Fanfic: O Preço da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Na manhã seguinte, Dorothy sentou-se à mesa da cozinha, lendo cuidadosamente o jornal em busca de quaisquer notícias que pudessem oferecer uma pista sobre sua identidade.

Alfonso fora falar com o xerife, que continuava sem informação alguma, mas prometera mais uma vez resolver o caso dela, ou, como ele mesmo colocara dramaticamente: "morreria tentando".

Determinada a distrair a mente de sua crescente frustração, ela decidiu limpar a cozinha em seguida. Preferindo evitar transtornos com eletrodomésticos imprevisíveis naquela manhã, lavou a louça na própria pia e, depois, deixou o chão e os balcões brilhando.

Finalmente, adiantou-se até a pequena despensa anexa para resolver o que poderia preparar para o almoço. Na prateleira do alto, viu uma cesta de piquenique e uma ideia lhe ocorreu.

Indo até varanda que dava para o pátio dos fundos, onde Alan brincava com ioió, perguntou ao menino:

— Ei, Alan, onde seria um bom lugar para um piquenique?

O garoto virou-se para observá-la com interesse.

— Acho que debaixo da macieira que fica à beira do riacho.

— Parece perfeito. Que tal se você for até o campo onde seu pai está trabalhando e lhe disser para nos encontrar debaixo da macieira ao meio-dia?

Sentado na relva sob a frondosa macieira, Alfonso ouviu a voz do filho primeiro e, depois, a de Dorothy na distância, levadas até ele pela brisa suave.

Caminhavam pelo pasto em sua direção, com Totó seguindo-os de perto. Dorothy carregava uma grande cesta de vime.

Alfonso não fez menção de se levantar, mas permaneceu imóvel, permitindo-se desfrutar a imagem de seu filho sorridente e de sua bonita acompanhante.

Ela jogou a cabeça para trás e riu de algo que Alan disse, enquanto caminhava graciosamente pela grama verdejante, salpicada de coloridas flores silvestres.

A cena, mais vibrante graças à chuva da noite anterior, fez com que Alfonso se lembrasse da primeira vez em que vira Dorothy na rodovia cercada de campos e ela lhe abrira aqueles intensos olhos azuis, banhando a tudo à volta com sua incrível luminosidade.

E, agora, ela parecia forte e mais confiante, em vez de indefesa e assustada. Ele sentiu um prazer puro e simples só em observá-la.

O sol do meio-dia filtrava-se por entre os ramos da árvore, os feixes suaves de luz que penetravam brilhando sobre os cabelos loiros dela, acentuando-lhe o azul dos olhos.

— Pronto para o nosso piquenique? — Ela sorriu, o que só o deixou um pouco mais atordoado.

Céus, ele jamais vira mulher mais bonita e cativante.

Dorothy pousou a cesta no chão e estendeu uma toalha xadrez sobre a relva. Dispôs sobre a toalha, então, pratos descartáveis, guardanapos e vasilhas com sanduíches, salada de batata e algumas frutas. Tirou, enfim, uma jarra de limonada da cesta e preencheu três copos de plástico, contando sobre sua busca infrutífera no jornal daquela manhã.

Foi visível seu esforço para conter a frustração.

— Lamento que não tenha tido sorte. — disse Alfonso, observando-a.

Perguntou-se se ela perceberia que, na verdade, não lamentava nem um pouco. De qualquer modo, embora desejasse, sabia que não podia fugir da realidade.

E se alguém aparecesse à procura dela? E se sua memória voltasse e o fato a levasse a partir de repente?

Dorothy ergueu os olhos e sorriu.

— Obrigada. — Olhou, então, para um trecho riacho abaixo, onde pedira a Alan que desse um pouco de ração a Totó.

Pareceu prestes a dizer algo mais, porém deteve-se.

— O que foi?

— Oh, nada.

— Você ia dizer alguma coisa. O que era?

Ela sorveu um pouco de limonada antes de começar.

— Embora eu pareça não ter uma habilidade natural para fazer os serviços domésticos, para cuidar de Alan, sim. Estive me perguntando... e se eu for mãe? E se eu tiver um filho em algum lugar? Um filho que precisa de mim.

Alfonso mudou o copo de mão, inquieto com o rumo da conversa.

— Se você fosse mãe, não acha que sentiria isso de algum modo?

Dorothy pareceu pensativa, enquanto colocava salada de batata nos pratos.

— Talvez tenha razão. Se eu fosse mãe, acho que eu sentiria isso com mais intensidade, com ou sem amnésia. Tudo o que tenho agora é uma vaga sensação de que poderia ser possível. — Ela observou a vastidão de céu azul, os olhos ainda um tanto preocupados. — Mas, então, quando olho para Alan, eu... Eu simplesmente não sei.

Alfonso sorveu um gole de limonada e observou Alan alimentando Totó.

Aquela conversa sobre a outra vida de Dorothy, sua vida real, começara a deixá-lo deprimido.