Fanfics Brasil - Capítulo 7 - A Iniciação As Crônicas da Cidade Maldita

Fanfic: As Crônicas da Cidade Maldita | Tema: Vampiros, Terror, Suspense,


Capítulo: Capítulo 7 - A Iniciação

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Arredores de Raven Hill – Atualidade


Ryan Folley


A floresta estava mais clara do que eu esperava para uma noite sem luar. Não era um brilho comum, mas como se houvesse um exército de vaga-lumes dançando nas árvores. As luzes corriam para onde eu olhava, e estranhamente me fazia enxergar de forma mais fácil na escuridão da floresta. Talvez as histórias fossem verdadeiras. Talvez os vampiros pudessem ver no escuro, sentir o cheiro do sangue a quilômetros de distância, ouvir um galho se quebrar do outro lado de uma floresta e correr rápido como um lince. Ou talvez fosse um exército de vagalumes dançando nas árvores mesmo, mas isso não me pareceu tão possível. Entretanto, se eu fosse analisar bem, até vinte anos atrás, nenhuma das duas opções parecia plausível, sequer possível. E agora, uma delas estava acontecendo.


Assim como eu, os outros recém-criados, como Varo havia nos chamado, pareciam ter dificuldade de entender o que viam nas árvores. Aquele estranho brilho magnético, dançando de forma descontraída e perturbadora nas árvores da floresta nos inquietou.


— A nossa visão é capaz de captar o menor foco de luz existente. — Explicou Varo, observando nossa reação diante da visão, atônitos, encantados e aterrorizados — Por isso vemos essas luzes. São luzes vindas de algo infinitamente pequeno, que nem mesmo os humanos são capazes de ver. Algo menor que um átomo. Nem nós sabemos o que são.


Apesar do medo que sentíamos, eu precisava admitir que era algo lindo e impressionante de se assistir. Tanto eu quanto os outros trinta e dois recém-criados que haviam saído da mansão em ruínas estávamos assistindo ao show de luzes como se fosse um espetáculo shakespeariano completo pela trilha sonora de um musical do Andrew Lloyd Webber. Algo único e perfeito. Não havia palavras suficientes em nenhuma língua, viva ou morta, que pudesse descrever o que víamos.


Nossa atenção foi desviada pelo som de um galho se quebrando a nossa frente, seguido pela trituração de folhas e compressão de terra. Assim como minha visão, minha audição estava tão aguçada que, por um momento, eu podia jurar que ouvi o pequeno e frágil corpo de uma formiga explodir sobre o peso dos pés. Tão audível e claro, que achei ter inclusive ouvido os sons da agonia pré-morte do pequeno ser. Mas foi tão rápido que eu não soube se era verdade ou não. O som pertencia ao passo de Varo, que começou a trilhar caminhos para dentro da floresta, e foi seguido pelos outros trinta e dois vampiros que nos acordaram na mansão.


Em pouco tempo, o pequeno exército de sessenta e seis vampiros andavam pela floresta, indo cada vez mais para o coração inexplorado e selvagem que cercava Raven Hill. Eu via os pássaros voarem para longe de nós e as cobras e sapos rastejarem e pularem com pressa para sair de nosso caminho. Tudo aquilo começou a me parecer tão impressionante que por um momento quase gostei da sensação de pertencer ao mais alto nível da cadeia alimentar, sendo o predador mais temido existente. E então lembrei do que aquilo significava. O cálice de sangue, a sensação de poder após ingeri-lo. E a vontade de vomitar voltou novamente.


Varo estava ao meu lado, sorrindo enquanto me observava.


— Você está um pouco pálido, ou é impressão minha? — Perguntou. Um vampiro alto, de cabelos pretos compridos até a altura dos ombros, que estava a alguns passos na nossa frente, começou a gargalhar e olhou para trás para nos olhar — Brincadeira. Claro que você está pálido. Você está morto.


Mais alguns vampiros riram, inclusive alguns recém-criados, mesmo que a risada deles tenha parecido ser mais de nervosismo do que de realmente terem achado graça. A caminhada continuou pelo que pareceram algumas horas. Incrivelmente eu não me cansei ou senti qualquer dor no corpo e nem nenhum dos outros pareceram estar cansados também. A Lua já brilhava alto no céu quando chegamos a uma segunda mansão. Dessa vez não estava em ruínas, mas tinha o mesmo estilo da outra.


O jardim verde de grama cortada era cercado por uma cerca de madeira branca de um metro de altura. A casa era pintada de bege claro, que contrastava com os beirais das portas, da muitas janelas e suportes de varandas em madeira escura envernizadas. Havia muito movimento na casa, como um clube de golfe ou algo do gênero. Varo nos guiou para uma porta dupla, na frente da casa. As portas se abriram e duas vampiras, uma ruiva e uma loira nos receberam com um belo sorriso. Elas eram lindas. Peitos grandes, corpo escultural de capa de revista, um rosto bonito e sexy, e trajavam uma saia curta e um top cor de rosa. Fiquei encarando as vampiras, assim como os outros recém-criados. O cabeludo que riu da piada de Varo foi até a loira e a abraçou por trás, beijando e passando a língua por seu pescoço. Um outro vampiro do grupo, um homem musculoso e com o corpo peludo, que andara sem camisa toda a viagem desde a outra mansão foi até a ruiva e fez o mesmo.


Quando adentramos a mansão os deparamos com uma enorme sala. Todas as paredes eram em tábuas de madeira escura envernizada, o que dava ao ambiente um estilo elegante e clássico. No centro da sala, uma enorme escadaria de mármore negro com um tapete vermelho escuro subia para o segundo andar da mansão. A direita havia um aglomerado de sofás de estofamento vermelho com pequenos desenhos de flores-de-lis em tom grafite. Atrás dos sofás, uma enorme tapeçaria com nomes escritos cobria a parede quase que por completo. Eram cerca de cem nomes, alguns riscados outros quase ilegíveis pela caligrafia ruim. No cabeçalho da lista estava escrito em letras costuradas em fio dourado “Clã Crow”. Do outro lado da sala, a esquerda da porta de entrada, por onde havíamos acabado de passar, uma enorme lareira do mesmo mármore negro da escadaria estava na parede contrária à tapeçaria. Pela quantidade de teias de aranha e pedaços de lenha mofadas que havia na lareira, ela não era acesa há muito tempo, e pelo que eu conhecia das lendas, isso poderia significar muitas décadas.


Muitas coisas começaram a passar na minha cabeça. Como ninguém nunca havia visto ou encontrado aquelas duas mansões antes no meio da cidade? Claro que qualquer um que chegasse perto seria morto pelas criaturas, mas a cidade de Raven Hill já estava ali há muito tempo. A cidade havia completado duzentos e vinte e um anos oito meses atrás, e se ninguém nunca tinha visto aquelas casas antes, isso significava que os vampiros já estavam ali há muito mais do que vinte anos, quando se revelaram para a cidade. Mas se eles estavam ali esse tempo todo, mantendo-se escondidos, porque se revelarem agora? Seria a tal ideia da invasão? Seria parte do plano? E como aqueles recém-criados se encaixavam nisso tudo? Porque eles? Eram muitas perguntas que pareciam sem respostas ainda. E eu me perguntava se eu ia querer a resposta.


— Ainda temos algumas horas até o amanhecer. Precisamos agir rápido se quisermos fazer a Iniciação hoje. — Disse Varo, que havia subido até metade da escada e olhava para os recém-criados. Os outros vampiros haviam se espalhado pela mansão. Alguns bebiam taças de vinhos e outros beijavam e lambiam os pescoços de outras vampiras — Cada um de vocês foram escolhidos após longas análises para estarem aqui hoje, mas devem se provar dignos disso. Devem mostrar que são capazes de carregar o nome Crow com vocês.


Os recém-criados olhavam atônitos para Varo.


— O que isso quer dizer? — Perguntou um dos novatos, um garoto loiro de cabelo curto. Parecia ter dezesseis ou dezessete anos. E iria parecer assim para sempre — O que temos que fazer? — Varo sorriu.


— Vocês são trinta e três. Trinta e três novatos recém-criados por nós. O clã Crow é o mais poderoso de todos os clãs da América...


— Existem mais de vocês pelo mundo? — Perguntou um outro homem. Dessa vez não tão novo quanto o loiro, mas não tão velho. Devia ter uns trinta anos. Usava barba e bigodes, ambos pretos como os cabelos raspados.


— Se existem mais de nós pelo mundo? — Varo fez questão de enfatizar o “nós”. — Estima-se que a população mundial de vampiros seja de quase cinquenta mil. A maioria de nós está na Europa e Ásia. Cerca de dois mil moram na América. Mas não é isso que interessa. Temos que nos focar na Iniciação.


“Cada um de vocês irá para a floresta, sozinhos. Ninguém os guiará, ninguém os ajudará, ninguém os atrapalhará. A primeira coisa que um vampiro tem que fazer depois que acorda é se alimentar. A pequena taça que vocês beberam recobrou um pouco da vitalidade de vocês e lhes deu um pouco da força de volta, mas não será suficiente para concluir a transação. Dentro de três horas e quarenta minutos, o Sol irá nascer. E vocês têm exatamente esse tempo para irem caçar, se alimentarem e voltar a salvo.”


— Não parece tão difícil. Existem muitos animais na floresta, podemos pegar um cervo e beber seu sangue. — Disse o garoto loiro.


A sala inteira mergulhou em um mar de risadas. Ninguém falou nada. Ficamos nos encarando amedrontados. Varo desceu as escadas e abriu as portas duplas atrás de nós, por onde havíamos acabado de entrar. Ficamos todos parados, esperando o que viria a seguir. Varo, ainda sorrindo, disse:


— O tempo está correndo.


Saímos da mansão lentamente e ficamos encarando a floresta diante de nós. As luzes dançavam nas árvores ainda. Não com a mesma intensidade e beleza de antes, mas ainda era possível se encantar com aquilo. Mas a beleza disso morreu diante de nossa missão. O que Varo havia dito era que deveríamos matar e beber o sangue de alguém. E estávamos no meio da floresta de Raven Hill. Ninguém ia até lá, jamais. Seria impossível achar alguém. “... mas não será suficiente para concluir a transição.”. O que isso queria dizer? Se não bebêssemos o sangue humano nas próximas horas, nós... morreríamos? Quero dizer, de uma vez por todas? Eu não queria ser um vampiro. Não queria ser um parasita assassino para toda a eternidade. Mas eu também não queria morrer. Dei um passo a frente, em direção a floresta. Depois outro. Parei. Olhei para trás, todos os vampiros recém-criados me encaravam. Trinta e dois pares de olhos com olheiras negras e profundas me encaravam. Alguns com curiosidade e outros com certo medo ou ódio. O que se passava pela cabeça deles, eu não fazia ideia, mas não queria descobrir. O que se passava pela minha cabeça é que me importava. Olhei para o céu e vi que a Lua começava a descer no arco da noite. Em menos de quatro horas o dia amanheceria. Era preciso agir e rápido. Eu não encontraria sangue humano na floresta, então eu precisava pensar em algo. Dei mais um relance para trás e vi os vampiros ainda me encarando. Varo estava na porta de entrada dupla, olhando e sorrindo para mim, enquanto bebia uma taça de sangue. Olhei para frente e corri para a floresta. Ganhei uma velocidade enorme, de forma quase natural. Nem mesmo precisei fazer força para isso. E corri. Ao olhar para trás, vi que os outros recém-criados haviam feito o mesmo. Todos me seguiram para dentro da floresta, mas depois alguns tomaram seu próprio rumo, buscando sua própria fonte de vida. Eu não tinha noção de minha velocidade, e não tinha noção do quanto eu havia me embrenhado na floresta, mas eu podia jurar que ouvi uma risada vinda de algum lugar atrás. E eu podia jurar que era de Varo. Olhei para trás, mas não conseguia ver a mansão mais. Ela havia sido substituída por uma enorme floresta, densa e escura. E então senti a garganta arder.


Eu sentia sede. Olhei para frente e continuei a correr. Passava por árvores, rochas e subi uma colina. Precisava saber onde eu estava. Precisava pensar em algo. Subi em uma enorme árvore, com a facilidade de um macaco. Assim que cheguei ao topo da copa, olhei para o lado e vi a mansão ao longe. As luzes acesas, pareciam minúsculas no horizonte. Olhei para o outro lado e então a vi. Uma enorme mancha brilhante, de casas, ruas, prédios e o Muro. Raven Hill.


E então entendi como iria fazer para passar pela Iniciação.



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Autor(a): raphaelaguiar91

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