Fanfic: A Aposta - Adaptada | Tema: Vondy

Vinte e quatro: Um passeio à beira mar

A água vem e vai, molhando os pés de Dul e Ucker. Ela carrega os chinelos com uma das mãos e a outra está no bolso. Os dois caminham preguiçosamente, apenas ouvindo suas respirações. O ruído da brisa finalmente dá uma trégua.

Dul estranha suas sensações. Ao invés de se sentir tensa com a situação, está bem à vontade, como se caminhasse ao lado de um velho amigo. Ucker se abaixa e pega uma concha fechada, jogando-a de volta ao mar.

— Qual faculdade vai fazer? – ele pergunta, limpando as mãos na bermuda.

— Medicina. – ela responde, um tanto dispersa.

— Sério? Vai se especializar em quê?

— Cardiologia.

Ucker não consegue segurar o riso. Dul percebe, mas não se altera. Sabe em que ele está pensando e torna isso público.

— Acha que não tenho coração. É isso, não é? – o tom de Dul soa um tanto deprê.

— É claro que você tem coração. Talvez ele só esteja meio congelado. – Ucker tenta guardar o sorriso, mas é mais forte do que ele. O garoto aguarda uma reação de Dul, qualquer uma. Mas a reação não vem e ela demora um pouco a falar.

— E você? O que vai fazer?

— Música. Apesar do meu velho querer muito que eu assuma seus negócios.

— O que seu pai faz? – Dul tira o elástico do cabelo, soltando as madeixas.

— Ele compra e vende empresas. Falidas, na maioria. Reestrutura o negócio e depois vende por um preço exorbitante. Não quero isso para mim.

— Você é bom. Digo, tem uma voz incrível e manda muito bem no violão.

— Você acaba de me elogiar? Cadê o cinismo? – Ucker toma a frente de Dul, encarando-a nos olhos. – Certo, você foi abduzida, só pode ser.

— Ucker, estou sem forças para cinismo essa noite. Só isso, nada demais. E não, eu não fui abduzida. Acha mesmo que eu deixaria um extraterrestre me zoar? Pense bem.

— O ET iria se dar bem mal.

Nesse momento, cercados por um cenário cinematográfico, com a lua e as estrelas como testemunhas, Ucker entreabre os lábios, deixando um suspiro escapar. Algo naquela garota mexe com ele de uma maneira diferente de todas as outras. Suas mãos são tomadas por uma urgência em tocá-la, uma pressa que ele não consegue controlar. Ucker toma coragem, elevando uma das mãos em direção ao rosto de Dul. Ela aguarda, sem se mover.

— Ei, vocês dois!

Observação 1: Sempre tem um mala para atrapalhar momentos perfeitos.

Observação 2: Poxa, é sério mesmo? Não dá para voltar depois?

Margareth, a troncuda professora de educação física se aproxima, aos pulos. A mão de Ucker recua, no susto.

— O que estão fazendo aqui sozinhos? – ela finalmente alcança os dois. – Dul! Você e o Ucker juntos? Ele a obrigou a isso? – a professora une as sobrancelhas, segurando

Dul pelo braço.

— Qual é, Mags, só estamos conversando. – Ucker tem essa mania de dar apelidos a todas as pessoas.

— Garoto, você me irrita. – a professora vocifera, entredentes. – Nada de passeios noturnos, já conversamos sobre isso. Se não querem ir para a sala de jogos, irão para seus respectivos quartos, estamos entendidos? Não estou a fim de voltar com nenhuma adolescente grávida para casa.

— Não iria acontecer nada. É como o Ucker disse, só estávamos conversando. – Quem Dul quer enganar? A si mesma, obviamente.

Essa não era apenas uma conversa, Ucker estava jogando o tempo todo. Ele iria beijá-la e a trouxa cairia, como uma pata manca. Ao se dar conta da realidade, Dul finalmente acorda do estranho sonho no qual estava metida.

— Que seja. – Margareth, com seu bafo de café e dentes amarelados, mira bem o rosto de Ucker, apontando o dedo indicador como se fosse atirar. – Estou de olho em você, garoto.

— Mags, eu não fiz nada. – Ucker levanta os braços, desacreditando na reprimenda.

— Coloque uma camiseta, moleque, pelo amor de Deus! Venha, Dul, eu a acompanho até o quarto.

E assim, Dul é escoltada até o seu quarto e um resignado Ucker vai para a sala de jogos.