Fanfic: Segredos Obscuros (Adaptada) | Tema: Vondy

- Fique junto ao fogo, não vou deixá-la congelar num canto em vez de se sentar ao meu lado. Olhe para mim. Nos meus olhos.

Dulce obedeceu, inquieta com a intensidade que via naquele penetrante olhos.

- Vejo que a deixo nervosa.

Dulce não tivera um amigo desde a morte do irmão, um coração bondoso em quem confiar desde a partida da mãe, uma única alma no mundo que a visse como algo além de um ser maligno desde que os aldeões haviam descoberto o que se passava no castelo de seu pai. E nunca tivera um pretendente.

Assim, não disse nada. O silêncio era a sua única proteção. Se falasse algo, poderia acabar revelando a verdade. Nervosa? Lóchrann nem imaginava o quanto. Ele a atraía de uma maneira que Dulce temia e ansiava por fazê-lo pensar bem a seu respeito, respeitá-la e, talvez até passar a gostar dela.

- Somos estranhos, é verdade – ele continuou. – Você não tem como saber que pode confiar em mim. Mas dou minha palavra de que nenhum mal lhe acontecerá. Devo minha vida a você, e pagarei essa dívida completamente, pode ter certeza. Arriscaria minha própria vida para proteger a sua.

Era verdade. A palavra dele não deveria significar nada. Eram estranhos. Mas Dulce não via ameaça alguma nos olhos dele, nem violência na maneira como segurava seu braço. Sentia apenas seu calor e vitalidade.

- Pode me soltar – pediu. – Acho que faz sentido que partilhemos o calor.

Christopher ergueu a beirada das peles que cobriam suas pernas.

- Vamos partilhar tudo a fim de não congelarmos, está bem?

A rendição não era fácil para Dulce. Por outro lado, não podia ignorar o próprio instinto de sobrevivência. Sentando-se ao lado dele, deixou que Lóchrann ajeitasse as mantas de peles e cobertas em torno de ambos.

- Tenho perguntas a fazer para você.

As palavras a deixaram apavorada. Ele, por certo, notou como seu corpo se retesou, pois soltou um profundo suspiro e decidiu relevar.

- Muito bem, esqueça isso esta noite. Não quero afugentá-la de novo para o canto. Fique aqui e não tocarei mais no assunto.

Dulce relaxou, grata pelo momento de alento, embora a proximidade de ambos a fizesse sentir um calor que nada tinha a ver com o fogo na lareira.

De qualquer modo, salvara a vida daquele homem. Ele dera sua palavra de que estava a salvo a seu lado por causa disso. Sim, acreditava em Lóchrann, pensou, relaxando um pouco mais.

Arriscou um olhar de esguelha e os olhos de ambos se encontraram por um momento antes de ela desviar os seus.

- Acho que poderíamos nos conhecer um pouco melhor – ele sugeriu. – Não sei nada sobre você além do seu nome.

- Não há muito a dizer. – Dulce orgulhou-se de seu tom calmo, como se não tivesse nada do que se envergonhar, como se estar próxima a um homem daquele jeito fosse a coisa mais natural do mundo. – Por que não me conta sobre você?

A pergunta era mais do que um mero convite educado para uma conversa. Queria saber tudo sobre ele, percebeu. Quem era, onde morava, que tipo de vida levava. Se era casado, se tinha filhos. Gostos, preferências.

- Também não tenho muito a dizer. – ele soltou um riso um tanto irônico. – Não é possível que sejamos tão pouco interessantes.

Ele está escondendo alguma coisa, pensou Dulce. Bem, não era o que todos faziam, de um jeito ou de outro?

- Que tal você me dizer para onde está viajando?

- Acho que devemos escolher um assunto neutro – sugeriu, evasiva. – Não costumam ser sobre o tempo e coisas assim?

- Não gosto de jogar conversa fora.

Dulce soltou um riso nervoso.

- Bem, agora sei algo sobre você.

- Sim, sabe. E se é para a conversa ser tão insípida é melhor que não a tenhamos.