Fanfics Brasil - 002 Segredos Obscuros (Adaptada)

Fanfic: Segredos Obscuros (Adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: 002

435 visualizações Denunciar


Depois que ele se foi, Dulce seguiu rapidamente pelo casarão antigo e úmido até chegar à escada em espiral que levava aos seus aposentos. Pegando a chave do cordão que levava ao pesco, destrancou a porta. Um grupo de três pequenos cômodos aquecidos por uma lareira central compunha o santuário de Dulce. Havia apenas três janelas estreitas e um arco, com vidros manchados e antigos, as quais ela deixava descobertas para que a luz do sol entrasse. O quarto cheirava a incenso. Acendia um pouquinho a cada noite, seu único luxo, a fim de afastar os pesadelos. A fumaça perfumada impregnava-se em tudo ali, criando um ambiente só seu.


Ela trancou a porta tão logo entrou, um hábito necessário desde que Drystan passara a olhá-la com crescente interesse.


Sozinha nos aposentos, soltou um suspiro de resignação. A tarefa que a esperava não era nada agradável. Mas, um dia, prometeu a si mesma, escaparia. Precisava acreditar naquilo, ou sucumbiria à insanidade.


Acima da porta principal, o sino de latão soou. Era preso a um cordão que descia até os andares inferiores, para que pudesse ser chamada. Os poucos criados haviam sido dispensados muito tempo antes, e, portanto, era ela a ser chamada para as tarefas.


Vestiu-se depressa, colocando uma combinação simples de musselina, que era fácil de ser lavada, e duas grossas túnicas de lã, puídas após inúmeras lavagens. Prendeu os cabelos longos numa trança, que caía ao longo das costas. Sobre as meias de tricô, calçou botas grossas feitas de pele de cordeiro, que eram amarradas na altura dos joelhos. O chão do calabouço era frio o bastante para extrair rapidamente o calor dos vivos. Os que acreditavam que o inferno era quente nunca tinham entrado no pesadelo gélido de seu pai.


Dulce apanhou seu punhal, prendendo-o no cinto, pegou a pistola e colocou-a na cintura junto às costas.


O sino tocou novamente, agora cinco vezes numa rápida sucessão que transmitia irritação e obsessão maníaca. Dulce se apressou.


O momento de voltar ao pesadelo chegara outra vez.


- Você demorou demais, garota – resmungou Rhys quando a filha entrou. Nem sequer desviou os olhos do cadáver nu a sua frente, apenas fez um gesto na direção do outro. – Comece com aquele ali. Este precisa ser aberto imediatamente. Só pode ser aproveitado durante mais um dia ou dois.


Drystan arrastara os corpos onde antigamente havia sido um calabouço, situado na parte mais antiga do casarão. E agora, era a sala de trabalho de Rhys, pois o frio intenso contribuía para a melhor conservação dos corpos.


Mas o lugar de paredes e chão de pedras úmidas conservava suas antigas características, como as pequenas celas com barras de ferro, agora contendo prateleiras onde seu pai guardava órgãos e cérebros preservados numa solução química, e logo acima uma antiga gaiola de ferro suspensa no teto, usado por proprietários antigos para trancafiar loucos.


Também já havia sido usada para Dulce, em uma noite escura quando sua fuga fora impedida. Depois que os cães a haviam atacado na divisa da propriedade, o pai a arrastara de volta e a prendera na gaiola. Dissera ele que era uma lição por ter ousado abandonar o último membro de sua família.


Ela evitava olhar para a gaiola, pois continha lembranças da pior noite de sua vida. Uma noite que havia ficado ferida, apavorada, e sozinha no calabouço escuro e fétido com os ratos. Agora, ela podia acertá-los de longe com sua pistola ou o punhal, e os roedores pareciam também saber disso, pois corriam para se esconderem nas sombras sempre que ela entrava. Estremeceu só de pensar nas criaturas que deveria ter ali.


Dulce adiantou-se até a mesa de pedra onde estava o outro corpo, como o pai instruíra, bloqueando da mente os sons do trabalho dele e concentrando-se apenas no seu.


O corpo era de um homem com idade entre vinte e cinco e trinta anos. Era forte, vigoroso, com músculos definidos e tinha o aspecto de quem estivera em perfeita saúde no momento de sua morte.


Ela correu os olhos pelo corpo nu, observando os detalhes. Uma cicatriz no braço, uma marca de nascença na coxa, pelos de um tom louro escuro acima do longo pênis. Se um dia encontrasse um homem que não a temesse como bruxa, ao menos poderia ir para sua cama sem que ela temesse a nudez dele. Rhys não cobria os órgãos sexuais dos mortos para preservar a inocência da filha, sua determinação era descobrir por que o corpo humano envelhecia, sucumbia à doença, e morria.


Esforçava-se para ignorar os ruídos do trabalho de seu pai, ela manteve os olhos no corpo diante de si. Estava morto havia pouco tempo, não apresentava quaisquer sinais de rigidez. Sentiu uma onda de tristeza, como costumava acontecer sempre que via alguém se fora tão jovem. Imaginou a dor dos familiares dele.


Tornou a correr os olhos pelo corpo nu do homem. Mesmo em sua morte era bonito, com seus cabelos loiro-escuros e traços bem-feitos. Na verdade, era quase como se estivesse apenas adormecido.


Apanhando seus papéis e lápis de carvão, Dulce lamentou ter de desenhá-lo daquela maneira e não como o homem vigoroso e cheio de vida que devia ter sido. Com um suspiro, trabalhou depressa, retratando-o exatamente como estava.


- Garota, veja isto! – exclamou o pai, e Dulce obedeceu, deixando os papéis de lado e aproximando-se da outra mesa. – Veja o fígado, e olhe para o nariz dele, bulboso e cheio de veias. Já vi essa ligação antes, e acho que estou descobrindo algo aqui. – Seus olhos brilhavam, com uma expressão que se assemelhava à loucura. – Preciso do fígado do outro homem para fazer a comparação. Drystan! Traga as minhas balanças. Já terminou seu desenho, garota?


- Quase. Levarei mais uns dez minutos, papai. – ela aprendera a trabalhar depressa, mas ele esperava o impossível.


- Ótimo, espere. O outro pode aguardar um momento. Venha desenhar o fígado como está agora, para que eu possa usar o desenho como referência depois.


Dulce mal terminou o novo desenho, e o pai arrancou de suas mãos, acrescentando freneticamente as suas anotações quanto às características do órgão.


Ela afastou-se o mais depressa que pôde, dominada por uma onda de repulsa, enquanto Rhys retomava o trabalho. Quando desenhava procurava fazê-lo com o máximo de distanciamento emocional possível e, embora fosse minuciosa nos desenhos, fazia de conta que não estava realmente ali. Porém, a pior parte, era o trabalho em si de Rhys, e ela se desdobrava para suportar testemunhá-lo trabalhar.


Imediatamente, voltou a desenhar o outro homem. Capturou sua perfeição masculina no papel e não pôde deixar de sentir pesar e angústia diante do que aconteceria. Que desgosto teria sido para a família se pudesse saber que o corpo de seu filho estava prestes a ser violado.


Uma súbita vontade de proteger o homem dominou-a. Quis cobrir sua nudez, defendê-lo das facas e serras de seu pai e providenciar para que voltasse onde deveria de fato estar. Ele não merecia um fim tão brutal.


Mas enquanto tal pensamento ocorria, Rhys já se aproximava com seus instrumentos. Não havia nada que ela pudesse fazer para impedi-lo. Rhys ganhava até seu último níquel em cadáveres, mas não era um anatomista comum trabalhando em nome da ciência. Obcecado como estava, não deixaria de examinar um corpo apenas porque a filha não queria que o violasse de tal forma.


A vontade, as necessidades, e os desejos de Dulce haviam deixado de existir no dia em que o irmão dela morrera. Naquele dia, Rhys se tornara um homem obcecado em sua busca pela chave da vida e pelo motivo para a morte. Criados foram dispensados, a comida racionada, e qualquer luxo fora negado. E a mãe de Dulce, Tânia, fugira para nunca mais voltar, e ela fora deixada com o pai, abandonada como uma prisioneira.


Deixando os instrumentos de lado, Rhys examinou o corpo em minuciosos detalhes.


- Não há marca alguma nele – disse. Sem que o pai mandasse, Dulce começou a anotar suas palavras. – Não há indício visível de doença, nem escoriações ou quaisquer sinais de ferimentos. Nenhuma marca física indicando a causa da morte.


Ele fez uma pausa para verificar o relógio de bolso e virou-se para Drystan, instruindo-o a ir preparar seu desjejum. E virou-se de volta para o homem na mesa de pedra.


- Bem, vamos começar.


Ele apalpou o peito e o abdômen do corpo antes de se munir de sua faca. Dulce conteve a respiração e fez uma prece silenciosa pela família do homem, pedindo para que nunca soubessem o que acontecera com seu belo filho e corpo perfeito. Colocando-se do outro lado da mesa, pegou a mão do homem e segurou-a com força, embora estivesse tão fria quanto a cripta de onde fora tirado. Sem poder evitar, lágrimas marejaram seus olhos enquanto seu pai posicionava a ponta da lâmina no centro do peito do homem.


Então, pai e filha soltaram uma exclamação chocada e gelaram no lugar, enquanto sangue brotava da pequena incisão.


Cadáveres não sangram. Apenas um coração batendo bombeia sangue por um corpo. Dulce virou-se para o pai com os olhos arregalados.


- Ele está vivo – sussurrou, apavorada.


Rhys afastou a faca e observou o sangue escorrendo pelo peito do homem, prova incontestável de vida. Parecia em transe e, quando tornou a olhar para a filha, seus olhos estavam vidrados.


- Preciso do fígado dele – falou com tanta determinação que o sangue de Dulce gelou. – Vá para o seu quarto, garota.


 




Espero que estejam gostando. Comentem se sim.


Logo postarei mais, beijos!



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Soyezinha

Este autor(a) escreve mais 2 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
Prévia do próximo capítulo

Além dessa fic, comecei outra, se puderem apareçam lá, e se gostarem favoritem e comentem. http://fanfics.com.br/fanfic/49154/bem-comportada-adaptada-vondy Até mais, beijos!


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 49



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • evelyncachinhos Postado em 10/05/2019 - 10:11:53

    Aaaaa Continua pff

  • safira_ Postado em 28/06/2016 - 15:57:10

    Ei posta mais,amooo muito essa fic

  • emyvondysavinon Postado em 27/06/2016 - 19:12:42

    EIIIII!!! Posta mais POR FAVOR! Odeio quando abandonam ainda mais uma fanfic boa dessa!!

  • emyvondysavinon Postado em 04/06/2016 - 10:49:39

    Posta Mais!!! Abandona Não!!!

  • juhcunha Postado em 26/02/2016 - 00:01:44

    Posta mais

  • talila Postado em 14/02/2016 - 18:18:44

    leitora nova!!! Estou apaixonada por essa fic, ela e maravilhosa diferente de td q ja li, AMANDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!CONTINUA.......

  • ♛Lyce♛ Postado em 18/01/2016 - 10:51:57

    Tudo bem,o importante é vc posta eu amo essa fic sou viciada. Continua eu sempre vou está aqui esperando mais um cap maravilhoso.

  • juhcunha Postado em 17/01/2016 - 21:51:06

    Ate que fim posta maisss quero beijo vondy logo

  • millamorais_ Postado em 11/12/2015 - 14:38:53

    Ahhh que bom que apareceu, já tava ficando preocupada, achando que ia abandonar a fic rsrs continuoa

  • ♛Lyce♛ Postado em 11/12/2015 - 12:23:59

    Eu estava com.tantas saudades dessa fanfic amo demais,Christopher já estava pensando em abandonar tudo e ficar com Dulce Rsrsrsrsrsrsrs que poder de sedução e esse que ela desconhece?amei,quero vê o relacionamento dos dois como vai ser daqui em diante,me diz ela vai contar o que o pai dela fazia com os mortos?pq eu estou mega curiosa,continua gatinha.


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais