Fanfic: A Esposa Virgem AyA FINALIZADA | Tema: Romance AyA

— Por que a senhora não a avisou de minha vinda? Isso teria evitado a cena desagradável — censurou Alfonso.

A abadessa desviou o olhar, levando-o a pensar se Sop­hie não teria dito a verdade. Ela fugiria em vez de se casar com ele? Por quê? Ela ignorava o que existia entre o tio e ele. A abadessa havia lhe dito que Portilla jamais demonstrara interesse pela sobrinha e, por isso, a mandara para o convento. Desde então, eles nunca tinham se comunicado. Anahi não podia sentir afeto por alguém a quem mal conhecia.

Uma idéia perturbadora tomou forma na mente de Alfonso. Perscrutando o olhar da abadessa, perguntou:

— Anahi tem um amante pelas redondezas? Ou algum outro laço que a prenda por aqui?

As freiras não contiveram exclamações diante das palavras francas.

— Não, não, meu senhor! Não existe nada que prenda Anahi aqui. Trata-se apenas de sua rebeldia — garantiu a superiora.

— Ela é muito teimosa — disse uma das freiras.

— E não gosta de nada que não seja idéia sua. Anahi teve uma vida muito dura — aparteou a outra.

— Num convento?! — Alfonso perguntou com ar de dúvida.

— Após a morte do pai, ela e a mãe passaram necessidades. A mãe morreu logo depois. Seguiu-se um período difícil até o tio providenciar o dinheiro para Anahi jun­tar-se ao convento — explicou a abadessa.

— E onde ela viveu durante aquele tempo? — Alfonso quis saber.

— Conseguiu abrigo na casa de um burguês. Não passava de uma criada.

Ótimo! A noiva vivera como subalterna. Todavia, saber de seus percalços não dava prazer a Alfonso. Talvez porque eles tivessem sido provocados pelo destino e não por ele. Desejava ser a única fonte de sofrimento para Anahi Portilla.

— Ela não parece ser subserviente — comentou em voz seca.

— Trata-se de uma boa moça, meu senhor, mas não tem vocação religiosa. Quem sabe não se dará melhor como castelã? — sugeriu a abadessa.

Alfonso franziu a testa. A criatura de maus modos não se parecia com nenhuma dama que ele conhecia. Dulce nunca levantava o tom de voz e era uma mulher finíssima.

Alfonso quase riu com a comparação. Linda e delicada, a irmã não tinha nada a ver com a noiva de olhos verdes e faiscantes. Imagine educada em convento! A velha abadessa não devia ter muito controle de seu rebanho. Mas bem depressa, ele inspiraria o temor de Deus no coração de Anahi Portilla.

Chegou quase a sorrir ao pensar na vingança. Quando terminasse, a noiva sentiria saudades de seu passado miserável. Até a vida de camponesa lhe pareceria melhor.

Anahi correu para o dormitório. Calculava de quanto tempo dispunha. Logo estaria na hora das vésperas e sua ausência na reza seria notada. Por que ela? E por que agora quando tinha, finalmente, se resignado à vida no convento? Não possuía paciência necessária para a vida religiosa, mas, ali encontrara alimento, agasalho e segurança.

Tarde demais, lembrava-se de que a vida fora do convento era crivada de perigos. Fome, frio, degradação e outros horrores escondiam-se na primeira curva da estrada. Anahi os conhecia bem. Encarou as perspectivas enquanto fazia uma trouxa com a roupa de cama. Pagamento pequeno pelos anos de serviços prestados ali.

Já podia sentir a falta de ar que a acometia quando estava assustada. Há quanto tempo não tinha de lutar para respirar? Tentou acalmar-se. Agora, seria diferente. Era mais velha e mais experiente. Poderia trabalhar como criada para uma família respeitável. Não, pensou, estremecendo. Na cidade, encontraria outro trabalho que a mantivesse fora de perigo.