Fanfic: Reticências - Thay | Tema: Skins
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C A P Í T U L O U M
Welcome to my life.
3:00 horas da manhã.
Mais um fim de semana que ficava pra trás.
Era segunda, vulgo “o pior dia da semana”. Acordei com um puta susto, todo suado. Tinha a sensação de que o coração sairia pela boca a qualquer momento, de tão forte que batia. Que porra! Era mais um pesadelo. Dificilmente eu o tinha, mas esse em especial era raramente mesmo. Era a última imagem que eu tinha dos meus pais, na noite do acidente. Eu fico completamente mau humorado quando acordo desse jeito. Quem não ficaria, né mesmo?!
Não dormi o resto da noite, como sempre acontece quando acordo desse jeito e a essa hora. Ouvi música, li um pouco, fiz uns rabiscos no caderno, só pra ver se o tempo passava mais rápido, o que parece ter funcionado. O dia estava amanhecendo, enfim, e eu não chegaria atrasado no colégio, não que fosse algo com que eu me preocupasse. Os pássaros cantavam lá fora e eu confesso que curto isso. Gosto de quando o barulho da natureza sobrepõe-se ao da cidade. Gosto de ver os primeiros raios do sol; é um novo dia, afinal. Uma nova oportunidade de fazer as coisas diferente do ontem. Assim eu penso. Não aguentava mais ficar na cama, então me levantei e fui tomar meu banho. Me sinto extremamente bem quando tomo banho, cara. É sério! Acho que é a única hora do dia em que com certeza meu humor estará ótimo. Me relaxa pra caralho e é tipo a hora sagrada do dia, sacou?
Terminado o banho, não coloquei uma roupa qualquer porque a desgraça do ELITE, colégio onde estudo, tem uma palhaçada de regras de conduta, e o uso obrigatório do uniforme é uma delas. Sem ele, os alunos são barrados ainda no portão principal. Até aí, tudo bem, nem parece tão ruim. O pior é que era uma calça de um tecido mole, azul marinho, e uma camisa cinza com detalhes em azul, no mesmo tom da calça e com o símbolo do colégio no lado esquerdo. No inverno a gente precisava usar o casaco também, era igual a camisa, porém com as mangas grandes, óbvio, e também no mesmo azul marinho da calça. Era ridículo e eu odiava, não por usar o uniforme, mas porque eu era obrigado a usar e eu odeio fazer as coisas por obrigação. Enfim, peguei minha mochila e a coloquei em um ombro só, dentro dela tinha meu caderno e um estojo onde ficavam canetas, lapiseira, borracha. Enquanto descia as escadas, pensava que já estava mais do que na hora da Beth vir limpar a casa, ela sempre vinha uma, duas vezes no mês. Ela era nossa diarista, por assim dizer. A gente pagava - eu não, o Dennão - e ela fazia A Faxina.
O porco do meu irmão estava dormindo no tapete da sala, só de cueca. Ele era um escroto de merda ambulante. Provavelmente chegou tão bêbado e com tanta droga na cabeça que nem as escadas conseguiu subir. Enfim. Deixei a mochila no canto da porta e fui pra a cozinha arrumar algo pra comer. Eu nem estava com fome, mas sempre me fodo quando vou pro colégio sem tomar café, meu estômago é uma merdadesgraça quando tá vazio, principalmente quando bebo na noite anterior, como é o caso. Ok, eu iria passar no StockCafé, como sempre, mas… Foda-se. Até chegar lá, sentiria fome, então comia qualquer coisa em casa só para driblar o estômago. Entre a sala e a cozinha, havia um pequeno corredor, neste tinha o banheiro principal e uma sala pequena, onde a gente guardava umas ferramentas e um monte de coisas velhas, era uma porta de frente pra outra. Mas isso não tem muita importância agora.
Cheguei na cozinha e tive uma bela surpresa...
?: MEU DEUS!!
Eu: JESUS CRISTO! Que porra é essa? - abri um pouco os braços e franzi a testa.
Tomei um susto do caralho, o que dá para perceber pelo "JESUS CRISTO!". Era uma garota que aparentava ter a minha idade. Era loira, com cabelo liso até um pouco acima da cintura. Embora a maquiagem borrada e o cabelo bagunçado, ela era bem bonita. Mas não me simpatizei, afinal, era uma vadia intrusa, bebendo na minha caneca e usando a minha camisa do Batman. Usando a minha camisa do BATMAN? WTF?!
Eu: Quem é você e por que tá usando a minha camisa e bebendo na minha caneca?
Garota: Oh, me desculpe... - ela estava tremendo de susto. Deixou minha caneca na pia e ficou me olhando. - Ah, tu estuda no ELITE, néah? Acho que já te vi em algum lugar... Pode ser tanto no ELITE, mas ainda acho que não é lá... Pode ser alguma festa... Tu é o... o... - colocou o dedo na boca e ficou me analisando, com os olhos levemente semicerrados. Ficou ainda mais vadia daquele jeito. Mas dava pra perceber uma coisa: ela estava mesmo nervosa!
Eu: Gustavo. E tu?
Garota: Ahmmm... Sou a Alanna. É, tu no ELITE... Faz sentido! Colégio que tem os caras mais gatos. - e ricos, vadia interesseira. - Eu estudo no Santa Maria. - Tá, nem tão interesseira assim, pois ela é de família rica por estudar no Santa Maria. - Minhas amigas vivem saindo com os caras do ELITE, vira e mexe saem com os do Monte Verde também, mas...
Eu: Mano eu não tô interessado. Só me responde uma coisa: onde o Dennão te comeu?
Ela arregalou os olhos, mas pelo menos parou de tagarelar. E só pra reforçar, Santa Maria era um colégio de freiras, depois do ELITE, o colégio mais caro da cidade e só era frequentado por garotas. ELITE era o colégio mais caro com as pessoas mais frescas. Eu não escolheria estudar lá, mas meu tio Marcos, irmão do meu pai e que mora nos EUA insiste no melhor colégio. Grande "melhor colégio" de merda! E o Monte Verde é só mais um dos colégios de pessoas com condições normais, a maioria dos meus conhecidos eram de lá.
Alanna: Uau, você é curto e grosso, hein... Mais grosso que curto, néah... Mas relaxa, Dennão nem me comeu, só subimos pro quarto dele, ele insistiu mas eu não quis. Enrolei e no fim, acabei batendo uma pra ele, ele desceu e quando vim chamá-lo ele tava desmaiado na sala. - pelo tom de voz, baixo e frio, ela devia estar se sentindo uma vadia, e, pelo jeito, isso isso nem é tão bom. Mas era vadia mesmo!
Eu nada respondi, pelo menos meu irmão manteve o trato. Que trato? Ah, claro. Nós combinamos de sempre respeitar o espaço do outro, tanto que eu nunca entrei no quarto dele sem permissão e ele, o mesmo comigo. E isso inclua comer vadias cada um no seu quarto, ao invés de ``sujar`` a casa toda. Isso era mais em respeito à memória dos meus pais, pelo menos nisso o Dennão e eu concordávamos.
Fui até a geladeira e peguei o leite, mas bebi na caixa mesmo, já que a loirinha tinha sujado minha caneca. Encostei na pia enquanto bebia meu leite e ela estava do outro lado da cozinha, encostada na bancada. Uma mesa embutida com umas gavetas, pequena, ficava bem no meio da cozinha, servindo de balcão. Era uma cozinha no estilo americano. Aliás, toda a minha casa era, influência do tio Marcos, que insistiu em fazer desse jeito na época que meu pai comprou o terreno, e como o meu tio estava cursando arquitetura e era - e ainda é - completamente apaixonado pelos EUA, acabou projetando a casa assim. Assim ele conta, e, claro, sem se esquecer da melhor parte dessa história, para ele: os meus pais vibraram quando viram o resultado final. E, de fato, a minha casa é linda! Não é desse tipo moderno, onde as paredes são de vidro e a sensação de que se tem é que está em um reality show futurista. A mobília é a mesma da época dos meus pais, eu e meu irmão não mudamos nada. É toda “americanizada”, e gostamos dela assim. Claro, não é uma velharia, é só… Uma casa diferente. É como se tivesse sido teletransportada dos EUA.
Alanna: Então, tu mora aqui, néah?
Eu: É, é o que parece. - respondi, meio irônico. Que pergunta idiota, vamos combinar.
Alanna: Tu é meio, sei lá, grosso ao extremo, néah? - ela só ia se encolhendo cada vez que eu a olhava, como se tivesse medo de mim ou da situação em que estava, afinal, ela estava em uma casa que nunca havia ido antes, e tinha um estranho mau encarado do outro lado da cozinha.
Eu: É, é o que parece.
Alanna: Hum... Então, tu é amigo do Dennão? Tipo, tu é bem mais novo que ele, deve ter a minha idade, néah?
Eu: Tu sempre fala desse jeito?
Alanna: Como?
Eu: Néah... Néah... - tive de imitá-la.
Ela sorriu, achando graça, provavelmente. Eu permaneci sério. Ela percebeu isso e logo tirou o sorriso do rosto. Alguns minutos de silêncio.
Alanna: Então, tu e o Dennão são amigos a muito tempo? - ela puxando papo de novo.
Eu: É o que parece? - entreguei certa impaciência, sem perder a ironia de sempre.
Ela nada disse, acho que finalmente percebeu que eu não estava afim de papo. Terminei o leite e joguei a caixa no lixo. Dei meia volta sobre a mesa de centro, encarando-a, confesso, adoro tocar o terror. Risos.
Ela se encolhia ainda mais a cada passo que eu dava e mau me olhava. Fiquei de frente pra ela, com nossos corpos bem próximos. Encarei-a, ela realmente era bonita, bem gostosa. Meu irmão era um filho da puta, mas tinha bom gosto. Ela tomou coragem e me olhou; eu estava com um sorriso mínimo e torto no canto dos lábios. Estiquei meus braços pra cima e abri o armário embutido, que estava sobre a bancada onde ela estava encostada. Tirei um pacote de biscoito e o segurei entre os dentes, enquanto batia a porta do armário e dei um soco não muito forte, porque aquela merda estava empenada e custava pra fechar. Ela deu dois pulinhos de susto - um com a batida da porta, e o outro, com o soco que dei - e me olhou, ainda encolhida. Dennão resmungou algo na sala, mas voltou a dormir. Capturei o pacote de biscoito com a destra.
Eu: Aê, faz um favor? Quando esse porco acordar, pede pra ele ligar pra Beth pra vir limpar a casa.
Ela nada disse, apenas movimentou lentamente com a cabeça fazendo um sinal poitivo, mas ainda estava visivelmente assustada.
Eu: Falou, Alanna`s.
Ela ficou me olhando, sem dizer nada. Ela estava esperando o que? Que fosse para cima dela para agarra-la? WTF?! Risos, muito risos!
Eu apenas sorri, sorriso forçado, mas sorri. Nem esperei ela dizer algo, tipo um ``tchau!``. Me virei, fui pra sala, peguei minha mochila e saí de casa, fazendo questão de bater forte a porta para acordar o Dennão. E deu certo! Tive de rir quando o escutei lá de dentro me xingando. Olhei em direção a casa do Gê. Fiquei uns dois minutos esperando por ele, tragando um cigarro e comendo o biscoito, mas me lembrei de que ainda estava muito cedo e ele provavelmente ainda estava acordando. Continuei comendo o biscoito, que já estava quase acabando, enquanto reparava nas casas, nos meus vizinhos. Na casa da frente morava uma aposentada, sozinha. Na do lado, uma família legal, com uma filha gostosa. Eu e Gê ficamos espionando ela quando não tem nada mais pra fazer, a janela do meu quarto dá de frente pra do quarto dela. Nas demais casas moravam pessoas normais, famílias inteiras, famílias pela metade, enfim, até que era uma vizinhança boa, cada um tomava conta da tua própria vida, exceto duas vizinhas que moravam no fim da rua, essas eram terríveis! Toda rua tem um fofoqueiro, afinal, e no meu caso, eram duas mau amadas - lê-se: mau comidas! A casa do Gê ficava do outro lado da rua, umas cinco casas depois da minha. Ah, sim, você deve estar se perguntando quem diabos é o tal do Gê. É uma bicha loira, a quem eu costumo chamar de “melhor amigo”. Fomos criados juntos, praticamente, já que desde sempre moramos naquela rua. Eu, ainda a mais tempo do que ele, que chegou na rua com cinco anos, enquanto eu, tinha quatro, e moro lá desde que nasci.
Fui comendo meu biscoito, Passatempo, tá ligado? Mano, eu amo Passatempo. Devoro um pacote em minutos, então, terminei antes de chegar no StockCafé. Todos os dias passava lá para comprar café antes do colégio, e às vezes a tarde também. Às vezes café com leite, às vezes capuccino ou café com chantily, já que na minha casa nunca tinha e eu adoro café e tudo o que leva café, mesmo essas bebidas de gente fresca. Se tem café, eu tô dentro! Nicotina e cafeína são os meus vícios. O estabelecimento ficava bem perto do ELITE, dava até para ver alguns alunos passando com uniforme e mochila, indo para lá.
O Stock era um lugar pequeno, com mesas pequenas e bem apertadinhas, tinha umas do lado de fora também. Era estilo anos 60, algo bem vintage, e eu curtia. Curto essa coisa vintage, e não ache que sou gay por isso. Um sininho que ficava sobre a porta anunciava a chegada de quem entrasse. Cheguei e fui direto no balcão, como sempre. Lá estava Dona Marília e o "Seu" Juca, os donos do estabelecimento.
Dona Marília: JUCA? FAZ UM CAFÉ DUPLO E BEM FORTE! - ela quase gritou por cima do ombro assim que me viu chegar, e sorriu pra mim. - Pela tua cara, não dormiu bem essa noite.
Tá aí, além da tia Angela, a mãe do Gê, a Dona Marília era uma figura materna para mim. Era impressionante como ela adivinhava exatamente o que eu queria - ou precisava. Não sei se ela tem esse dom com todos os clientes, mas comigo, ela nunca falhou. Eu sorri de volta e me sentei em um banco no balcão, pra esperar meu café. Ela passava um pano no mesmo, quando parou na minha frente.
Dona Marília: Sonhos ruins, querido?
Eu: É, mas tô de boa. - sorri; sempre que sorrio ela acha que tá tudo bem, daí para de me fazer essas perguntas. Gosto muito dela, mas não gosto nada de ficar falando desses sonhos. E gosto menos ainda que me façam interrogatório, ainda mais desse assunto e naquela hora da manhã. Meu humor matinal é mais azedo do que limão.
Seu Juca: Pronto, aqui, meu bem. - ele beijou o rosto da esposa enquanto entregava a ela o meu café. Incrível como certos casamentos dão certo mesmo. Ele sorriu ao me ver. - Duplo forte? Sonhos ruins, meu garoto? - tal esposa, tal esposo.
Dona Marília: Sim, querido, mas já está tudo bem. - ela me olhou e piscou enquanto empurrava o café para mim. Acho que ela sabe quando não quero falar sobre certos assuntos.
Ela foi pra cozinha da cafeteria. Eu olhei para o Seu Juca como sempre o olho quando quero comprar cigarros, e ele rapidamente colocou um maço sobre o balcão, eu mais rapidamente ainda o guardei no bolso. Dona Marília viu ele me vendendo uma única vez e ela quase matou nós dois. Um, porque é proibido vender cigarros pra menor; dois, porque EU era o menor. Tive que escutar um sermão de meia hora, pelo menos! Deixei o dinheiro sobre o balcão e ele recebeu, me deu o troco em balas de menta e deu uma piscada pra mim. Era segredo nosso. Esse cara é foda, sempre fazia isso, e me ajudava a disfarçar o hálito de cigarro, pra evitar mais sermões. Peguei meu café e saí de lá, guardando as balas no bolso. Acendi um cigarro e bebi meu café. Chegando na rua do ELITE, terminei meu café, dei uma última tragada no cigarro e joguei ambos no lixo. Puxei mais a mochila no ombro, enquanto soltava a fumaça. Tirei uma das balas e coloquei na boca, enquanto atravessava a rua. O colégio nunca mudava. Sempre tinha os caras que fumavam de frente pro portão, do outro lado da rua. Sempre tinha as mesmas patricinhas falando sobre o que compraram no dia anterior, no shopping. Playboy`s se exibindo mostrando os ``músculos`` para os amigos, enfim, mesma gentinha metida de sempre. Apesar dessa gente chata, tinha pessoas legais. Eu e Gê sempre atraíamos olhares e comentários das pessoas e nos lugares que vamos, sempre tem alguém que nos conhece. Ou sabe quem somos, e nós não conhecemos metade das pessoas que sorriem pra gente. O Gê adora isso, diz ele que um pouco de popularidade faz bem. Eu discordo, odeio que fiquem me olhando. Não curto ser a atração de um lugar. A minha sorte é que é o Gê o mais sociável, então ele atrai as atenções todas pra ele e eu fico de boa na minha, a maioria das vezes é assim. Ele é o mais popular e eu, muitas vezes, sou só a sombra dele. E que seja assim sempre! Falando nele, cadê aquele viado?
Antes de subir as escadas pra ir pra minha sala, senti alguém se empoleirar sobre meu ombro, me fazendo cambalear pros lados e bagunçar ainda mais meu cabelo, que já estava bagunçado. Era a bicha loira.
Gê: Faaaaaala, Gugs! Mano, o que tu tá fazendo aqui cedo desse jeito?
Olhei no relógio, faltava dez minutos pra tocar o sinal, e eu sempre chegava em cima da hora, quando não atrasado.
Eu: Acordei mais cedo, ué!
Gê: Ava, não diga!? Tá com uma cara de merda hoje. Sonhos ruins?
Mas que caralho! Toda vez que tenho pesadelo as mesmas pessoas de sempre tocam nesse mesmo assunto. Qual é, só porque tô com cara de merda pela manhã e chego cedo no colégio é porque tive sonhos ruins? Não poderia ter sido simplesmente uma noite mau dormida, ou um mau humor matinal que todos sabem que eu tenho? Aliás, eu TENHO cara de merda. Assim, só pra constar!
Eu: Relaxa. E ontem, pegou a Micaela?
Desconversei. Na noite anterior fomos até a Félix, pra variar, geral se reune lá todos os dias, depois do colégio, à noite; qualquer hora do dia tinha gente lá, principalmente na época do verão. Lá é foda, é uma praça gigante, tem bancos pra todo lado, uns em lugares mais escuros - os casais adoram; um monte de árvores, flores e até um chafariz. Tem umas três lanchonetes, soverteria, tem até uma pista de skate, das grandes. Tudo isso dentro da praça, que mais parece um playground mesmo. Vira e mexe as meninas do Santa Maria aparecem por lá, estudam num colégio de freiras mas são mais putas que as de uma zona na beira da estrada. O que importa é que todos os dias tem gente diferente lá, claro, tem os de sempre também. Principalmente nos fins de semana. Sempre a galera se reune lá pra decidir pra onde ir e o que fazer, daí tu sempre sabe qual vai ser a boa da noite, onde é que vai dar mais movimento e bombar. E foi lá que Gê conheceu a Micaela há alguns dias atrás.
Gê: Não, maaaas... - ele me olhou de lado e sorrindo, ele sempre me olha assim quando tem notícia boa. - ... Ela convidou a gente pra ir na casa dela na sexta, ela vai dar uma festinha. Cheia de amigas gostosas do Santa Maria.
Eu: Convidou “a gente”?
Gê: Claro né infeliz, a gente sempre tá junto, um vai, automaticamente o outro vai também. - ele riu bem alto no meu ouvido, que viado.
Eu: Hum, demorou então. Tu sabe onde ela mora? - já estávamos quase chegando na sala.
Gê: Óbvio que não, mas ela me deu o número dela e vai esperar a gente na Félix. - ele ficou olhando pra mim com cara de retardado, balançando o celular. Tive que rir.
Entramos na sala e fomos sentar nos nossos lugares de sempre, as duas últimas carteiras no fundão da sala, perto da janela. "Ai" de quem sentasse no meu lugar no começo do ano, desde a 5º série eu me sento na última carteira, perto da janela. Todas as salas eram praticamente iguais, seguindo o mesmo padrão. Contei pra ele do episódio com a Alanna. Ele riu tão alto que a professora chamou nossa atenção.
Gê: O teu irmão é maluco. Levar mina menor de idade pra tua casa pra comer. Fora que ele deve ter dado bebida e drogas pra ela. Ele vai pra cadeia de novo uma hora dessas.
É, um filho da puta escroto e ex-presidiário. Esse é meu irmão. Só lamento que ele tenha ficado só três meses na cadeia, pois foram os melhores três meses da minha vida!
Professora: Gustavo e Geraldo, eu não vou chamá-los novamente. Fiquem quietos ou é diretoria!
Pff, professores sem criatividade, sempre usam o mesmo discurso. A mesma ameaça.
Minha sala era bem clichê: nerds sentados na frente, perto da mesa do professor; patricinhas na frente, bem no meio da sala; atrás, do outro lado da sala, ficava a turma da bagunça e nos demais lugares, as pessoas normais. O Gê conversava com todo mundo, segundo ele, era importante ser amigo de geral, porque ser amigo dos nerds significava conseguir notas sem esforço, já que eles colocavam nossos nomes em trabalhos e ajudavam a gente nas provas. Ser amigo das patricinhas implica em ser sempre convidado pras festas mais fodas nas casas mais fodas. Tenho que admitir que apesar dessas patricinhas serem metidas e mesquinhas, elas davam festas fodas pra caralho. Ser amigo dos playboys babacas também implicava em estar nas festas e, através deles, a gente conhecia mais gente e isso era bom, porque era mais gente pra dar festas e nos convidar, e mais minas pra gente pegar. Mas, de toda essa galera, os únicos que eu fazia mesmo questão de bater um papo eram as pessoas “normais”, que não pertenciam à nenhum grupo padronizado e chato, porque essas não eram mesquinhas, tinham assuntos legais e faziam coisas legais. Enfim, a aula até que passou rápido. No intervalo fomos comprar nosso lanche e ficamos no gramado perto do pátio, sentados embaixo de uma árvore, como praticamente todos os dias nós fazíamos. Só saíamos do gramado pra ficar atrás do colégio fumando um cigarro ou baseado, nem preciso falar que ficávamos escondidos. O intervalo acabou e voltamos pra sala. Ficamos quietos, era aula de história, acho que a única que a gente realmente prestava atenção, pois a professora era foda e divertida, ela sabia prender a atenção dos alunos. Depois da aula de história, era a vez do professor de geografia, belo exemplo de aula chata.
Gê: Quem me dera acordar cedo e me deparar com uma guria só de calcinha na minha cozinha! - ele disse do nada, tem esse hábito. Ele viaja com os pensamentos dele e do nada pensa alto, achando que eu tô sintonizado na rádio ``Pensamentos brisados do Gê FM``.
Eu: De calcinha e vestindo a minha camisa. - o corrigi.
Gê: Melhor ainda! Ia tirar uma puta onda. Guria quando veste tua camisa, ainda mais cedo assim, é porque deu pra ti horas atrás. - Tive que rir.
Eu: Desde quando é assim?
Gê: Ô sua anta, na situação que tu tá é essa a impressão que dá, né?! Ela tava na tua casa, ué. - Tive de concordar.
O professor veio caminhando pro nosso lado. Que mania irritante que certos professores tem de ficar andando pela sala enquanto explica a matéria. Porra, até parece que tá com formiga nos sapatos. Pior ainda é em dia de prova, tu nem consegue colar direito. Ele nos encarou, sem parar de falar, e fez um sinal, levando o indicador até a boca, pedindo silêncio. Depois se virou e voltou a caminhar. Fizemos silêncio por uns breves minutos.
Gê: Gugs... - Ele cochichou, colocando a mão na frente da boca.
Eu: Hum? - O olhei.
Gê: Imagina a cara do Dennão quando ver a mina dele vestindo tua camisa...
Eu: Detalhe: a mesma mina que o próprio não conseguiu comer.
Ele danou a rir, enquanto eu olhei pra frente e viajei, imaginando a cena do Dennão acordando e vendo a loirinha dele com a camisa do irmãozinho mais novo.
Professor: Shhh, vocês dois aí!
Eu olhei pro Gê, enquanto ele tentava segurar o riso, estava até ficando vermelho. Segurei o riso também. A gente estava olhando pra frente pra evitar de rir, pois o contato visual piorava as coisas. Nos olhamos em segundos, o Gê estava ainda mais vermelho e eu não aguentei. Não sou bom em segurar o riso, tá ligado? Nem sempre isso é bom. Ri e ri alto. Ri mais ainda quando o Gê soltou uma gargalhada mais alta ainda. A risada do Gê é muito escandalosa e, puta merda, é engraçada pra caralho! Não tem como não rir. A maioria da sala riu com a gente sem nem saber o motivo. Riram por nos ver rir tanto, especialmente pela risada do Gê, isso acontecia frequentemente. Era realmente foda demais imaginar o Dennão olhando a mina com a minha camisa, ele com certeza pensaria o mesmo que nós. Ele pensaria que eu comi a mina dele, mina que nem ele deu conta de comer. O professor se virou num impulso, apontou pra porta e berrou:
Professor: JÁ PRA FORA, OS DOIS!
Nem pensamos duas vezes, aula chata pra caralho! Juntamos nosso material e saímos. Eram seis aulas no total, com um intervalo de meia hora depois das três primeiras aulas. E as duas últimas aulas daquele dia seriam de geografia, então não teria porque a gente sair sem nosso material, já que, ao menos naquele dia, ele não nos aceitaria de volta na sala - e não iríamos na diretoria, obviamente. Ficamos rindo pelo corredor, Gê até encostou na parede. Sabe quando tu ri muito que chega a perder as forças, principalmente nas pernas? Eu dei um soco no ombro dele de brincadeira, recuperando o ar.
Eu: Mano, ri baixo. Desse jeito vão ver a gente.
Fomos andando pros fundos do colégio pra ir embora. Lá ficava a garagem, e o portão era moleza de pular, mas quando o porteiro ficava lá, a gente pulava o muro do outro lado mesmo. O importante era ir embora quando desse vontade de ir, e nisso a gente era perito. Pulamos o portão e fomos para a mercearia do “Seu” Cleber, mas isso nem é novidade. Desde sempre damos uma passada lá todos os dias depois do colégio, nem que seja só pra dar um ``oi`` pra ele. Às vezes íamos lá na hora do intervalo mesmo, voltando depois para as outras aulas.
Seu Cleber: Já, meninos? - Ele olhou pro relógio da parede.
Gê: Expulsaram a gente da sala, ué!
Seu Cleber: Conta uma novidade agora! - ele riu, e nós também.
Ficamos um tempo lá, fumamos um cigarro e o Gê até bebeu uma dose de pinga. Assim que saímos de lá, acendemos um beck e fomos sem pressa pra casa. Se a gente tinha medo de fumar no meio da rua, em pleno horário de almoço? Não. Não mesmo. Risos.
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Autor(a): Thay
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