Fanfic: Bem Comportada (Adaptada) | Tema: Vondy
Naquela noite, Dulce desceu ao salão principal do Empório do Prazer. Aos sábados, o salão lotava mais cedo.
Madame Fynch caminhou até ela assim que pisou no último degrau da escada.
- Quantas?
Madame era uma mulher alta. Seus cabelos negros haviam se tornado grisalhos, e ela os usava presos em um coque. O rosto era magro, pálido e enrugado, marcado por sulcos nos cantos da boca. Os olhos pequenos e acinzentados. A sobriedade do vestido emprestava-lhe uma altivez e respeitabilidade nunca contestada pelos clientes. Sua atitude mostrava a de uma pessoa que era pragmática e vivida, e não havia qualquer juízo de valor quando conversava com os homens. Mas quando conversava com as meninas, sua voz era áspera.
Dulce imediatamente colocou a mão no bolso do avental.
- Doze, Madame. Uma para cada menina. – Colocou a carta na mão estendida de Madame.
- Muito bem, hoje você foi produtiva.
Dulce exultou. Era quase impossível agradar Madame, e partindo dela um cumprimento era uma rara demonstração de estima. Apesar disso, Dulce tinha muito a agradecer a ela, pois quando seu pai havia sido preso e sua joalheria tomada, ela ficou sem casa, família e perspectivas. A vida do pai não fora a única a ser comprometida. E ao chegar à porta do Empório do Prazer em busca de emprego, Madame poderia perfeitamente ter recusado. Afinal, ela não tinha nem beleza e nem experiência para ser uma cortesã. Oferecera a única habilidade que então dispunha: saber escrever e ter uma mente erótica, e assim conseguira o emprego.
Madame colocou as cartas seladas dentro da pasta que tinha no braço.
- Agora me explique a razão de seu atraso hoje. Os clientes já estão aqui há quinze minutos, e Charlotte é quem está servindo as bebidas. Você sabe que não quero que as meninas sirvam os drinques como se fossem garçonetes. Isso diminui o valor delas aos olhos dos clientes. Ficou claro?
- Sim, Madame – ela respondeu, magoada por sentir-se insultada. Podia não ser a empregada mais valiosa do Empório do Prazer, mas seu sucesso em encher a casa de clientes também tinha valor.
- Agora prepare dois uísques para Evie e sir Horace, depois leve uma garrafa de champanhe para Serafina e lorde Fewell e fique atenta.
- Sim, Madame. – Dulce voou até o outro lado do salão e se abaixou atrás do bar para preparar as bebidas, aliviada por ter se livrado de Madame Fynch.
Madame atravessou o salão para dar as boas-vindas a um visitante recém-chegado. E levava no braço esquerdo duas coisas: o livro com as contas dos clientes e uma pasta preta que ela denominara de “La Carte”. Nela constavam os serviços prestados por suas meninas, e sempre que um novo cliente chegava ao bordel, ela o conduzia até seu escritório e explicava o significado dos poéticos eufemismos do livro. Ela descrevia de maneira objetiva e nada emocional quais práticas sexuais faziam parte do Fogo e Gelo, da Batalha de Waterloo e do Banho Turco. Aos homens que gostavam de observar atos sexuais, era oferecida uma mulher, a Virgem Solitária, ou duas, as Professoras Errantes. O homem que quisesse uma variedade e tivesse recursos para pagar, poderia optar pelo Harém Persa, em que várias meninas se juntariam a ele na cama. Os homens adoravam esses termos e colecionavam as aventuras como se fossem moedas raras sobre as quais se vangloriariam e fariam trocas entre eles.
Madame Fynch assumia o ar de uma arquiteta a medida que detalhava cada termo ao cliente, construindo a fantasia masculina. Era comentado que, depois de tomar conhecimento da seleção de La Carte, nenhum cavalheiro deixava de imediatamente abrir uma conta no Empório.
Madame tinha uma mente versada em negócios. Ela havia gerenciado as finanças do marido e supervisionado o staff jurídico dele quando ele se tornado bêbado demais para fazê-lo. Com a morte dele, o escritório de advocacia fora fechado, mas ela herdara uma considerável herança e a liberdade de gerenciar o próprio dinheiro. Parte do dinheiro, ela investira na compra do bordel deteriorado, que tivera alguma notoriedade dois anos antes graças ao escândalo do casamento de uma criada com um marquês. Tornara-se com isso, objeto de curiosidade na cidade e ela decidiu capitalizar em cima dessa fama. Também comprara a loja de tabaco vizinha e fizera uma reforma, transformando os dois estabelecimentos em uma única linda maison, a serviço somente dos ricos e elegantes cavalheiros da sociedade.
Ao observador eventual, o salão, sala de carteado e a estufa eram absolutamente respeitáveis, como os de qualquer casa. No salão, um lindo lustre de cristal pendia de um enorme medalhão branco. As velas nele existentes projetavam luz nas paredes azul-violeta. As poltronas eram estofadas em brocado, e tecidos listrados pendiam de vários pontos do espaçoso salão. Era o lugar perfeito para que um homem de posses e fino trato se sentisse em casa. Mas o verdadeiro Empório do Prazer ficava alguns lances de escada acima. Nos quartos.
E cada um deles havia uma decoração diferente. Para os que tivessem gosto pelo exótico, havia o Quarto do Pashá, um ambiente decorado com cortinas e almofadas de seda, para os que tivessem uma inclinação mais primitiva, havia a Gruta, um tipo de caverna em que a comida era servida no chão, e o mais exuberantes podiam usufruir dos equipamentos do Estábulo, um lugar cheio de acessórios de couro e uma sela. Fantasias de todas as naturezas eram respeitosamente satisfeitas e celebradas.
Apesar de toda meticulosidade na ambientação erótica dos pisos superiores, as cortesãs eram tão habilidosas que passavam muito pouco tempo nos quartos. Era um testemunho de seu poder de sedução, elas atiçavam de tal modo a libido masculina com conversas e toques que, ao chegar ao quarto, era preciso muito pouca estimulação para que eles chegassem ao clímax.
Dulce observou que os quartos ficariam todos ocupados naquela noite. O salão começava a ficar cheio com a clientela regular, mais uma ou duas caras novas. Ela movia-se de um lado para o outro, enchendo copos, acendendo charutos e pegando chapéus e bengalas dos cavalheiros que chegavam.
- Boa noite, Vossa Graça. – ela ouviu Madame dizer ao se dirigir ao homem de cabelos brancos que se apoiava pesadamente na bengala. – Arrisco dizer que não o vemos há mais de um mês. Espero que não tenha se cansado de nossos joguinhos.
- De modo algum – ele respondeu, em um tom de voz que não revelava sua idade avançada. – Acabo de voltar a Londres e estou à procura de companhia jovem.
- Quer que eu veja se Cordélia está disponível?
- Não, por Júpiter. Não daria conta dela esta noite, estava pensando em apimentar a minha noite com alguém de cabelo louro.
- Tenho a moça certa. Deixe-me acompanhá-lo ao salão. Dulce, um cálice para nosso convidado.
Dulce se encaminhou ao bar para pegar a bebida e viu Charlotte desfilar até o duque com seu vestido justo de musseline. Havia graça e desenvoltura nos movimentos dela, adquiridas sem dúvida, em anos de práticas. Seus cabelos eram fartos e sedosos. Ela fez uma pequena mesura diante do duque, assegurando-se de que ele tivesse uma boa visão da frente de seu vestido. O magnetismo da moça era impressionante, era como observar um habilidoso artesão no oficio. O duque pareceu bastante satisfeito com a companhia escolhida.
Do outro lado do recinto, Madame acenou para Dulce.
- Pois não, Madame? – perguntou, parando na frente de Lollie e de um senhor rechonchudo.
- O sr. Hargreaves gostaria de comer alguma coisinha. Por favor, peça a Cook para preparar.
O homem ajeitou a gravata.
- Muito obrigado, Madame Fynch. Enquanto isso, gostaria que a senhora me indicasse a chapelaria.
- Com todo o prazer, fica do outro lado daquela porta.
- Não demore por um tempo muito longo, Perceval – recomendou Lollie.
- Já está longo, Lollie – ele retrucou, apertando a bochecha dela. – Quando estou perto de você, vai ficando cada vez mais longo.
Lollie riu em resposta. Quando a porta se fechou, o sorriso dela desapareceu.
- Isso é o que ele pensa. O pobre velho mal amassa os lençóis.
- Lollie! – Madame a repreendeu, baixinho. – Não admito que você fale de um cliente dessa maneira. Corre o risco de ser ouvida por outros, entendeu?
- Sim, Madame.
- Esta é a segunda advertência que lhe faço em poucos dias. Espero não precisar repetir mais.
- Não vai precisar.
Madame Fynch revirou os olhos e se afastou.
Dulce riu.
- Às vezes você a provoca, hein Lollie?
Lollie havia sido prostituta de rua antes de trabalhar no Empório do Prazer. Madame a contratara devido a sua incomum beleza. Seus cabelos tinham uma tonalidade rara, eram quase brancos de tão loiros e formavam cachos macios e brilhantes nas pontas. As feições dela eram perfeitas, as maças do rosto alta e bem definidas, lábios voluptuosos e cílios espessos. De uma beleza nórdica, ela facilmente passaria por rainha do império dinamarquês ou princesa norueguesa.
Até abrir a boca.
Apesar de forçar Lollie a se comportar como uma fina dama quando está perto dos clientes, era impossível domar completamente o vestígio das ruas de seu modo de ser. Como era dito popularmente, dá para se tirar uma jovem da rua, mas a “rua” da jovem, não.
As outras mulheres não eram vulgares. Madeleine era filha bastarda de um nobre francês, todas a chamavam de “Condessa” porque ela não permitia que ninguém se esquecesse que ela descendia de sangue azul. Serafina pertencia à aristocracia espanhola e, embora casada, fugira para a Inglaterra atrás de um homem que logo a largara. Evie e Charlotte, que se tornaram amigas íntimas, haviam tido divórcios escandalosos de maridos aristocratas. E cada uma das demais tinha sua própria historia para contar.
Dulce se dirigiu à cozinha para transmitir a ordem de Madame. No caminho, passou pela porta da frente e a viu entregando a correspondência a um mensageiro. O sangue lhe fugiu das veias ao pensar no significado daquela carta endereçada ao lorde Roderick Prescott. Vieram-lhe à cabeça imagens do pai sendo torturado por algum guarda da prisão, e seu coração se apertou. Precisava descobrir quem fora o bastardo conivente que havia transferido o pai para aquele inferno na terra. Quem quer que tivesse sido, teria de desfazer essa maldade. Ou pelo menos, autorizar para que ela entrasse em contato com ele. Todas as suas esperanças estavam depositadas naquela carta.
Tinha de dar certo. Ela precisava atrair lorde Prescott a qualquer custo.
Bem, por enquanto é isso... Comentem!
Autor(a): Soyezinha
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 12
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juhcunha Postado em 25/02/2016 - 23:53:38
Nao acredito que o ucker nao vai ajuda a dul
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juhcunha Postado em 14/02/2016 - 02:58:24
Simmmmmmmmmmmmm posta mais logoooo
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juhcunha Postado em 17/01/2016 - 21:41:58
Continuaaaa por favor ta demais
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lorac Postado em 09/12/2015 - 22:27:32
continuaaaaaaaaaaaaaa amanddooooo pleaseeeeeeee
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lorac Postado em 06/12/2015 - 11:32:15
continuaa pleaseeee
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bluane_ Postado em 29/11/2015 - 11:07:07
Continua meol ansiosa pro próximo poste continuaaaaaaaaaaaaaaaaa
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bluane_ Postado em 28/11/2015 - 19:43:55
Gata contínua por favor
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juhcunha Postado em 26/10/2015 - 02:23:10
Ameii mais ele não vai bater nela ne??
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juhcunha Postado em 06/10/2015 - 20:52:27
Continuua
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juhcunha Postado em 23/09/2015 - 20:28:43
Ixii Christopher se envolveu numa rouba a dul vai pensa que ele e lorde e vai odiar ele