Fanfic: Bem Comportada (Adaptada) | Tema: Vondy

- Simplesmente escrevi. Tinha ouvido dizer que o senhor era um homem atraente, e agora vejo que não mentiram.

- Não tente me seduzir ainda, mocinha. Eu lhe direi quando chegar a hora de ter esse privilégio. Quem foi que lhe falou a meu respeito?

- Muita gente.

- Foi Madame que lhe disse alguma coisa?

- Não, senhor.

- Algum outro cliente?

- Não, senhor.

- É evidente que companhia é o que não lhe falta. Alguém como você deve atrair inúmeros cavalheiros aqui. Por isso, quero saber por que, entre tantos homens de Londres, foi a mim que você resolveu conhecer.

- Eu... eu não me lembro.

Depois de um breve silêncio, lorde Prescott se manifestou:

- Não foi você quem escreveu esta carta, não é?

Faça alguma coisa! Era só o que Dulce pensava. Ela se levantou, equilibrou a garrafa de vinho na bandeja e foi até a mesa.

- Aceitam mais um pouco de vinho?

Lollie suspirou de alívio pela interrupção.

- Sim, por favor.

Os olhos de lorde Prescott permaneceram fixos nela enquanto Dulce enchia sua taça.

- Aqui está, senhor.

De repente, uma enorme mão agarrou o pulso dela. Dulce teve um sobressalto e quase derrubou a garrafa. Então, pela primeiríssima vez, um olhar masculino se fixou em seu rosto. Ela encolheu-se toda diante da intensidade daquele olhar, queria fugir dali, mas a mão que segurava seu pulso a manteve presa.

- Você tem machas de tinta nos dedos.

Instintivamente, Dulce negou com a cabeça, mas foi traída pela evidência.

Ele se levantou, acuando-a com sua figura imponente, e apertou o pulso dela.

- Foi você quem mandou a carta?

Dulce foi tomada de medo e sentiu-se paralisada pelo olhar dele. Era como se aqueles olhos cor de mel projetassem um raio de luz em cada canto escuro de sua vida.

- Eu lhe fiz uma pergunta.

Dulce disse a única coisa que lhe veio à mente.

- Foi um erro.

Ele levantou o dedo para ela.

- Não saia daqui – ordenou e se encaminhou em direção a Madame que estava conversando com um dos músicos.

- Que diabos aconteceu? – perguntou Lollie.

Os batimentos cardíacos de Dulce estavam tão acelerados que ela mal conseguia falar. Do outro lado do salão, de braços cruzados, lorde Prescott falava sério com Madame Fynch, que apenas concordava com a cabeça.

- Ai, Lollie, o que eu fui fazer? Agora vou ser despedida.

- Melhor ser despedida do que apanhar de alguém do tamanho dele.

Madame afastou-se de lorde Prescott e caminhou até as duas.

- Dulce, o lorde Prescott demonstrou interesse em você. Por favor, o acompanhe até seu quarto.

- Impossível. Eu não sou... por que não a Lollie?

A expressão de Madame continuou impassível.

- Ele não quer Lollie, é você que ele quer.

Dulce ficou lívida.

- O que eu tenho de fazer com ele?

- O que quer que ele peça.

- Mas eu não posso...

- Ele abriu uma conta de despesas bastante generosa. Você será bem remunerada.

Tudo estava dando terrivelmente errado. Ela fitou, apreensiva, lorde Prescott, que a observava. Ele parecia tão grande e tão ameaçador. Dulce pensou em tudo o que havia escrito na carta.

- Não posso – confessou, fraquejando.

- Dulce – disse Madame em um tom que raramente precisava usar – você vai levar esse cavalheiro para seu quarto e vai distraí-lo. Se for só conversa o que ele quer, dê conversa a ele. Se for sexo, dê a ele também. Você tem o controle do que resolve dar, mas o que quer que seja, certifique-se de que ele saia daqui feliz e desejoso de voltar. Está claro?

Confusa, Dulce se voltou para Lollie.

- Vá, Dulce. Converse com ele. É sua oportunidade de perguntar o que tanto quer saber.

Havia esperança nisso. Conversar. Sim, ela precisava fazer com que ele falasse. Apenas desejava ter tido mais tempo para preparar o que iria dizer.

Ao se aproximar do homem, ele pareceu ficar maior ainda. Passou por ele em direção à escadaria que levava aos quartos. Lorde Prescott a seguiu de perto. Ele era tão alto, tão vigoroso, que a sombra dele no chão cobria completamente a dela.

Quando finalmente chegaram ao sótão, onde ficava seu quarto, Dulce abriu a porta e voou para a escrivaninha, onde quase com fúria acendeu as velas nas quatros hastes do candelabro. A luz, de algum modo, fez com que se sentisse mais segura.

Ela se comprimiu contra a parede enquanto ele silenciosamente percorreu o quarto. O ruído das botas no piso soava como batidas do coração. O quarto dela sempre exalava um cheiro reconfortante de velhos livros e madeira. Agora a presença estranha trazia o aroma de sândalo e sol, e ela não conseguia conciliar os dois.

Dulce o observou inspecionar o lavatório, a janela, a cama.

- Você não recebe muito aqui. – Não foi uma pergunta, mas uma afirmação.

- Sou uma criada – ela respondeu, odiando o tremor na voz. – Eu não entretenho clientes.

Ele se aproximou dela e se curou sobre a escrivaninha.

- Parece que servir bebida não é sua única atividade. – Ele pegou uma folha de papel azul. – Você também parece ser a secretária encarregada da correspondência.

- Escrevo muitas cartas.

Ele pegou a pilha de sete envelopes endereçados e selados que ela havia escrito a clientes em potencial à tarde e examinou todos.

- Esses cavalheiros são amigos ou familiares?

Dulce ficou indignada com a audácia. Tirou as cartas das mãos dele, esperando que ele não visse o nome na carta de cima. Era destinado a Frederick Stratton, o segundo provável inimigo do pai.

- Por que o senhor está aqui? – ela perguntou.

- Por que isso a surpreende? – ele perguntou, tirando do bolso do casaco a carta escrita no papel azul e atirando-a sobre a cama. – Vim a seu convite.