Fanfic: Segredos Obscuros (Adaptada) | Tema: Vondy

Christopher lançou mais um olhar ao céu cinzento. Não tinha certeza de como voltaria para casa, de como conseguiria enviar uma mensagem à família. Não apenas estava sem suas roupas e pertences, mas sem dinheiro algum. Mas esses eram problemas para o dia seguinte, por enquanto se concentraria em quanto se sentia grato por estar vivo.

A doença no navio havia matado muita gente, que fora lançada ao mar para evitar maior contágio. Graças aos títulos e poder de sua família ele fora mantido no navio até seu corpo chegar ao destino, e enfim colocado numa cripta.

Ele sentiu dor e alguns tremores que sobrara da doença, além do frio, mas achou bem-vindas as sensações. Eram coisas da vida e estava feliz em sentir os sinais nítidos da sobrevivência. Como a vida era estranha, pensou. Sua vida, mantendo-se por um tênue fio, havia sido salva através de um meio dos mais inconvenientes. Ladrões de cadáveres.

Lembrou da carta que havia escrito quando a morte parecera certa. Concentrou-se, pensando intensamente no irmão, a maneira de ambos de se comunicar e que nenhum dos dois compreendia muito bem, mas sempre, desde pequenos, falavam uma certa língua que não podia ser definida. Era como se energia passasse entre ambos, sem ser afetada pelo tempo ou distância. E pensando naquilo, Christopher enviou uma mensagem mental, tão forte quanto conseguiu torná-la:

Eu estou bem, Padraig. Não se preocupe, Dorchadas. Estou vivo.

Virando-se, entrou no pequeno abrigo de pedra que era por enquanto seu lar e de sua incomum enfermeira. Vestiu as roupas estranhas que ela lhe dera e acomodou-se diante do fogo, cobrindo as pernas com algumas das mantas. Pegando seu chá, bebeu, apreciando o doce gosto. Dulce ocupava-se com suas tarefas, evitando fitá-lo e mantendo um silêncio que acabou se tornando desconfortável.

- Estou fazendo algo que incomode você? – ele perguntou. – Asseguro de que não tem nada a temer da minha parte.

Ela deu de ombros de leve.

- Não estou acostumada à companhia de homens.

- Ah! – Christopher não pôde conter o sorriso. Estava vivo, afinal. Vivo. Jurou que nunca mais deixaria de dar o devido valor a tal milagre. – Esteve trancada numa torre, então? Com certeza, se houvesse um homem a vinte passos de você, ele não perderia a chance de cortejá-la.

Dulce virou-se para olhá-lo, lentamente, primeiro com uma expressão de confusão em seu semblante e então, de raiva. Pensou que ele estivesse zombando dela.

- Você não sabe o quanto é bonita?

- É atirado demais – ela avisou, embora houvesse algo mais em sua expressão.

- Você salvou a minha vida, não posso retribuir com elogios?

- Não. Nem preciso de retribuição, nem tenho paciência para mentiras. – Antes que ele pudesse responder, ela já colocava o manto e se preparava para deixar a cabana novamente. – Não vai demorar a chover. Vou improvisar um abrigo para a minha velha égua, Nixie, amarrando encerados entre as árvores. E partiremos amanhã, não importando como esteja o tempo.