Fanfic: As Crônicas da Cidade Maldita | Tema: Vampiros, Terror, Suspense,
Avenida Raven Hill – 1996
Andrew Goodman
Alguma coisa estava muito errada. O trânsito estava completamente congestionado e isso não era normal. Muito pelo contrário, era preocupante e extremamente perigoso. Olhei para o céu e vi que o dia começava a mudar de cor. O céu, que estivera azul durante todo o dia, agora assumia uma coloração mais alaranjada. A noite caía, e muita gente ainda estava longe de casa. Isso era seriamente preocupante. Buzinas soavam de todos os carros. Os motoristas começavam a se preocupar. Alguns até mesmo a se desesperar.
Abri a porta do carro e saí. Olhei por cima da fileira longa de carros para ver se conseguia enxergar alguma coisa. Havia um aglomerado de pessoas mais a frente, mas não fui capaz de dizer o que olhavam. Muitos outros motoristas ao longo da estrada também haviam saído dos carros para tentar entender o que estava acontecendo. Era a estrada principal que cortava a cidade. Em uma extremidade estava o enorme portão fechado do Muro de Raven Hill, que tinha sido construído nos últimos três anos. No final oposto da estrada estava a mansão Black Raven. A mais importante construção da cidade, onde funcionava a prefeitura e o quartel-general dos militares que governavam a cidade.
— Consegue ver alguma coisa? — Olhei para a fonte da voz e vi que o motorista do carro ao lado do meu também havia saído para ver o que estava acontecendo. Olhei novamente para frente, mas nada havia mudado na paisagem distante.
— Não muito. Têm muita gente lá na frente. Mas não consigo ver o porquê. — Respondi, simpaticamente. Entrei novamente no carro, sem fechar a porta. Desliguei o motor, fechei a janela e tornei a sair, pegando a chave de dentro e trancando o carro por fora. — Vou até lá para saber o que está acontecendo.
O homem me encarou e fez o mesmo que eu. Assim que trancou o carro, correu para me alcançar. Eu já tinha andado alguns metros pela estrada entre o mar de carros que se enfileiravam.
— Me chamo Robert Smith — Se apresentou, e esticou a mão para que eu apertasse.
Apertei.
— Meu nome é Andrew. Andrew Goodson.
— O que acha que aconteceu?
— Não faço a menor ideia. Pode ter sido um atropelamento, ou uma batida. Só não entendo porque não afastaram o corpo ainda para os carros passarem. A noite está caindo.
— Pois é. Isso é preocupante. — Disse Robert, enquanto olhava para o céu laranja e via a noite chegando. — Ainda estou longe de casa.
— Não se preocupe. Já devem estar liberando a pista.
Enquanto andávamos pela estrada vimos muitos motoristas que desligaram o carro e saíram andando até o local do tumulto. Outros tantos pegavam as coisas mais importantes e iam andando pra casa com medo da noite cair rápido. Principalmente os que moravam mais longe de onde estavam, tinha essa atitude. Eu não estava tão longe de casa. Mais cinco minutos e estaria dentro dela, protegido com as muitas cruzes que adornavam meu lar. Mas eu não queria deixar meu carro ali na estrada toda a noite.
Robert andava ao meu lado. Em menos de cinco minutos de caminhada chegamos ao local da multidão. Não era um atropelamento, muito menos um acidente. Na verdade havia um carro parado cruzado no meio da estrada. Mas ele estava inteiro. Um homem estava sobre ele e falava alguma coisa. Mas a multidão era grande e de onde estávamos, nem eu e nem Robert conseguíamos ouvir o que o homem dizia.
Começamos a nos espremer entre as pessoas que cercavam o homem sobre o carro. Às vezes pisava em um pé e alguém xingava um palavrão baixinho achando que eu não ouviria, mas eu ouvia e não estava nem aí. Continuei atravessando o mar de gente até chegar a um local onde era capaz de ouvir o que ele dizia. Robert parou logo atrás de mim.
— ...estamos sendo escravizados. Precisamos acabar com isso de uma vez por todas. Essa ameaça têm que acabar agora. Esta é a hora de reagir.
— Do que ele está falando? — Perguntou Robert — Dos sanguessugas?
O homem continuou a gritar — Os portões são uma forma de nos prender aqui dentro, nos manter em controle. Até quando?
— Os portões servem para nos proteger daqueles monstros, seu imbecil! — Disse uma mulher na multidão, irritada.
— NÃO! Isso é o que eles querem que você acredite! Eles nos querem aqui, trancados, como ratos de laboratórios, para que possamos alimentar os monstros! Eles são os monstros. Eles nos controlam!
— Você é louco! — Respondeu a mulher.
— Não! Loucos são todos vocês que abrem mão da liberdade que deveriam ter para aceitar o que esses vampiros fardados dizem. — Gritava o homem. — Precisamos agir agora, e rápido.
— Sim, precisamos mesmo! — Disse um homem ao lado da mulher que gritava — Precisamos tirar esse imbecil daí, para liberarmos a estrada para irmos para casa. A noite está chegando e corremos grandes riscos aqui fora depois do anoitecer.
A multidão começou a ecoar sons de aprovação.
— Ele está falando dos militares, ou é impressão minha? — Perguntou Robert.
— Acho que sim. — Respondi, incrédulo ao que ouvia.
Um homem ao nosso lado nos olhou e disse:
— Ele acha que os militares e os vampiros têm alguma aliança. Ele disse que os militares são vampiros, e que existem vampiros infiltrados na cidade e no governo de Raven Hill. É só mais um lunático, esse babaca!
Robert suspirou e eu cruzei os braços.
Alguém na multidão gritou alguma coisa inteligível e todos começaram a concordar com alguma coisa que eu não entendi. O homem sobre o carro começava a ficar vermelho de raiva. Era possível ver as veias pulsando sob a testa.
— Em pouco tempo, todos nós estaremos mortos, se continuarmos confiando nesses militares que nos governam. Existem muitos deles lá dentro. É possível que até mesmo o general Bones seja um deles.
— Você não tem nem certeza do que fala, seu imbecil! — Gritou novamente a mulher da multidão. — Desça daí e pare de arriscar nossas vidas com essas baboseiras.
— É melhor fazer o que ela manda, rapaz!
A voz veio de um homem que abria caminho pela multidão. Usava um sobretudo cinza escuro e no braço uma cruz com as letras RH. Um fuzil em uma mão e uma cruz de prata com uma ponta afiada como uma estaca pendurada na cintura, presa a uma corrente de prata. E nas costas, uma espada com lâmina de prata pendurada. Era o uniforme de um soldado de Raven Hill. O homem espantou-se ao ver o soldado que o agarrou pela perna e o puxou de cima do carro.
O rapaz que falava sobre o carro caiu no chão com um baque surdo. A multidão estava em silêncio vendo a cena. O soldado foi impiedoso. Agachou-se sobre o homem e começou a socar o rosto dele incessantemente. Era possível ver o sangue espirrando no sobretudo do soldado. O orador não tinha nenhuma forma de se defender. O soldado continuou socando-o por um longo tempo até que ele estivesse com o rosto inchado e sujo de sangue e o soldado com as mãos vermelhas. Quando terminou, o agressor se levantou e puxou-o para que ele ficasse ajoelhado diante de todos. O homem se ajoelhou mas ficou com a cabeça baixa, quase desmaiando pela surra.
— Durante os últimos três anos, viemos protegendo essa cidade das ameaças que nos afetam. — Gritava o soldado, olhando para a multidão — Nenhum de vocês pode sair da cidade. Um passo fora e serão devorados e sugados até a última gota de sangue. Levantamos um muro altamente fortificado e protegido contra essas coisas que atacam nas sombras de forma impiedosa e violenta. Criamos regras para proteger nosso povo. Viemos tentando ao máximo defender cada um de vocês, evitando que mortes aconteçam e que alguns de vocês se tornem eles. Nós sabemos que eles são capazes de nos transformar nas aberrações malditas vindos do Inferno que eles são. — O soldado olhou para o homem sangrando no chão, ao seu lado — Este homem estava maldizendo as pessoas que fizeram tudo isso. As pessoas que permitiram que todos e cada um de vocês aqui estejam vivos até hoje. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Temos recebido ameaças constantes nos últimos dois meses. Pessoas querendo nos derrubar, nos tirar da jogada e deixar cada um de vocês vulneráveis àqueles monstros. Essas pessoas devem ser punidas! Assim como esse homem! — O soldado olhou para o homem e perguntou — Acha que é capaz de nos defender das criaturas, meu amigo?
O homem olhou para ele e disse:
— Não preciso me proteger das criaturas, só preciso me proteger de vocês!
O soldado olhou sério para o homem. Sem falar nada, apontou o fuzil para a cabeça dele e puxou o gatilho.
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. O homem caiu no meio da estrada, uma poça de sangue se formando em volta da cabeça dele. A multidão estava em um silêncio mortal. A cena havia sido tão intensa que ninguém havia percebido que a noite chegara. Só perceberam quando uma sirene começou a ecoar por toda a cidade.
Autor(a): raphaelaguiar91
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