Fanfic: As Crônicas da Cidade Maldita | Tema: Vampiros, Terror, Suspense,
Clube Last Kiss, Centro da Cidade — Atualidade
Jensen Goodman
Eu havia prendido o ar e não havia percebido, e só me lembrei de respirar novamente quando comecei a ficar tonto. As palavras do homem ainda ecoavam na minha cabeça. Eu sou seu pai. O que era aquilo, uma brincadeira de mau gosto? Quem era aquele homem afinal que havia desmaiado em meu local de trabalho — invadido, melhor dizendo, já que aquela era uma área restrita apenas para os funcionários administrativos e financeiros da boate — e alegava, convencido em ser meu pai?
Eu não me lembrava da última vez que vi meu pai. Na verdade, até hoje, eu pensava nele como um homem que eu nunca havia conhecido. Lembro-me de, aos seis anos, após uma festinha da escola no dia dos pais, perguntar a minha mãe porque eu não tinha um pai como as outras crianças.
— Você tem um pai, meu filho — Respondeu ela, tão amável quanto era — Ele morreu quando você ainda era um bebezinho.
Desde então eu perguntei poucas vezes sobre ele. A verdade é que Jocelyn havia sido mãe e pai o suficiente para mim, e uma figura masculina nunca me fez falta. Durante anos da minha adolescência vi Jocelyn entrar e sair de tantos relacionamentos com os caras errados que comecei a me espelhar neles para poder me tornar exatamente o contrário de tudo aquilo. Nunca senti falta do meu pai, e Jocelyn se tornou a pessoa mais importante para mim.
Na noite do meu aniversario de dezesseis anos, Jocelyn teve uma forte dor de cabeça e precisou ir para o hospital. Foi medicada e voltou para casa no mesmo dia, mas durante o mês seguinte, uma bateria de exames e consultas médicas a fez descobrir um tumor no cérebro em estado avançado. Depois de uma biópsia o médico declarou que ela tinha menos de um ano de vida. Ela morreu dois meses depois.
Eu havia perdido a única família que eu tinha e só o que me sobrara foram dois amigos que eu tinha desde infância. Zach era um cara maneiro, mas seu pai alcoólatra fazia da vida dele um inferno. Vendi a casa onde morei por toda a minha vida com Jocelyn e fui morar com Sean. Ele tinha uma vida boa e me manteve até eu conseguir organizar as coisas. Arrumei um emprego em uma cafeteria e menos de dois meses depois eu saí da casa de Sean e fui morar no Centro da Cidade, onde dividia o apartamento com dois ratos gigantes e um ninho de baratas.
Eu havia começado a trabalhar no Last Kiss há dois anos. Me mudei para um local melhor dois meses depois e desde então levava a vida de forma simples e tranquila. O dinheiro não era abundante, mas dava para viver sem grandes preocupações.
Todo esse tempo, nunca tive problemas em não ter um pai. Ele não estava lá no dia das crianças da escolinha. Ele não estava lá para comemorar os meus aniversários. Nem pra ajudar a levar a mulher que ele engravidou em uma foda rápida para o hospital quando ela passou mal. Ele não estivera lá quando Jocelyn recebeu a notícia de câncer e nem para enterrá-la. Ele não estivera lá para ajuda-lo nos piores momentos de sua vida. E agora ele estava ali. Caído no chão do seu trabalho, provavelmente bêbado ou drogado, alucinando com mulheres mortas, precisando da minha ajuda. Naquele momento, a única coisa que eu consegui em pensar em responder quando ele disse ser meu pai foi:
— Vai se foder, seu filha da puta miserável!
Ele se assustou com minha resposta e se levantou rapidamente, enquanto eu me virava de costas e saía de perto dele, voltando para a sala atrás de mim e indo para minha mesa. O homem que dizia se chamar Andy, veio atrás de mim e tentou me impedir de sai de perto dele:
— Por favor, filho, me escute...
— NÃO ME CHAME DE “FILHO”! — Gritei, explodindo todo o sentimento reprimido de abandono de toda a minha vida. Aquilo me surpreendeu, porque nem mesmo eu sabia que eu sentia aquilo tudo — VOCÊ NÃO É MEU PAI!
Andy me encarava com olhos arregalados e expressão sofrida. Talvez ele pensasse que iria chegar ali, dizer que era meu pai, e que eu iria correr para seus braços, apertá-lo e dividir todos os momentos felizes de minha vida com ele.
— Eu te procurei todo esse tempo... — Começou ele, a voz embargada pelo choro reprimido. Eu o interrompi.
— Pára! — Ele se assustou — Eu não vou cair nesse seu truque barato para me convencer de que você passou toda sua vida me procurando, que minha mãe foi uma cretina e me afastou de você... Eu não vou cair nessa, está bem. Então poupe meu tempo e o seu, apesar de não estar nem aí para o que você faz com ele, dê meia volta e esqueça que me encontrou, está bem?
— Mas não é um truque barato, fi... Jensen. — Ele disse, desesperado para ser escutado — Eu realmente te procurei esse tempo todo, cada canto da cidade, cada bairro, coloquei detetives atrás de sua mãe, procurando vocês dois, mas ela parecia ter desaparecido.
— E daí? O que você esperava? Você fodeu ela e depois abandonou quando descobriu que ela estava grávida! — Eu disse irritado — O que esperava que ela tivesse feito, corrido para os seus braços na primeira vez que você veio abanando seu rabo?
— Eu tinha dezessete anos quando engravidei ela, eu era novo, e ela também...
— Mas ela teve que me criar, seu cretino, sozinha! — Falei, cuspindo toda a raiva que eu sentia na cara daquele homem que eu passara a odiar tão repentinamente. Os sentimentos reprimidos por tantos anos brotavam com uma facilidade que me assustava e ao mesmo tempo me deixava leve — Ela foi muito mais homem do que você jamais foi em toda sua vida!
Vi quando uma pequena lágrima começou a brotar nos olhos dele. Ótimo! Agora, além de tudo, ele iria começar a chorar feito um bebê bem ali.
— Eu sei que não fiz certo ao abandoná-la, mas as coisas aconteceram rápido demais. Eu não estava preparado pra toda aquela história de “Estou grávida!”. Tente me entender! Eu era apenas um garoto.
— E precisou de vinte e três anos para ficar pronto? — Perguntei, incrédulo com o que eu estava ouvindo.
— Não! Eu a procurei diversas vezes, antes mesmo de você nascer...
— E isso faz de você um herói, não é? — Debochei — Não! Isso faz de você vítima, não é mesmo? O cara que foi injustamente impedido de criar o filho pela pessoa que ele feriu mais do que tudo! — Ele me olhava de forma assustada. Ele não esperava pela minha reação, na verdade nem eu, e ele sabia que tudo o que eu falava era verdade — Você não vale porra nenhuma, seu merda!
Ele ficou em silêncio. Apenas minha respiração nervosa era ouvida e uma batida eletrônica surda e abafada pelas paredes antirruídos do corredor e da sala. Eu havia esquecido de Julia no corredor, que nos olhava com olhos arregalados, apenas observando toda a situação.
— Acho melhor eu ir embora... — Disse ele, abaixando a cabeça e virando-se em direção á porta, onde Julia estava parada. A mulher deu espaço para que ele passasse. Antes que pudesse sair completamente da sala, porém, ele parou e perguntou sem olhar para mim, provavelmente escondendo as lágrimas que escorriam de seus olhos. — Como está Jocelyn?
Olhando para sua nuca respondi:
— Morta.
Ele respirou fundo e olhou para cima, ainda de costas para mim.
— Como?
— Câncer no cérebro.
— Quando?
— Porque se importa?
Ele não respondeu. Apenas disse:
— Sinto muito.
E saiu para o corredor preto com as fotos dos artistas que levavam até a boate. A visão daquele homem indo embora mexeu comigo, não sei dizer exatamente o porquê, mas mantive toda a postura que eu podia. Não iria deixar meu orgulho de lado. Nunca precisei daquele cretino na minha vida inteira, porque precisaria dele agora?
E então aconteceu.
Antes mesmo que Andy pudesse chegar na porta que dava para a boate, ela se abriu com um estrondo. Dois homens enormes entraram pela porta, portando pistolas nas mãos e derrubaram Andy no chão com um empurrão. Ele bateu com a cabeça e tornou a desmaiar. Julia gritou e correu para dentro da sala, batendo a porta atrás dela e se jogando debaixo da mesa. Me abaixei atrás da minha mesa, no momento em que os dois homens armados entravam na sala.
O primeiro era, além de alto, musculoso, e tinha um dos braços completamente cobertos por tatuagens bizarras. Era careca e uma cicatriz corava seu pescoço de lado a lado. Talvez fosse o medo que eu sentia, junto com a adrenalina, mas eu poderia jurar que seus olhos eram negros como carvão. O segundo era tão musculoso quanto o primeiro, mas não era tão alto. Seu pescoço estava coberto de tatuagens também, que entravam pela camisa e sumiam pelo corpo. Seu cabelo era raspado baixo, e seus olhos também pareciam completamente negros.
O primeiro homem pegou Julia pelos cabelos e a arrancou debaixo de sua mesa. Ela gritava de dor enquanto o homem a segurava e o segundo vinha em minha direção. Abri uma gaveta rapidamente e peguei uma pistola que havia dentro dela. Eu havia comprado após um assalto que havia tido na boate há cerca de um ano. Nós lidávamos com muito dinheiro ali e pareceu correto na hora em que eu comprei. Agora, com ela na mão apontada para o homem alto que vinha em minha direção, ela pareceu ainda mais certa do que antes.
— Pare, se não eu atiro. — Gritei, apontando para o peito do que vinha em minha direção.
Ele parou e levantou as mãos. O de trás foi quem falou.
— Você é Jensen Goodman? — Como eles sabem meu nome? Pensei, e afirmei com a cabeça. — Entregue-se e eu solto ela.
— Tudo bem! Apenas deixem ela em paz. —Levantei minhas mãos, apontando a arma para o teto, me rendendo completamente. Coloquei a arma sobre a mesa, lentamente, e o homem mais alto a pegou e colocou no cós da calça. — Agora solte-a.
Ele a soltou. Ela deu um passo para trás, para se afastar, mas o homem mais baixo puxou uma lâmina longa, como uma pequena espada e fez um movimento rápido em direção a Julia. No início achei que ele tinha errado, mas quando ela se virou em minha direção, pude ver uma cortina de sangue descer de seu pescoço e um fio de sua boca. Ela se engasgou com o próprio sangue e tentou tossir, mas tudo o que saiu foi mais sangue. Ela caiu de joelhos e antes que pudesse chegar completamente ao chão, ela já estava morta.
Reprimi um grito de terror e tentei correr, mas o homem alto esticou os braços e me agarrou pelos ombros. Quando me virei para tentar reagir, já era tarde demais. Vi outra lâmina em sua mão, igual a que fora usada para matar Julia, e ele a cravou em meu peito, pouco acima de meu estômago. Senti a ponta encostar na pele das costas, e senti dificuldade em respirar, tamanha dor.
Meus joelhos fraquejaram e eu caí no chão. A vista turvando-se lentamente.
E então tudo ficou preto...
Autor(a): raphaelaguiar91
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