Fanfic: Segredos Obscuros (Adaptada) | Tema: Vondy

Christopher tornou a acordar e, consternado viu que sua realidade não mudara. Continuava nu e deitado sob mantas diante de uma antiga lareira. Conseguiu olhar ao redor agora, percebendo que estava dentro de uma pequena construção arredondada de pedra e coberta com colmo. Cobertores cobriam as janelas, por onde a luz do dia se filtrava apenas difusamente. Junto a uma parede, notou uma pilha de provisões.

Apoiou-se nos cotovelos, fraco, mas determinado a descobrir onde estava e o que lhe acontecera. A partir dessa posição, conseguiu rolar para o lado e sentar-se.

Naquele momento, a porta se abriu e uma mulher entrou.

Ela soltou uma exclamação de surpresa e largou a pilha de gravetos que segurava. Usava roupas estranhas, uma túnica justa com mangas longas e amplas, com outra túnica por cima, de lã grossa e sem mangas, com um cinto de couro largo preso à cintura. Ele viu o cabo de um punhal preso ao cinto e teve a impressão de que a mulher sabia como usá-lo.

- Quem é você? – Ele tentou perguntar, mas a voz não saiu. Conseguiu emitir apenas um grunhido rouco.

A mulher adiantou-se depressa para apanhar uma jarra, encheu uma caneca com água e colocou-a na mão dele. Christopher bebeu avidamente, esvaziando a caneca.

Ela ajoelhou-se na sua frente, estudando-o com um olhar direto, desprovido dos flertes ou artimanhas femininos.

- Eu sabia que você ia acordar – disse com uma voz musical, carregada com nítido sotaque galês.

Christopher baixou a caneca, observando-a. Era dona de uma beleza sublime, misteriosa. Possuía olhos grandes, acinzentados, delineados por cílios longos e espessos. As maças do rosto eram salientes e levemente corada em contraste com a pele alva e perfeita. A boca, pequena e expressiva, possuía uma pequena curva.

E os cabelos. Ele jamais havia visto cabelos tão negros e realçados por uma marca de puro branco que corria por todo o comprimento ondulado deles, como um relâmpago cortando o céu a meia-noite.

- Quem é você? – perguntou novamente, dessa vez a voz soando com clareza.

- Dulce Saviñón, e você?

Então era um estranho para ela, percebeu Christopher, ou ao menos, a mulher alegava que sim. E pelo fato de se sentir nu, literal e figuradamente, desprovido de tudo o que conhecia, não disse seu nome verdadeiro.

- Lóchrann – falou, pensando no irmão. Padraig estaria fazendo alguma ideia do que acontecera com ele? Por sua vez, nem sequer imaginava a seqüência de acontecimentos que o levara até ali, aos cuidados daquela mulher. – Esteve cuidando de mim?

Ela pousou os olhos em seu peito despido, uma vez que as cobertas haviam escorregado até a cintura. Ele acompanhou o olhar e viu que tinha um ferimento, um corte reto e um tanto fundo, embora pequeno no centro do peito.

- Quem me cortou? – quis saber.

Dulce olhou para o fogo e se levantou para alimentá-lo.

- Você precisa se manter aquecido – disse, colocando um pedaço de turfa na velha lareira. – Está com fome?

- Sim, muita – respondeu Christopher, dando-se conta de que, de fato, estava faminto.

Notou por perto uma bandeja com uma xícara, conta-gotas e preparados medicinais. Também continha chá, mel e um copo com água. Então, ela estivera cuidando dele como se fosse um bebê. Admirado, tocou o corte no peito. Estava coberto com uma camada de ungüento.

Dulce colocou grossas fatias de broa de centeio num prato e despejou uma generosa porção de mel ao lado. Entregou-o a ele, instruindo:

- Mergulhe o pão no mel. Para recobrar as forças.

Ele a fitou nos olhos e, dessa vez, ela corou e desviou os seus. Ficou ainda mais ciente de sua nudez.

- Vou fazer um chá fresco – murmurou ela, virando-se para o fogo.

Christopher sobressaltou-se por um segundo quando sentiu a manta macia de pele sendo colocada sobre seus ombros e costas. Olhando para a linda estranha, viu que ela desviava os olhos enquanto o cobria.

- Você precisa ficar aquecido – sussurrou ela, explicando. – Esteve muito doente.

O gesto foi como o de uma esposa, e as palavras, carinhosas. Christopher sentiu um constrangedor misto de culpa e desejo. Tentou ignorar a sensação. Desviando a atenção para a comida, esvaziou o prato.

Ela o observou comer, sua expressão revelando alívio e satisfação, cautela e medo. Com a fome saciada e a curiosidade despertada outra vez, ele perguntou:

- Onde estou e como cheguei aqui?

Dulce permaneceu em silêncio, como se não soubesse a resposta, ou preferisse não revelar.

Mais uma vez, Christopher teve a sensação de que viajara através do tempo. Nada era familiar. E para confundi-lo ainda mais, ainda havia a atração por aquela bela e misteriosa mulher.

- Conte-me – pediu, esperando fazê-la compreender sua ansiedade. – Só me lembro de que eu estava morrendo.

Dulce interrompeu os preparativos do chá e suspirou.

- Tenho medo de que a verdade o aborreça, você ainda não recobrou sua força totalmente.

Christopher começou a sentir raiva.

- Tenho o direito de saber o que aconteceu comigo, não acha? Você me dirá a verdade. Agora!

Percebeu que o corpo dela se retesou, como se a tivesse esbofeteado com suas palavras. Mas Dulce virou-se para fitá-lo com um sorriso imperturbável.

- É uma ideia peculiar, essa a de ter direitos, enquanto está sentado aqui nu, indefeso e fraco como um cordeiro. Acomode-se, farei chá para você, vou alimentá-lo e, quando estiver bem, eu o libertarei, mas, nesse meio tempo, não irei receber ordens de você.

Desculpem a demora... Estava sem muito tempo, mas agora estou de volta. Comentem se estiverem gostando, ok? Logo postarei mais, beijos!