Fanfic: Trilo (Os vampiros na vida de Matias e Nina) | Tema: Vampiros
Juro que nunca o vi tão lindo como naquela manhã. Raramente acordamos juntos (ele sempre acorda umas duas horas antes). Mas não naquela manhã. Se eu soubesse que ele era assim tão lindo pela manhã, acordaria mais cedo também. Fiquei boba, olhando para ele, sentido a barba dele me arranhar, o cabelo espalhado pelo meu peito. “Teu olho é bonito, Matias”, eu disse. E duas horas depois eu acordei:
–Eu sonhei ou tava acordada?
– Quando?
– Eu disse que teu olho era lindo.
– Tava acordada, mas aí dormiu de novo. Dormiu linda.
Passar férias com o Matias era assim: acordar onze horas, decidir o que comer, comer, fazer qualquer coisa, comer de novo, fazer qualquer coisa de novo, dormir. E eu nunca me cansava disso. Era uma vida boa, essa a nossa.
Depois de quatro anos namorando decidimos morar juntos. Era uma graça nosso apartamento. Pequenininho, mas uma graça. Escolhemos cada detalhe juntos: da pintura de pássaro pendurada meio torta (propositalmente!) na sala, à miniatura de um moinho na estante do quarto que os pais do Matias deram a ele quando ainda era pequeno. Era meu lugar.
Vestimos qualquer coisa e fomos comprar croissant. Sempre comemos croissant aos domingos. Na verdade, eu como, Matias me acompanha. Sentei ao lado dele, com um copo de café e meu croissant, e olhei à minha esquerda. Foi a primeira vez que eu os vi: sentados à sombra, pálidos, totalmente deslocados daquele ambiente, como se fugindo do sol.
– Ih, Matias, olha só. Parecem contigo. – eu disse, brincando
A verdade é que eles já nos observavam por algum tempo, mas não havíamos percebido. Eram dois: altos e magros (como o Matias), pálidos (como o Matias) e pareciam vir de qualquer lugar, menos daqui (como o... enfim). Um deles tinha o cabelo dourado, caído sobre os ombros em cachos meio bagunçados. Era o mais extrovertido dos dois, rindo sempre, com gestos expressivos. O outro tinha o cabelo castanho bem liso, que insistia em pôr atrás da orelha, mas qualquer movimento o espalhava novamente pelo rosto. Ambos tinham um rosto meio comprido, com ângulos bem definidos, os olhos cobertos por óculos de sol. Não aparentavam ter mais do que 30 anos.
– Tem certeza que não são uns primos distantes teus?
– Não que eu lembre, mas engraçado, né? Eles também tão olhando pra gente.
O loiro era o que mais nos olhava, sem esconder quando o fazia. Um risinho, algumas palavras, e nos olhava de novo. Sentava displicentemente, um braço sobre uma cadeira vazia, o outro mexendo o café ou gesticulando. O moreno também nos olhava, mas se reservava a fazê-lo apenas muito brevemente. Sentava-se retraído, como se sentisse incomodado por estar ali, pelo cabelo que insistia em cair sobre o rosto, pelo sol que queimava a pino, pelo meu olhar. Era o que mais parecia deslocado dos dois, embora fosse ele o que aparentava ser o mais “brasileiro”. Digo “brasileiro”, pois nenhum dos dois aparentava, de fato, ser brasileiro. (Ou do século XXI). “De onde será que eles vêm? Que idioma falam? Por que nos olham tanto?” Decidi me aproximar um pouco, sob o pretexto de jogar fora meu copo, agora vazio, de café. Não pararam de conversar, mas não pude ouvir o que falavam, ou sequer qualquer traço na língua que falavam que denunciasse de onde vinham. Ouvi apenas ruídos, embora estivesse tão perto. Como eles se ouviam? Mas uma coisa descobri: não era a mim que observavam, mas a meu namorado. Enquanto jogava fora meu copo, não desviaram o olhar dele uma vez sequer.
– Acho que eles gostaram de ti, mas vamos agora, né?
– É, vamos sim.
E voltamos para casa.
Autor(a): vampie
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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