Fanfic: Meu Guarda Costas | Tema: Vondy

Ver Lunna no estado eu estava me deu um choque de realidade. Todos aqueles fios, tubos e agulhas ligados ao corpo frágil e pálido dela. A única coisa que dava contraste em tudo isso era seus fios de cabelo vermelhos que pareciam ter sido cortados. A lateral de sua cabeça estava enfaixada, provavelmente haviam rapado o cabelo para fazer a cirurgia, e eu só conseguia pensar que quando ela acordasse, iria odiar.

Sair da UTI foi bem difícil. Não podia ficar mais que uma hora ao lado da minha irmã, e ainda tive que dividir o tempo com meu pai e outras pessoas.

Saí de lá aos prantos. Christopher me abraçou tentando me confortar, mas sem êxito algum.

- Vai ficar tudo bem meu amor. – Seus braços me apertavam e ele depositava beijos em minha cabeça. – Ela é forte, ela vai sair dessa.

- Ela... ela...

- Eu sei. – Christopher me soltou. – O Arthur quer ver você. – Neguei, sendo incapaz de poder vê-lo no momento. Não teria coragem de dizer a ele o estado de minha irmã. – O médico vai dar alta para ele amanhã, ainda quer que ele vá lá para casa? – Assenti.

- Tudo bem, fica aqui com o Christian, que eu vou lá falar com ele. Amy está lá com ele. – Christopher me guiou até a poltrona na sala de espera e eu me sentei ao lado de Christian. O vi desaparecer porta a fora. Encolhi-me na cadeira e deixei os soluços escaparem juntamente com as lágrimas que inundavam minha face.

- Sinto tanto por isso.

- Por favor, não. – Pedi. – Só me deixem ok? Nada do que falarem vai mudar a dor que estou sentindo, e o pior, é tudo por minha causa. – Christian me olhou incrédulo, mas não disse mais nada. Eu me sentia culpada. Não pensaria duas vezes se pudesse trocar de lugar com a minha irmã.

Assim que cheguei em casa rumei para o meu quarto, onde passei o restante do dia. Não conseguia fazer nada além de chorar. Não dormi, não comi, não falei com ninguém.

Somente saí da cama tarde da noite, quando Christopher chegou me carregando para o banheiro me enfiando em baixo da ducha fria contra minha vontade. Em silêncio eu ou ouvia falar um monte de coisas como "você precisa comer", "tem que reagir, não pode passar o tempo todo assim", "vai acabar ficando doente".

Há quase um ano atrás eu quase perdi Christopher por ele ter tentado se matar por minha culpa, e agora minha irmã, minha única irmã estava na UTI entre a vida e a morte, respirando por aparelhos e inconsciente também por minha causa.

Quando saí do banho Christopher me ajudou a me vesti. Já com o pijama, voltei para minha cama.

- Oi meu anjo, posso entrar? – Lourdes perguntou ainda da porta segurando uma bandeja. Apenas assenti me sentando. – Fiz uma sopa reforçada pra você e trouxe pão e um copo de suco também.

- Não estou com fome.

- Mas precisa comer. Respeitamos seu espaço o dia inteiro, mas você precisa se alimentar ok? – Ela colocou a bandeja na cama em cima de minhas pernas. – Está do jeito que você gosta, então manda ver.

- Vou tentar. – Falei sem muita vontade.

Não consegui comer nem a metade e nem o pão eu comi. Era como se o pouco que eu havia comido, valesse para uma vaca inteira.

- Eu não quero mais. – Empurrei a bandeja. Christopher que agora estava no quarto me olhava.

- Você não comeu quase nada Dulce.

- Christopher, se eu tentar comer mais, eu vou voltar tudo. – Falei irritada. – Não consigo tá bom?

- Tenta mais um pouco, por favor. – Ele se sentou ao meu lado, encheu a colher de sopa e a trouxe até perto de minha boca. Até o cheiro estava me deixando enjoada.

- Tira isso daqui. – Minha voz saiu falha.

- Não chora de novo, por favor.

- Então tira esse negócio da minha frente. – Virei meu rosto tentando não ver mais a sopa.

Apesar de irritado comigo Christopher cedeu. Ele levou a bandeja de volta para a cozinha e então voltou para ficar comigo.

Cada dia que se passava parecia uma eternidade e todos os dias eu ia no hospital vê-la um pouco que fosse.

Com a chegada de Arthur em minha casa o clima entre Christopher e eu ficou bem tenso. Não entendo o porquê das crises de ciúmes dele quando já ficou bem claro que Arthur gostava da minha irmã.

- Eu não vou discutir com você sobre isso de novo Christopher. – Falei irritada quando saí do quarto de Lunna, onde Arthur estava ficando. – Arthur e eu somos apenas amigos, e pode ter certeza que se tivesse a intenção de te trair com ele, não seria aqui. – Saí em passos firmes em direção ao andar de baixo.

Lá estava meu pai e um advogado. Ambos me encararam em silêncio, mas não dei muita atenção. Sabia que eles tinham ouvido a discussão, mas não me importei.

Saí pela porta do pátio e fui me sentar na beirada da piscina. Arthur e eu tínhamos uma dor em comum e conversar sobre Lunna com ele me confortava. Não era a mesma coisa que tê-la por perto, mas somente nós dois a conhecíamos bem. Christopher deveria entender isso.

Fiquei um tempo ali com os pés dentro d'água encarando o reflexo do céu limpo na água. Lunna adorava aquela piscina, muito mais do que eu.

Era comum ela mentir dizendo que iria sair com uns amigos no fim de semana e ir passar o dia comigo. "Eu sinto inveja de você, sabia? " Ela admitiu certa vez quando falávamos de nossas vidas. Ah como eu a invejava por ter uma família e olha só como estamos agora.

- Você não atende mais o celular? – A voz de Maitê irrompeu atrás de mim me fazendo saltar de susto. Xinguei-a mentalmente mas continuei calada. Vi quando ela deixou a bolsa sobre uma espreguiçadeira e depois se sentou ao meu lado. – Está tudo bem? – Assenti. Dizer que estava bem quando na verdade tinha vontade de explodir virara rotina. Meus amigos não queriam ouvir o que eu realmente estava sentindo o tempo todo e eu tinha que respeitar isso.

"A vida segue, você não pode deixar de viver por isso. Lunna reprovaria sua atitude. " Ouvi isso tantas vezes de todos eles nos últimos que não tive mais escolha senão fingir que estava tudo bem. Ah se eles soubessem que todas as noites passo horas chorando.

- Vim chamar você e o Christopher pra irem ao cinema comigo e Mane.

- Não vai rolar.

- Dulce a Lunna...

- Dá para parar de dizer o que a Lunna gostaria ou não? Não é por ela caramba, é por mim! Eu não quero sair e tenho motivos para isso. – E se tinha. Christopher e eu acabamos de ter uma discussão e não estava a fim nem de olhar para ele.

- Vocês brigaram de novo? – Ela perguntou em um tom calmo. Era praticamente impossível travar uma discussão com Mai. Sempre tão tranquila.

- Sim. – Peguei meu celular no bolso traseiro e dei uma olhada. – Eu vou tomar um banho, quero ir ver a Lunna um pouco hoje.

- Amanhã é a rematrícula, você vai né?

- Não sei. Estou pensando em trancar a faculdade, não estou com cabeça pra nada disso.

- Não faz isso. Já foram quatro anos, você aguenta mais um.

- Eu não consigo. O único lugar que vou tranquila é no hospital, e mesmo assim porque há dois guarda-costas atrás de mim. Sem contar quando não estou brigada com Christopher e permito que ele me acompanhe. Ele ainda é meu guarda-costas e continuará sendo até que eu termine a faculdade.

- Pensei que ele só fazia isso para evitar que você cometesse alguma besteira, mas você amadureceu muito do último ano até aqui.

- É, mas pelo visto o motivo agora é outro.

- É barra isso, mas logo vai se resolver. Seu pai está resolvendo isso, não tá? – Assenti. – Você não tem ideia nenhuma de quem possa ter feito isso? – Neguei.

- Seja lá quem for, merece ser torturado até a morte pelo que fez à minha irmã.

No dia seguinte, ainda chateada com Christopher, me levantei e juntamente com Arthur e os dois guarda-costas que viviam na minha cola fui para a faculdade. Havia um número considerável de pessoas ali para fazer a rematrícula, então tivemos que esperar.

Mai chegou minutos depois, acompanhada de Mane, se sentando a meu lado.

- Eu vou voltar para o meu apartamento Dulce. – Arthur falou baixo somente par eu ouvir enquanto Mai e Mane conversavam alguma coisa que não interessava a mim. – Não quero ser uma parede entre Christopher e você.

- Está falando sério? Somos amigos, ele não tem motivo para agir assim.

- De qualquer forma, eu já estou bem. Já posso me virar sozinho, só preciso continuar fazendo a fisioterapia no braço e em algumas semanas estarei maravilhosamente bem.

- Eu não quero que você vá. – Minha voz falhou. – Eu me sinto melhor sabendo que você está ali.

- Está se culpando Dulce, isso não é legal.

- Não estou me culpando.

- Eu vou ficar bem, a Lunna também. Sei que têm discutido diversas vezes por minha causa e não me sinto bem com isso. Já estou bem e ficar mais na sua casa não me deixa confortável.

- Você que sabe. – Dei de ombros, coloquei meus fones de ouvidos e liguei-o no volume máximo.

Ver Arthur sair da minha casa assim só fez me deixar ainda mais brava com Christopher e se não fosse o meu medo de ficar sozinha eu teria ido para o meu apartamento.