Fanfic: Os Encantos de Anúbis | Tema: As Crônicas dos Kane
Ponto de vista de Sadie
Depois que meu plano de acertar as coisas com Anúbis tinha ido por água abaixo na noite anterior, eu não queria ver ninguém, muito menos Augustus. Mas é claro que eu tive que, não só vê-lo, como continuar a lhe falar sobre como as coisas funcionavam na Casa do Brooklyn. Carter ainda não tinha voltado do Egito, então eu não tive escolha. Acordei de muito mal humor e depois de muitos resmungos e batidas de porta, me arrumei e sai do meu quarto em direção a cozinha. Tomei um café forte para me manter acordada depois daquela noite mal dormida e fui procurar Augustus. Não seria nada legal ter que olhar para cara dele durante mais um dia inteiro depois do que ele causara. Eu ainda estava com raiva do garoto por ter, mesmo sem intenção, me feito brigar com meu namorado. Mas por outro lado, também não seria nada fácil para Gus me aturar com o humor que eu estava.
Antes de encontrá-lo, porém, dei uma passada na frente do quarto de Anúbis. Não sabia se ele estava lá ou não. Provavelmente não. Mas mesmo assim fiquei parada encarando a porta por alguns minutos, decidindo de devia bater. Eu me via novamente lutando contra o meu orgulho. Por mais que eu quisesse acertar as coisas, minha cabeça me lembrava que eu não tinha tido a culpa de nada. Era ele que tinha sido um idiota por ficar com ciúmes e armar toda aquela cena. No fim das contas, acabei não batendo. Mesmo que eu conseguisse vencer meu orgulho, acho que não teria tido coragem de encarar Anúbis e perguntar porque tinha feito aquilo. Quem falou mais forte, na verdade, foi a minha curiosidade. Esqueci qualquer regra de educação e bons modos e espiei pelo buraco da fechadura. Achei que não ia conseguir ver nada, mas me surpreendi ao vê-lo andando pra lá e pra cá. Saber que ele estava lá não me aliviou nenhum pouco. Só me deixou mais estressada. O que ele estaria fazendo que não veio falar comigo ainda? Bufei para mim mesma e me afastei do quarto.
Encontrei Augustus na biblioteca junto com um grupo de magos da sua idade. Era domingo e ainda estavam todos de folga. Eles jogavam um jogo de tabuleiro que era uma espécie de Monopoly do mundo da mitologia egípcia. Limpei a garganta ao me aproximar para chamar a atenção deles. Os outros garotos devem ter percebido que eu queria falar com Gus, porque logo encerraram o jogo e deixaram o local. O novato se levantou e sorriu para mim sem graça. Ele devia saber o quanto eu estava irritada com o que havia acontecido na noite anterior. Melhor assim. Depois do susto que o deus da morte tinha lhe dado, pelo menos ele não iria ficar dando em cima de mim de novo.
***
Já estava ficando acostumada com aquele negócio de estar “totalmente enganada” sobre as coisas. Augustus não deixou de dar em cima de mim. Muito pelo contrário! Na primeira oportunidade ele deixou o constrangimento de lado e começou a dar suas “investidas”. Caminhávamos por um dos corredores da casa, enquanto eu falava sobre como o meu tio Amós tinha construído aquele refúgio para os magos de Nova York, e como ela fora destruída na batalha que tivemos contra a Cada da Vida, que na época achava que éramos rebeldes que estavam compactuando com as forças do caos, e, claro, como a havíamos reerguido há pouquíssimo tempo. Eu tinha apenas terminado a segunda frase quando senti seu braço repousar em meu ombro. Na hora parei de andar e de falar e fiquei olhando para o lugar onde ele havia colocado a mão por um momento. Em seguida me afastei dele e me coloquei na sua frente.
— Qual é o seu problema? – perguntei na cara dura. Não estava com a mínima paciência para ser gentil ou sequer educada com ele.
— Meu problema? Como assim, não entendi? – respondeu Gus como se não estivesse entendendo a que eu me referia. Era óbvio que ele estava se fazendo de tonto. Sabia muito bem o que estava fazendo e qual era o problema!
— Ok, então vou falar da forma mais clara e pausadamente possível para ver se você entende – falei de forma irônica – Eu estou namorando Anúbis, o deus dos funerais e da morte. Não tenho nenhum tipo de interesse em você a não ser uma relação de amizade ou de colegas de “Casa”. Sendo assim eu espero que pare de tentar se aproximar de mim “de outra forma”. Porque não tem nenhuma chance de rolar algo “a mais” entre nós.
— Espera, então você acha que estou dando em cima de você? – ele perguntava de um jeito que parecia estar se sentido profundamente ofendido.
— Mas é claro! Porque você está! – o acusei.
— Nossa Sadie, acho que está havendo um tremendo mal entendido aqui – falou ele ainda se fazendo de vítima, o que estava me dando muita, mas muita raiva – Sério, olha você é uma garota muito bonita, legal e tudo mais. Mas não quero ficar com você. Me desculpe se fiz você ter essa impressão.
— Corta essa, Gus! – retruquei – É obvio que está afim de mim. Acha que vou engolir essa sua desculpa ridícula?
— Ok, ok, você venceu! Eu estava dando em cima de você sim – assumiu ele com um sorriso sarcástico – Mas temos que concordar que você foi um pouquinho pretensiosa achando isso. Eu poderia só estar querendo ser um amigo próximo, ou sei lá… E se eu fosse gay?
— Aff, me poupe Augustus! – bufei dando as costas a ele e andando para longe.
— Ei, calma – ele me seguiu apertando o passo para ficar do meu lado enquanto falava – Era só uma brincadeira, achei que tivesse senso de humor!
— Normalmente tenho muito. Mas você escolheu um péssimo dia para tentar ser engraçado – mais um pouco e eu começaria a soltar fogo pelas ventas.
— Está bem, me desculpe, tá? – pediu ele correndo para se colocar na minha frente e impedir minha passagem. Paro, mas não o encaro, fico olhando para o chão – Já entendi que está mal humorada hoje e que provavelmente está muito apaixonada por seu namorado para dispensar a chance de sair comigo – quase tive vontade de rir quando ele falou isso – Então ok, eu me rendo, não vou mais fazer gracinhas e também não vou mais te xavecar.
— Jure por Rá! – exijo levantando a cabeça para olhá-lo com os olhos semicerrados.
— Eu juro por Rá que não vou mais fazer gracinhas nem te xavecar… pelo resto do dia – ela tenta sorrir, mas eu balanço a cabeça para os lados então ele corrige – enquanto você namorar Anúbis?
— Melhor – aceito, e então ele estende a mão para mim e eu a aperto em um cumprimento sério e formal demais para a ocasião.
— Então, o que você estava me dizendo mesmo sobre a grande reforma da Casa do Brooklyn? – perguntou Gus com um interesse exagerado muito falso.
Revirei os olhos, mas continuei contanto a história. A maioria dos iniciados não gostava e não prestava muita atenção nessa parte. Então não podia culpar Augustus de estar apenas fingindo que estava superinteressado. Devia ser como uma aula chata de história. Para os que estiveram presentes nesses episódios, como eu, a coisa era diferente. Era como rememorar uma época de grande dificuldade e luta, mas que resultou em algo muito bom que estamos vivendo hoje. Tento ressaltar essa parte aos novatos, para mostrar a eles que já houve tempos piores para se descobrir que é um mago. E que se hoje temos essa e tantas outras casas e nomos, é porque grandes magos e magas lutaram para manter a ordem. Na verdade, se toda a humanidade ainda existe, é porque conseguimos derrotar Apófis. Tento fazer com que eles enxerguem a grandeza disso e que também se sintam parte dela. E normalmente consigo. Com Gus não foi diferente. No final ele já não precisava fazer tanto esforço para fingir que estava concentrado no que eu dizia.
Era meu dia de folga, tecnicamente, e mesmo quando Carter não estava e eu tinha que ficar meio que “de plantão”, normalmente conseguiria aproveitar o descanso. Mas resolvi abrir uma exceção e mostrar a Augustus um pouco do que ele aprenderia nas aulas que dávamos ali. Antes mesmo da reforma já tínhamos reservado quatro cômodos da casa para ser as classes. Um deles era para a parte teórica e os outros três para a parte prática, que evidentemente era a mais importante. Levei o garoto para um dos que era usado para praticar os truques e. Era um salão bem grande e espaçoso. O assoalho era de madeira, assim como nos quartos, e não havia quase nenhum móvel. Apenas alguns armários na parede ao fundo e uma bancada onde os magos podiam apoiar suas bolsas e seus instrumentos.
Ensinei alguns dos encantamentos mais básicos a Gus. Ele teve dificuldade de dizer as palavras no início mas depois pegou o jeito. Até conseguiu concertar uma xícara que eu deixara cair no chão de propósito. Aproveitei que estávamos na ala das salas de aula e fui até o almoxarifado buscar uma bolsa com cajado e outros materiais que Augustus iria precisar. Ele inspecionou o conteúdo da bolsa quando a entreguei a ele e ficou com uma expressão intrigada. Certamente não fazia ideia pra serviam todas aquelas coisas.
— Espero não estar interrompendo nada de novo – Anúbis surgiu do nada na sala, como se fosse um fantasma. Não me lembrava se tinha deixado a porta aberta ou não, então era difícil dizer se ele havia entrado por ela ou se havia simplesmente se materializado ao nosso lado.
— Não comece com isso de novo Anúbis – falei tentando evitar que ele fizesse outra cena.
— Não se preocupe, Sadie – respondeu ele calmamente. Estava calmo até demais para o meu gosto. O que tinha dado nele? – Não farei aquilo de novo. Fui um tolo, você tem toda razão de estar chateada comigo. Não é assim que um deus deve se comportar…
— Bom… - ponderei por um momento antes de acrescentar – Fico feliz que tenha percebido isso. Eu nunca te enganaria, a única pessoa com quem quero estar é você. Gus e eu não somos nada, não somos nem sequer amigos ainda – Não sei porque de repente eu estava me explicando, e ainda menosprezando Augustus daquela forma. Mas meu humor tinha melhorado significativamente com a chegada de Anúbis e eu senti que tinha que fazer as pazes com ele o quanto antes.
— Eu sei, meu amor, sei de tudo isso. Não devia ter desconfiado de você. Você não tem culpa de nada – ele me olhava com compreensão, mas ainda havia algo a mais em seu olhar. Algo que eu não consegui decifrar a princípio – O problema aqui é ele – disse o deus da morte apontando para Gus – Quis se meter com a minha garota, tudo bem, não posso culpá-lo. Quer dizer, não é difícil se apaixonar por ela. Mas agora vai ter que se ater as consequências.
— Do que está falando? – Fui eu quem o questionei, já que Gus estava petrificado de medo. Pra falar a verdade eu também estava ficando um pouco assustada com a forma como Anúbis olhava para o mago recém-chegado.
— Não há nada que o proíba de gostar de você. Nem mesmo o fato de já estar comprometida comigo – me explicou ele, ainda olhando para Augustus – Ele, inclusive, deve assumir isso para mostrar que é um homem de valor. Mas só poderá tê-la se provar que é o mais forte entre nós. Por isso eu o desafio para um duelo. Vamos lutar e deixar que os a vontade dos deuses decida quem é mais digno de ficar com ela – propôs ele.
— Isso é a coisa mais idiota que já ouvi na minha vida! – exclamei me colocando entre Anúbis e Augustus. Não para proteger o novato, mas para que o deus me olhasse nos olhos –Não vai haver duelo nenhum!
— Sadie, me desculpe, mas acho que não cabe a você decidir isso – ele me olhou ainda falando com a voz tranquila de quem havia pensado muito sobre o assunto e estava realmente convencido de estar fazendo a coisa certa – É assim que as coisas funcionam. Se ele realmente gosta de você, deve mostrar que tem coragem de me enfrentar.
— Mas é claro que não é assim que as coisas funcionam. No tempo em que as pirâmides do Egito foram construídas, talvez, mas quero te lembrar que estamos em pleno século XXI – briguei com ele, deixando todo o estresse voltar. Não podia permitir que continuasse com aquela ideia louca de lutar com Gus – Estou dizendo que não haverá nenhum confronto aqui. Sou eu quem manda nessa Casa. E se você, ainda assim, insistir em fazer algo contra ele, serei obrigada a impedi-lo.
— Está dizendo que se eu o atacasse agora, você o defenderia? – perguntou o deus aproximando mais o rosto do meu e semicerrando os olhos. Parecia confuso e ao mesmo tempo intrigado.
— Sim, é exatamente o que estou dizendo – confirmei com um suspiro, sabendo que isso provavelmente o deixaria irado. Mas eu estava irredutível. Não ia concordar com aquele absurdo só porque estava vindo do garoto que mais amava no mundo – Você quem sabe, pode continuar com essa ideia, mas então atenha-se as consequências – repeti da mesma forma que ele havia dito antes para Augustus – Se quiser duelar com ele terá que lutar comigo primeiro. E não penso pegar leve com você…
— Está bem – concordou ele respirando de forma pesada – Você venceu. E quer saber? Tornou as coisas muito mais fáceis para mim e para todos nós. Mostrou que os dois são dignos um do outro. Não é preciso mesmo haver nenhuma batalha aqui.
— Pois eu discordo – retruquei de forma dura tentando manter uma postura firme enquanto uma dor aguda em meu peito parecia que ia me derrubar – Foi você quem definiu tudo assim que começou a ter essa atitude ridícula. Me perdeu no instante em que pensou que poderia me ganhar lutando com alguém.
E é assim, meus amigos, que se termina um namoro entre um deus complexado e uma maga mal humorada. Segurei firme minha expressão séria e decidida enquanto saia com Gus da sala, deixando Anúbis para trás. Me obriguei a engolir todo o choro que estava brotando de mim naquele momento. Não, eu não ia desabar. Não podia. Mais uma vez eu sabia que não estava errada. Eu não tinha causado aquilo. Não tinha culpa de ele ser um completo idiota. Não podia voltar para o meu quarto e nem me permitir ficar sozinha por muito tempo. Se não seria fácil deixar as emoções tomarem conta de mim. Então eu fui para o local mais movimentado da Casa, a sala de tevê.
Me sentei no sofá e peguei um tablet que estava jogado ali em cima. Enquanto um grupo de magos jogava cartas na mesinha de centro, eu comecei e procurar algum aplicativo que fosse divertido o bastante para distrair a minha mente. Tudo para não pensar no que havia acabado de acontecer. Tudo para camuflar o sofrimento e a dor que ainda martelavam meu coração. Achei um bem interessante e comecei o jogar. Fiquei bem entretida com ele. Tanto que não percebi quando alguém se sentou no sofá ao meu lado. Só desviei os olhos da tela do Ipad quando ele falou comigo.
— Está tudo bem com você?
— É… sim – respondi de forma incerta para Gus.
— Tem certeza? Por que depois do que aconteceu…
— Não quero falar sobre o que aconteceu, está bem? – fui direta para que ele se tocasse – Esqueça isso, já passou.
- Sério? Então ok… - murmurou ele batendo com os dedos na própria perna, parecendo pensativo – Me desculpa, mas tenho que perguntar. Agora que você está oficialmente solteira, será que tenho alguma chance de…
— Pode parando. Não queira dar uma de espertinho – interrompi antes que ele terminasse a pergunta.
— Mas eu só queria saber…
— A resposta é não, Gus. Não teria chance nenhuma. Nem se fosse o último mago dessa casa.
Me levantei e sai de perto dele, deixando o tablet no sofá. Tudo bem que eu estava querendo distrair minha mente para não pensar em Anúbis, mas aquilo já era demais. Augustus não esperou nem meia hora para vir atrás de mim com aquela conversa. Qual era o problema dele? Qual era o problema com todos os homens, afinal? Acabei cedendo a tentação e fui até o meu quarto. Mas para minha felicidade, e surpresa também, não estava sozinha nem ali. Me esperando perto da janela estava uma figura alta e imponente. Um deus egípcio que eu jamais esperava ver no meu quarto.
Autor(a): sarahcolins
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