Fanfic: O Casamento AyA (Adaptada) | Tema: Anahi e Alfonso
Nas duas semanas que se seguiram ao nosso primeiro encontro, Annie e eu ainda nos vimos em outras cinco ocasiões antes de ela ir passar o Natal em casa, em New Bern. Estudamos juntos duas vezes, fomos assistir a um filme e fizemos dois passeios à tarde pelo campus de Duke.
Mas um passeio em especial sempre vai se destacar na minha lembrança. O dia estava escuro, havia chovido a manhã inteira e nuvens cinza se espalhavam pelo céu, criando um ar de crepúsculo. Era domingo, dois dias depois de termos salvado o cão perdido, e estávamos dando uma volta pelos vários prédios do campus.
– Como são seus pais? – quis saber ela. Dei alguns passos antes de responder.
– São boas pessoas – respondi por fim.
Ela esperou que eu continuasse, mas, quando não o fiz, cutucou meu ombro com o dela.
– É só isso que você tem a dizer?
Eu sabia que aquilo era uma tentativa de fazer com que eu me abrisse e, embora nunca tivesse me sentido à vontade fazendo isso, sabia que Annie iria continuar insistindo – com delicadeza e persistência – até eu ceder. Ela era inteligente de um jeito que eu tinha visto em poucas mulheres, e não apenas de um ponto de vista acadêmico, mas também em relação a pessoas. Sobretudo em relação a mim.
– Não sei o que mais dizer – falei. – São pais típicos, eu acho. Os dois são funcionários públicos e moram há quase 20 anos em uma casa em Dupont Circle, Washington, onde eu fui criado. Acho que eles pensaram em comprar uma casa no subúrbio alguns anos atrás, mas nenhum dos dois quis morar longe do trabalho, então ficamos lá mesmo.
– Vocês tinham quintal?
– Não. Mas tínhamos um pátio agradável e às vezes cresciam ervas entre os tijolos.
Ela riu.
– Onde seus pais se conheceram?
– Em Washington, mesmo. Ambos foram criados lá e se conheceram quando trabalhavam no Departamento de Transporte. Acho que passaram algum tempo no mesmo escritório, mas isso é tudo o que sei. Eles nunca falaram muito sobre o assunto.
– Eles têm algum hobby?
Refleti sobre a pergunta enquanto tentava visualizar meu pai e minha mãe.
– Mamãe gosta de mandar cartas para o editor do The Washington Post
– falei. – Acho que ela quer mudar o mundo. Vive tomando partido dos excluídos e é claro que nunca lhe faltam ideias para transformar o planeta em um lugar melhor. Ela escreve pelo menos uma carta por semana. Nem todas são publicadas, mas ela recorta as que saem no jornal e as cola em um caderno. E papai... ele é mais caladão. Gosta de construir barcos dentro de garrafas de vidro. Já deve ter feito centenas deles e, quando o espaço nas prateleiras acabou, começou a doá-los para escolas, para ser exibidos nas bibliotecas. As crianças adoram.
– Você também faz barcos?
– Não. Isso é coisa do meu pai. Ele achava que eu devia ter meu próprio hobby, então nem se interessou muito em me ensinar. Mas eu podia vê-lo montar os barcos, contanto que não tocasse em nada.
– Que triste.
– Eu não ligava – falei. – Nunca conheci nada diferente disso, e era interessante. Silencioso, mas interessante. Ele não falava muito enquanto trabalhava, mas era bom ficar lá com ele.
– Ele jogava bola com você? Ou andava de bicicleta?
– Não. Ele não gostava muito do ar livre. Só dos barcos. Isso me ensinou muita coisa sobre paciência.
Ela baixou os olhos, observando os próprios pés enquanto caminhava, e entendi que estava comparando minha história à maneira como fora criada.
– E você é filho único? – prosseguiu.
Embora nunca tivesse contado essa história a mais ninguém, surpreendi- me querendo que ela soubesse por que meus pais só tiveram a mim. Mesmo nesse começo, já queria que ela me conhecesse, que soubesse tudo a meu respeito.
– Minha mãe não pôde ter mais filhos. Ela teve alguma espécie de hemorragia quando eu nasci, e depois ficou arriscado demais engravidar.
Ela franziu a testa.
– Sinto muito.
– Acho que ela também sentiu.
A essa altura, tínhamos chegado à capela principal do campus e paramos por um instante para admirar a arquitetura.
– Até agora você nunca tinha falado tanto sobre si mesmo de uma só vez – observou ela.
– Provavelmente nunca falei tanto sobre mim mesmo a mais ninguém.
Com o rabo do olho, vi-a ajeitar uma mecha de cabelos atrás da orelha.
– Acho que agora entendo você um pouco melhor – disse ela. Fiquei hesitante.
– Isso é bom?
Em vez de responder, Annie se virou para mim e de repente me dei conta de que eu já sabia a resposta.
Imagino que eu devesse me lembrar exatamente de como tudo aconteceu, mas, para ser sincero, os instantes seguintes sumiram da minha memória. Em um segundo estendi a mão para segurar a dela e, no segundo seguinte, estava puxando-a delicadamente para junto de mim. Ela pareceu um pouco espantada, mas, ao ver meu rosto se aproximar, fechou os olhos, concordando com o que eu estava prestes a fazer. Chegou mais perto de mim e, quando seus lábios tocaram os meus, eu soube que iria recordar para sempre nosso primeiro beijo.
Ouvindo Annie falar ao telefone com Leslie, constatei que sua voz era bem parecida com a da moça que havia caminhado ao meu lado no campus naquele dia. Uma voz animada, na qual as palavras fluíam livremente: ouvi- a rir como se Leslie estivesse na sala com ela.
Sentei-me no sofá do outro lado da sala e fiquei escutando distraidamente a conversa. Annie e eu costumávamos passar horas caminhando e conversando, mas agora outras pessoas pareciam ter tomado o meu lugar. Com nossos filhos, ela nunca ficava sem saber o que dizer, e tampouco tinha dificuldades quando visitava o pai. Seu círculo de amigos é amplo, e ela também se sente à vontade na companhia deles. Perguntei-me o que eles iriam pensar se passassem uma noite típica conosco.
Será que éramos o único casal com esse problema? Ou isso era algo comum a todos os casamentos longos, uma consequência inevitável do tempo? A lógica parecia indicar que a segunda opção era a verdadeira, mas mesmo assim doía perceber que aquela descontração iria desaparecer assim que ela desligasse o telefone. Em vez de um papo que fluiria fácil, ficaríamos trocando amenidades e a magia iria desaparecer. Eu não poderia suportar mais uma conversa sobre o tempo.
Mas o que se podia fazer? Essa era a pergunta que me assombrava. No intervalo de uma hora, eu tinha considerado as duas etapas de nosso casamento e sabia qual das duas preferia, qual delas achava que merecíamos.
Ao fundo, ouvi a conversa de Annie e Leslie começar a perder o embalo. Quando um telefonema está chegando ao fim, há um padrão que se estabelece, e eu conhecia o de Annie tão bem quanto o meu próprio. Logo a estaria ouvindo dizer à nossa filha que a amava, fazer uma pausa enquanto
Leslie lhe dizia a mesma coisa e em seguida se despedir. Sabendo o que estava por vir – e subitamente decidindo me arriscar –, levantei-me do sofá e me virei na direção dela.
Disse a mim mesmo que iria cruzar a sala e estender a mão para segurar a de Annie, como tinha feito em frente à capela de Duke. Ela iria se perguntar o que eu estava fazendo – assim como havia se perguntado naquele dia –, mas eu puxaria seu corpo para junto do meu. Tocaria seu rosto, depois fecharia os olhos devagar e, no momento em que meus lábios tocassem os seus, ela saberia que aquele beijo era diferente de todos os que já havia recebido de mim. Seria um beijo ao mesmo tempo novo e conhecido; paciente, mas cheio de desejo, e inspiraria nela os mesmos sentimentos. Seria um novo começo em nossas vidas, pensei, como o nosso primeiro beijo tinha sido tantos anos antes.
Pude imaginar isso com muita clareza. Instantes depois, ouvi-a dizer as últimas palavras e encerrar a ligação. Estava na hora. Reunindo minha coragem, avancei na sua direção.
Ela estava de costas para mim, ainda segurando o telefone. Parou por um instante e olhou pela Anniela da sala para o céu cinzento que escurecia aos poucos. Era a pessoa mais incrível que eu já tinha conhecido, e eu lhe diria isso logo depois de beijá-la.
Continuei andando. Ela agora estava próxima, próxima o suficiente para que eu sentisse o cheiro familiar de seu perfume. Pude sentir meu coração se acelerar. Estava quase lá, percebi, mas, quando cheguei perto o bastante para tocar sua mão, ela de repente tornou a erguer o telefone. Seus movimentos foram rápidos, eficientes: ela só apertou duas teclas. O número estava na discagem automática, e eu soube exatamente para quem ela havia ligado.
Instantes depois, quando meu filho, Joseph, atendeu, perdi a coragem, e tudo o que consegui fazer foi voltar para o sofá.
Autor(a): eduardah
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 27
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franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 14:55:40
Ameiiiiiiiiiiii ameiiiiiiiiiiii ameiiiiiiiiiiii essa fic* todos deveriam ler...é uma lição pra muitos!!! Vale a pena....isso q é amor! Entre duas pessoas q se amam com a alma ;) bjusss
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franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 13:43:02
Eu ainda estou chorando....
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franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 13:33:45
Morri com essa carta ....to chorando rios...
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franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 13:23:36
To chorando rios akiiii
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franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 12:08:39
Meu deus...a any acha q ele ta tendo um caso ;(
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franmarmentini♥ Postado em 22/10/2015 - 11:22:20
Eitaaaaaa q acabou a fic ;( vou ler o resto...
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hadassa04 Postado em 05/10/2015 - 08:24:16
Bom dia flor, vou iniciar a leitura da sua fic agora e de acordo com a leitura deixo meus comentários.
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franmarmentini♥ Postado em 10/09/2015 - 17:09:21
OLÁAAAAAAAAAAAAAA AMORE ESTOU POSTANDO UMA FIC* TE ESPERO LÁ BJUS http://fanfics.com.br/fanfic/49177/em-nome-do-amor-anahi-e-alfonso
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franmarmentini♥ Postado em 08/09/2015 - 16:25:46
to doida pra eles estarem 100% bem e felizes...
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franmarmentini♥ Postado em 08/09/2015 - 16:01:56
ai que beijo lindoooooooo