Fanfics Brasil - Capítulo 11 - Se Tornando Um Deles As Crônicas da Cidade Maldita

Fanfic: As Crônicas da Cidade Maldita | Tema: Vampiros, Terror, Suspense,


Capítulo: Capítulo 11 - Se Tornando Um Deles

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Floresta de Raven Hill — 2013


Ryan Folley


As luzes dançantes nas árvores lentamente iam sumindo, conforme a noite ia chegando ao fim. Eu corria pela floresta escura em direção ao único lugar que eu conseguiria sangue humano para me alimentar e voltar vivo para a mansão: Raven Hill. A cidade não estava muito longe e eu poderia facilmente escalar o muro para beber algum dos guardas que estivessem de vigia naquela noite. Eu poderia fazer tudo muito rápido e ninguém desconfiaria de nada. Na verdade tudo parecia bem simples, e quase infalível, e eu estava impressionado pela cidade ter conseguido durar tanto tempo.


Meus pensamentos foram interrompidos por um som alto vindo de algum lugar a leste de onde eu estava. Parecia um relinchar de cavalo ou de algum animal selvagem da floresta. O instinto de saber o que estava acontecendo me tomou e corri em direção a fonte do som. As árvores passavam por mim como borrões, devido a minha velocidade sobre-humana. A sensação era maravilhosa e libertadora. E então novamente me lembrei do preço que aquilo havia me custado: uma vida e uma maldição para a eternidade.


Encontrei a fonte do relincho não muito depois. Vi um movimento rápido na árvore e sons de cascos vindo na direção em que eu estava. Rapidamente escalei uma árvore e observei enquanto um cervo aparecia correndo. Tinha uma mancha de sangue ao lado, como se tivesse se arranhado em algum lugar e corria como se fugisse de algum predador. Fiquei observando quando o cervo parou e mexeu as orelhas, buscando o inimigo em algum lugar, analisando a situação e tentando descobrir para onde devia fugir. E então, uma sombra negra pulou na direção do animal e o atacou, rápido e mortal. O cervo caiu no chão e a sombra o atacava, faminto pela morte do animal. A vítima relinchava e implorava socorro, em sua própria maneira. Era de doer o coração. Mas eu não tinha um.


Quando o cervo finalmente cedeu e cerrou os olhos a sombra se levantou. Era um dos recém-criados. Um homem negro, de porte mediano e forte com olhos claros e violentos e seus braços e peito largos estavam completamente sujos com o sangue do animal morto. O homem se abaixou e arrancou um pedaço da pele do animal, na região do pescoço que saiu como se fosse casca de cebola. O homem o mordeu e começou a bebê-lo.


Ficou bebendo do sangue do animal por quase meio minuto. Eu ainda estava escondido nas árvores e nem pretendia me revelar para ele. Não queria que ele me visse até saber se podia confiar em algum deles. Afinal, eram todos vampiros, e os vampiros não são confiáveis. Repentinamente o homem se levantou. Tinha uma expressão assustada e nervosa. Seus braços abraçaram a barriga e repentinamente o vampiro começou a gritar. Parecia sentir dores alucinantes no estômago e seu grito parecia quase sobrenatural. Era possível ver as veias saltando por todos os lados do corpo do homem e seus olhos começaram a ficar vermelhos. Mesmo de longe e no escuro da floresta, eu podia ver o sangue escorrer pelas orelhas, nariz, boca e até mesmo dos olhos do homem. O sangue corria livremente, como se ele fosse uma bacia transbordando de água. Em pouco segundos o vampiro negro estava coberto com o próprio sangue e caiu. Seu grito cessou-se, assim como sua existência, ficando apenas um corpo sangrando, com olhos brancos e pele pálida, sem vida, estirado no meio da floresta, onde ninguém nunca o acharia.


Eu não mexera um músculo do meu corpo desde o aparecimento do cervo, mas agora era seguro descer. O vampiro estava morto e eu havia entendido que beber o sangue do cervo não era uma boa ideia para sobreviver aquela noite. Eu teria que continuar com o meu plano, custasse o que fosse.


Em poucos minutos estava de volta ao meu caminho original, seguindo para Raven Hill. A cidade ainda estava a alguns quilômetros de distância, a noite estava acabando. Faltava uma hora e meia até que os primeiros raios de Sol surgissem pelas folhas das árvores. E eu não pretendia esperar pra ver o que aconteceria. Alcancei a base do Muro da cidade em menos de vinte minutos. Era bem menos escuro ali, com todos aquele canhões de luz e o próprio brilho que vinha do lado de dentro da cidade, deixava a região ao redor bem iluminada. Eu conseguia ver os movimentos dos guardas duzentos metros acima de onde eu estava. Os portões estavam fechados como sempre. Uma estrada saía por debaixo dos portões e levava para longe. Aquela hora, era impossível ter algum tipo de movimento, ninguém usava a estrada àquela hora da noite.


Mas eu estava errado.


Um som baixo me fez virar a cabeça. Eu podia ouvia, mas não via a fonte dele. Parecia um motor de carro ou algo parecido, talvez uma van. Segui a estrada em direção ao som. Não demorei muito para avistar o veículo pequeno vindo em minha direção. Era preto e elegante. Eu senti um cheiro adocicado e exótico vindo de dentro. Sangue. Tinha gente dentro daquele carro, claro, e isso me facilitaria em muita coisa a concluir minha missão. Cheguei até a sorrir com a ideia.


O carro se aproximava muito lentamente. Mas me coloquei no caminho, no meio da estrada. Lentamente o carro se aproximava. A estrada não tinha iluminação, e estava deserta, e provavelmente difícil de enxergar alguma coisa. Eu vestia uma calça jeans escura e uma camisa cinza, o que tornou ainda mais difícil me enxergar no meio da estrada. O carro não diminui a velocidade conforme se aproximava, e quando os faróis me iluminaram, ele desviou para o lado, os pneus cantando e derrapando antes de baterem de lado contra uma das árvores no acostamento. A árvore quebrou no meio e uma parte dos galhos grossos de cima caiu sobre o capô do carro, amassando-o. Eu senti o cheiro adocicado ficar ainda mais forte e sorri.


Andei lentamente em direção ao carro, e estava próximo quando a porta do carona se abriu com um rangido alto. De dentro saiu uma jovem de vinte e poucos anos. Loira, cabelos caídos sobre os ombros sujos no próprio sangue. Senti minha garganta se apertar e arranhar de sede. Ela me viu parado ali, no acostamento, sorriso na cara. Ela esticou o braço, em pedido de socorro. Quando tentou ficar de pé, suas pernas fraquejaram e ela caiu no chão. De baixo de seus cabelos saía uma torrente de sangue, de uma ferida aberta. Seus olhos fraquejavam, como se ela tivesse dificuldade em mantê-los abertos. Ela se segurou na lataria amassada do carro para evitar de cair novamente. Me aproximei dela e ela olhou para mim.


— Me ajude... — Disse, esticando a mão em minha direção.


Sorri e a levantei a mulher pelo pescoço. Ela segurou meus braços, tentando se levantar e livrar-se. Ela não conseguia respirar e puxava inutilmente o ar, que não passava pela traquéia, e nunca chegava aos seus pulmões . Seus olhos demonstravam medo, e estavam arregalados. Provavelmente ela estava pensando “O que está acontecendo? Porque ele está fazendo isso?” Mas eu não me importava. Nem um pouquinho. Tudo que me importava naquele momento, era aquele cheiro doce e exótico, ferroso, que emanava daquele sangue que escorria de seu cabelo. Então, a mordi.


A pele do pescoço cedeu com facilidade sobre meus dentes. Ela parou de tentar tirar minhas mãos de seu pescoço, e apenas sentia dor. Senti o sangue brotar e escorrer dentro de minha boca. Era delicioso. Muito melhor que o que eu havia bebido na taça que Varo me dera, quando acordei. O sangue quente, descia pela minha garganta, e pude sentir todo meu corpo ser dominado por um poder enorme. Me senti um verdadeiro imortal. A sensação era a melhor coisa que eu já havia sentido, e quase me excitei a o ver aquela mulher morta em minhas mãos. Seu sangue entrando em mim...


E então senti meu corpo voar por muitos metros.


Eu havia sido atacado e bati contra uma árvore, que se quebrou em dois com a força do impacto. Rolei por cima dos pedaços de tronco quebrado antes de me levantar. A mulher ainda estava viva, caída por cima das raízes das árvores. O sangue brotava de seu pescoço ainda, banhando-a na própria morte. Um dos recém criados estava parado diante dela. Seus olhos estavam vidrados no sangue que brotava dela. Ele pareceu me ignorar, mas rapidamente tratei de correr e atacá-lo. Foi a vez dele de voar metros antes de bater em uma árvore e rachá-la ao meio. O homem pareceu sentir mais dor que eu, talvez pelo fato de não ter bebido sangue nenhum ainda. Não havia sangue seco em suas roupas ou em sua boca. Não como havia em mim. Ataquei-o novamente, antes que ele pudesse se levantar debaixo dos galhos partidos, e o segurei pelo pescoço, da mesma forma como havia feito com a mulher. Apertei com toda a força que eu podia ter. Ele não pareceu ter a preocupação que ela tinha em respirar, afinal, o que aconteceria, ele morreria? Nós já estávamos mortos.


Continuei apertando. O homem apertava meu braço, tentando se livrar de mim, mas não conseguia. Aos poucos, senti meus dedos afundarem sua pele, e furarem seu pescoço, quase com a mesma facilidade que a pele da mulher cedera sob meus dentes. E então, com um barulho de carne rasgando, a cabeça dele, rolou para longe do corpo. Seus olhos vidrados olhavam o nada.


A mulher ainda viva, desfalecendo, parecia assustada diante do que via. Fui até ela novamente, a peguei mais uma vez e continuei bebendo seu sangue, sentindo uma força ainda maior invadir meu corpo. Quando acabei de beber, larguei o corpo mole e morto da mulher no chão ao lado do carro acidentado. Pude ver que ainda havia um outro cadáver dentro dele, sentado no banco do motorista. Era o corpo de um rapaz jovem, pude ver pelo porte atlético, mas era impossível ver sua face. Quando o carro batera, o para brisas afundara e deformara completamente o rosto do rapaz. Pelo menos ele morreu rápido, pensei.


Larguei o carro abandonado ali, com os dois cadáveres. Comecei a andar pela floresta novamente, e poucos minutos depois eu sabia que havia completado a Iniciação de Varo. Eu poderia voltar para a mansão e me tornar um deles. E pela primeira vez, depois de tudo o que acontecera, aquilo não pareceu me enojar ou enfurecer. Eu ate gostei da ideia.


Um pássaro piou acima de mim, e em pouco tempo toda uma sinfonia anunciava a chegada da manhã. O céu mudava gradativamente de um tom azul escuro para um vermelho claro. A manhã, lentamente se anunciava e eu entendi uma coisa, quase que por instinto. Eu preciso correr para a mansão o mais rápido que eu puder.


Usei toda a força que eu tinha e a foquei nas pernas, de forma a correr o máximo que meu corpo e minhas novas habilidades me permitiam. Eu sentia o vento uivar em meus ouvidos e os pássaros não passavam de sons rápidos e quase incompreensíveis. Demorei uns quinze minutos para encontrar a mansão. Varo estava com a porta aberta, esperando para ver quantos voltariam. De uma coisa eu tinha certeza: dois deles não conseguiriam. Entrei na mansão. Varo tinha uma expressão estranha no rosto, uma mistura de ódio, medo e preocupação. Não entendi muito bem a expressão, mas estava agitado demais para perguntar alguma coisa. Cinco minutos depois de minha chegada, os primeiros raios de Sol começaram a aparecer por cima das copas das árvores. Ainda estava escuro, mas a noite estava indo embora depressa. Repentinamente outro vampiro apareceu no meio das árvores. Estava limpo como saira, e ofegante com a corrida.


Varo o encarou e sorriu, mudando a expressão que tinha antes. O homem olhou para ele sem entender o motivo do sorrriso. E então pareceu se engasgar. Seus olhos ficaram brancos, lentamente, e ele caiu no chão, completamente morto.


— O que aconteceu aqui? — Perguntei, olhando o corpo morto do recém criado no chão.


— Ele não conseguiu achar uma fonte de sangue a tempo. — Respondeu Varo sem me olhar nos olhos — Voltou para a mansão com medo do Sol, mas não concluiu a Iniciação. Ele não completou a transformação.


Continuei encarando os olhos brancos do vampiro morto no chão. Um som me fez olhar para a floresta a tempo de ver mais dois deles chegando. Um era alto e tinha cabelos raspados baixos, o outro era mais baixo, porém bem mais forte que o outro, e tinha cabelos curtos, mas não raspados como o do amigo. Os dois correram a tempo de entrar na mansão. Não estavam ofegantes como o vampiro que morrera antes e tinham as mãos e bocas completamente sujas de sangue seco. Ficamos parados olhando para a floresta. Os raios de Sol começavam a clarear tudo, e vazar por entre as folhas das árvores. Um quarto vampiro apareceu. Não era tão rápido. Varo olhou com expectativa para ele. Sua expressão de medo e preocupação mudando para uma esperança agradável. Mas o vampiro que se aproximava passou por uma clareira onde o Sol já havia dominado. Seu corpo instantaneamente entrou em combustão e ele gritou alucinadamente, antes de cair, completamente morto. Seu corpo incinerado jogado no chão da floresta.


Varo fechou a porta. E olho para nós. A expressão de medo, ódio e preocupação retomada.


— Trinta e três saíram. Apenas três retornaram.



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Autor(a): raphaelaguiar91

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