Fanfic: A Aposta - Adaptada | Tema: Vondy

Sessenta e três: Um beijo de despedida

O beijo.

Esse é um daqueles beijos demorados, em que nenhum dos lados se sente disposto a parar. Dul quer morrer ali, naqueles lábios macios, naquele abraço necessário. Ucker quer recuperar o tempo perdido, quer se afogar no sabor de Dul e não soltá-la nunca mais.

Mas como eu já disse nessa narrativa, sempre tem um mala para atrapalhar momentos perfeitos. E o mala chega, estacionando o carro na garagem de qualquer maneira.

— Largue já a minha irmã!

Nesse instante, Poncho salta de trás de uma árvore. O cara estava ali escondido, para uma situação de emergência como a que se apresenta.

Mai sai do carro, com uma expressão que grita por desculpas. Depois que deixaram Anahi em casa, Doc percebeu que havia esquecido a carteira. Quando Mai se sobressaltou com a possibilidade de voltarem para buscar a tal carteira, Doc, que não é besta, sacou que havia armação no ar.

— Doc, deixe eles conversarem! – Mai dá a volta no carro, pronta para segurar o cara se for preciso.

— Não acredito que armou para mim. – Doc lança um olhar esmagador na direção de Mai. – E eles não estão conversando porra nenhuma!

— Doc, o Ucker é inocente, cara. Deixe ele explicar o que aconteceu. – Poncho tenta apaziguar.

— Foi um beijo de despedida, Doc, nada mais. – Dul revela, afastando-se de Ucker.

— Como é? – golpeado pelas palavras de Dul, o garoto é tomado pela surpresa. – Despedida?

— Vou morar em Paris.

Se Dul queria ferir o cara mortalmente, ela consegue. Ucker sente o chão sumir sob pés. O coração para de bater por um instante e o sangue entra em greve, não querendo mais circular.

— Não pode estar falando sério. – ele a encara, numa tristeza insuportável.

— Desculpe. – Dul arqueia o corpo para a frente e recolhe os papéis do chão. – Qualquer coisa que tínhamos ou que pudéssemos ter, acabou aqui.

Ucker sente uma ânsia tomar forma, um desespero crescente na boca do estômago.

Será que Dul não ouviu o que ele disse? Não acreditou em suas palavras?

— Eu achei que… – a voz de Ucker é um fio solto no ar.

— Achou errado.

— Posso provar a minha inocência e eu vou provar! – Ucker se altera e Doc parte para cima dele, mas é contido por Mai.

— Já disse, não perca o seu tempo. – Dul reúne os cacos e retoma o caminho para casa.

— Não pode me deixar assim. – Ucker a segura pelo braço e ela se sente fraquejar.

— Deixe ela em paz, cara. – Doc rosna.

— Logo você vai embarcar numa nova aposta e se esquecer disso tudo. – Dul puxa o braço e seus pés a carregam para bem longe de Ucker.

~~***~~

Do quarto, Dul pode ouvir a discussão que se desenrola debaixo de sua janela. Ucker quer entrar de qualquer maneira e é dominado por Poncho. Doc bloqueia a passagem e ameaça bater nos dois se não forem embora agora.

Dul está sentada na cama, abraçando os joelhos, com o olhar perdido no nada. Ela não quer chorar, mas as lágrimas saem furtivas, sem qualquer controle.

— Dul? – Mai entra no quarto.

— Você e a Anniei armaram para mim, hein? – Dul ensaia um sorriso, entre lágrimas.

— Desculpe, foi necessário.

Mais gritos. Muitas acusações. Vários rosnados de Doc. Panos quentes atirados por Poncho. A discussão pega fogo no andar de baixo.

— O que acha de jogarmos um balde d’água na cabeça desses caras? – Mai se senta na cama, colocando as mãos sobre as de Dul.

— Não é má ideia.

— Acho que o Ucker está falando a verdade.

A aposta terminou, o pai dele já está com os vídeos… ele poderia estar tocando a vida, mas não está. – Mai faz uma pequena pausa, acariciando os joelhos de Dul. – Ele está completamente apaixonado por você. Eu não costumo me enganar com essas coisas.

— Diz isso porque não escutou o diálogo entre ele e a Beka.

— Nem preciso ouvir para afirmar que é uma montagem. A Beka armou isso tudo. – Mai suspira alto. – Dul, dê uma chance ao Ucker de provar sua inocência. Dê uma chance a vocês.

— Ele disse que me ama. – Dul revela.

— Ele disse isso? – Mai se espanta. – Uau, Dul, o que está esperando para se jogar nos braços desse cara?

— Eu não confio nele. Algo se quebrou dentro de mim naquele corredor do Prisma,  quando ouvi a voz do Ucker pelos auto falantes.

Ucker grita por Dul lá debaixo. Doc continua rosnando, ferozmente. Poncho por sua vez tenta apaziguar os ânimos.

— Precisamos acabar com isso ou os vizinhos chamarão a polícia. – Mai se levanta e olha pela janela. – Posso dizer ao Ucker que você vai ouvi-lo se ele conseguir as provas?

— Eu não estarei aqui de qualquer maneira. – Dul dá de ombros. – Faça o que achar melhor, só acabe com essa gritaria, por favor.

— Deixe comigo.