Fanfic: O Casamento AyA (Adaptada) | Tema: Anahi e Alfonso
Será possível um homem mudar de verdade? Ou será que o temperamento e os hábitos constituem as fronteiras imutáveis de nossa vida?
Estamos em meados de outubro de 2003 e reflito sobre essas questões enquanto observo uma mariposa se chocar furiosamente contra a lâmpada da varanda. Encontro-me sozinho aqui fora. Minha mulher, Annie, está dormindo no andar de cima e nem se mexeu quando saí da cama. Já é tarde – passa da meia-noite – e o ar gelado promete um inverno precoce. Estou usando um pesado robe de algodão e, embora tenha pensado que ele seria grosso o suficiente para me proteger do frio, percebo que minhas mãos estão tremendo antes de enfiá-las nos bolsos.
Acima de mim, as estrelas parecem minúsculos pingos de tinta prateada sobre uma tela cor de carvão. Consigo ver Órion e as Plêiades, a Ursa Maior e a Coroa Boreal, e penso que o fato de estar não apenas olhando as estrelas, mas também fitando o passado, deveria ser inspirador. A luz que faz as constelações brilharem já foi emitida há uma eternidade. Espero que algo me ocorra, como palavras que um poeta poderia usar para iluminar os mistérios da vida. Mas nada acontece.
Não fico surpreso. Nunca me considerei um homem sensível e, se vocês perguntassem à minha mulher, tenho certeza de que ela iria concordar com isso. Não me emociono com filmes nem com peças de teatro, nunca fui sonhador e, se aspiro a algum tipo de domínio pleno, é àquele definido pelas regras do Imposto de Renda e codificado pela lei. A maior parte dos anos em que trabalhei como advogado especializado em direito sucessório foi passada na companhia dos que se preparam para a própria morte, e suponho que há quem ache que por isso minha vida é menos significativa. Mesmo que essas pessoas estejam certas, o que posso fazer? Inventar justificativas para mim mesmo não é do meu feitio, nunca foi, e no final desta história espero que consigam perdoar essa minha característica.
Por favor, não me levem a mal. Eu posso não ser sensível, mas não sou desprovido por completo de emoção e às vezes me vejo tomado por uma profunda sensação de maravilhamento. Em geral são as coisas mais simples as que eu considero estranhamente comoventes: estar entre as sequoias gigantes da serra Nevada, por exemplo, ou observar as ondas do mar se quebrarem no cabo Hatteras, levantando nuvens salgadas de espuma. Na semana passada, senti um nó na garganta ao ver um menininho estender a mão para segurar a do pai enquanto os dois andavam pela calçada. Há outras coisas, também: às vezes perco a noção do tempo fitando um céu repleto de nuvens varridas pelo vento e, quando ouço uma trovoada, sempre vou à Janela para contemplar o raio. Quando o clarão brilhante acende o céu, muitas vezes me pego invadido por uma espécie de saudade, embora seja incapaz de lhes dizer o que sinto estar faltando na minha vida.
Meu nome é Alfonso Lewis, e esta é a história de uma festa de casamento. É também a história do meu casamento, mas, apesar dos 30 anos que Annie e eu já passamos juntos, acho que eu deveria começar admitindo que há quem saiba muito mais sobre o assunto do que eu. Não sou capaz de dar nenhum conselho a respeito disso. Ao longo dessas três décadas, já fui egoísta, teimoso e burro feito uma porta, e admitir isso dói muito. No entanto, ao olhar para trás, penso que, se fiz algo certo na vida, foi amar minha mulher até hoje. Embora algumas pessoas possam pensar que isso não é nada de mais, elas precisam saber que houve uma época em que tive certeza de que minha esposa não sentia o mesmo por mim.
É claro que todos os casamentos passam por altos e baixos: acho que isso é uma consequência natural para casais que decidem permanecer juntos por muito tempo. Annie e eu passamos pela morte dos meus pais e da mãe dela e pela doença de meu sogro. Mudamos de casa quatro vezes e, apesar de eu ter sido bem-sucedido profissionalmente, muitos sacrifícios foram feitos para isso. Temos três filhos e, embora nós dois não fôssemos trocar essa experiência por nada no mundo, as noites insones e as frequentes idas ao hospital quando eles eram pequenos nos deixaram exaustos e muitas vezes sobrecarregados. Nem é preciso dizer que a adolescência dos três foi uma experiência que eu preferiria não ter que repetir.
Todos esses acontecimentos geram seus próprios estresses e quando duas pessoas vivem juntas o estresse é uma via de mão dupla. Acredito hoje que esse fato é ao mesmo tempo a bênção e a maldição do casamento. Bênção porque proporciona uma válvula de escape das dificuldades cotidianas; maldição porque essa válvula de escape é alguém com quem nos importamos profundamente.
Por que estou dizendo isso? Porque quero deixar bem claro que, ao longo de todos esses acontecimentos, eu jamais duvidei dos sentimentos que tenho por minha mulher. É óbvio que houve dias em que nem nos olhávamos à mesa do café da manhã, mas mesmo assim eu nunca deixei de acreditar em nós dois. Seria desonesto dizer que já não me perguntei como seria se houvesse me casado com outra pessoa, mas, em todos os nossos anos juntos, não lamentei nem mesmo uma única vez o fato de tê- la escolhido e de ter sido escolhido por ela também. Pensei que nosso relacionamento fosse estável, mas no final das contas descobri que estava errado. Aprendi isso pouco mais de um ano atrás – 14 meses, para ser exato –, e foi essa consciência, mais do que qualquer coisa, que acarretou tudo o que estava por vir.
Vocês devem estar se perguntando o que aconteceu.
Levando em conta quantos anos eu tenho, seria possível imaginar algum incidente provocado por uma crise de meia-idade. Um súbito desejo de mudar de vida, quem sabe, ou talvez uma infidelidade. Mas não foi nada disso. Não, o meu pecado foi uma transgressão relativamente pequena, um incidente que em outras circunstâncias talvez tivesse virado piada algum tempo depois. Mas ele a magoou, prejudicou nosso casamento e, portanto, é por ele que inicio a minha história.
Era o dia 23 de agosto de 2002. Levantei-me da cama, tomei café e fui para o escritório, como sempre fazia. O trabalho não teve qualquer influência no que aconteceu mais tarde. Para ser sincero, não me lembro de nada sobre esse dia, a não ser que não teve nada de excepcional. Voltei para casa no horário habitual e fiquei agradavelmente surpreso ao ver Annie na cozinha preparando meu prato preferido. Quando ela se virou para me cumprimentar, pensei tê-la visto olhar de relance para baixo, como para verificar se eu estava segurando outra coisa que não minha pasta, mas eu não levara nada. Uma hora depois, jantamos, e, quando Annie começou a recolher a louça da mesa, peguei alguns documentos do trabalho que precisava revisar. Sentei-me no escritório e lia a primeira página quando reparei nela em pé na soleira da porta. Ela secava as mãos com um pano de prato e estampava no rosto a decepção que eu ao longo dos anos havia aprendido a reconhecer, mesmo que não a compreendesse inteiramente.
– Você não tem nada para me dizer? – começou ela após alguns instantes.
Hesitei, consciente de que havia mais nessa pergunta do que sua aparente inocência indicava. Pensei que ela talvez estivesse se referindo a um corte de cabelo novo, mas olhei-a com atenção e nada nela me parecia diferente. Com a convivência, eu me habituara a reparar nesse tipo de coisa. Continuei sem entender e, enquanto estávamos ali um de frente para o outro, soube que precisava dizer alguma coisa.
– Como foi o seu dia? – perguntei, por fim.
A resposta dela foi um estranho meio sorriso antes de me dar as costas e ir embora. Hoje, é claro, sei o que ela estava esperando, mas na ocasião dei de ombros e voltei ao trabalho, interpretando aquilo como mais um exemplo dos mistérios femininos.
Mais tarde, eu estava me acomodando na cama quando ouvi Annie dar um único arquejo rápido. Ela estava deitada de costas para mim, e, ao ver que seus ombros tremiam, me dei conta de que ela chorava. Desconcertado, imaginei que Annie fosse me dizer o que a deixara tão chateada, mas, em vez de falar, ela deu outra série de fungadas rascantes, como se tentasse respirar em meio às próprias lágrimas. Senti um nó na garganta e fui ficando assustado. Tentei não ter medo. Tentei não pensar que alguma coisa ruim tivesse acontecido com o pai dela ou com nossos filhos, ou que ela tivesse recebido uma notícia terrível do médico. Tentei não pensar que talvez fosse um problema que eu seria incapaz de resolver e pus a mão em suas costas, esperando reconfortá-la de alguma forma.
– O que houve? – perguntei.
Ela demorou alguns instantes para responder. Ouvi-a suspirar enquanto puxava a coberta até os ombros.
– Feliz aniversário de casamento – sussurrou ela.
Vinte e nove anos, lembrei-me então, tarde demais, e no canto do quarto vi os presentes que ela havia comprado para mim, embrulhados com capricho e dispostos em cima da cômoda.
Eu simplesmente tinha esquecido.
Não posso inventar nenhuma justificativa para isso, nem inventaria se pudesse. De que iria adiantar? Pedi desculpas, é claro, e na manhã seguinte tornei a pedir. E mais tarde, nesse dia, ao abrir o perfume que eu tinha escolhido com esmero, auxiliado por uma jovem vendedora da loja, ela sorriu, agradeceu e afagou minha perna.
Sentado a seu lado no sofá, eu soube que ainda amava Annie tanto quanto no dia de nosso casamento. No entanto, ao olhar para ela, ao reparar pela primeira vez na forma distraída como ela relanceou os olhos para o lado e na postura inegavelmente triste de sua cabeça, de repente percebi que não tinha certeza de que ela ainda me amava.
Autor(a): eduardah
Este autor(a) escreve mais 7 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
É muito doloroso pensar que sua mulher talvez não o ame mais, e nessa noite, depois de Annie subir para o nosso quarto levando seu perfume novo, passei horas sentado no sofá me perguntando como a situação tinha chegado a esse ponto. A princípio, quis acreditar que ela estivesse só reagindo de forma em ...
Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 27
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 14:55:40
Ameiiiiiiiiiiii ameiiiiiiiiiiii ameiiiiiiiiiiii essa fic* todos deveriam ler...é uma lição pra muitos!!! Vale a pena....isso q é amor! Entre duas pessoas q se amam com a alma ;) bjusss
-
franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 13:43:02
Eu ainda estou chorando....
-
franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 13:33:45
Morri com essa carta ....to chorando rios...
-
franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 13:23:36
To chorando rios akiiii
-
franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 12:08:39
Meu deus...a any acha q ele ta tendo um caso ;(
-
franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 11:22:20
Eitaaaaaa q acabou a fic ;( vou ler o resto...
-
hadassa04 Postado em 05/10/2015 - 08:24:16
Bom dia flor, vou iniciar a leitura da sua fic agora e de acordo com a leitura deixo meus comentários.
-
franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 17:09:21
OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso
-
franmarmentini♥ Postado em 08/09/2015 - 16:25:46
to doida pra eles estarem 100% bem e felizes...
-
franmarmentini♥ Postado em 08/09/2015 - 16:01:56
ai que beijo lindoooooooo