Fanfic: Segredos Obscuros (Adaptada) | Tema: Vondy

Christopher sorriu diante do desafio dela, apreciando o jogo de conversa sincera. Não havia muitas pessoas com quem abria tanto o seu coração. Até mesmo Padraig se torna distante ultimamente, perplexo e aborrecido com o seu noivado com Mira Kimball.

- Tenho quase trinta anos, e por volta dessa idade que um homem deve se casar, certo? Encontrar uma esposa adequada, se estabilizar, ter filhos. Conheci Mira e ela é... – tornou a dar de ombros e concluiu num tom não muito animado – adequada.

- Apenas isso? Não há paixão, nem amor? – Dulce arqueou uma sobrancelha. – Isso é patético.

- Há outras coisas a se procurar numa companheira. Ela é bondosa, meiga, gentil. Ama a própria família da maneira como amo a minha, com orgulho e afeição incondicional, e não me pergunta... – Ele se interrompeu.

- Não pergunta o quê?

- Não me pergunta quase nada. – Christopher recriminou a si mesmo por não cumprir a regra da completa sinceridade.

Porém, estava tão cansado da pergunta de quem seria o duque, e sim, estava cansado de ele mesmo não saber a resposta.

Não sabia quem nascera primeiro, ele ou Padraig. Não sabia qual dos dois era o verdadeiro herdeiro do pai. E se ressentia com os pais por guardarem o segredo.

- Ela é bonita?

- Sim. Como uma princesa, com cabelos loiros e olhos azuis. É delicada, feminina e me lembra uma pequena boneca de porcelana que poderia quebrar ao menor descuido.

- Hum. – Dulce tornou a baixar o olhar para o colo.

- Não gostou da resposta?

- É verdadeira?

- Sim.

- Então, como posso não gostar dela?

Christopher tocou as mãos de Dulce. Teria ferido seu orgulho feminino? Muito tempo antes, seu tio Matteo dissera que quando falava com uma mulher, um homem devia tratá-la como se fosse a única no mundo. Sentindo-se desajeitado, prosseguiu:

- Você queria sinceridade, não é?

Dulce soltou um profundo suspiro e ergueu as mãos.

- Estas mãos sabem o que é labuta. Elas matam e preparam galinhas, esfregam assoalhos, buscam água, lavam roupas e capinam campos. Estou mais para mula de carga do que boneca e não posso imaginar um homem com medo de me quebrar. Sou dura demais, para ser comparada a uma princesa. – Com lábios trêmulos, ela deu um sorriso triste, parecendo estar reprimindo grande emoção. Abriu a boca várias vezes antes de conseguir emitir as palavras: - O que não quer dizer que eu não fantasiaria com uma coisa dessas.

Christopher tentou imaginar Mira fazendo algo mais árduo do que ler um livro e teve de conter um riso.

- Bem, tenho de dizer que, se eu pudesse escolher nas mãos de quem gostaria de pôr minha vida, sem dúvida seria nas suas. Fico feliz que tenha sido nas suas.

- Sou uma tola – murmurou ela. – Fugi de casa e não tenho nenhum lugar para ir.

- Eu a ajudarei. Salvou a minha vida e estou em dívida com você.

- Você não me deve nada. Fiz isso pela minha própria consciência.

- Bem, pode ser, mas não sou homem de negligenciar minhas obrigações. Farei o que tiver de ser feito para que seja recompensada e fique bem amparada.

Dulce olhou para o fogo baixo e prestou atenção por um momento à chuva gelada lá fora e ao vento que soprava contra os cobertores presos na janela.

- Está é uma noite boa para uma bebida, não acha?

Sem esperar pela resposta, ela se adiantou até as provisões e voltou com uma garrafa e uma pequena caneca.

- Já que estamos sendo sinceros, gosto de tomar algo vez ou outra. Ele me aquece em noites frias e úmidas como esta. Teremos de dividir a caneca. – Tirando a rolha da garrafa, serviu uma generosa dose e entregou-a a ele.

Christopher sentiu o aroma do uísque escocês e sorveu um gole, suspirando de prazer quando o destilado encorpado deslizou por sua garganta. Era bom, bem equilibrado, doce com notas de cerejeira e carvalho e um toque de turfa no acabamento.

- Eu poderia beijá-la por isto.

Dulce corou de leve, o que traiu sua inquietação, e pegou a caneca.

- Não é necessário.