Fanfic: O Preço da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Dorothy mal conseguiu conciliar o sono naquela noite, não conseguindo tirar da mente as coisas que Alfonso lhe dissera, nem tampouco esquecer como se sentira em seus braços.

E, então, havia os comentários de Alan, que só haviam confirmado seus piores temores sobre o casamento de Alfonso e Luma.  Seu coração condoeu-se por Alfonso.

Por que ele dissera tudo aquilo sobre não querer magoá-la?

Dorothy tinha a impressão de que era ela quem o estava magoando, embora fosse a última coisa do mundo que quisesse fazer.

Estaríamos envolvidos tão profundamente, dissera ele.

Não era de admirar que não quisesse se envolver com ninguém outra vez, especialmente com alguém que poderia deixá-lo e a seu filho a qualquer momento.

Ela era uma tola, uma tola sem consideração, por ter deixado que algo daquela dimensão quase acontecesse entre ambos.

Na manhã seguinte, tendo se levantado mais cedo do que o costume, Dorothy decidiu fazer panquecas. Na despensa, havia uma caixa da mistura e instruções sobre como prepará-las.

Certamente, aquilo não podia ser um bicho-de-sete-cabeças e seria algo mais para ajudá-la a lidar com a frustração que ainda a dominava.

Para sua surpresa, antes de ter lido as instruções, ela já soubera que teria de pegar os ovos e o leite. Não fora algo que tivesse deduzido, mas que soubera instintivamente.

Perplexa, olhou para seu avental branco e um lampejo de memória penetrou em sua consciência. Era a imagem de uma mulher idosa, também de avental branco e misturando algo numa tigela, enquanto lhe sorria.

A imagem desapareceu, e Dorothy recostou-se no balcão, atordoada.

Quem era aquela mulher? Tinha a sensação de que era alguém que lhe fora próximo. Ficou com uma nítida impressão de grande afeição por ela e fez um grande esforço para tentar se lembrar de algo mais, mas não conseguiu.

Já era um começo ao menos, disse a si mesma. Talvez suas lembranças estivessem querendo vir à tona e aquilo passasse a acontecer pouco a pouco, espontaneamente.

Enquanto retomava o preparo das panquecas, ela sentiu um pequeno empurrão nas costas.

— Mãos ao alto, dona!

— Oh, não! Você me pegou! — exclamou Dorothy num tom indefeso. Ao que parecia, Alan também acordara mais cedo, e ela o ouviu soltando risinhos atrás de si enquanto se virava devagar. — Não atire em mim, senhor, sou apenas a...  — Baixando o olhar, viu que ele lhe apontava um revólver de brinquedo —...cozinheira.

Alan tinha um lenço vermelho amarrado ao rosto à maneira de um bandido do Velho Oeste. Exceto que, num instante, ele não era mais Alan. E não era um revólver de brinquedo.

Uma nova imagem sobrepôs-se a de Alan e oscilou diante dela até deixá-la zonza. Uma onda de adrenalina percorreu-a e a fez largar a colher que ainda segurava.

Alan riu de sua pequena travessura e saiu para a varanda para perseguir Totó, sem se dar conta de que a reação de choque dela fora real.

Dorothy tornou a se recostar no balcão e percebeu, que Alfonso estivera observando o episódio com Alan da entrada da sala de jantar. Pôde ver que ela estava abalada com algo, pois colocou-se a seu lado num momento.

— Alan não assustou você de verdade, não é mesmo?

Dorothy pensou novamente no que acontecera depois que Alan falara. Houvera a imagem de uma arma, uma de verdade, não um brinquedo. E houvera um lenço vermelho encardido.

Alguém o usara, mas não Alan.

— Não, ele não me assustou. Mas algo me... perturbou.

Alfonso observou-a, alarmado.

— Você se lembrou de algo?

— Acho que sim, mas não sei o que significa. — Ela estava prestes a falar que vira um homem usando um lenço vermelho no rosto e segurando uma arma. Mas algo a fez parar.

Uma arma! As palavras do xerife Gulch ecoaram em sua mente. Havia uma onda de roubos no condado, e ele achava que ela está no centro daquilo. O homem com a arma podia ser o parceiro dela no crime!

Dorothy fitou os olhos de Alfonso e uma onda de pânico dominou-a.

O xerife estaria certo, afinal? Ela era uma criminosa?