Fanfics Brasil - Capítulo 8 - O Homem Que Não Sentia Medo As Crônicas da Cidade Maldita

Fanfic: As Crônicas da Cidade Maldita | Tema: Vampiros, Terror, Suspense,


Capítulo: Capítulo 8 - O Homem Que Não Sentia Medo

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Centro da Cidade, Edifício Colloso – Atualidade


Andrew Goodman


O homem jogou uma pasta recheada com muitos papéis. Eu estava sentado em minha cadeira com o corpo relaxadamente jogado para trás. Não olhei para a papelada, apenas continuei encarando-o e a seus dois seguranças de terno fino e expressão mal encaradas.


— O que pode fazer por mim, senhor Goodman? — Perguntou o homem, sorrindo maliciosamente, um sotaque asiático extremamente acentuado.


— Nada — Respondi. Eu sabia que era uma resposta arriscada de se dar, mas eu sabia muito bem como lidar com gente como ele.


— Como assim nada? — Perguntou o homem, surpreso.


— Nada significa que eu não posso ajuda-lo.


— Eu sei o que nada significa. — O homem alterou o tom de voz.


— Então, não entendi a sua pergunta. — Disse debochadamente.


— Estou entregando o dossiê, e você nem sequer leu como pode me dizer que não vai fazer nada?


— Significa que eu não estou aqui para ajuda-lo.


O homem espantou, e vi quando os capangas levaram as mãos a cintura. Provavelmente era uma Glock .32, mas eu não estava nem aí. Quando viu o movimento dos seguranças, o homem levantou a mão e ambos pararam a ação na metade, respeitosamente.


— Você é detetive? — Perguntou o homem, preocupado.


— Não, senhor Makinoto, eu não sou detetive. Mas também não sou seu amigo. Sou seu advogado. — Respondi, enquanto me levantava para encher um copo de whisky — Eu não estou aqui para ajuda-lo, estou aqui para defende-lo, e para isso não tenho que fazer nada para você, é você quem fará pra mim. Você irá me contar cada detalhe da verdade, inclusive as mais inúteis e desnecessárias, é isso que você fará. Então eu planejarei sua defesa e irei defendê-lo. Isso não nos fará amigos, sócios, parceiros, e fora daqui, você não faz ideia de quem eu sou, do que eu faço, e não falará comigo, a não ser que estejamos nos limites das quatro paredes dessa sala, entendido?


Makinoto me olhou seco e calculista, mas depois de hesitar por um tempo, concordou com um aperto de mão.


— Tudo o que você precisa saber está no dossiê. O que precisar de informação, me contate e iremos te passar. Eu aceito sua condição, mas quero minha liberdade e meu nome fora da mídia. Se eu por acaso ler meu nome em qualquer jornal, meus homens irão fazer uma visitinha para você. Está entendido.


— Você irá receber em sete dias o que eu posso oferecer diante de seu caso, e me dirá em oito dias se aceita as condições ou se quer procurar outro advogado. — Informei, ignorando a ameaça dele.


O homem me encarou, eu podia ver as chamas queimando em sua vista, mas mantive minha postura impassível e meu sorriso despreocupado no rosto. Aquele tipo de gente não esperava essa reação de ninguém, e tinham medo de mim. Meu passado me provia isso...


Coloquei o copo de whisky sobre minha mesa e me dirigi até a porta de entrada da sala, atrás de onde o homem estava sentado. Parei ao lado dela e perguntei:


— Mais alguma coisa, senhor Makinoto?


Ele não respondeu. Abri a porta e disse, impassível.


— Nos falamos em sete dias ou menos, se eu precisar de alguma coisa.


O homem, vermelho de ódio, se levantou e foi em direção a porta, os dois seguranças na frente. Antes que ele pudesse sair completamente da sala, porém, fechei um pouco a porta, impedindo sua passagem. Os dois seguranças rapidamente voltaram a mão na cintura, mas ele novamente impediu com um gesto da mão, me encarando.


— Se você está aqui, me pedindo o que está me pedindo, então sabe quem eu sou. — Falei — E sabe do que eu sou capaz. — O homem paralisou e abriu os olhos ligeiramente, uma expressão nervosa no rosto — Lembra do caso Reynolds, não lembra? — É claro que ele lembrava.


— Está me ameaçando? — Perguntou Makinoto, irritado e assustado.


Fiz cara de quem foi mal compreendido e disse sorrindo:


— Sim, estou...


O homem não respondeu nada. Apenas puxou a porta com força e saiu irritado, batendo os pés com força no chão. Os dois seguranças atrás como cachorrinhos adestrados devem fazer.


Suspirei profundamente e fechei a porta, retornando em seguida para minha cadeira atrás da mesa. Não havia se passado nem um minuto que eu abrira o dossiê de Makinoto, quando o telefone da minha mesa começou a piscar o sinal de chamada interna. Peguei o telefone e atendi:


— Goodman.


— Senhor Goodman, Vanessa está aqui para vê-lo. Devo manda-la entrar?


— Sim, por favor.


Vanessa Carlton era detetive particular e uma amiga de longa data. Há mais de sete anos que ela trabalhava pra mim e tudo começara com um pedido de favor. Nesses sete anos muita coisa acontecera entre a gente, porém, e muita coisa mudou entre nós. Hoje voltamos a ser amigos novamente, mas tínhamos uma história, e um relacionamento um tanto incomum. Vanessa era uma mulher única e estonteantemente bonita. Loira, com cabelos curtos cortados acima dos ombros mais curtos atrás que nas laterais, em um corte um tanto quanto moderno. Tinha um sorriso lindo que escondia na maior parte do tempo, devido a seriedade que havia adquirido com a profissão. E o mais sexy de todos os corpos que eu já vira na cidade. Seios no tamanho certo, cintura no tamanho certo, bunda do tamanho certo, coxas do tamanho certo. E era essa mulher maravilhosa que estava parada na minha porta naquele momento.


Levantei-me para abraça-la e beijá-la. Havia semanas desde a última vez que ela havia aparecido no meu escritório. Não sabia onde ela estivera ou o que estava fazendo nesse meio tempo, e sabia que o relatório seria longo e cansativo, provavelmente sem surpresas.


— O relatório está longo e cansativo, mas tem uma surpresa no final. — Ela falou e quase perguntei se ela havia lido minha mente.


— O que descobriu? — Perguntei realmente interessado.


— O caso Johnson pode ser encerrado amanhã. Descobri que ele mentiu sobre o álibi dele. Ele nunca esteve naquela boate, portanto, no momento do assassinato de Lucas Foster ele não estava no local que alegou. — Ela falou desanimada, sobre um caso que eu estava defendendo. Erick Johnson havia sido acusado de dar vinte e três facadas no peito de Lucas Foster, por ciúme da namorada do rapaz. Segundo Erick, meu cliente, ele estava numa boate chamada Last Kiss na hora em que o crime ocorreu, e inclusive havia me passado o nome de um suposto amigo que estava com ele. Vanessa de alguma maneira descobriu a mentira, e isso atrapalhava tudo, porque agora, Erick teria que dizer a verdade, e isso só poderia significar duas coisas: ou Erick era o real autor do crime, ou ele havia feito algo tão vergonhoso ou humilhante — provavelmente as duas coisas — que o fez acreditar que correr o risco de ser acusado de assassinato e ser jogado na sarjeta pelo resto da vida valesse mais a pena do que contar a verdade. Infelizmente, a segunda opção não parecia tão plausível ou possível.


— Que merda — Exclamei jogando o relatório sobre o dossiê de Makinoto — Hoje o dia está sendo foda.


Vanessa sentou-se na cadeira em minha frente.


— Aquele que eu vi saindo irritado com dois brutamontes nas costas era Yuri Makinoto?


— Sim... — Afirmei fazendo cara de desprezo.


— O que ele aprontou dessa vez?


— Algo relacionado a drogas em festas de riquinhos mimados.


— Ah, — Exclamou ela, rindo — O de sempre.


Eu ri e afirmei com a cabeça. Me levantei da cadeira e enchi um copo de whisky pra mim. Ofereci um para Vanessa, mas ela recusou e voltei para minha cadeira.


— Sabe que isso vai te matar um dia, não sabe?


Parei olhando para o fundo do copo.


— O whisky ou os clientes?


— Os dois.


— Sim, eu sei — Respondi rindo e bebendo um gole da bebida amarelada — Só espero que seja o whisky. Será menos estressante morrer bêbado do que assassinado por um traficantezinho de merda qualquer como Yuri Makinoto.


— Como vocês se conheceram, afinal? Porque você defende um dos maiores traficantes de Raven Hill. Quero dizer, além de esse ser seu trabalho e tudo mais, mas porque você decidiu defender criminosos e não as vítimas deles?


— Além do dinheiro grande que eu ganho mantendo eles longe da cadeia? — Eu nunca havia parado pra pensar naquilo antes, mas se eu fosse fazer uma análise de toda a minha vida e toda minha carreira, aquilo estava predestinado a mim desde sempre — Primeiro que eu não suportaria defender viúvas choronas e mães arrasadas. Segundo que alguém precisa fazer o trabalho. Então porquê não eu?


— E você nunca sente medo? — Vanessa perguntou e na mesma hora eu senti algo dentro de mim. Eu sabia o que sentia. Havia um monstro dentro de mim e eu havia aprendido a controla-lo. Eu estava no controle dele há tanto tempo, que eu simplesmente esquecia que ele estava lá dentro. — São tantos segredos sombrios que esses homens carregam...


Segredos sombrios? Aquilo não parecia Vanessa falando.


— Quem é você? Uma poetisa de noventa anos tomando chazinho na varanda de sua casa? Segredos sombrios... — Eu ri e ela me acompanhou.


Ficamos em silêncio por algum tempo antes de ela falar novamente.


— Eu descobri mais uma coisa. — Falou ela. Dessa vez seu tom de voz parecia sombrio. Tão sombrio quanto os segredos, pensei. Ela abriu a bolsa e puxou um envelope de dentro. Estava fechado e era volumoso. Ela colocou sobre a minha mesa e me empurrou com os dedos, lentamente. — É sobre ele.


Olhei para ela espantado. Eu não esperava por essa. Puxei o envelope e abri-o com pressa. Dentro havia uma pilha de fotos. Eram fotos de um garoto. Tinha cabelos pretos cortados curtos, e um rosto bonito. Tinha dezenove anos, se eu não estivesse enganado. Eram todas em preto e branco, mas dava pra ver claramente que ele se vestia bem. Era jovem, mas maduro. Tinha boa postura e parecia um tanto sério e centrado.


— Onde ele está? — Perguntei.


— Essas fotos foram tiradas na boate Last Kiss.


— A mesma em que Erick disse ter estado na noite do assassinato de Lucas?


Aquilo me deixou espantado.


— Sim. Eu fui até lá, para ver se conseguia alguma informação sobre Lucas e Erick e então o vi. Achei ele estranhamente familiar e comecei a pensar de onde. Então vi o quanto ele se parece com você.


Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Meu filho estava vivo. E eu precisava encontra-lo. Olhei para Vanessa e sorri, lágrimas se formando nos meus olhos, que eu logo tratei de conter. Não podia deixar Vanessa me ver chorando. Jamais isso iria acontecer. Homens não deviam chorar, muito menos na frente de mulheres. Eu não iria chorar. Eu iria me levantar daquela cadeira, tomar outro copo de whisky, pegar as chaves do carro e o sobretudo pendurado ao lado da porta e dirigir até aquela boate e encontrar meu filho. E falar... o que?


O que eu deveria falar quando o encontrasse? Oi, meu filho, desculpa por ter te abandonado há doze anos com sua mãe, mas eu estava por perto e passei pra ver se você estava precisando de algo. É claro que isso jamais iria acontecer. Eu não poderia ir até ele. Eu não teria o que falar, e provavelmente ele nem me reconheceria. Ele era só um garoto de cinco anos quando eu o deixei na porta da mãe dele e nunca mais voltei para busca-lo. E agora, eu nem sabia o porquê eu tinha feito isso. Tudo o que eu tinha eram lembranças da última vez que chorei, dentro do meu carro em uma noite de muita chuva onde ninguém veria, e se visse não se importaria.


Me levantei da cadeira, enchi o copo de whisky novamente, bebi de um gole só, peguei as chaves, coloquei o sobretudo e me despedi de Vanessa.


— Onde você vai?


— Até a Last Kiss. — respondi.


— Vai falar com ele?


— Não sei.


— Quer que eu vá junto?


— Não. Preciso fazer isso sozinho. — Respondi, mas nem eu estava convicto disso.


Eu já estava saindo pela porta do escritório quando parei e sem olhar para Vanessa eu disse.


— Eu não respondi sua pergunta. — Eu não sabia se ela encarava minhas costas ou não. Eu estava encarando meus pés, com a mão na maçaneta da porta. — Você me perguntou se eu não sentia medo nunca. — Respirei fundo e respondi — Não. Eu nunca sinto medo.


O monstro rugiu dentro de mim. Mas ela não percebeu as lágrimas que eu escondia em meu rosto e nem a mentira que eu havia acabado de contar pra ela.



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Autor(a): raphaelaguiar91

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