Fanfic: A Esposa Virgem AyA FINALIZADA | Tema: Romance AyA

— Fique no colo do titio enquanto recebo seu pai—disse Dulce.

Para horror de Alfonso, ele viu-se com a sobrinha no braço. Era pequena, gorda e sem um fio de cabelo. Cheirava a uma mistura de leite e sabonete. Ele a estrangularia caso lhe sujasse a túnica.

Com a caneca de cerveja em uma das mãos e o bebê no outro braço, Alfonso dirigiu um olhar impotente para a irmã. Porém, ela já se afastava.

Atônito, viu-a atirar-se nos braços do marido. Alfonso jamais se acostumaria àquele comportamento. Numa cena constrangedora, o casal beijou-se apaixonadamente como se estivesse em seu quarto. Talvez a crise de cegueira também houvesse perturbado a mente do cunhado, refletiu Alfonso.

A criança percebeu de repente onde estava e pôs-se a chorar alto. Alfonso estremeceu e imaginou se não deveria deixar logo o castelo de Dunmorrow. Sentia-se embaraçado ao lado desse trio estranho, mas feliz. Em comparação à deles, sua vida parecia mais vazia e sem propósito.

— Pegue aqui — disse ele, estendendo a criança para a mãe.

— Pronto, Sybil. Você deve estar com sono — Dulce murmurou.

Admirado, Alfonso não entendeu como a irmã falava com aquela coisinha como se pudesse ser entendida. O estômago contraiu-se e ele lembrou-se de que precisava comer algo. Mas como tudo, os alimentos não lhe despertavam o interesse. Resolveu concentrá-lo no gigante loiro que teimava em chamá-lo de irmão.

— Alfonso! — Christopher exclamou com afetividade irritante.

Como o Cavaleiro Vermelho ousava encará-lo com aquela franqueza e como se enxergasse o vazio de sua alma? Como se atrevia a dar-lhe conselhos quando este castelo era uma lástima se comparado a Belvry?

Dunmorrow era velho e seus habitantes não possuíam riquezas. Todavia, eles pareciam ter um tesouro além do alcance de Alfonso. Isso o deixava mais frustrado ainda. A dor de estômago aumentou e ele quase fez uma careta. Mas manteve a expressão impassível diante do olhar perscrutador de Christopher.

— Vim avisá-lo, irmão, que chegou um mensageiro do rei a sua procura — disse o cunhado.

Olhando para a entrada, Alfonso viu um homem com o emblema de Edward. Como não o tinha notado? Claro, distraíra-se com a criança e com demonstrações amorosas. Abafando a raiva, pôs a caneca na mesa e dirigiu-se ao estranho.

Finalmente. Já fazia um ano que Portilla invadira a propriedade vizinha de Belvry e, até agora, o destino das terras do desgraçado continuava sem solução.

Na opinião de Christopher, Edward decidiria em favor de Alfonso, passando a propriedade para Belvry como indenização. Alfonso, entretanto, não confiava em reis e príncipes, graças às experiências adquiridas na aventura chamada de Guerra Santa. Ele não se surpreenderia se Edward confiscasse a propriedade de Portilla para a coroa.

Não se importaria com isso. Portilla não tinha prole, portanto, de uma forma ou de outra, as terras deixariam para sempre sua linha hereditária. Isso constituía uma pequena satisfação para Alfonso, pois era a única vingança que lhe restava.

— O senhor é Alfonso Herrera, o barão de Belvry? — o mensageiro do rei indagou.

— Sou — confirmou Alfonso.

— Trago-lhe uma mensagem de seu soberano. Alfonso fez-lhe um gesto para sentar-se no banco ao longo da mesa. Nesse instante, percebeu o olhar ansioso de Dulce. Ela e o marido não escondiam a vontade de também ouvirem a novidade. Isso o surpreendeu.

— Posso oferecer-lhe uma bebida? — perguntou Dulce ao mensageiro.

— Aceito, sim, minha senhora. Mas a mensagem é curta. Não prefere ouvi-la primeiro? — indagou ele olhando para Alfonso e para os outros dois.

Irritado, mas querendo terminar logo a questão, Alfonso dirigiu um olhar interrogativo ao cunhado. Este o respondeu com outro de advertência. Com o braço nos ombros da esposa, Christopher o fez sentir que devia algo a Dulce por seu trabalho em Belvry. Tenso, Alfonso teve a sensação de que, apesar das demonstrações de amizade de Christopher, os dois chegariam às vias de fato.

Alfonso, entretanto, cedeu. Afinal, o assunto não tinha muita importância para ele. Não havia mal que eles ouvissem a notícia.

— Esta é minha irmã, e seu marido, o barão de Montemorency, o senhor já conhece.

— Minha mensagem é referente à posse da propriedade adjacente a Belvry e pertencente ao falecido barão de Portilla.

Alfonso concentrou a atenção no mensageiro. Este pôs-se a ler o decreto real, no qual Edward demonstrava a vontade de solidificar a lealdade dos súditos através de laços matrimoniais, sempre que fosse possível. Está bem, pensou Alfonso. Termine logo a leitura!

— Como descobriu-se a existência de uma sobrinha de Portilla, portanto sua herdeira, é nossa vontade que o senhor se case com Anahi Portilla, reunindo as duas propriedades e sendo senhor de ambas.