Fanfics Brasil - Capítulo 13 - Uma Estranha Visão As Crônicas da Cidade Maldita

Fanfic: As Crônicas da Cidade Maldita | Tema: Vampiros, Terror, Suspense,


Capítulo: Capítulo 13 - Uma Estranha Visão

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Clube Last Kiss, Centro da Cidade — Atualidade


Andrew Goodman


Eu sempre achei incrível a capacidade que as pessoas tinham de colocarem a própria vida em risco a troco de nada. Em Raven Hill, o que chamávamos de “perigos da noite” eram muito diferentes do que os que haviam em outros lugares. E mesmo assim, com todas as ameaças que as sombras nos faziam, as pessoas continuavam a se arriscar, saindo de casa a noite, indo para aquela boate em troca de um sentido deturpado de diversão, um porre de tequila ou vodca e um pouco de êxtase pra ajudar a aguentar tudo isso.


Era quase meia noite. As ruas estavam vazias, mas havia uma enorme fila diante das portas de entrada da boate Last Kiss. Eu havia estacionado meu carro em uma rua do outro lado, em uma posição que era possível ver com clareza quem entrava na boate. No banco do carona, ao meu lado, estava o envelope que Vanessa me dera mais cedo. As foto dele estavam jogadas sobre o estofamento, para que eu pudesse comparar os rostos que eu via na fila da boate. Até agora: nada.


Depois de quase duas horas observando sem sucesso, algumas perguntas começaram a surgir em minha cabeça. Muitas delas eram plausíveis e poderiam ter uma certa lógica na situação, outras pareciam apenas o desespero falando em meu subconsciente: “Será que ele sempre vinha nessa boate?”, “Será que era realmente ele que Vanessa havia visto naquela vez?”, “Será que ele sabia que eu estaria aqui hoje?”


Mas independentemente da resposta que eu obtivesse, eu estava obstinado a encontra-lo e pedir perdão por todas as coisas que eu havia feito a ele e a mãe dele no passado, mesmo que eu nem mesmo lembrasse o nome dela.


Foi então que o vi.


Ele usava uma camisa preta com o símbolo de uma banda de rock que eu nunca havia ouvido falar antes. Calças jeans com os joelhos rasgados e um tênis Converse All Star de cano médio preto. Uma jaqueta jeans estava jogada sobre os ombros e os cabelos despenteados de uma forma rebelde e natural. Era um rapaz bonito, de expressões fortes e corpo bem definido, com a musculatura marcando sob a camisa. O tipo de cara que as garotas matariam para ter. Mas mesmo assim, ele estava sozinho.


Ele passou a frente de todos na fila. Muitos o cumprimentavam, e eu entendi que ele era bem popular naquele local, o que me fez ter certeza de que ele sempre ia naquele mesmo lugar. Meti uma das fotos no bolso de trás da calça, abri a porta do carro, e saí, indo em direção á boate, enquanto ele cumprimentava o segurança que abria as portas do local sem nem mesmo verificar sua identidade.


Quando alcancei a fila, o rapaz já havia sumido na confusão de música alta, lasers coloridos e fumaça de cigarro da boate. Pus a mão no bolso e saquei duas notas de cem dólares, colocando-as entre os dedos da mão. Fui direto até o segurança e estiquei a mão para “apertar” a dele. Ele apertou, e as notas correram de uma mão para a outra. Ele sem nem mesmo olhar em meus olhos, abriu a porta e eu entrei na boate.


Aquilo era o Inferno na Terra.


A música era tão alta que eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos. As batidas mais graves faziam meu corpo inteiro vibrar ao ritmo da música enquanto os sons mais agudos feriam meus tímpanos. A fumaça de cigarro era tão espessa que turvavam a visão e luzes estroboscópicas e lasers coloridos piscavam e corriam pelo local, iluminando algumas coisas que me deixou em choque.


Logo a minha frente, duas meninas se beijavam tão intensamente que era uma cena digna de final de filme de romance meloso. Ao lado dela, dois meninos faziam a mesma coisa, mas com um terceiro atrás de um deles, se arrastando de forma sugestiva. Um casal estava em um canto, encostados na parede do clube fazendo sexo diante de todos. Logo adiante, haviam duas gaiolas suspensas no clube onde um casal apenas em roupas íntimas dançavam de forma sensual e se arrastavam sem nenhum pudor, enquanto pessoas aplaudiam e ovacionavam embaixo. No pequeno palanque de madeira com carpete preto que era usado como palco, um DJ mexia em um computador, provavelmente preparando as músicas que iriam tocar em seguida, mas parecia tão chapado por alguma droga que eu não sabia mais o que poderia estar acontecendo de verdade.


O lugar era perturbador, mas eu não tinha tempo para prestar atenção a isso agora. Olhei ao redor em busca dele, mas não o vi em lugar nenhum. O local estava lotado, e eu precisaria de mais atenção aos muitos rostos que ali haviam. Comecei a andar pelo salão enorme, empurrando pessoas. Algumas reagiam ao empurrão, reclamando ou olhando torto. Eu pedia desculpa constantemente, algumas pessoas falavam que estava tudo bem e voltavam a atenção ao que estavam fazendo antes, outras estavam tão bêbadas ou drogadas que nem mesmo prestavam atenção quando eu as empurrava. Continuei meu trajeto pela boate, procurando o rosto dele, mas não o via em lugar nenhum. Continuei procurando por mais uns quinze minutos, e cheguei a pensar em desistir, quando avistei o balcão do bar escondido a um canto da boate. O barman estava preparando um drink que era uma mistura de umas três ou quatro bebidas pesadas com suco de maça. Quando me aproximei do bar ele olhou para mim e perguntou o que eu iria querer. Eu puxei a foto do bolso e o mostrei, mas ele fez que não com a cabeça antes mesmo de olhar para a imagem em minhas mãos. Puxei mais algumas notas de vinte dólares do bolso e o entreguei. Ele olhou a foto, me encarou por alguns segundos e perguntou com um olhar suspeito:


— Você é policial?


— Advogado, mas não é por isso que estou aqui.


— Ele está encrencado?


— Isso muda o fato de você saber onde ele está?


— Só se ele estiver encrencado.


— Não estou aqui para prendê-lo, não se preocupe, quero apenas conversar com ele, mas é assunto particular.


O barman me encarou por mais alguns segundos e depois de analisar o que ouvira, apontou uma porta a um canto da boate com a cabeça. A porta ficava tão escondida que se o barman não tivesse apontado para ela antes, provavelmente eu nem mesmo teria visto. Agradeci e fui até ela. Pendurada havia uma placa com os dizeres “Entrada Restrita”. Rodei a maçaneta, e ela abriu.


A porta conduzia a um corredor estreito com as paredes pintadas de preto e quadros com fotos de várias pessoas que eu nunca havia visto antes penduradas por toda sua extensão. Não havia nenhuma porta em todo o corredor, com exceção da que ficava do outro lado, no fim dele. Estava fechada como a primeira. Atravessei o corredor e abri a porta do outro lado. Quando coloquei a mão na maçaneta, senti algo estranho acontecer comigo. Uma estranha pontada na nuca fez toda a minha cabeça doer, e fiquei temporariamente zonzo. Minha vista escureceu e tive que me esforçar para me manter de pé, mas ainda assim empurrei a porta e atravessei a sala.


Era um local escuro. Não havia muita iluminação, exceto pela que vinha das muitas velas acesas no centro da sala. O que elas iluminavam foi difícil de compreender. Havia uma mesa grande e redonda, onde as velas estavam apoiadas. No meio dela, havia uma mulher deitada completamente nua. Ao redor, cerca de dez pessoas estavam com as mãos levantadas, usando vestidos longos e pretos com um capuz na cabeça. Nas costas dos vestidos um estranho símbolo estava desenhado em vermelho. Todas entoavam um cântico, que devido a minha confusão, não fui capaz de entender o que dizia. Dei um passo a frente, ainda cambaleando pela dor que havia me acertado em cheio. Cheguei mais perto, procurando entender o que estava acontecendo naquele local. Quando consegui visualizar melhor o corpo da mulher, vi um enorme corte que a abria do pescoço até o umbigo, deixando seu interior exposto para todos no local. Senti o vômito subir até a garganta e tive que engolir. Me virei para sair dali, assustado, mas esbarrei em uma mesa e tropecei, incapaz de aguentar a dor que me acometia. Caí no chão, batendo com a cabeça na queda. A última coisa que ouvi, foram os cânticos daquela estranha seita.


Os meus olhos doeram quando tentei abri-los. Eu estava deitado no corredor pintado de preto com as fotos das pessoas que eu não conhecia. Haviam duas pessoas sobre mim, me olhando confusos com o que estava acontecendo. Uma era uma mulher não muito bonita e não muito jovem, o outro era um rapaz bonito, com cabelos bagunçados e naturais. Jensen.


— Ei, cara, você está bem? — Perguntou ele.


— A mulher... estava morta! — Falei, lembrando do que aconteceu, e rapidamente sentando no chão e olhando em direção a porta fechada atrás de Jensen.


Os dois me olharam intrigados e assustados ao mesmo tempo. Jensen olhou para a mesma direção que eu olhava. Rodou a maçaneta e abriu a porta revelando uma sala bem iluminada com duas mesas de trabalho dentro. Uma delas estava cheia de papéis e a outra cheia de envelopes e caixas com muitas notas de dinheiro e moedas empilhadas, e enroladas em elásticos. Não havia mesa no centro, apenas um tapete, e sobre ele não tinha nenhum corpo de nenhuma mulher morta aberto do pescoço ao umbigo. Não havia sons de cânticos bizarros vindos de dentro, apenas o som do ventilador que rodava no teto e nem as pessoas misteriosas com as roupas pretas com símbolos estranhos. A sala estava vazia.


— Onde você viu uma mulher morta? — Perguntou Jensen.


— Nesta... sala... — Falei, apontando para dentro, sem entender nada do que estava acontecendo. — Quanto tempo fiquei desacordado?


— Menos de meio minuto. — Disse a mulher que estava ao meu lado —Ouvimos um barulho e quando abrimos a porta você estava caído no corredor, desacordado. — Ela me olhava de forma estranha, como se estivesse preocupada e ao mesmo tempo com medo de mim — Foi só o tempo de chegarmos e você acordou novamente. Quer que chamemos uma ambulância?


— Não é necessário, estou bem.


Fiquei encarando a sala com as mesas por um momento, pensando no que poderia ter acabado de acontecer? Será que eu estava ficando louco? Será que eu estava vendo coisas que não eram reais? Ou será que eram reais? E se era mesmo real, o que era aquela seita? E onde ela havia ido parar tão rápido? Milhares de perguntas surgiram na minha cabeça, mas quem fez a pergunta seguinte foi Jensen.


— Qual seu nome, senhor?


— Pode me chamar de Andy.


— Certo, Andy, o que estava fazendo aqui? Isso é uma área restrita.


— Eu estava procurando... uma pessoa.


Jensen e a menina se encararam, e depois ela me perguntou.


— Você é da polícia?


— O que? Não... — Olhei para Jensen — Eu estava procurando você!


Jensen me encarou de forma curiosa e perguntou:


— A gente se conhece?


— Você é Jensen Goodman?


— Sim, sou. Quem é você?


Olhei no fundo de seus olhos verdes escuros e disse:


— Eu sou seu pai.



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Autor(a): raphaelaguiar91

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