoções conflitantes, Annie levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro.

— Não seja ridículo! Você quer alguém como Jacqueline, e eu não sou assim. Sou apenas uma moça comum.

— Graças a Deus.

— Nunca serei tão sofisticada, Poncho. Gostaria de ser, e até mesmo tentei, mas isso é para gente... – com o comentário de Poncho, por fim, foi processado por seu cérebro e ela encarou-o, piscando. — O que disse?

—  Estou feliz por você não ser como Jacqueline.

Os olhos de Annie se estreitaram.

—  É mesmo? Por quê?

— Porque ela é egoísta, incapaz de se doar, a não ser que receba algo e troca. Mulheres sofisticadas como Jacqueline e Angelique requerem constante atenção e, para ser honesto, não me excitam nem um pouco.

Annie mal acreditava no que ouvia.

— Você, por outro lado, Annie, é gentil e generosa. Faz tudo ao redor ficar interessante. E, o que é mais importante: é responsável por minha existência valer a pena.

Annie permaneceu calada. Poncho olhou no fundo de seus olhos azuis, apertando as próprias mãos, bastante nervoso.

— Não tinha percebido até pouco tempo atrás o quanto eu admirava essas características, querida.

Annie assumiu uma expressão desconfiada.

— A mim pareceu que estava gostando muito da com­panhia daquela loira oferecida, Poncho.

— Fiz o que achava certo, mas, depois que você foi em­bora, vi que nada mais importava. Sabe por quê? Porque a única pessoa que eu queria impressionar tinha partido. Foi quase impossível trabalhar com Jacqueline nesse pe­ríodo todo, mas estava obcecado com a idéia de provar que era capaz. Por isso tolerei tudo. Entretanto, acabei ferindo você no meio do processo. Sinto muito.

Annie sabia o quanto era difícil para Poncho se desculpar, e tinha certeza de que ele estava sendo sincero. Contudo, ainda não estava pronta para jogar toda a cautela pelos ares.

— É fácil dizer essas coisas agora que o trabalho do comitê acabou. No entanto, o que vai acontecer da próxima vez?

Poncho sorriu, melancólico.

— Duvido que existirá uma próxima vez. Acredito até que vou perder todos os meus privilégios no hospital.

— Por quê?

— Porque mandei Jacqueline me deixar em paz. Na frente de todos.

Sentindo os joelhos falsearem por causa da surpresa, Annie cobriu a boca com os dedos.

—  Não pode ter feito isso!

—  Mas fiz, e, se não acredita, pergunte aos presentes.

—  Por que fez algo tão tolo?

Poncho tomou-a nos braços.

— Porque você significa mais para mim do que fama e fortuna. Tente compreender que quis tudo isso no passado. Porém, depois que você surgiu, tudo mudou. Sempre foi muito franca e emocional, Annie, e demorei um pouco para me acostumar a essas virtudes.

Poncho fez uma pausa.

— Quando você deixou o banquete, me dei conta, de uma vez por todas, o quanto a quero comigo. Não Jacqueline, ou Angelique. Apenas você.

O pranto a impedia de falar. Não duvidava dele.

— Poncho...

— Eu te amo, Anahí Herrera.

— Você nunca disse... — Ela soluçou. — Eu pensei... achei que...

— Sempre fui um homem muito fechado. É difícil, para mim, revelar coisas que significam muito.

— Mas essa é a base de qualquer relacionamento, Poncho.

— Sei disso. Entretanto, também foi por isso que não pude falar mais abertamente sobre o bebê... apesar de não esquecer o assunto um instante sequer. Acho que foi o que me levou a me dedicar tanto ao serviço do comitê. Era uma espécie de fuga.

Annie ficou quieta por um momento.

—Acreditei que estava arrependido de termos nos casado, Poncho. E com a possibilidade de ter um filho com problemas...

— De jeito nenhum. Nunca me arrependi de nada. Na ver­dade, fiquei até mesmo irritado quando Bert obrigou-a a se casar. Queria que me aceitasse por vontade própria, querida.

— Não fui obrigada, Poncho. Tomei minha decisão antes do ultimato de titio, pois já o amava.

— Então por que mencionou a possibilidade de divórcio após um ano?

— Não queria que você se sentisse chantageado. Se qui­sesse partir, estava pronta para deixá-lo livre.

— Sinto muito, garota. — Poncho apertou-a de encontro ao peito. — Serei todo seu pelos próximos cinquenta anos, ou mais.

— Nem tudo vai correr de acordo com o planejado, você sabe.

— Certo. Nada em nosso relacionamento foi assim. Por isso, sei que continuarei a fazer planos, mas conviverei com o imprevisível, como você faz tão bem. Na verdade, nunca me senti tão vivo antes.

— E quanto a seus sonhos de fama e poder?

— Pode não acreditar, Anahí Hererra, mas você preenche todos os requisitos que eu pretendia encontrar em uma mu­lher. E, além disso, tem teimosia e determinação suficientes para temperar todo o resto.

Naquele momento, o bebê chutou bem no lado do corpo que ela encostava em Poncho, fazendo-o sorrir.

— Viu? Nosso filho concorda!

Para total satisfação de Annie, Poncho estava certo.